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Em busca da infância perdida em Manhattan - Fonoteca Municipal ...

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EMMANUEL BASTIEN ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DA EDIÇÃO Nº 7407 DO PÚBLICO, E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE<br />

Joshua e Ben Safdie<br />

“Vão-me “ <strong>busca</strong>r alecrim”, fi lme de catarse e fantasia<br />

Sexta-feira<br />

16 Julho 2010<br />

www.ipsilon.pt<br />

<strong>Em</strong> <strong>busca</strong> <strong>da</strong> <strong>infância</strong> perdi<strong>da</strong> <strong>em</strong> <strong>Manhattan</strong><br />

Prince Pet Shop Boys Roman Polanski Daniel Blaufuks Andrés Neuman


Flash<br />

A festa de B<br />

Facha<strong>da</strong> chega <strong>em</strong><br />

“download” gratuito<br />

Perto do<br />

coração<br />

<strong>da</strong>s<br />

imagens<br />

Sumário<br />

Joshua e Ben Safdie 6<br />

<strong>Em</strong> <strong>busca</strong> <strong>da</strong> sua <strong>infância</strong><br />

perdi<strong>da</strong><br />

Roman Polanski 12<br />

O realizador-fantasma e o seu<br />

novo fi lme<br />

Coimbra 14<br />

Será esta uma ci<strong>da</strong>de fora do<br />

mapa cultural?<br />

Daniel Blaufuks 18<br />

“Terezín”, um livro sob<br />

infl uência de W. G. Sebald<br />

Jer<strong>em</strong>y Xido 26<br />

Na performance dele, Angola<br />

é um mundo novo<br />

Prince 28<br />

O mais esperado do Festival<br />

Super Bock Super Rock ck<br />

Tigrala 36<br />

A nova ban<strong>da</strong> de Norberto berto<br />

Lobo é um trio de xamãs mãs<br />

Ficha Técnica<br />

O EP, numa edição <strong>em</strong> vinil, só<br />

chega <strong>em</strong> Agosto, mas B Facha<strong>da</strong><br />

não quer perder t<strong>em</strong>po. Quer que a<br />

palavra se espalhe, computador a<br />

computador, ficheiro partilhado a<br />

ficheiro partilhado. Saiba-se então<br />

que o novo disco de B Facha<strong>da</strong>, “Há<br />

Festa na Moradia”, está disponível<br />

para “download” gratuito no “site”<br />

<strong>da</strong> sua editora, www.mbarimusica.<br />

com.<br />

Assim, quando chegar a edição<br />

física, já o povo e os “hipsters”, os<br />

fãs e os curiosos conhecerão as sete<br />

canções do disco que sucede ao<br />

celebrado álbum homónimo que o<br />

cantautor lançou <strong>em</strong> Dez<strong>em</strong>bro do<br />

ano passado. E se esse era álbum de<br />

folhas caí<strong>da</strong>s, de amores,<br />

desamores e melancolias para fruir<br />

no Inverno, “Há Festa na Moradia”<br />

é necessariamente diferente – ou<br />

não lhe chamasse o seu autor “disco<br />

de Verão”, mantendo a alternância<br />

de estações que vêm marcando a<br />

sua activi<strong>da</strong>de discográfica.<br />

“Fim-de-S<strong>em</strong>ana no Pónei<br />

Dourado” foi o disco do Verão de<br />

2009, “B Facha<strong>da</strong> (O Disco)” o do<br />

Inverno do mesmo ano e “Há Festa<br />

na Moradia” apanha-nos com 40<br />

graus à sombra (ou perto disso).<br />

Efusivo e saltitão, ou <strong>em</strong> descanso<br />

dengoso à beira <strong>da</strong> piscina, cruza<br />

animação Variações com vago<br />

requebro africano, homenageia<br />

Sérgio Godinho com versos b<strong>em</strong>humorados<br />

e, numa canção cujo<br />

título, “M<strong>em</strong>órias de Paco Forcado,<br />

vol.1”, garante desde logo um par<br />

de audições, apresenta-nos uma<br />

personag<strong>em</strong> que se passeia pela<br />

boémia lisboeta com um único<br />

desejo <strong>em</strong> mente: “Eu vou ser o<br />

puto Abrantes / Eu vou ser o Pan<strong>da</strong><br />

Bear / Entrar onde eu quiser /<br />

Entrar Entrar onde eu<br />

quiser.” Não há<br />

dúvi<strong>da</strong>. B<br />

Facha<strong>da</strong> está<br />

de volta. A<br />

marca não<br />

engana.<br />

A frase é dele e não deixa<br />

muito espaço a mais na<strong>da</strong>:<br />

“Sinto-me como se tivesse<br />

cegado por excesso de olhar<br />

o mundo.” Al Berto<br />

manteve até ao fim – um fim<br />

que chegou depressa (1948-<br />

1997) – uma relação<br />

privilegia<strong>da</strong> com a imag<strong>em</strong>.<br />

“Ele olhava com muita<br />

atenção para tudo, olhava<br />

b<strong>em</strong>”, diz João Pinharan<strong>da</strong>,<br />

o crítico de arte e<br />

comissário <strong>da</strong> exposição “A<br />

Secreta Vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Palavras”,<br />

que hoje é inaugura<strong>da</strong> no<br />

Centro Cultural <strong>Em</strong>merico<br />

Nunes e no Centro de Artes<br />

de Sines.<br />

Essa aproximação do poeta<br />

português à representação<br />

visual do mundo é o ponto<br />

de referência desta<br />

exposição que vai <strong>busca</strong>r o<br />

título a um dos livros de Al<br />

Berto, “A Secreta Vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

Imagens” (1991). É neste<br />

volume que o autor, que<br />

começou por frequentar<br />

cursos de artes plásticas <strong>em</strong><br />

Portugal e na Bélgica,<br />

passeia pelo universo de<br />

grandes nomes <strong>da</strong> história<br />

<strong>da</strong> arte, de desde Fra Angélico<br />

a Joseph BBeyus,<br />

passando<br />

por Cézan Cézanne, Van Gogh e<br />

Chagall, mmas<br />

também por<br />

Cesariny, Rui Chafes, Pedro<br />

Capalez, Julião Ju Sarmento e<br />

Pedro Cab Cabrita Reis.<br />

São São precis precisamente alguns<br />

artistas<br />

a integrar: “Os<br />

consagrados estavam<br />

escolhidos à parti<strong>da</strong> por<br />

ser<strong>em</strong> citados no livro,<br />

tirando o Cesariny e o<br />

Dacosta, que não quis<br />

incluir por já ter<strong>em</strong><br />

morrido. Os mais novos<br />

pareceram-nos<br />

interessantes <strong>em</strong> diálogo<br />

com os ‘clássicos’.”<br />

Do grupo dos “mais novos”<br />

faz<strong>em</strong> parte Edgar Massul,<br />

Fernando Mesquita, João<br />

Ferro Martins, Nuno Cera,<br />

Pedro Diniz Reis e Sara<br />

Santos, entre outros. O dos<br />

“clássicos” conta ain<strong>da</strong> com<br />

José Pedro Croft, Pedro<br />

Casqueiro, António Correia,<br />

Il<strong>da</strong> David ou Rui Sanches.<br />

Enquanto os jovens artistas<br />

criaram a partir de duas<br />

breves residências na ci<strong>da</strong>de<br />

e arredores, visitando os<br />

lugares de Al Berto que nos<br />

habituámos a reconhecer na<br />

sua poesia, os consagrados<br />

irão apresentar, na sua<br />

maioria, obras que já foram<br />

expostas. A única excepção<br />

é José Pedro Croft, que<br />

mostrará uma série de<br />

gravuras inéditas. Chafes,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, levará à<br />

