Diário da Câmara dos Deputados
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Fevereiro de 1996 DIÁRIo DA CÂMARA DOS DEPUTADOS Sexta-feira 16 04731<br />
o SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) • Com a palavra o<br />
nobre Deputado Luciano Zica.<br />
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA • Aproveitando o meu diretto de<br />
réplica, quero reforçar a minha observação sobre a necessi<strong>da</strong>de de esta Comissão<br />
assumir a tarefa de realização de um seminário no inicio do próximo ano, e ai<br />
proporia que o Presidente Eliseu Resende, com a dedicação que tem a essas<br />
questlles, Iniciasse gestOes no sentido de viabilizá·lo, abrindo espaço para que as<br />
diferentes correntes de pensamento possam manifestar-se. Não tenho dúvi<strong>da</strong> de<br />
que caminharemos, com certeza, para a consoli<strong>da</strong>ção do modelo, porque é um<br />
caminho natural que está correndo o mundo hoje. Queiramos ou não, teremos que<br />
debatê-Io e enfrentá·lo. Então acho que é importante que o façamos.<br />
Como membro <strong>da</strong> Comissão de Minss e Energia, defendo a tese de<br />
que devemos ter uma atuação com profundi<strong>da</strong>de em temas dessa gravi<strong>da</strong>de.<br />
Deverlamos programar, de fato, visitas dessa natureza. Infelizmente este ano não<br />
há condiçoes de serem feitas, mas devemos <strong>da</strong>r uma atenção especial 'a essa<br />
questão. Na ver<strong>da</strong>de, vemos o caso de Angra <strong>dos</strong> Reis, hoje, onde, na situação de<br />
emergência, pelas informaçOes que possulmos, não temos um controle <strong>da</strong> eficácia<br />
desse teste nessa situação. E aquela preocupação que o nobre Deputado Antonio<br />
Feijão apontou, por mais que discorde <strong>dos</strong> seus objetivos na interpretação <strong>da</strong><br />
localização, é ver<strong>da</strong>deira. E uma região de densi<strong>da</strong>de demográfica ver<strong>da</strong>deiramente<br />
preocupante.<br />
Agora, quero aproveitar a oportuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> réplica para fazer ain<strong>da</strong><br />
uma pergunta sobre o seguinte: a quantas àn<strong>da</strong> a questao do submarino nuclear?<br />
O SR. JOSé MAURO ESTEVES SANTOS· Nobre Deputado, não sou<br />
<strong>da</strong> Marinha. (Risos.) Então, não posso responder a questao apropria<strong>da</strong>mente. O<br />
que posso tentar dizer é a quantas an<strong>da</strong> a colaboração CNEN-Marinha para fazer<br />
o submarino nuclear. A CNEN, através <strong>dos</strong> seus estu<strong>dos</strong> de pesquisa, tanto o<br />
CDTN, em Belo Horizonte, como o IPEN, em São Paulo, principalmente, tem<br />
colaborado com a Marinha. Hoje, só para V.Exa, ter uma idéia, há noventa e oito<br />
funcionários <strong>da</strong> CNEN cedi<strong>dos</strong> à Marinha no projeto de enriquecimento. Então, os<br />
recursos, pelo que se sabe, para o projeto de submarino, na Marinha, diminuiram<br />
um pouco. Entao, houve uma postergação <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta em que esse submarino entraria<br />
em operação. Mas acho que isso seria melhor respondido pela própria Marinha. Em<br />
relação a nossa colaboração com a Marinha, ela continua perfetta. Quer dizer, não<br />
houve nenhum problema de continui<strong>da</strong>de e continuaremos a <strong>da</strong>r apoio, com a idéia<br />
de otimizar nossos recursos humanos, que são poucos dentro do setor nuclear.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Eliseu Resende) • Daremos<br />
seqQência á questão apresenta<strong>da</strong> pelo nobre Deputado Luciano Zica em relação á<br />
promoção desse seminário. Acho extremamente importante, particularmente porque<br />
foi coloca<strong>da</strong> uma pergunta do Deputado, que não foi explora<strong>da</strong> devi<strong>da</strong>mente, em<br />
relação à reestruturação de to<strong>da</strong>s as empresas liga<strong>da</strong>s ao setor nuclear. Houve<br />
uma idéia, e acho que essa idéia ain<strong>da</strong> perdura, de deslocar os órgãos de pesquisa<br />
para o Ministério de Ciência e Tecnologia, deixar a CNEN nas diretrizes gerais,<br />
ain<strong>da</strong> subordina<strong>da</strong> á Presidência <strong>da</strong> República, e, evidentemente, as áreas<br />
operacionais se transferirem para o Ministério de Minas e Energia. Agora, tudo isso<br />
depende de uma definição mais clara com relação ao programa nuclear, como um<br />
todo, para que a gente possa dimensionar exatamente essas instituições que vão<br />
cui<strong>da</strong>r do setor.<br />
Com a palavra ao nobre Deputado Luciano Pizzatto.<br />
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO • Sr. Presidente, Sras. e<br />
Srs. Deputa<strong>dos</strong>, agradeço a gentileza de poder pronunciar·me nesta Comissão.<br />
Fico extremamente contente ao ver que há uma convergência de opiniões sobre a<br />
importãncia <strong>da</strong> utilização de energia aliemativa neste Pais, seja nuclear, seja<br />
termoelétrica etc, claro que ca<strong>da</strong> Deputado mostrando a sua preocupação sobre<br />
determina<strong>da</strong> ótica.<br />
