Jornal das Oficinas 212

COMO MOTIVAR E INSPIRAR
EQUIPAS EM TEMPOS DIFÍCEIS
Nos dias que correm, se é líder não pode simplesmente
dar ordens às pessoas em seu redor e esperar que
elas façam o que pretende. Elas podem seguir as suas
indicações, se estiver atento, mas quando entregues
a si próprias, elas voltarão a fazer aquilo que
julgam que é importante
A
tualmente, mais do que em qualquer
outra altura, os líderes têm de conquistar
a cooperação das pessoas. E existem duas
formas primordiais de o fazer: motivação e inspiração.
Embora as duas palavras sejam frequentemente
utilizadas indistintamente, na verdade,
elas têm significados bastante diferentes, dependendo
daquilo que se pretende obter. A motivação
tem a ver com levar as pessoas a agir de
uma forma que permita conseguir um objetivo
específico imediato. Quando está a motivar as
pessoas para fazerem algo que elas podem não
querer necessariamente fazer, tem de lhes oferecer
algo que elas querem em troca. Quando os
treinadores fazem um discurso motivacional às
suas equipas durante meia hora, eles estão a
usar a motivação. Querem que os seus jogadores
regressem ao campo com energia e concentração
renovadas, mesmo que eles possam estar demasiado
cansados ou desmotivados para tentar.
Qual a recompensa deles? A vitória!
Para motivar o seu pessoal:
Diga às pessoas exatamente o que pretende que
elas façam. A motivação tem tudo a ver com fazer
com que as pessoas passem à ação, pelo que, não
seja vago. Evite generalidades como: “Quero que
todos deem o vosso melhor”. Em vez disso diga:
“Preciso que venham cá no fim de semana para
conseguirmos terminar este projeto a tempo”.
• Limite o tempo ou o esforço que está a pedir.
É mais fácil pedir às pessoas para trabalharem
até mais tarde um dia ou até mesmo todos
os dias durante uma semana do que esperar que
trabalhem até mais tarde indefinidamente. Defina
uma data final.
• Partilhe o sacrifício. Os líderes não pedem às
pessoas para fazerem aquilo que eles próprios
não têm vontade de fazer. Não diga ao seu pessoal
para trabalhar durante o fim de semana se
tem planos para passar um dia no spa. Arregace
as mangas e partilhe o esforço.
• Apele às emoções das pessoas. O medo capta
a atenção das pessoas e pode ser um fator de
motivação eficaz: “Se não acabarmos isto agora,
vamos todos perder o emprego”. Mas se continuar
a recorrer ao medo, acabará por desmotivar as
pessoas. As pessoas também podem ser motivadas
e preferem ser motivadas através de emoções
positivas, como o entusiasmo, o orgulho, o sentido
de pertença, e a adrenalina da conquista.
Apresente às pessoas diversos motivos para
fazerem o que pretende que elas façam. Pode
apresentar o seu próprio motivo ou o motivo
da organização para solicitar a ação. «Se não
concluirmos este projeto no prazo, perdemos
o contrato». Mas o melhor motivo de todos é
sempre pessoal. Seria simpático se pudesse dar
ao pessoal uns dias de folga adicionais ou até
um bónus. Ou, pode falar de algo tão intangível
como o companheirismo que resulta de terem
conseguido algo importante juntos. Mas estando
as coisas como estão atualmente, o melhor que
pode oferecer é a esperança de que ninguém irá
perder o emprego.
Para inspirar o seu pessoal:
A inspiração envolve mudar a forma como as
pessoas pensam e se sentem consigo próprias, de
modo a que desejem realizar ações positivas. Explora
os valores e os desejos das pessoas. Os oradores
nas cerimónias de formatura, pelo menos
os melhores, inspiram as suas audiências. Falam
dos desafios que os diplomados irão enfrentar,
tanto pessoalmente como coletivamente, e das
possibilidades de fazer a diferença. A inspiração
apela às maiores aspirações das pessoas, e a sua
mensagem subjacente, frequentemente subentendida
é: “Podes tornar-te naquilo que quiseres
ser”. Não é prometida qualquer recompensa para
além daquela que vem de dentro: a sensação da
satisfação pessoal.
Como líder, sempre que fala acerca de valores,
acerca de identidade (tanto da identidade corporativa
como da identidade de cada pessoa), e
acerca de objetivos a longo prazo, a sua intenção,
quer o saiba ou não, é inspirar. A sua reputação, o
seu carácter e o seu comportamento irão inspirar
as pessoas mais do que qualquer outra coisa. A
única forma de conseguir obter o melhor dos
outros é exigir o melhor de si próprio.
• Conte uma história. As histórias não dizem às
pessoas o que fazer. Elas cativam a imaginação
e as emoções das pessoas. Mostram às pessoas
aquilo em que são capazes de se tornar ou que
são capazes de fazer. Apele ao sistema de valores
das pessoas. Peça-lhes para agirem de um modo
que seja consistente com os valores em que elas
próprias creem.
• Confie nas pessoas. Quando inspira as pessoas,
não lhes está a dizer exatamente o que
fazer ou a dar-lhes orientações precisas. Está a
delegar-lhes poder para darem o seu melhor,
confiando que elas farão então as coisas certas. E
as coisas certas que elas ≠farão podem não ser o
que estava à espera; poderá ser algo muito para
além das suas expetativas mais audazes.
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• Desafie-as. As pessoas não se sentem inspiradas
ao fazerem o normal ou ao cumprirem expetativas.
Elas são inspiradas pela exigência, pela
criatividade, e pelo sacrifício necessário para excederem
o que elas próprias julgavam ser possível.
A motivação e a inspiração não são do domínio
exclusivo dos comunicadores profissionais e dos
oradores. São ferramentas que os líderes utilizam
constantemente em conversas individuais,
em reuniões e em apresentações formais, para
despertarem o que o seu pessoal tem de melhor.
É apenas uma questão de saber qual o momento
certo e a situação correta.
Quando existe um objetivo específico imediato
e a curto prazo que pretende que o seu pessoal
consiga, é preciso que motive as pessoas. Quando
pretende moldar a identidade das pessoas
e as aspirações e compromissos das mesmas a
longo prazo, tem de as inspirar.
Antoine de Saint-Exupéry, o piloto francês e autor
de “O Principezinho”, escreveu: “Se quer construir
um navio, não reúna os homens para juntar madeira,
dividir o trabalho e dar ordens. Em vez disso,
ensine-os a ansiar pelo vasto e infindável oceano.”
Por vezes, tem de fazer ambas as coisas. Tem de
recrutar e organizar as pessoas para fazerem uma
tarefa específica - construir um navio de acordo
com as especificações, dentro do prazo e cumprindo
o orçamento - e por vezes tem de estimular os
desejos das pessoas e manter-se à margem. Talvez
seja surpreendido pelo que elas farão.
www.jornaldasoficinas.com Outubro I 2023 11