exposição um conjunto de<br />

13 bancos de ferro que<br />

imitam os <strong>da</strong>s galerias dos<br />

museus; Calapez participa<br />

com uma<br />

ggrande d pintura i t<br />

fragmenta<strong>da</strong> e Cabrita Reis<br />

com duas obras: uma<br />

grande cruz <strong>em</strong> ferro e uma<br />

torre de três metros de<br />

altura, <strong>em</strong> alumínio<br />

brilhante.<br />

Entre os mais novos a<br />

diversi<strong>da</strong>de de suportes é<br />

mais vasta: João Ferro<br />

Martins faz-se representar<br />

através de uma<br />

“performance” musical que<br />

se transformará <strong>em</strong><br />

instalação; Nuno Cera e<br />

Rodrigo Tavares Peixoto<br />

mostram fotografia;<br />

Rodrigo Oliveira expõe sete<br />

painéis com materiais <strong>da</strong><br />

região e informação<br />

recolhi<strong>da</strong> no Arquivo<br />

Distrital de Setúbal; Vasco<br />

Costa opta pela instalação<br />

(não há como enganar, é a<br />

única com carvão); Sara<br />

Santos passa um vídeo.<br />

Jogando s<strong>em</strong>pre na<br />

ambigui<strong>da</strong>de entre a poesia<br />

e a prosa, entre o real e o<br />

imaginário, Al Berto foi<br />

construindo um universo<br />

paralelo que agora paira<br />

sobre “A Secreta Vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

Palavras”. João Pinharan<strong>da</strong>,<br />

que conheceu Al Berto<br />

quando tinha apenas 11 anos<br />

e se tornou mais tarde seu<br />

Directora Bárbara Reis<br />

Editor Vasco Câmara, Inês s Na<strong>da</strong>is Na<strong>da</strong>is<br />

(adjunta)<br />

destes<br />

artistas<br />

pportugueses<br />

que<br />

JJoão<br />

Pinharan<strong>da</strong><br />

amigo, não t<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong>s <strong>em</strong><br />

afirmar que não se trata de<br />

uma exposição ilustrativa,<br />

Conselho editorial Isabel<br />

fez questão de<br />

mas de uma evocação <strong>da</strong><br />

Coutinho, Óscar Faria, Cristina stina<br />

Fernandes, Vítor Belanciano no<br />

Design Mark Porter, Simon n<br />

Esterson, Kuchar Swara<br />

Directora de arte Sónia<br />

rreunir<br />

na<br />

exp exposição de Sines, a<br />

prim primeira a juntar os<br />

dois centr centros culturais <strong>da</strong><br />

importância <strong>da</strong> imag<strong>em</strong>. “A<br />

exposição t<strong>em</strong> este título,<br />

porque funciona como um<br />

espelho do livro, como se<br />

Matos<br />

ci<strong>da</strong>de. ci<strong>da</strong>de. Tu Tudo começou<br />

procurasse uma solução<br />

Designers Ana Carvalho,<br />

Carla Noronha, Mariana<br />

Soares<br />

Editor de fotografi a Miguel el<br />

Madeira<br />

E-mail: ipsilon@publico.pt<br />

<strong>Em</strong> vinil, o novo disco de B<br />

Facha<strong>da</strong> só chega <strong>em</strong> Agosto<br />

numa con conversa com Cabrita<br />

Reis, diz PPinharan<strong>da</strong>,<br />

explicando explicand como foram<br />

surgindo oos<br />

nomes dos<br />

Al Berto<br />

inversa à <strong>da</strong> poesia de Al<br />

Berto.” “A Secreta Vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

Palavras” termina a 25 de<br />

Set<strong>em</strong>bro. Lucin<strong>da</strong> Canelas<br />

DANIEL ROCHA<br />

“The unnamed word #4”, de 2008, é uma <strong>da</strong>s duas obras<br />

que Pedro Cabrita Reis leva à exposição inspira<strong>da</strong> <strong>em</strong> Al Berto<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 3


Flash<br />

“Gardenia”, de Alain Platel, passa<br />

por Lisboa a 18 e 19 de Fevereiro<br />

O teatro e a<br />

antropologia<br />

É assim desde há 64 anos, mais<br />

anulação menos anulação (e foram<br />

duas, <strong>em</strong> 1968 e 2003), e não há<br />

razão para ser diferente. Teatro e<br />

Verão conjugados significam,<br />

s<strong>em</strong>pre, Festival de Avignon. Às<br />

vezes são opostos – o Sudeste<br />

francês é abrasador, às vezes as<br />

peças são tão polémicas que há<br />

espectadores que ferv<strong>em</strong> –, mas ano<br />

após ano, durante um mês, afinamse<br />

as programações <strong>da</strong> t<strong>em</strong>pora<strong>da</strong><br />

seguinte, negoceiam-se t<strong>em</strong>áticas e<br />

estratégias, finge-se que o discurso<br />

<strong>da</strong> arte pela arte pode existir s<strong>em</strong><br />

depender <strong>da</strong>s condições <strong>em</strong> que é<br />

produzido.<br />

E, no entanto, ano após ano,<br />

espectáculo após espectáculo, sala<br />

cheia atrás de sala cheia, as filas de<br />

espera faz<strong>em</strong>-se para os hotéis, as<br />

lavan<strong>da</strong>rias, os restaurantes, os<br />

bilhetes, os debates e os mergulhos<br />

na piscina, já que o rio sobre o qual<br />

as meninas <strong>da</strong>nçavam há muito que<br />

está poluído (e a ponte nunca mais<br />

foi reconstruí<strong>da</strong>). E à noite (e por<br />

vezes de tarde, e muitas vezes de<br />

manhã) há teatro <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> esquina<br />

