Facta #2
Revista de Gambiologia #2 Gambiologia magazine - 2nd issue 10/2013 "Acúmulo, ação criativa" / "Accumulation, a creative action"
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No livro, Baudrillard enfoca também o lugar
da coisa antiga, já desprovida de função. A importância
das antiguidades se dá justamente
na medida em que contradizem o raciocínio
funcional para cumprirem um propósito de
outra ordem: a sobrevivência do tradicional
e do simbólico através do testemunho, da
lembrança, da nostalgia e da evasão. Em sua
dissertação de mestrado em design para a
Universidade Federal do Paraná, o pesquisador
Marcos Beccari aponta que “para Baudrillard,
o homem não se sente em casa no meio funcional,
justificando assim a presença necessária
do objeto antigo como um reorganizador do
mundo e, simultaneamente, um álibi que
preserva o foro íntimo daquele que o possui.
Enquanto o objeto funcional refere-se à
atualidade e se esgota na cotidianidade, o
objeto antigo aparece (tanto ao nível dos objetos
quanto dos comportamentos e das estruturas
sociais) como uma dimensão regressiva que,
embora testemunhe um relativo fracasso do
sistema, paradoxalmente o faz funcionar”.
Na prática que a teoria sustenta, evitar o descarte
e o consumo de novos bens a que o mercado
e o próprio sistema impelem será sempre mais
do que simplesmente acumular tralhas. É só
uma questão de olhar de novas maneiras para
cada coisa que nos cerca e “garimpar” nelas
o valor simbólico apontado por Baudrillard.
Nada está perdido. DB / FP
Sucateiros artistas
Numa via contrária mas não muito distante
dos artistas sucateiros, haverá sempre os sucateiros
artistas. A mídia se encarrega de, vez
ou outra, trazer alguns deles à tona. É o caso
de Wagner Agnaldo de Souza, um vigilante
de Samambaia, no Distrito Federal, que há
dez anos reaproveita sucata para fazer enfeites
como relógios, guitarras e motos. Os preços
das peças, vendidas em uma feira da região,
variam entre R$ 40 e R$ 600. Geralmente
retirado de veículos, enxadas e panelas, o
material que ele emprega em suas obras é
recolhido nas ruas ou doado por vizinhos.
A habilidade para transformar ferro, plástico,
madeira e vidro em arte surgiu ainda na
infância. O vigilante conta que fez todos os
brinquedos dele e das seis irmãs com material
encontrado nas ruas.
É compreensível que o Brasil seja um solo fértil
para sucateiros artistas, por suas peculiaridades
culturais, mas assim como os artistas
sucateiros, seus contrapartes têm geografia
vasta. O fazendeiro chinês Wu Yulu ficou
famoso em todo o mundo depois de inventar
e construir 47 robôs com ferro velho no
quintal de sua casa. Os robôs desempenham
tarefas variadas, como pular, pintar, beber,
massagear e até levar o dono em um riquixá,
aquele típico veículo chinês que é puxado por
uma pessoa. Depois de um longo período
de dívidas e descrédito, motivados por sua
obsessão, ele foi convidado a exibir mais de
30 de seus robôs na Feira Mundial de Artes
de Xangai.
Foto: www.jingdaily.com
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