SOBRE ALMAS E PILHAS - VERSÃO DIGITAL - Revista Engenharia
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Sobre Almas e Pilhas<br />
A transmissão atingia índices próximos de 100%, afirmavam, a todo<br />
instante, os geradores de caracteres das emissoras da “Metrópole”.<br />
Fora do alcance das câmeras, uma multidão de curiosos observava as<br />
filmagens. Escondido entre as árvores, o diretor coordenava, por rádio, os<br />
próximos passos da encenação do lado lusitano. Um pouco mais atrás, o<br />
historiador e o chefe da equipe de produção mantinham o olhar fixo na praia,<br />
e o rádio pronto para ser acionado...<br />
Quando todos os portugueses desembarcaram, o chefe da equipe<br />
brasileira acionou o rádio e comandou: - Agora!<br />
Para surpresa dos atores lusos, dezenas de índios surgiram do solo,<br />
puxando cipós escondidos na areia! Entoando gritos de guerra ensurdecedores<br />
e assustadores, os indígenas passaram a voltear os intrépidos navegantes,<br />
imobilizando-os em poucos segundos. Ao mesmo tempo, um outro grupo<br />
indígena lançou suas canoas ao mar e, com poucas remadas, alcançou as<br />
caravelas ao largo. Á bordo, a equipe técnica não entendeu nada, até que<br />
começou a ser lançada ao mar pelos bárbaros habitantes daquelas terras pagãs.<br />
Em terra, os invasores, refeitos do susto inicial, já gritavam palavrões<br />
e ameaçavam reagir. Foi quando as meninas e as crianças jogaram as<br />
sementes e frutas que traziam sobre eles...<br />
- Mas o que é isto, agora? – gritou o “Cabral”.<br />
A resposta veio com uma revoada de araras, que passaram a bicá-los<br />
em busca das sementes e frutas. As mais rápidas e satisfeitas já se aliviavam<br />
ali mesmo...<br />
Os telespectadores lusitanos assistiam, boquiabertos, aquela sucessão<br />
de descalabros históricos. Alguns se engasgaram com o bacalhau e tiveram<br />
que ser socorridos. “Mas onde está o respeito?”, era o pensamento comum.<br />
- Já basta de bosta! – ouviu-se, na praia, um coro camoniano. Mas o<br />
golpe de misericórdia já estava a caminho:<br />
Centenas de cocos, lançados por catapultas escondidas atrás das<br />
árvores, atingiram com precisão os heróicos navegantes, inclusive os que<br />
haviam entrado em cena sem os trajes adequados: os da equipe técnica de<br />
bordo, que tinham nadado até a praia, depois do mergulho forçado.<br />
O público brasileiro, tanto o que assistia a pouca distância, como o que<br />
via pela televisão, inicialmente, acordou. Depois, duvidou no que via. Mas,<br />
aos poucos, passou a torcer e comemorar os desdobramentos das cenas.<br />
Os telefones começaram a tocar e quem não estava assistindo,<br />
sintonizou os canais que transmitiam.<br />
O diretor português correu para a praia, logo no início da investida<br />
indígena, desesperado. Só se acalmou quando um coco certeiro atingiu suas<br />
Adilson Luiz Gonçalves 28