– e não estamos a ser metafóricos.<br />

Parece, e é, um festival de Verão,<br />

ostensivo, polémico, polinsaturado,<br />

criado por Jean Vilar com o<br />

objectivo de rasgar a paisag<strong>em</strong><br />

cultural francesa e europeia, e hoje<br />

dirigido por Hortense Archambault<br />

e Vincent Baudriller. Este ano, até<br />

27 de Julho, a poesia e a música<br />

atravessam a programação, b<strong>em</strong><br />

como a vontade de “pensar o<br />

colectivo” – afinal é nos anos de<br />

maior crise que as liberalizações de<br />

costumes se dão e, para mais, 2010<br />

marca os 30 anos de uma política<br />

estratégica para o sector cultural<br />

<strong>em</strong> França. “As noções de público,<br />

de serviço público e de b<strong>em</strong> público<br />

estão na base desta programação”,<br />

explicaram os seus directores <strong>em</strong><br />

conferência de imprensa <strong>em</strong> Maio.<br />

E porque o teatro vive dessa<br />

permanente insegurança de não<br />

saber a qu<strong>em</strong> se dirige, a<br />

programação, defini<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />

colaboração com os artistas<br />

associados – o encenador Christoph<br />

Marthaler (de qu<strong>em</strong> vimos “Winch<br />

Only” na Gulbenkian, <strong>em</strong> 2007) e o<br />

escritor Olivier Cadiot, inédito <strong>em</strong><br />

4 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

Portugal –,<br />

“mergulha na<br />

reali<strong>da</strong>de” para<br />

entender o presente. E fá-lo<br />

misturando os ingredientes <strong>da</strong><br />

cultura popular perturbados pela<br />

herança do passado, ocupando os<br />

espaços nobres do festival, <strong>em</strong><br />

peças que são propostas de<br />

intervenção sobre a própria<br />

mecânica cénica, já que Marthaler e<br />

Cadiot são defensores de um teatro<br />

que só através <strong>da</strong> exposição do seu<br />

artificialismo se pode sustentar – ou<br />

seja, o real é algo inventado pelo<br />

próprio real.<br />

Quer isto dizer que nomes como<br />

Faustin Lyniekula, Massimo<br />

Furlan, Angélica Liddell, Gisèle<br />

Vienne, Pierre Rigal, Boris<br />

Charmatz, Phillipe Quesne (que<br />

vimos <strong>em</strong> Serralves, Maria Matos,<br />

Cit<strong>em</strong>or, Culturgest, Centro Cultural<br />

de Belém) terão <strong>em</strong> Avignon o palco<br />

aberto para uma exposição mais<br />

precisa sobre o que ain<strong>da</strong> se pode<br />

fazer a partir do interior <strong>da</strong> própria<br />

máquina teatral. Tal como Alain<br />

Platel, que apresentou “Gardenia”<br />

no passado fim-de-s<strong>em</strong>ana, feito a<br />

partir de depoimentos, e corpos, de<br />

travestis, que na sua exposição<br />

“trabalham na <strong>busca</strong> de um sentido<br />

para o termo autêntico”<br />

(“Gardenia” chega ao CCB <strong>em</strong><br />

Fevereiro).<br />

A escolha de “artistas com<br />

percursos e discursos difíceis de<br />

descrever” responde a uma vontade<br />

de pensar o próprio festival, esse<br />

paquiderme <strong>da</strong> cena internacional,<br />

tão difícil de ignorar como de viver<br />

com ele. Tiago Bartolomeu Costa<br />

A arte pop de<br />

Murakami chega ao<br />

Palácio de Versalhes<br />

É um dos artistas cont<strong>em</strong>porâneos<br />

mais cotados no mundo,<br />

comparado a Jeff Koons, pelo<br />

“kitsch” e colorido ao estilo ban<strong>da</strong><br />

desenha<strong>da</strong> <strong>da</strong>s suas obras, mas<br />

ain<strong>da</strong> pela legião de fãs (e também<br />

de críticos) que ambos arrastam <strong>em</strong><br />

todo o mundo, e pela presença<br />

assídua nos museus mais<br />

importantes. Depois <strong>da</strong><br />

retrospectiva do ano passado no<br />

Museu Guggenheim de Bilbau, e de<br />

Música<br />

Alex Turner, o líder <strong>da</strong><br />

ban<strong>da</strong> Arctic Monkeys,<br />

compôs várias canções<br />

para o fi lme inglês “The<br />

Submarine”, as quais<br />

serão mistura<strong>da</strong>s por<br />

James Ford do grupo<br />

Simian Mobile Disco.<br />

O fi lme, dirigido pelo<br />

actor Richard Ayoade,<br />

vai estrear apenas no<br />

Murakami vai invadir Versalhes<br />

com a irreverência habitual<br />

outras exposições no Metropolitan<br />

Museum of Art de Tóquio ou no<br />

Museum of Fine Arts de Boston, o<br />

artista japonês Takashi Murakami<br />

vai expor, a partir de 14 de<br />

Set<strong>em</strong>bro, nos salões nobres e nos<br />

sumptuosos jardins do Palácio de<br />

Versalhes, <strong>em</strong> França, que <strong>em</strong> 2008<br />

programou uma exposição de Jeff<br />

Koons.<br />

“Jeff Koons é um génio, eu sou<br />

simplesmente divertido”, disse<br />

Murakami ao jornal espanhol<br />

“ABC”, um pouco no mesmo tom<br />

com que no ano passado dizia ao<br />

“El País”: “Não sou um artista<br />

global. Sou japonês.”<br />

As suas esculturas minimalistas, os<br />

quadros de cores garri<strong>da</strong>s e traço<br />

negro, os seus balões insufláveis<br />

gigantes, os relógios, almofa<strong>da</strong>s e<br />

outros objectos <strong>em</strong> série, a sua arte<br />

atenta e desafiadora – como resume<br />

a pequena biografia do artista<br />

apresenta<strong>da</strong> no “site” do Palácio de<br />

Versalhes – chega a todo o lado, mas<br />

a ver<strong>da</strong>de é que, insiste, é a sua<br />

condição de não-ocidental que lhe<br />

mol<strong>da</strong> o olhar sobre o mundo.<br />

E isso estará reflectido na forma<br />

como se deixou inspirar pela<br />

residência real man<strong>da</strong><strong>da</strong> construir<br />

por Luís XIV. “Para um japonês<br />

como eu, o Palácio de Versalhes é<br />

um dos maiores símbolos <strong>da</strong><br />

história ocidental”, escreve eve<br />

Murakami. “É um <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>a ma de<br />

uma ambição de elegância, ia, de<br />

sofisticação e de arte com m que a<br />

maioria de nós apenas pode ode<br />

sonhar. (...) Talvez a Versalhes salhes <strong>da</strong><br />

minha imaginação correspon<strong>da</strong> spon<strong>da</strong> a<br />

uma visão exagera<strong>da</strong> e<br />

transforma<strong>da</strong> e que se tenha nha<br />

tornado numa espécie de e<br />

mundo completamente à<br />

parte e irreal. Foi isso que e<br />

tentei retratar nesta<br />

exposição. Sou como o<br />

Gato Cheshire de ‘Alice no o<br />

País <strong>da</strong>s Maravilhas’ com m<br />

o seu sorriso diabólico.<br />

(...) Com um largo<br />

sorriso, convido-vos a<br />

descobrir<strong>em</strong> o País <strong>da</strong>s<br />

Maravilhas de<br />

Versalhes.” A exposição<br />

pode ser vista até 12 de<br />

Dez<strong>em</strong>bro.<br />

ETHAN MILLER/AFP<br />

CORTESIA DE: THE ESTATE OF DENNIS HOPPER<br />

próximo o<br />

ano. Foi<br />

Ayoade<br />

qu<strong>em</strong><br />

convidou ou<br />

Turner<br />

para<br />

trabalhar ar<br />

na ban<strong>da</strong>– <strong>da</strong>–<br />

sonora do<br />

fi lme. Não ão<br />

Uma retrospectiva<br />

para Dennis Hopper<br />

Paul Newman<br />

fotografado por<br />

Hopper <strong>em</strong> 1964<br />

É uma espécie de testamento<br />

artístico de Dennis Hopper –<br />

mês e meio após a sua morte, o<br />

Museu de Arte Cont<strong>em</strong>porânea<br />

de Los Angeles inaugurou no<br />

passado dia 11 a exposição<br />

Dennis Hopper Double<br />

Stan<strong>da</strong>rd. Trata-se <strong>da</strong> primeira<br />

retrospectiva do trabalho do<br />

realizador realizador de “Easy Easy Rider”<br />

no campo <strong>da</strong>s aartes<br />

plásticas realiza<strong>da</strong> realiz por<br />

um museu<br />

americano,<br />

abarcando os<br />

seus<br />

60 anos de car carreira<br />

artística paral paralela ao<br />

sua “acti “activi<strong>da</strong>de<br />

oficial” oficia de<br />

actor act e<br />

realizador. re<br />

As A obras<br />

eexpostas<br />

vvão<br />

de<br />

Dennis Hopper<br />

uum<br />

quadro<br />

<strong>da</strong>tado<br />

de 1955<br />

aaté<br />

ppeças<br />

mmais<br />

rece recentes no<br />

é a primeira vez<br />

que qu estão juntos.<br />

Richard Ri realizou<br />

vi videoclips para<br />

ca canções dos<br />

MMonkeys<br />

como<br />

“Fluorescent<br />

“F<br />

adolescent”, ado<br />

“Crying<br />

ligh lightning” ou<br />

“Cor “Cornerstone”.<br />

campo <strong>da</strong> escultura e <strong>da</strong><br />

instalação multimédia, mas<br />

praticamente s<strong>em</strong> material<br />

anterior a 1961 (a maior parte<br />

desapareci<strong>da</strong> num incêndio<br />

desse ano que destruiu o seu<br />

estúdio). <strong>Em</strong> vi<strong>da</strong>, aliás,<br />

Hopper fora um ávido<br />

coleccionador de arte (foi o<br />

actor Vincent Price qu<strong>em</strong> lhe<br />

passou o “bichinho”),<br />

possuindo obras de artistas<br />

como Andy Warhol, Roy<br />

Lichtenstein ou Jean-Michel<br />

Basquiat, para além de<br />

publicar vários livros de<br />

fotografias e realizar várias<br />

exposições. Nunca, no entanto,<br />

ao nível <strong>da</strong> abrangência <strong>da</strong><br />

exposição de Los Angeles,<br />

comissaria<strong>da</strong> por Julian<br />

Schnabel e que estava já pronta<br />

antes <strong>da</strong> morte de Hopper, a 29<br />

de Maio, aos 74 anos. O título<br />

<strong>da</strong> retrospectiva, patente até 26<br />

de Set<strong>em</strong>bro e reunindo mais<br />

de 200 peças (muitas delas<br />

cedi<strong>da</strong>s pelo próprio Hopper),<br />

v<strong>em</strong> de uma fotografia de 1961<br />

onde se pod<strong>em</strong> ver... dois<br />

letreiros de uma estação de<br />

serviço <strong>da</strong> Stan<strong>da</strong>rd Oil. J.M.


