20.10.2023 Views

Empresas do Vale_114_Outubro_Novembro

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Mestra ceramista Maria Lira Marques Borges, trabalhan<strong>do</strong> em seu<br />

ateliê.<br />

Trabalhos da mestra Maria Lira Marques Borges.<br />

MARIA LIRA MARQUES BORGES<br />

Mestra ceramista<br />

Mulher negra e pobre, como ela se define, a mestra ceramista, Maria Lira Marques Borges, nasceu em 1945,<br />

na cidade de Araçuaí, no Médio <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha (MG), e estu<strong>do</strong>u até a 7ª série <strong>do</strong> primário e não teve<br />

educação formal em arte. Com cinco anos, começou a observar os presépios em barro que sua mãe Odília Borges<br />

Nogueira, uma lavadeira, fazia para presentear os vizinhos to<strong>do</strong> final de ano. Em seguida, Maria Lira começou a<br />

modelar pequenas figuras a partir da cera de abelha que o pai, sapateiro, passava na linha para costurar calça<strong>do</strong>s.<br />

Ela então passou a frequentar o merca<strong>do</strong> central de Araçuaí, epicentro da via pública da cidade, onde descobriu<br />

potes, panelas e botijas de barro, seu primeiro contato com a cerâmica utilitária da região. Curiosa, conversava<br />

com os artesãos para aprender, e indagava: “porque a peça era daquela cor, porque ia ao forno e porque era lisa”. E<br />

cada um ia dan<strong>do</strong> uma definição. Quan<strong>do</strong> chegava a sua casa, comentava com sua mãe, Odília Borges Nogueira,<br />

que não tinha forno e não queimava nada que produzia. Ela preparava a mistura com alguns ingredientes<br />

no barro para dar a liga, como as cinzas. Por volta dessa época, nos anos de 1970, Maria Lira, conheceu Joana<br />

(poteira), sua maior mestra, que moldava potes e panelas de cerâmica utilitárias, que a ensinou o processo de<br />

extração da melhor argila, sempre na lua cheia, seguin<strong>do</strong> suas tradições, assim como escolher a lenha certa para<br />

queimar as peças no forno, o que não é uma tarefa simples, que passaria a produzir. Do seu primeiro forno saíram<br />

pequenas esculturas mostran<strong>do</strong> “o sofrimento das pessoas, tanto <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha, como de mo<strong>do</strong> geral<br />

no mun<strong>do</strong>”. Estavam representadas cenas como uma<br />

enchente em Araçuaí e uma aldeia africana, e havia<br />

também uma estatueta com triste título “Ajude-me<br />

a levantar”. Seus conhecimentos não vieram de livros<br />

ou da academia, seu saber é empírico. Pesquisa<strong>do</strong>ra<br />

de cantos tradicionais, junto à Frei Chico, Maria Lira<br />

já viajou por vários Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil contan<strong>do</strong> e<br />

cantan<strong>do</strong> as histórias <strong>do</strong>s boiadeiros, lavadeiras, cantos<br />

de beira-mar, entre outros. Aliás, foi lavan<strong>do</strong> roupa com<br />

sua mãe que talvez tenha percebi<strong>do</strong> a potência de sua<br />

voz e a importância de perpetuar cantigas e tradições<br />

populares. Mestra Lira, além de reconhecida como<br />

ceramista, pela produção de máscaras, o que evidencia<br />

sua admiração pela cultura afro-brasileira, e deixa sua<br />

marca mais forte na criação das peças, também é<br />

pintora, desenha o que vem da sua imaginação, ora na<br />

cerâmica, ora no papel. Na pintura, usa a terra colorida<br />

para mostrar o quanto a diversidade de cores valoriza<br />

uma peça. Mestra Lira é uma educa<strong>do</strong>ra e construtora<br />

<strong>do</strong> conhecimento popular. Suas peças já foram<br />

expostas pelo Brasil, e no exterior, como Alemanha,<br />

Áustria, Bélgica, Dinamarca, Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e França.<br />

Recebeu o título de Mestra ao participar da 14ª Feira<br />

de Artesanato <strong>do</strong> <strong>Vale</strong> <strong>do</strong> Jequitinhonha na UFMG, no<br />

ano de 2013.<br />

Vista interna da Casa da Cultura de Pernambuco.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!