Roosewelt Pinheiro/ABrPOLÍTICA | por Cecília AlvimMais mulherescandidatas em 2012A eleição de Dilma e políticas de cotas poderão encorajar maiorparticipação feminina nas disputas eleitorais8
Dilma Rousseff, primeira presidentaeleita do Brasil, um acontecimento marcantena história, com repercussõesainda incalculáveis para o imaginário epara o protagonismo feminino na sociedade.A expectativa é de que, comuma mulher no mais alto cargo de comandodo país, mais mulheres sejamencorajadas a participar das disputaseleitorais em 2012.“A eleição de uma presidenta numpaís continental como o nosso é umarevolução, mesmo que invisível. Ela sedeu 78 anos depois da conquista dovoto feminino que, por sua vez, veio43 anos depois da Proclamação daRepública. Isso demonstra a enormelentidão de nossa experiência em incorporara mulher nos espaços depoder”, avalia Jô Moraes, deputada federal(PCdoB).Segundo Jô, mesmo com essa simbólicaconquista, não é possível esquecero processo de rebaixamento do debateno segundo turno das eleições de 2010sobre temas relativos às mulheres.“Quando os conservadores perceberamque era inevitável a eleição de umamulher, passaram a exigir compromissosem relação a bandeiras históricas domovimento como política pública sobreaborto, conceito de família, sexualidade,estado laico. É como se eles dissessem:uma mulher chega ao poder, mas chegaráalgemada, porque não poderá teriniciativas que avancem na luta emancipadora”,destaca.Para José Eustáquio Diniz Alves,demógrafo, professor da Escola Nacionalde Ciências Estatísticas do IBGE, aeleição de 2010 foi a mais feminina dahistória do Brasil. “Aumentou o númerode candidatas aos legislativos estaduaise ao Congresso. No Executivo, merecedestaque a projeção de duas mulheresque tinham grandes chances de chegarà Presidência da República”, analisaJosé Eustáquio, que foi um dos coordenadoresda pesquisa sobre a participaçãodas mulheres no processo eleitoralde 2010, realizada pelo ConsórcioBertha Lutz, formado por pesquisadoras(es)na área de gênero e políticaem universidades do país.Com esse resultado, o Brasil passouna frente de muitos países desenvolvidos.Segundo José Eustáquio, os EstadosUnidos, que têm a democraciamais antiga do mundo, com cerca de200 anos, nunca teve uma mulher napresidência. “Apenas cerca de 20 paísesentre mais de 200, têm mulheres presidentasou primeiras-ministras”, pondera.“Conseguimos eleger uma mulherpara a presidência, mas, na verdadeas mulheres no poder não representamo que existe em termos de quantidadee qualidade de mulheres capacitadaspara isso”, alerta Rachel Moreno, coordenadorado Observatório da Mulhere da Articulação Mulher e Mídia.Longe do idealAtenta a esse grande potencial femininopara a política, em seu primeiroano de governo, Dilma fez tambémalgo inédito no Planalto: escolheu umnúmero considerável de mulheres paraministras. Dos 38 ministérios, elas jáocupam dez pastas que definem importantespolíticas para o país: GleisiHoffmann (Casa Civil), Helena Chagas(Comunicação Social), Luiza Bairros(Igualdade Racial), Tereza Campello(Desenvolvimento Social), Ideli Salvatti(Relações Institucionais), Miriam Belchior(Planejamento), Maria do Rosário (DireitosHumanos), Ana de Hollanda(Cultura), Izabella Teixeira (Meio Ambiente).Para a Secretaria de Políticaspara Mulheres, foi escolhida Iriny Lopes,que deixou o cargo em fevereiro. Anova ministra da SPM é a professoradoutora Eleonora Menicucci de Oliveira,que coordena o Núcleo de Estudos ePesquisa em Saúde da Mulher e Relaçõesde Gênero, da Unifesp.De acordo com o demógrafo JoséEustáquio Diniz, essa composição aindaestá longe da ideal, que seria a paridadede gênero nos ministérios, como jáacontece em países como Chile,Equador e México. “De toda forma, jáé um grande avanço, até porque elasestão ocupando pastas importantes, oque fomenta o surgimento de novas liderançasfemininas”.Para Jô Moraes, que acompanha apolítica de Brasília bem de perto, atravésde sua atuação na Câmara, a grandemaioria das ministras têm militânciahistórica. “Elas não estavam na políticapor parentesco e sim por mérito pessoal.Além disso, foram eleitas, na nova legislatura,mulheres para as mesas diretorasdas duas casas do Congresso.Sem dúvida, tudo isso contribuiu paraque a sociedade passasse a ver commais naturalidade a mulher em espaçosde poder”.Mas será que essa chegada das mulheresaos altos postos de comandoem Brasília trará impactos já nas próximaseleições? Dados da pesquisa Mulheresna Política, realizada em fevereirode 2009 pelo Ibope - Instituto PatríciaGalvão, mostravam que nas eleiçõesmunicipais de 2008, a porcentagemde candidatas a prefeita foi de 11,38%e a de vereadoras, 22,05%.Em outubro deste ano, será a vezdos eleitores escolherem seus representantesnos 5.566 municípios brasileiros.E será que mais mulheres vãoparticipar dessa disputa? As candidaturassó serão confirmadas em junho, quandoos partidos farão suas convenções, mashá grandes chances de que mais mulheresconcorram e sejam eleitas, umavez que a lei de cotas de gênero e algumasmudanças promovidas pela minirreformaeleitoral de 2009 devemser respeitadas pelos partidos.Revista Elas por Elas - março 2012 9