AGENDA CULTURAL FNAC<br />

entra<strong>da</strong> livre<br />

EXPOSIÇÃO<br />

A REVOLUÇÃO DE ABRIL NO OLHAR<br />

DE CARLOS GIL<br />

Fotografias de Carlos Gil<br />

A Fnac, <strong>em</strong> parceria com a Fun<strong>da</strong>ção Mário Soares, expõe um conjunto de imagens que pretende recor<strong>da</strong>r<br />

um percurso deste país, desde o fim <strong>da</strong> ditadura até ao fim do sonho de uma revolução de esquer<strong>da</strong>.<br />

21.07. - 21.09.2010 FNAC GAIASHOPPING<br />

Consulte todos os eventos <strong>da</strong> Agen<strong>da</strong> Fnac,<br />

assim como outros conteúdos culturais <strong>em</strong> http://cultura.fnac.pt<br />

Apoio:<br />

entra<strong>da</strong> livre<br />

LANÇAMENTO<br />

PENSAR AMÁLIA/ AMÁLIA DOS POETAS<br />

POPULARES AOS POETAS CULTIVADOS<br />

Rui Vieira Nery & Vasco Graça Moura<br />

Rui Vieira Nery e Vasco Graça Moura dão a conhecer os seus pensamentos e o olhar sobre os fados, a voz<br />

e os poetas que Amália Rodrigues cantou.<br />

20.07. 18H30 FNAC COLOMBO 23.07. 18H30 FNAC CHIADO<br />

AO VIVO<br />

JORGE FERRAZ TRIO<br />

Humanos Abençoados e Outros Contos<br />

Jorge Ferraz Trio apresenta ao vivo um espectáculo de música, poesia e imag<strong>em</strong>, <strong>em</strong> suma, a porta de<br />

entra<strong>da</strong> para um mundo de GuitarTrónica e canções de adeus com ruídos, ritmos e imagens.<br />

16.07. 18H30 FNAC CHIADO<br />

17.07. 21H30 FNAC COLOMBO<br />

AO VIVO<br />

FILHO DA MÃE<br />

Novos Talentos Fnac 2010<br />

Numa mescla entre a guitarra portuguesa e a clássica, o novo trabalho deste artista de Lisboa já t<strong>em</strong><br />

um t<strong>em</strong>a integrado na compilação Novos Talentos Fnac 2010.<br />

18.07. 17H00 FNAC CASCAISHOPPING<br />

23.07. 22H00 FNAC ALGARVESHOPPING<br />

30.07. 22H00 FNAC LEIRIASHOPPING<br />

AO VIVO<br />

PINTO FERREIRA<br />

Pinto Ferreira<br />

Os Pinto Ferreira são responsáveis por canções que viajam por ambientes bipolares entre sentimentalismos<br />

ingénuos, amores obsessivos e a estupidez humana.<br />

23.07. 22H00 FNAC ALMADA<br />

24.07. 17H00 FNAC COIMBRA<br />

24.07. 22H00 FNAC LEIRIASHOPPING<br />

APRESENTAÇÃO AO VIVO LANÇAMENTO EXPOSIÇÃO


Ponte<br />

para a <strong>infância</strong><br />

de Josh e Ben Safdie<br />

Dois irmãos, o caos na <strong>infância</strong> e a necessi<strong>da</strong>de de catarse. Dois<br />

cineastas, o fi lme do trauma e uma transbor<strong>da</strong>nte fantasia. Que<br />

nos rapta. Uma <strong>da</strong>s estreias do ano: “Vão-me <strong>busca</strong>r alecrim”/“Go<br />

get some ros<strong>em</strong>ary”. <strong>Em</strong> <strong>busca</strong> <strong>da</strong> <strong>infância</strong> perdi<strong>da</strong> de Joshua e Ben<br />

Safdie com a ponte Queensboro <strong>em</strong> fundo. Vasco Câmara (texto)<br />

e <strong>Em</strong>manuel Bastien (fotos) <strong>em</strong> Nova Iorque<br />

Capa<br />

6 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

Joshua e Ben Safdie fizeram a educação<br />

sexual na Queensboro Bridge com<br />

o carro do pai imobilizado no trânsito<br />

e as bujar<strong>da</strong>s de Howard Stern na<br />

rádio. Os nova-iorquinos exasperavam<br />

com as filas no único acesso grátis<br />

a <strong>Manhattan</strong> e desenvolveram uma<br />

relação de ódio com a ponte. Mas Paul<br />

Simon, por ex<strong>em</strong>plo, gostava e fez-lhe<br />

uma serenata <strong>em</strong> an<strong>da</strong>mento : é ouvir<br />

“The 59th Street Bridge Song<br />

(Feelin’Groovy)” do álbum “Parsley,<br />

Sage, Ros<strong>em</strong>ary and Thyme”, de Simon<br />

& Garfunkel, 1966. Joshua e Ben<br />

passaram a <strong>infância</strong> ali. A entrar<strong>em</strong> e<br />

saír<strong>em</strong> de <strong>Manhattan</strong>. Por baixo <strong>da</strong><br />

Queensboro, um Grand Canyon de<br />

asfalto – a Primeira Aveni<strong>da</strong> –, o East<br />

River, Roosevelt Island e o subúrbio<br />

onde eles viviam, Queens. Por cima,<br />

um teleférico vermelho.<br />

Joshua: “Todos aqueles cabos, e no<br />

entanto um el<strong>em</strong>ento de leveza. A<br />

liber<strong>da</strong>de que aquelas pessoas que<br />

vão no teleférico têm. Como uma espécie<br />

de fuga. Tudo parece pesado,<br />

e no entanto quando o teleférico levanta...”.<br />

Joshua e Ben perguntavam-se quando<br />

eram crianças: para onde iam<br />

aquelas pessoas?<br />

Passaram 15 anos, o teleférico já<br />

não levanta – obras de r<strong>em</strong>odelação<br />

só voltam a pôr a funcionar o meio<br />

de transporte para Roosevelt Island<br />

<strong>em</strong> Set<strong>em</strong>bro – mas os irmãos cont<strong>em</strong>plam,<br />

numa manhã de Junho com<br />

t<strong>em</strong>peratura de Agosto, o cenário onde<br />

filmaram a sequência final <strong>da</strong> sua<br />

longa-metrag<strong>em</strong> “Vão-me <strong>busca</strong>r<br />

alecrim”/“Go get some ros<strong>em</strong>ary”.<br />

Cont<strong>em</strong>plam um pe<strong>da</strong>ço <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória,<br />

