SOBRE ALMAS E PILHAS - VERSÃO DIGITAL - Revista Engenharia
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Sobre Almas e Pilhas<br />
SEDE SEDE DE DE CULTURA CULTURA<br />
CULTURA<br />
(Dez./2004)<br />
A multidão se aglomerava na areia da praia...<br />
O menino circulava agilmente entre o povo, com sua geladeira de<br />
isopor.<br />
- Olha a água geladinha! Mulher bonita não paga, mas também não<br />
leva! -, era seu canto de pregoeiro.<br />
Fazia calor e ele já pensava nos bons trocados que levaria para casa,<br />
no subúrbio. Era pouca coisa, mas indispensável para quem não tinha quase<br />
nada.<br />
Ele mal sabia o que iria acontecer, mas não importava. Em sua<br />
cabecinha, ainda ingênua, a praia e a escola eram dos poucos lugares onde não<br />
se sentia pobre. Eram seus refúgios e paraísos!<br />
Como não era muito alto, mal conseguia vislumbrar o palco. Ouvia<br />
alguns sons, desconhecidos e abafados pelo alarido do povo. Não pareciam<br />
com nada que já tivesse ouvido, antes. Ninguém cantava e nem dava para<br />
dançar com aquilo.<br />
"Esse pessoal deve ser muito ruim, pois já começaram a tocar e<br />
ninguém está prestando atenção!", pensou. De repente, os sons pararam e a<br />
multidão silenciou. Parecia que alguém havia gritado "Estátua!". Mas como<br />
ele não estava ali para brincar, continuou o seu pregão: - Olha a água<br />
geladinha!<br />
Os olhares de desaprovação e vários dedos indicadores cruzados em<br />
lábios fechados o deixaram ressabiado.<br />
- Mas, se eu calar a boca como é que vou vender? - falou baixinho.<br />
Foi então que começaram a bater palmas...<br />
"Mas ninguém tocou nada!", estranhou, em pensamento.<br />
Ele entendia cada vez menos, mas como todos olhavam na direção do<br />
palco ele resolveu avançar até lá.<br />
Uma das vantagens de ser criança é não ocupar muito espaço, mas, no<br />
caso dele, havia um agravante: a geladeira de isopor! Mas sua mãe o havia<br />
ensinado a pedir licença e assim ele foi abrindo sua "picada" por entre o povo,<br />
até que não havia mais ninguém na sua frente.<br />
Surpreso, viu um monte de gente no palco, quase todos sentados,<br />
segurando instrumentos estranhos, mas muito bonitos. Na frente deles havia<br />
um homem com "roupa de casamento"!<br />
O menino sorriu ao pensar: "Isso é jeito de vir para a praia? Esse cara<br />
deve ser de fora".<br />
Adilson Luiz Gonçalves 44