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SOBRE ALMAS E PILHAS - VERSÃO DIGITAL - Revista Engenharia

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Sobre Almas e Pilhas<br />

OUTRO OUTROS OUTRO CARNAVAIS<br />

(Fev./2004)<br />

Era o ano de 1965...<br />

Eu tinha cinco anos de idade e morava num bairro simples e tranqüilo,<br />

onde as crianças podiam brincar na rua, sem sustos.<br />

Só havia casas e as portas podiam ficar destrancadas durante o dia. O<br />

único senão era o casarão da esquina, único com muros altos, onde nunca<br />

víamos ninguém. Era a nossa “casa mal-assombrada” local!<br />

À noite, nos dias quentes, as pessoas colocavam cadeiras nas ruas e<br />

todos conversavam. Havia respeito, confiança e amizade.<br />

Nosso quintal tinha mamoeiro, nespereira, laranjeira e uma horta bem<br />

diversificada, com canteiros e cercas. E olhem que o terreno tinha apenas<br />

cinco metros de largura! Mas eram as carambolas da Dona “Zalé”, vizinha<br />

predileta, o objeto de desejo. O dinheiro era curto, mas a felicidade não tinha<br />

preço!<br />

O Carnaval era uma brincadeira inocente. Havia malícia e<br />

sensualidade, sem dúvida, mas também havia limites consensuais.<br />

Todos os clubes tinham bailes que sempre estavam cheios, assim como<br />

os campos de futebol de então. Havia bailes públicos nas ruas e desfiles de<br />

fantasias e escolas de samba. Não tinham a pompa e circunstância de hoje,<br />

mas a alegria era esfuziante e despretensiosa.<br />

Os grandes artistas ainda compunham marchinhas para a época. Havia<br />

batalhas de confete, corsos e encontro de blocos, onde o máximo que<br />

acontecia era um jogar farinha e água (água mesmo!) no outro.<br />

Pais e filhos caminhavam de mãos dadas entre foliões fantasiados. As<br />

brincadeiras eram consentidas. Havia quase uma cumplicidade brejeira entre<br />

todos. Tudo era uma grande e democrática festa!<br />

O clima contagiava todos e as pessoas olhavam-se e relacionavam-se<br />

sem tanto preconceito e formalidade.<br />

Se para as crianças tudo já era uma grande festa e fantasia, o Carnaval<br />

era o ponto culminante!<br />

Um dia um vizinho, dono de um caminhão de aluguel, resolveu<br />

convidar todas as crianças da rua para dar um passeio. Os pais nem<br />

titubearam: “Podem ir!”.<br />

O caminhão era um Ford “bigode”, da década de 1920, daqueles que a<br />

partida ainda era na base da manivela. Ninguém se importou, pois além de<br />

Adilson Luiz Gonçalves 120

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