e a ver<strong>da</strong>de é que a sequência do<br />

filme experimenta-se como uma epifania.<br />

Quando <strong>em</strong>barcam no apelo “triunfante”<br />

<strong>da</strong>quela hipótese de fuga de<br />

<strong>Manhattan</strong>, os Safdie estão a referir-se<br />

a um momento no filme <strong>em</strong> que um<br />

pai divorciado, Lenny, misto de mágico,<br />

aldrabão e disfuncional compulsivo<br />

(profissão: projeccionista), encontra<br />

finalmente um acordo no seu<br />

t<strong>em</strong>po e no t<strong>em</strong>po dos seus dois filhos.<br />

Como se só a bordo do teleférico,<br />

no ar, afastado <strong>da</strong> terra, os conseguisse<br />

raptar ao caos que ele próprio<br />

cria. É uma vitória mas também é<br />

uma derrota.<br />

Eles são Lenny (Ronald Bronstein)<br />

e Sage e Frey (na vi<strong>da</strong> real filhos de<br />

Lee Ranaldo dos Sonic Youth) e estão,<br />

obviamente, no lugar de Alberto, o<br />

pai, e dos irmãos Joshua e Ben. Que<br />

são também filhos de um casamento<br />

que cedo acabou. O pai não era projeccionista<br />

mas filmou obsessivamente<br />

a <strong>infância</strong> dos filhos. Quando lhes<br />

quis explicar o que tinha sido a vi<strong>da</strong><br />

familiar, encurtou o discurso e deulhes<br />

como ex<strong>em</strong>plo a batalha entre<br />

Dustin Hoffman e Meryl Streep pela<br />

posse do filho <strong>em</strong> “Kramer contra<br />

Kramer”, o filme de Robert Benton.<br />

E um dia depositou-lhes nas mãos as<br />

centenas de horas de imagens deles.<br />

Portanto, para Joshua e Ben, a vi<strong>da</strong><br />

vive-se para ser documenta<strong>da</strong>. Portanto<br />

o cin<strong>em</strong>a tinha de ser o legado.<br />

E tinha de ser biografia.<br />

Sab<strong>em</strong> que são filhos do trauma. Há<br />

anos que os amigos lhes diz<strong>em</strong> que a<br />

sua <strong>infância</strong> <strong>da</strong>va um filme e que deviam<br />

fazê-lo. Esse pode ser um lugar-<br />

comum, mas no caso deles ganha mesmo<br />

sinais de vi<strong>da</strong> – cin<strong>em</strong>atográfica.<br />

Quando, <strong>em</strong> “Vão-me <strong>busca</strong>r alecrim”,<br />

filmam Lenny a pôr os filhos<br />

“K.O.”, a dormir com comprimidos,<br />

para os miúdos não se assustar<strong>em</strong><br />

com a sua ausência porque teve de<br />

substituir um colega na cabine de projecção,<br />

Joshua e Ben até podiam esperar<br />

que os espectadores do filme<br />

se dividiss<strong>em</strong>. Mas não esperavam<br />

reacções tão “politicamente correctas”<br />

de alguma imprensa americana<br />

que os vê como vítimas de abuso.<br />

Joshua: “Perceb<strong>em</strong>os que aquela<br />

cena podia ser um ponto de virag<strong>em</strong>,<br />

mas estávamos sobretudo preocupados<br />

com o que aquilo significava para<br />

nós e não para a socie<strong>da</strong>de americana.”<br />

Talvez pressentindo o pudor do<br />

jornalista <strong>em</strong> explicitar a pergunta (“o<br />

vosso pai drogava-vos com comprimidos?”),<br />

Joshua antecipa-se: “Aquela<br />

cena está no lugar de outros dramas<br />

que nos aconteceram. Mas a ver<strong>da</strong>de <strong>da</strong>de<br />

é que a relação <strong>da</strong>s pessoas com a in<strong>infância</strong> é culturalmente grosseira. . Pelo<br />

menos na socie<strong>da</strong>de americana. a. As<br />

excessivas precauções repugnam-me. -me.<br />

Interessa-me quando as crianças são<br />

trata<strong>da</strong>s como outras pessoas.”<br />

Joshua e Ben não (se) olham como omo<br />

vítimas. O que aprenderam com m Alberto<br />

– e o que os filhos de Lenny provavelmente<br />

aprenderão com o pai ai de<br />

“Vão-me <strong>busca</strong>r alecrim”, <strong>em</strong>bora bora<br />

nunca se vá saber como essa história ória<br />

vai acabar... – é que o caos e a disfunfunção pod<strong>em</strong> ser uma explosão de fantasia.<br />

“Vão-me <strong>busca</strong>r alecrim” m”<br />

“Benny e eu<br />

andávamos a precisar<br />

disto, e a única forma<br />

de fazermos a catarse<br />

<strong>da</strong> nossa <strong>infância</strong>,<br />

para sabermos<br />

como foram os nossos<br />

primeiros 11 anos<br />

de vi<strong>da</strong>, era ficcionála.<br />

Há uma razão<br />

para os gregos ter<strong>em</strong><br />

inventado o teatro”<br />

Joshua Safdie<br />

Josh e Ben Safdie na<br />

Queensboro Bridge, uma ponte<br />

para a m<strong>em</strong>ória <strong>da</strong> <strong>infância</strong>


Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 7


8 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon


começa por parecer um estudo de<br />

personag<strong>em</strong> e de ci<strong>da</strong>de, t<strong>em</strong> momentos<br />

