Em busca da infância perdida em Manhattan - Fonoteca Municipal ...
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festival<br />
proibiu o YouTube e o iTunes<br />
de utilizar<strong>em</strong> a sua música<br />
e n<strong>em</strong> sequer t<strong>em</strong> sítio<br />
oficial na Internet. Numa entrevista<br />
recente afirmava que<br />
a Internet está acaba<strong>da</strong>. “Não<br />
vejo por que é que hei-de <strong>da</strong>r a minha<br />
música ao iTunes ou a qu<strong>em</strong><br />
quer que seja. Não me pagam um<br />
avanço e ain<strong>da</strong> por cima ficam zangados,<br />
quando não consegu<strong>em</strong> o<br />
que quer<strong>em</strong>.” Para ele, a Internet<br />
é como a MTV. “A MTV era o máximo<br />
e de repente ficou <strong>da</strong>ta<strong>da</strong>.”<br />
Quase não dá entrevistas, faz os<br />
concertos que quer, lança discos<br />
quando lhe apetece. Diz-se satisfeito<br />
com o que t<strong>em</strong>. E t<strong>em</strong> ain<strong>da</strong> muito.<br />
Continua a ter Paisley Park, perto<br />
de Minneapolis, um complexo<br />
de edifícios e estúdios que é sinónimo<br />
de Prince, como Neverland<br />
era de Michael Jackson. Mas algo<br />
mudou há muitos anos. Tudo terá<br />
começado começad <strong>em</strong> 1996, quando o filho<br />
Gregory faleceu, sete dias depois<br />
de ter na nascido. Logo de segui<strong>da</strong> fo-<br />
ram os ppais,<br />
o pianista John L. Nel-<br />
son e a cantora c jazz Mattie Shaw.<br />
A mãe<br />
era test<strong>em</strong>unha de Jeová<br />
e o seu desejo d final foi que o filho<br />
se conve convertesse. Nesse período crí-<br />
tico – par para além <strong>da</strong>s mortes incompatibilizou-se<br />
patibilizo com editoras – aproximou-se<br />
ximou-s de Larry Graham, bai-<br />
xista e fun<strong>da</strong>dor fu dos Sly and the<br />
Family Stone, S que lhe disse que<br />
havia recuperado rec de uma vi<strong>da</strong> de<br />
drogas e<br />
violência pelo facto de<br />
ser teste test<strong>em</strong>unha de Jeová. E a con-<br />
versão aconteceu.<br />
a<br />
Deu la largas somas de dinheiro<br />
para cau causas <strong>em</strong> todo o mundo e o<br />
hom<strong>em</strong> que q era conhecido por coleccionar<br />
lecciona casos (Kim Basinger,<br />
Sheena Easton E ou Cármen Electra)<br />
tornou-se tornou-s monogâmico. A sua na-<br />
mora<strong>da</strong> aactual<br />
é Bria Valente, cujo<br />
álbum dde<br />
estreia produziu o ano<br />
passado. passado Ela também é test<strong>em</strong>u-<br />
nha de Je Jeová. Ele diz que estu<strong>da</strong>m<br />
cinco horas ho por dia. Hoje, quando<br />
lhe falam<br />
<strong>da</strong>s letras libidinosas e<br />
<strong>da</strong> capa<br />
de discos como “Lovese-<br />
xy” onde surge nu, limita-se a sor-<br />
rir e diz que “vive agora, não no<br />
passado”. passado<br />
Ao longo lon de 30 anos de carreira,<br />
vendeu mais de 100 milhões de<br />
álbuns. A déca<strong>da</strong> de 80 foi a sua<br />
fase mais mai cintilante, aquela que<br />
marcou definitivamente os cami-<br />
nhos <strong>da</strong> música popular, <strong>em</strong> ál-<br />
buns com como “Dirty Mind”, “Controversy”,<br />
troversy “1999”, “Purple Rain”,<br />
“Parade” “Parade e “Sign ‘O’ Times”. Na<br />
alvora<strong>da</strong> dos anos 80, <strong>em</strong> pleno<br />
período pós-punk, não era fácil<br />
