SOBRE ALMAS E PILHAS - VERSÃO DIGITAL - Revista Engenharia
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Sobre Almas e Pilhas<br />
música clássica e instrumental. Inglês, Francês, Italiano e Espanhol eram<br />
idiomas ouvidos diariamente; ícones do Iê-Iê-Iê e Rock conviviam<br />
pacificamente com os mestres da Bossa Nova e Samba (a sigla MPB foi<br />
criada naquela época). Tinha tudo de bom das décadas anteriores (os artistas<br />
da era de ouro do rádio ainda estavam em grande forma) e todas as sementes<br />
que brotariam pouco depois.<br />
Na televisão, ainda jovem e experimental, Tupy, Record, Excelsior e<br />
Globo premiavam-nos com festivais musicais honestos, atores de primeira<br />
grandeza e programas que marcaram a vida de muitas pessoas. Apesar de ter<br />
entre três e dez anos, ainda me lembro de: Times Square, Corte & Rayol<br />
Show, Moacyr Franco Show, Hotel do Sossego, Praça da Alegria, Jovem<br />
Guarda, Pim-Pam-Pum, Zás-Trás, O Fino da Bossa, Astros do Disco, Família<br />
Trapo e tantos outros. Era muito mais fácil encontrar uma atração interessante<br />
nos poucos canais abertos, com todas as dificuldades técnicas que existiam na<br />
época do que hoje, incluindo as TVs a cabo, Internet e Satélite! Até o anúncio<br />
de problemas técnicos era divertido: “Não desligue não! O problema é nosso!<br />
Estou fazendo o que posso para consertar a televisão...”, era o início da<br />
vinheta que a TV Excelsior colocava no ar – e que a gente cantava junto -<br />
quando alguma falha de transmissão acontecia.<br />
Nem vou falar sobre o futebol-arte de Santos, Botafogo, Palmeiras e<br />
Cruzeiro... Seria covardia!<br />
Saudosismo? Total e sem culpa! Aliás, ainda compro CDs com<br />
gravações que não podia comprar da época. Nem precisava, pois tem tanta<br />
gente regravando os sucessos de então. E a “galera” pensa que é coisa nova!<br />
Mas esse saudosismo não é patológico, nem me impede de gostar – e<br />
muito – do que é novo e tem qualidade.<br />
Os anos 1960 foram tempos em que preconceitos foram quebrados, a<br />
liberdade de expressão assumiu novos contornos e as massas mostraram seu<br />
poder de transformação. Também foi o início de muita coisa ruim: apologia<br />
do vício, perda de valores familiares e antropofagia profissional. Isso é<br />
justificável, pois toda a barragem quando rompe provoca grandes estragos<br />
antes que o equilíbrio das águas se estabeleça.<br />
No entanto, talvez o maior legado daquela década tenha sido a<br />
subversão do tempo, pois, até então, quem passava dos trinta era considerado<br />
“coroa”, “careta” ou estava “por fora”. Só que quem falava isso envelheceu e<br />
foi transferindo sistematicamente esse limite para o que ainda está para<br />
chegar. Que o diga Mick Jagger...<br />
Definitivamente, velhice passou a ser um estado de espírito, uma<br />
opção pessoal e intransferível!<br />
Adilson Luiz Gonçalves 137