de “screwball comedy” crispa<strong>da</strong>,<br />

mas é permeável pelo fantástico<br />

e pela ficção científica, como uma<br />

energia intrusiva que corrói o edifício<br />

por vários lados (há por lá um insecto<br />

gigante, como um urso polar se<br />

cruzava no “road movie” de uma<br />

cleptomaníaca <strong>em</strong> “The Pleasure of<br />

Being Robbed”, obra a solo de Joshua,<br />

de 2008).<br />

É como um assalto. E qu<strong>em</strong> é assaltado<br />

é o espectador, s<strong>em</strong> possibili<strong>da</strong>de<br />

de se acostumar a um registo, ficando<br />

ao sabor angustiante <strong>da</strong> desord<strong>em</strong><br />

de Lenny. A necessitar de um<br />

momento de descarga, a sequência<br />

final no teleférico. O Ípsilon marcou<br />

encontro com os Safdie no local do<br />

crime, Rua 59, <strong>Manhattan</strong>. O momento<br />

<strong>em</strong> que uma ficção termina <strong>em</strong><br />

ascensão foi o início dos Safdie como<br />

cineastas tal como os conhec<strong>em</strong>os<br />

hoje, autores de longas, curtas e curtíssimas<br />

metragens.<br />

Joshua: “Somos filhos desta personag<strong>em</strong>,<br />

que está dentro de nós. Este<br />

filme foi a forma de entendermos<br />

que há mais de uma déca<strong>da</strong> an<strong>da</strong>mos<br />

a estu<strong>da</strong>r o comportamento<br />

dele. Mas também somos uma espécie<br />

de pai dele. O nosso pai t<strong>em</strong> hoje<br />

50 anos mas não vamos ter com ele<br />

para pedir conselhos. Ele é que v<strong>em</strong><br />

ter connosco para nos pedir conselhos.<br />

A minha mãe e o meu pai já<br />

viram o filme. Ele umas oito vezes.<br />

Ela, que não vive com ele já há uns<br />

20 anos, não t<strong>em</strong> m<strong>em</strong>ória dele por<br />

isso para todos os efeitos, o Lenny<br />

do filme é a cara do meu pai. E claro,<br />

acha que o filme é uma ‘carta de<br />

ódio’ ao ex-marido. Ele, pelo contrário,<br />

acha que os seus defeitos são as<br />

suas quali<strong>da</strong>des. O facto de ca<strong>da</strong> um<br />

ver o filme a partir <strong>da</strong> sua própria<br />

reali<strong>da</strong>de faz sentido para nós.”<br />

O estudo <strong>da</strong> personag<strong>em</strong> continuará,<br />

porque a próxima longa que os<br />

irmãos estão a escrever, “Uncut g<strong>em</strong>s”,<br />

passa-se no mundo <strong>da</strong> indústria<br />

<strong>da</strong> joalharia, “ali para a Rua 47”. A<br />

escolha pode parecer uma guina<strong>da</strong><br />

depois de “Vão-me <strong>busca</strong>r alecrim”,<br />

Josh e Ben, crianças, com o pai<br />

(à esquer<strong>da</strong>). Lenny, o pai de<br />

“Vão-me <strong>busca</strong>r Alecrim”, e os<br />

seus filhos<br />

“Somos filhos desta<br />

personag<strong>em</strong>, que<br />

está dentro de nós.<br />

Este filme foi a forma<br />

de entendermos<br />

que há mais de uma<br />

déca<strong>da</strong> an<strong>da</strong>mos<br />

a estu<strong>da</strong>r<br />

o comportamento<br />

dele”<br />

Joshua Safdie<br />

Josh e Ben com os seus actores<br />

(Ronald Bronstein e Sage e Frey<br />

Ranaldo) na ro<strong>da</strong>g<strong>em</strong> de uma<br />

cena de “Vão-me <strong>busca</strong>r<br />

alecrim”<br />

mas o cin<strong>em</strong>a continua ancorado no<br />

pai: os anos <strong>em</strong> que ele trabalhou no<br />

mundo “obscuro” <strong>da</strong>s jóias.<br />

Joshua: “Benny e eu andávamos a<br />

precisar disto, e a única forma de<br />

fazermos a catarse <strong>da</strong> nossa <strong>infância</strong>,<br />

para sabermos como foram os<br />

nossos primeiros 11 anos de vi<strong>da</strong>, era<br />

ficcioná-la. Há uma razão para os<br />

gregos ter<strong>em</strong> inventado o teatro. Recriar<br />

apenas a nossa <strong>infância</strong> não<br />

t<strong>em</strong> interesse, é mais interessante<br />

como a viv<strong>em</strong>os. Por isso, é como<br />

quando contamos a alguém um sonho:<br />

t<strong>em</strong>os que acrescentar s<strong>em</strong>pre<br />

um ponto para tornar a coisa mais<br />

interessante.”<br />

E os dois olham para os cartazes<br />

que anunciam o novo teleférico r<strong>em</strong>odelado<br />

que vai surgir <strong>em</strong> Set<strong>em</strong>bro.<br />

Já não vai ser como antes.<br />

Ben: “Este filme mostra pela última<br />

vez o teleférico tal como era. Lá vão<br />

outra vez dizer que ‘Vão-me <strong>busca</strong>r<br />

alecrim’ é um filme de época.”<br />

O teatro de uma ci<strong>da</strong>de<br />

É ver<strong>da</strong>de que a pergunta surge insistente:<br />

<strong>em</strong> que época se passa “Vão-me<br />

<strong>busca</strong>r alecrim”?. Há qu<strong>em</strong> jure que<br />

esta Nova Iorque suja só existiu assim<br />

no cin<strong>em</strong>a americano dos anos 70 e<br />

que estas personagens, Lenny sobretudo,<br />

estão sob influência, como nos<br />

filmes de John Cassavetes. Mencionase<br />

o nome e Joshua e Ben ameaçam<br />

revirar os olhos. Diz<strong>em</strong> eles que antes<br />

de se falar de Cassavetes t<strong>em</strong> que se<br />

falar de “Ladrões de Bicicletas” de<br />

Vittorio de Sica (1948) ou de “Bleak<br />

Moments” de Mike Leigh (1971). Mas<br />

se calhar n<strong>em</strong> se deve começar pelo<br />

cin<strong>em</strong>a.<br />

Joshua: “Nunca a referência a filmes<br />

foi um t<strong>em</strong>a nas nossas conversas. E<br />

na ver<strong>da</strong>de não tínhamos visto nenhum<br />

filme de John Cassavetes antes<br />

de fazermos este.”<br />

Ben: “Não é ver<strong>da</strong>de. Tínhamos visto<br />

‘Uma Mulher sob Influência’. E<br />

não te esqueças que tínhamos um<br />

professor na universi<strong>da</strong>de de Boston,<br />

Ray Carney, que escreveu um<br />

livro sobre Cassavetes e sobre a natureza<br />

maníaca <strong>da</strong>s personagens<br />

dele. Essa natureza corresponde a<br />

um certo modo de vi<strong>da</strong> que t<strong>em</strong> a ver<br />

com Lenny. Mas, se se reparar, Cassavetes<br />

estava d<strong>em</strong>ora<strong>da</strong>mente com<br />

as suas personagens, até à exaustão,<br />

e nós obrigamos o espectador a saltar<br />

de situação <strong>em</strong> situação, quase<br />

que o frustrando.”<br />

Joshua: “Sim, não é possível sintetizar<br />

as coisas no nome Cassavetes.<br />

Se t<strong>em</strong> que se falar de filmes que estiveram<br />

antes deste, então t<strong>em</strong>os de<br />

falar de ‘Milestones’ de Robert Kramer<br />

[1975].”<br />

O nome de Cassavetes pode parecer<br />

incontornável, mas novas visões<br />

do filme mu<strong>da</strong>m a forma de engavetar<br />

“Vão-me <strong>busca</strong>r alecrim”. Isso e en-<br />

trar <strong>em</strong> www.redbucketfilms.com, o<br />

sítio <strong>em</strong> que os irmãos apresentam as<br />

várias plataformas do trabalho <strong>da</strong> sua<br />

produtora, Red Bucket Films, que<br />

partilham com três amigos e colegas<br />

<strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de de Boston. É uma<br />

associação de gostos e impulsos individuais<br />

mas disponíveis para a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de:<br />

quando um deles precisa,<br />

os outros põ<strong>em</strong>-se ao serviço do projecto<br />

alheio com a função que for necessária.<br />

E a experiência com a ficção<br />

não se fica só pelos filmes, estende-se<br />

aos livros, fanzines e ambiciona chegar<br />

ao museu, expondo os objectos<br />

que vão coleccionando no seu périplo<br />

pelas ci<strong>da</strong>des – como Lisboa, por<br />

ex<strong>em</strong>plo, onde estiveram a apresentar<br />

o filme no IndieLisboa deste ano<br />

e a receber o prémio principal do festival.<br />

O “twist” é que nesse mostruário<br />

de objectos, histórias e filmes, o<br />

ver<strong>da</strong>deiro está misturado com o falso,<br />

o documental com o ficcional.<br />

Mas entre-se <strong>em</strong> www.redbucketfilms.com,<br />

veja-se a série “Buttons”,<br />

instantâneos, alguns só duram segundos,<br />

de Nova Iorque que Joshua e Ben<br />

roubam à ci<strong>da</strong>de com as suas câmaras<br />

digitais. Ou então as curtas <strong>em</strong> que<br />

Nova Iorque e arredores surg<strong>em</strong><br />

transfigurados, habitando um t<strong>em</strong>po<br />

que não é imediatamente reconhecível,<br />

e entre o burlesco (a presença<br />

“keatoniana” de Ben como actor) e o<br />

onírico, levando o espectador a querer<br />

insistent<strong>em</strong>ente <strong>da</strong>tá-lo. Isto para<br />

dizer que, afinal, é menos o cin<strong>em</strong>a<br />

e mais a relação com a ci<strong>da</strong>de que<br />

está na base <strong>da</strong>quilo que os Safdie faz<strong>em</strong>.<br />

T<strong>em</strong>os por isso que confessar<br />

que esperávamos encontrar na Rua<br />

59 dois rapazes a ver<strong>em</strong> o mundo avi<strong>da</strong>mente<br />

com as suas câmaras digitais,<br />

como se só elas provass<strong>em</strong> que<br />

“aquilo” aconteceu, mas afinal qu<strong>em</strong><br />

apareceu foram dois ex<strong>em</strong>plares de<br />

uma outra vertig<strong>em</strong>, proustiana, à<br />

mo<strong>da</strong> de <strong>Manhattan</strong>.<br />

Joshua: “Se nos encontrasse há um<br />

ano era assim que nos veria, mas<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 9


O cartaz que anuncia a parag<strong>em</strong><br />

e reactivação do acesso a<br />

Roosevelt Island<br />

depois começou a tornar-se um probl<strong>em</strong>a.<br />

Estávamos a viver experiências<br />

apenas para as registar, apenas<br />

pelo dispositivo. Resolv<strong>em</strong>os suspender<br />

isso. Estamos agora a envere<strong>da</strong>r<br />

por uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> mais interior, de<br />

recriação. Mas é ver<strong>da</strong>de que há um<br />

ano poucas pessoas an<strong>da</strong>vam com as<br />

suas câmaras digitais e hoje é o que<br />

to<strong>da</strong> a gente faz. E, sim, são as coisas<br />

que v<strong>em</strong>os nas ruas de Nova Iorque<br />

que estão na orig<strong>em</strong> de algumas <strong>da</strong>s<br />

cenas dos nossos filmes.” Josh resume:<br />

“The theatrics of the city.”<br />

Mas então “Vão-me <strong>busca</strong>r alecrim”<br />

é passado ou é presente? Por que é<br />

que an<strong>da</strong> por lá Abel Ferrara (um “cameo”)<br />

a falar <strong>em</strong> Bill Withers, singer<br />

songwritter dos 70s? É tudo hoje,<br />

“agora”, mas como Ben se encarrega<br />

de explicar, isso também é tudo “passado”.<br />

Ben: “Quer<strong>em</strong>os s<strong>em</strong>pre desespera<strong>da</strong>mente<br />