gostar dele. d Não era só a música,<br />
de economia econo narrativa, capaz de<br />
congregar congrega num só miligrama pop,<br />
funk, soul, so folk ou rock & roll de<br />
forma la lasciva e apaixona<strong>da</strong>, era<br />
também o visual e a atitude extravagante,<br />
travaga num t<strong>em</strong>po onde o<br />
artifício artifíc e o excesso não eram<br />
paradigmas parad reinantes.<br />
Era como se conseguisse sintetizar<br />
tetiz o que vinha de trás –<br />
Não vejo por que é que<br />
hei-de <strong>da</strong>r a minha<br />
música ao iTunes.<br />
Não me pagam um<br />
avanço e ficam<br />
zangados, quando<br />
não consegu<strong>em</strong> o que<br />
quer<strong>em</strong><br />
Marvin Gaye, Miles Davis, Chic, Sly<br />
& The Family Stone ou Beatles –,<br />
ao mesmo t<strong>em</strong>po que prenunciava<br />
quase tudo o que iria marcar a música<br />
negra pop, e não só, <strong>da</strong>s próximas<br />
déca<strong>da</strong>s – Pharrell Williams,<br />
Kenye West, Justin Timberlake,<br />
Timbaland, Beck, Jamie Lidell ou<br />
OutKast. Durante muitos anos,<br />
coincidente com os anos de ouro<br />
<strong>da</strong> MTV, insistiu-se numa rivali<strong>da</strong>de<br />
com Michael Jackson. Mas eram<br />
de mundos diferentes. Jackson era<br />
o hom<strong>em</strong> que tentava s<strong>em</strong>pre ajustar-se<br />
ao centro do mercado. Prince<br />
simplesmente não queria saber.<br />
Era uma mente livre.<br />
E excêntrica. Famosas ficaram<br />
as digressões faraónicas e os seus<br />
caprichos. Há sete anos, <strong>em</strong> Miami,<br />
num debate sobre a indústria<br />
<strong>da</strong> música moderado pelo falecido<br />
Tony Wilson, <strong>da</strong> editora Factory,<br />
era apontado como o caso típico<br />
do músico esbanjador. Na altura,<br />
Casey Spooner (dos Fischerspooner)<br />
estava <strong>em</strong> estúdio com músicos<br />
de Prince, que lhe contavam<br />
histórias do género desta: “Era<br />
capaz de <strong>da</strong>r um concerto <strong>em</strong> Roma,<br />
depois tocar num clube local<br />
e, na mesma noite, voar no seu<br />
avião particular para o seu estúdio<br />
<strong>em</strong> Minneapolis onde tinha os seus<br />
músicos à espera para registar<br />
uma ideia que havia tido nessa<br />
mesma noite. Depois, no dia seguinte,<br />
regressava à Europa para<br />
mais um concerto!”<br />
Longe vão os t<strong>em</strong>pos <strong>em</strong> que<br />
cantava, no princípio dos anos 90,<br />
“My name is Prince and i am<br />
funky”, como forma de tentar conquistar<br />
público do universo hiphop,<br />
apostando numa linguag<strong>em</strong><br />
mais afirmativa. Hoje já não tenta<br />
ser qu<strong>em</strong> não é. É ver<strong>da</strong>de que já<br />
não quer expandir a paleta <strong>da</strong> sua<br />
música, como aconteceu nos anos<br />
80 e primeira metade dos 90, <strong>em</strong><br />
que ca<strong>da</strong> novo álbum seu era um<br />
desassossego de novi<strong>da</strong>de. Hoje<br />
limita-se a fazer álbuns à Prince,<br />
ou seja, exactamente o mesmo que<br />
a maior parte dos agentes <strong>da</strong> pop<br />
moderna tenta fazer.<br />
A próxima vez que uma test<strong>em</strong>unha<br />
de Jeová vos inquirir, já<br />
sab<strong>em</strong>, olh<strong>em</strong> para os sapatos.<br />
Nunca se sabe. Pode ser Prince.<br />
Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 31