Mas, Sr. Presidente, como conservacionista e voltado á área de meio<br />
ambiente também tenho minhas preocupações. E tomei o cui<strong>da</strong>do de tentar<br />
aprender, não só no Brasil, como em outros palses, sobre os riscos e também sobre<br />
a relação custo-beneflcio em termos ambientais e econOmicos do uso de energia<br />
nuclear.<br />
Quero deixar bem claro aqui que comungo com to<strong>dos</strong> os Deputa<strong>dos</strong>,<br />
pois não concordo com o uso <strong>da</strong> energia nuclear para, fina militares. Inclusive,<br />
estive recentemente no Atol de Mururoa, como representante desta Casa,<br />
protestando contra os testes nucleares <strong>da</strong> França, já que acho um absurdo, .no final<br />
deste século, estarmos explodindo bombinhas por ai para mostrar nosso poderio<br />
nuclear. Mas, no caso <strong>da</strong> energia nuclear, realmente lamento, Sr. Presidente, que<br />
to<strong>dos</strong> os membros desta Comissão não possam ter tido a oportuni<strong>da</strong>de de vlsliar a<br />
irmã gêmea de Angra li, operando na Alemanha há mais de dez anos, gerando<br />
energia com rentabili<strong>da</strong>de, sem nenhuma paralisação fora <strong>da</strong> programa<strong>da</strong> e<br />
também sem nenhum incidente.<br />
Se os membros desta Comissão tivessem tido essa oportuni<strong>da</strong>de,<br />
tenho certeza de que estariamos em condição melhor de avaliar a importãncia de<br />
Angra <strong>dos</strong> Reis para o Pais.<br />
E o mesmo acontece com a questão de rejetto, por exemplo. Pudemos<br />
ver uma série de altemativas, inclusive no ex·lado comunista alemão, a mina de sal,<br />
que já serve como depósito extremamente seguro para esse tipo de rejettos, o que<br />
vai muito na linha de racioclnio do nosso Deputado Femando Ferro de que<br />
Municlpios com condições geológicas, com baixa precipitação etc, neste Pais,<br />
desde que tenham suas compensaçOes, possam ser utiliza<strong>da</strong>s para esses fins, e<br />
não precis!'m ser Municlpios no Nordeste, mas que tenham essas condições.<br />
Em relação à questão <strong>da</strong> evacuação, Sr. Presidente, só quero<br />
destacar que fIZ questão de perguntar em vários palses sobre os planos de<br />
evacuação para os segmentos de defesa civil desses palses e to<strong>dos</strong> os possuem.<br />
Mas nenhum pais aplicaria em escala normal o seu projeto de evacuação, como foi<br />
feito aqui no Brasil, porque é óbvio que nesse tipo de teste, em uma escala natural,<br />
ou seja, envolvendo to<strong>da</strong> a socie<strong>da</strong>de, existe uma série de problemas que acabam<br />
gerando, depois, dúvi<strong>da</strong>s que não existirão se esse processo· espero que não<br />
aconteça - tiver que existir de maneira prática, mas que existe quando se faz na<br />
teoria com uma série de dificul<strong>da</strong>des, com movimentos sociais, ás vezes,<br />
protestando etc.<br />
Em relação á energia altemativa, Sr. Presidente, parece-me que o<br />
Brasil está no caminho certo. Agora, é uma questão de custo-beneficio. Visitei o<br />
sistema altemativo eólico, na Califómia, mutto bonito, mas uma escala imensa e<br />
também com um custo ailissimo.<br />
No caso <strong>da</strong> biomassa para a Região Sudeste, especificamente, não<br />
poderia concor<strong>da</strong>r com um desmatamento fantástico <strong>da</strong> Mata Atlântica para a<br />
utilização de biomassa em termoelétrica, mas seria acettável a termoelétrica<br />
utilizando gás, como é o estudo hoje <strong>da</strong> utilização do gasoduto <strong>da</strong> Bollvia e de<br />
outras altemativas.<br />
Para concluir, Sr. Presidente, como to<strong>dos</strong> estamos convergindo para<br />
um mesmo sentido e considerando que a usina de Angra 11 já tem quase 75% <strong>da</strong><br />
sua obra conclul<strong>da</strong>, eu gostaria que me fosse informado o seguinte: quanto estã<br />
custando a não-conclusão de Angra 11 e também quanto custou, em juros, esse<br />
atraso de mais de uma déca<strong>da</strong>, se esse número for disponlvel.<br />
Multo obrigado, Sr. Presidente.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ellseu Resende} • Com a palavra o<br />
Sr. Luiz Laércio Simoes Machado, Presidente de Fumas.<br />
O SR. LUIZ LAéRCIO SIMÕES MACHADO· Nobre Deputado, em<br />
termos diretos, em custos diretos, a não-conclusão de Angra li, os custos que<br />
temos com preservação de equipamentos etc, em tomo de 50 milhoes de dólares,<br />
por ano. Em termos acumulado, um projeto que deveria ter sido construido em<br />
sete anos, levar, vinte anos... Temos ai estu<strong>dos</strong> de improdutivi<strong>da</strong>de que nos<br />
conduzem na base, em dezembro de 1994, janeiro de 1995, em termos de uma<br />
per<strong>da</strong> em tomo, talvez, de 500 a 600 milhoes de dólares. Este é o custo <strong>da</strong><br />
improdutivi<strong>da</strong>de de se fazer um projeto de sete anos em quase vinte anos, como é<br />
o caso que se vem arrastando no Brasil.<br />
O SR. PRESIDENTE (Deputado Ellsau Resillli:le) • Deputado<br />
Luciano Pizzatto, V.Exa. tem direito á réplica, se quiser. (Pausa.)