captar o agora, mas nunca<br />

conseguimos porque a partir do momento<br />

<strong>em</strong> que o filmamos é s<strong>em</strong>pre<br />

passado, estamos s<strong>em</strong>pre a olhar<br />

para trás. Mas é um passado l<strong>em</strong>brado<br />

no presente, não é o passado pelo<br />

passado. É a m<strong>em</strong>ória de coisas que<br />

passaram. Pode <strong>da</strong>tar-se a m<strong>em</strong>ória?<br />

Eu diria que a nossa Nova Iorque é<br />

int<strong>em</strong>poral.”<br />

Era disso que falávamos, Proust <strong>em</strong><br />

<strong>Manhattan</strong> – Ben fala menos, <strong>em</strong>bora<br />

compense o maior voluntarismo dicursivo<br />

do irmão com uma disponibili<strong>da</strong>de<br />

no olhar que é transbor<strong>da</strong>nte<br />

e com uma capaci<strong>da</strong>de de síntese<br />

que ilumina o que Josh acabou de dizer;<br />

a sintonia, de resto, é de siameses,<br />

assim como a pulsão para a pantomima.<br />

Sobre Ferrara e Bill Withers, Joshua<br />

explica então que deram ao realiza-<br />

10 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

dor, tornado aqui actor, uma série de<br />

discos que ele era suposto an<strong>da</strong>r a<br />

vender na rua, numa sequência do<br />

filme. E foi Ferrara que escolheu o<br />

singer-songwriter negro dos anos 70<br />

no meio dos discos “modernos” que<br />

a produção pôs à sua disposição. Não<br />

houve nenhum preciosismo ou calculismo<br />

de época.<br />

Ferrara, para Joshua, é uma perso-<br />

nag<strong>em</strong> perfeita para aquilo que ele<br />

chama “the theatrics of the city”.<br />

Conheceu-o, quando tinha 18 anos,<br />

de uma forma que deverá ser muito<br />

nova-iorquina: Ferrara era vizinho de<br />

um amigo dos irmãos Safdie, e do<br />

apartamento onde morava muito barulho<br />

antecipava invariavelmente<br />

“uma porta que se abria e alguém que<br />

era atirado pelas esca<strong>da</strong>s abaixo”.<br />

“Quer<strong>em</strong>os s<strong>em</strong>pre<br />

desespera<strong>da</strong>mente<br />

captar o agora, mas<br />

nunca conseguimos<br />

porque a partir<br />

do momento <strong>em</strong> que<br />

o filmamos é s<strong>em</strong>pre<br />

passado, estamos<br />

s<strong>em</strong>pre a olhar para<br />

trás. Mas é um<br />

passado l<strong>em</strong>brado<br />

no presente,<br />

não é o passado<br />

pelo passado”<br />

Ben Safdie<br />

Joshua e Ben<br />

“Trabalhei depois numa loja de vídeo<br />

e ele era a única pessoa que estava<br />

autoriza<strong>da</strong> a levar filmes grátis.<br />

Quantas vezes vi depois o Abel na rua<br />

à noite, e a chamar por mim [imita a<br />

voz racha<strong>da</strong> de Ferrara]: ‘Josh, Josh,<br />

dá-me dinheiro.’ Ele é o ver<strong>da</strong>deiro<br />

poeta <strong>da</strong> rua de Nova Iorque. Fazia<br />

sentido para nós que numa determina<strong>da</strong><br />

cena do filme ele entrasse <strong>em</strong><br />

contacto com Lenny.”<br />

Mais “teatro de uma ci<strong>da</strong>de”: “Outro<br />

dia vi um rapaz na rua com o som<br />

muito alto a sair de uma ‘boombox’ e<br />

a <strong>da</strong>nçar e alguém pediu para ele baixar<br />

o som e ele respondeu: ‘Fuck, I’m<br />

taking my city with me’. Esta ci<strong>da</strong>de<br />

precisa <strong>da</strong> anarquia individual. A infelici<strong>da</strong>de<br />

adora companhia. Não quero<br />

que Nova Iorque seja um gigantesco<br />

Starbucks. Gosto de ter medo <strong>da</strong>s<br />

pessoas na rua, se calhar porque isso<br />

me distrai dos meus probl<strong>em</strong>as.”<br />

E o perigo espreita <strong>em</strong> Nova Iorque.<br />

Não um mosquito gigante não um urso<br />

polar, mas o irascível Dirty Harry transportado<br />

de São Francisco para <strong>Manhattan</strong><br />

e disfarçado de papagaio. “Give me<br />

your finger and make my <strong>da</strong>y!”, mesmo<br />

numa esquina de acesso à Queensboro<br />

Bridge, é um íman que atrai Joshua e<br />

Ben Safdie. Dentro <strong>da</strong> loja de animais,<br />

asas abertas e “hellos” e “goodbyes”<br />

papagueados ao melhor estilo rachado<br />

de Abel Ferrara.<br />

Isto é “Vão-me <strong>busca</strong>r alecrim”.<br />

Ver crítica de filmes págs. 40 e segs.


Concerto Köln<br />

Bernardo Sassetti<br />

Quarteto de Cor<strong>da</strong>s<br />

de Matosinhos<br />

Cesário Costa<br />

Etsuko Hirosè<br />

António Augusto<br />

Aguiar<br />

Francisco Manso<br />

Sónia Alcobaça<br />

António Ferreira<br />

Beatriz Batar<strong>da</strong><br />

Camaleão<br />

Companhia de Dança<br />

Paulo Ribeiro<br />

Quinta <strong>da</strong>s Lágrimas, Coimbra 16 de Julho a 1 de Agosto 2010<br />

Viriato Soromenho<br />

Marques<br />

José Bento dos<br />

Santos<br />

Santi Santamaria<br />

Rui Ferreira dos<br />

Santos<br />

Orquestra<br />

Gulbenkian<br />

Coro Sinfónico Lisboa<br />

Cantat<br />

Angles<br />

Joana Carneiro<br />

Pedro Burmester<br />

Carlos Barretto<br />

Francisco Nunes de<br />

Carvalho<br />

Ana Quintans<br />

André Gago<br />

TEUC<br />

António Barros<br />

João Miguel Lameiras<br />

Mecenas <strong>da</strong>s Artes Mecenas do Festival Patrocinadores<br />

Apoios<br />

apresenta<br />

ANTÓNIO PINHO VARGAS LAURENT FILIPE GROOVE4TET<br />

PQ.MARECHAL CARMONA CASCAIS<br />

NOITE DE JAZZ<br />

EM PORTUGUÊS<br />

17JUL<br />

HIPÓDROMO CASCAIS<br />

PQ.MARECHAL CARMONA CASCAIS<br />

MARIA BETHÂNIA CORINNE<br />

CELSO FONSECA BAILEY RAE<br />

22JUL<br />

24JUL<br />

CASCAIS HIPÓDROMO 25JUL DIANA KRALL<br />

PQ.MARECHAL CARMONA 27JUL CLUB DES BELUGAS<br />

Orchestra 28JUL ELVIS COSTELLO & THE SUGARCANES<br />

29JUL SOLOMON BURKE Special Guest JOSS STONE<br />

MAFRA JARDIM DO CERCO 23JUL ORQUESTRA<br />

www.cooljazzfest.com<br />

BUENA VISTA SOCIAL CLUB® Feat. OMARA PORTUONDO<br />

Bilhetes à ven<strong>da</strong> na Ticketline (www.ticketline.pt) e locais habituais<br />

