SOBRE ALMAS E PILHAS - VERSÃO DIGITAL - Revista Engenharia
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Sobre Almas e Pilhas<br />
A A ÚLTIMA ÚLTIMA ÚLTIMA CRUZADA CRUZADA<br />
CRUZADA<br />
(2005)<br />
Depois de incontáveis ataques terroristas e guerras pontuais, o<br />
fundamentalismo religioso, estrategicamente apoiado pelo poder econômico<br />
mundial, havia assumido o poder. O ódio entre cristãos e muçulmanos havia<br />
atingido níveis alarmantes a ponto de ser ensinado oficialmente nas escolas e<br />
templos religiosos.<br />
A exibição pública de símbolos religiosos, para quem era minoria,<br />
passou a ser um ato de elevado risco e os poucos que permaneceram em<br />
territórios “hostis” foram confinados em guetos. Quem se arriscava a circular<br />
fora desses limites era submetido, no mínimo, a humilhações, mas<br />
multiplicavam-se os casos de agressão física, sádica e assassina, que<br />
lembravam os obscuros tempos do nazismo. A censura rígida só permitia a<br />
leitura de livros religiosos autorizados, o que não incluía os livros sagrados de<br />
outras religiões. A ignorância e o ódio eram cultivados como um insano e<br />
lucrativo negócio. Nem mulheres e crianças eram poupadas!<br />
As notícias da escalada de desrespeito e violência eram usadas pelos<br />
líderes como fermento para incitar ao revide igualmente covarde, que atingira<br />
seu estágio mais “puro” e irracional. O patrulhamento ideológico-religioso era<br />
intensivo.<br />
Todos estavam armados até aos dentes com o que havia de mais<br />
sofisticado, tecnologicamente. Aliás, os únicos estrangeiros bem-vindos eram<br />
os mercadores e instrutores da morte: a indústria bélica! Estes eram mais<br />
protegidos que os próprios cidadãos e vistos como emissários divinos, capazes<br />
de assegurar o poder secular necessário à vitória física definitiva, já que a<br />
supremacia religiosa era tida como inquestionável, para ambos os lados.<br />
Havia discursos de paz vindoura, pós-apocalíptica; promessas de<br />
paraíso repetidas à exaustão, por toda parte, mas condicionados ao<br />
aniquilamento dos adversários. E todos eram condicionados para acreditarem<br />
estar física e espiritualmente prontos para fazê-lo. Assim foi que os líderes das<br />
partes reuniram-se e decidiram promover um combate aberto, com data e hora<br />
marcada: um confronto final!<br />
O emissário cristão o chamou de “A Última Cruzada”, enquanto o<br />
muçulmano a batizou de “A Última Jihad”, pois ambos acreditavam que nela<br />
seria decretada a destruição absoluta dos “infiéis”, ou seja, dos outros.<br />
Adilson Luiz Gonçalves 20