SOBRE ALMAS E PILHAS - VERSÃO DIGITAL - Revista Engenharia
SOBRE ALMAS E PILHAS - VERSÃO DIGITAL - Revista Engenharia
SOBRE ALMAS E PILHAS - VERSÃO DIGITAL - Revista Engenharia
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Sobre Almas e Pilhas<br />
O sujeito estava em cima do que parecia ser um caixote, muito<br />
parecido com o que servia de cama para ele e seu irmão. O tal homem ficou<br />
de costas para o público, “mal-educado”...<br />
Foi quando soaram os primeiros acordes da orquestra sinfônica... O<br />
concerto ao ar livre começara!<br />
Ele nunca tinha ouvido nada parecido no rádio, na televisão ou em<br />
sonho!<br />
O homem com roupa de festa tinha uma varinha numa das mãos, que<br />
quando apontada numa direção fazia o som de um instrumento diferente<br />
aparecer!<br />
"Será uma varinha mágica ou o pessoal tem medo de levar uma surra<br />
com ela?", imaginou o menino.<br />
Sem perceber, a geladeira de isopor, que lhe arqueava o corpo, virou<br />
um banquinho. Ele parou de piscar e seu coração começou a bater mais forte,<br />
no ritmo da música. Seus braços, quase que instintivamente, começaram a<br />
imitar os gestos do regente.<br />
As pessoas em volta passaram a observá-lo, mas ele não notou, pois<br />
estava numa outra "praia", onde só havia ele e a orquestra. Não sentia fome,<br />
nem sede, nem cansaço. "O céu deve ser assim!", pensou.<br />
Quem o via sentia-se duplamente entretido e tocado. Alguns poderiam<br />
jurar que viam um brilho emanar de seu corpo, tal era o deslumbramento de<br />
seu rosto.<br />
Ele ouviu, aplaudiu e pediu bis, junto com a multidão embevecida.<br />
Seus olhos também marejaram com o solo de violino.<br />
Terminado o concerto, ele ainda levou algum tempo para sair daquele<br />
êxtase, mas, quando “acordou”, os que haviam apreciado os dois espetáculos<br />
trataram de comprar todos os copos de água que restavam, com direito a<br />
"caixinha", inclusive.<br />
Estoque encerrado, o garoto partiu feliz da vida para pegar carona no<br />
ônibus e voltar para sua humilde e distante casa. Levava os trocados no bolso<br />
e uma riqueza incalculável na alma! Ele havia saciado a sede de muitos, mas<br />
também havia saciado uma fome e sede que ele ainda não conhecia: a de<br />
cultura!<br />
Saciou, mas logo depois já queria mais...<br />
Senhores governantes e empresários: o povo tem sede de cultura,<br />
como tem fome de alimento! Não lhe neguem nem essa "água" nem o pão<br />
nosso de cada dia!<br />
Cara Evangelina: tentei imaginar por seus olhos. Um grande abraço!<br />
Adilson Luiz Gonçalves 45