NAMING SPONSOR PRESENTING SPONSOR MEDIA PARTNERS PARTNERS<br />

OFFICIAL SPONSOR OFFICIAL CAR INSTITUTIONAL SPONSOR<br />

JARDIM CERCO MAFRA<br />

DEOLINDA<br />

20JUL<br />

Coro dos Antigos<br />

Orfeonistas <strong>da</strong> UC<br />

Albano Lourenço<br />

João Pedro Rodrigues<br />

Orquestra<br />

Metropolitana<br />

de Lisboa<br />

António Pinho Vargas<br />

SÃO<br />

LUIZ<br />

JUL~1O<br />

o são luiz<br />

no festival<br />

de alma<strong>da</strong><br />

9, 1O, 16 E 17 JUL<br />

ALDINA<br />

DUARTE<br />

POR OLGA RORIZ<br />

SEXTA E SÁBADO ÀS 21H00<br />

SALA PRINCIPAL M/3<br />

SÃO LUIZ TEATRO MUNICIPAL<br />

BILHETEIRA DAS 13H ÀS 20H<br />

RUA ANTÓNIO MARIA CARDOSO, 38; 1200-027 LISBOA T: 213 257 650; BILHETEIRA@TEATROSAOLUIZ.PT<br />

GERAL@TEATROSAOLUIZ.PT / T: 213 257 640<br />

BILHETES À VENDA NA TICKETLINE E NOS LOCAIS HABITUAIS<br />

Paulo Constantino<br />

Casa <strong>da</strong> Esquina<br />

Jorge Calado<br />

Leonor Nazaré<br />

Joachim Koerper<br />

Helena Freitas<br />

Orquestra Clássica<br />

do Centro<br />

Miguel Henriques<br />

Jacques Perrin<br />

Abílio Hernandez<br />

Alexandre Ramires<br />

Vítor Dias<br />

Nelson Gea<strong>da</strong><br />

Orquestra Geração<br />

Cristina Castel-<br />

Branco<br />

Ana Moura<br />

João Tavares<br />

Ver o programa completo <strong>em</strong> www.festival<strong>da</strong>sartes.com<br />

WWW.TEATROSAOLUIZ.PT<br />

© Isabel Pinto


Há tantos fantasmas à solta por “O<br />

Escritor-Fantasma” que <strong>da</strong>vam para<br />

encher uma casa assombra<strong>da</strong>. Mesmo<br />

que o fantasma do título não tenha<br />

na<strong>da</strong> a ver com espectros ou assombrações,<br />

e tudo com uma expressão<br />

inglesa que, no mundo <strong>da</strong> edição<br />

livreira, designa os ver<strong>da</strong>deiros autores<br />

<strong>da</strong>s obras assina<strong>da</strong>s por figuras<br />

públicas. Escritores que têm o grosso<br />

do trabalho, mas nunca são creditados,<br />

como a personag<strong>em</strong> aqui interpreta<strong>da</strong><br />

por Ewan McGregor, que dá<br />

por si <strong>em</strong>brulhado numa sinistra intriga<br />

política, quando aceita reescrever<br />

as m<strong>em</strong>órias de um antigo primeiro-ministro<br />

inglês.<br />

Mas esse “escritor-fantasma” do<br />

título transmutou-se algures durante<br />

os últimos meses no “realizador- fantasma”<br />

que o assina: Roman Polanski.<br />

Confinado ao seu “chalet” de Gstaad<br />

pelo complexo folhetim judicial que<br />

o persegue desde que, <strong>em</strong> 1977, fugiu<br />

à justiça americana para evitar ser<br />

preso por abuso de uma menor na<br />

sequência de um julgamento no mínimo<br />

controverso, Polanski terminara<br />

a ro<strong>da</strong>g<strong>em</strong> de “O Escritor-Fantasma”<br />

e estava já a montar o filme quando<br />

foi preso na Suíça, <strong>em</strong> Set<strong>em</strong>bro<br />

de 2009. Supervisionou a finalização<br />

<strong>da</strong> montag<strong>em</strong> à distância, mas por<br />

razões evidentes não pode <strong>da</strong>r a cara<br />

para o defender.<br />

De certo modo, é apropriado: um<br />

filme sobre um escritor-fantasma, assombrado<br />

pelos fantasmas <strong>da</strong> política<br />

recente e do cin<strong>em</strong>a clássico, só podia<br />

ser assinado por um realizador-fantasma.<br />

Que sabe tudo – mas na<strong>da</strong> pode<br />

dizer.<br />

O fantasma do realizador<br />

No Festival de Berlim, onde “O Escritor-Fantasma”<br />

teve a sua estreia mundial<br />

a concurso <strong>em</strong> Fevereiro último,<br />

o elenco e a equipa que se deslocaram<br />

<strong>em</strong> peso foram son<strong>da</strong>dos, radiografados,<br />

questionados como se foss<strong>em</strong><br />

“linhas directas” para o que Polanski<br />

quis fazer. Não só a equipa deste filme<br />

– os actores Ewan McGregor, Pierce<br />

Brosnan e Olivia Williams, o compositor<br />

Alexandre Desplat, os produtores<br />

Robert Benmussa e Alain Sarde e<br />

o co-argumentista Robert Harris, autor<br />

do romance que lhe está na orig<strong>em</strong><br />

– mas até, por ex<strong>em</strong>plo, Ben Kingsley,<br />

<strong>em</strong> Berlim para promover<br />

“Shutter Island”, de Martin Scorsese,<br />

mas que trabalhou com Polanski <strong>em</strong><br />

“A Noite <strong>da</strong> Vingança” (1994).<br />

É uma situação invulgar, como<br />

Ewan McGregor reconheceu na conferência<br />

de imprensa sobrelota<strong>da</strong> que<br />

deixou dezenas de jornalistas à porta<br />

do salão nobre do hotel Hyatt, a acotovelar<strong>em</strong>-se<br />

frente aos televisores<br />

que a transmitiam <strong>em</strong> directo. “É muito<br />

estranho ele não estar aqui, porque<br />

é o filme dele e nós somos apenas peças<br />

na sua visão.”<br />

12 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

Alguns dias depois, numa <strong>da</strong>s mesas-redon<strong>da</strong>s<br />

com a imprensa internacional<br />

no luxuoso hotel Adlon, onde<br />

o Ípsilon esteve presente, o actor<br />

escocês insiste <strong>em</strong> desiludir a imprensa<br />

que espera do elenco que sejam<br />

porta-vozes <strong>da</strong>s <strong>em</strong>oções e ideias de<br />

um Polanski “amor<strong>da</strong>çado” pelas circunstâncias.<br />

“O Roman não é alguém<br />

que fale muito dos seus sentimentos.<br />

Gosto muito dele, adorei trabalhar<br />

com ele, mas não creio ser alguém a<br />

qu<strong>em</strong> ele abrisse o seu coração. Não<br />

o conheço assim tão b<strong>em</strong>.”O que não<br />

é dizer que a experiência não tenha<br />

sido intensa para to<strong>da</strong> a equipa.<br />

Voltamos à conferência de imprensa:<br />

Pierce Brosnan sentiu que tinha de<br />

estar “<strong>em</strong> pico de forma para este<br />

grande cineasta”; Robert Harris, ao<br />

descrever o processo de a<strong>da</strong>ptação do<br />

seu romance, chama ao realizador “lá<br />

b<strong>em</strong> no fundo um actor do Método”.<br />

“Enquanto trabalhávamos, ele corria<br />

pela sala a representar o argumento.”<br />

Alexandre Desplat diz: “Estar com ele<br />

na mesma sala mexe connosco, há<br />

uma energia e um humor que se transmit<strong>em</strong>.”<br />

McGregor descreve-o como<br />

exuberante e com grande sentido de<br />

humor: “Ele já tinha interpretado todos<br />

os papéis na sua cabeça à medi<strong>da</strong><br />

que escrevia. É totalmente responsável<br />

por tudo o que acontece no seu<br />

‘plateau’. Sinto que ele é tão responsável<br />

pela minha interpretação como<br />

eu próprio. Não só me dirigiu, como<br />

dirigiu até a minha ‘performance’.”<br />

Um realizador tão responsável pela<br />

interpretação como o seu actor? Na<br />

mesa-redon<strong>da</strong> do Adlon, McGregor,<br />

que dissera ter terminado a ro<strong>da</strong>g<strong>em</strong><br />

com a sensação de ter sido desafiado<br />

enquanto actor pela exigência de Polanski<br />

(ele próprio actor), explica melhor<br />

o que quer dizer. “Quando criamos<br />

uma personag<strong>em</strong>, faz<strong>em</strong>o-lo a<br />

partir de conversas, imaginação, coisas<br />

que sab<strong>em</strong>os sobre ela. Depois, o realizador<br />

dirige essa interpretação através<br />

<strong>da</strong>s cenas e o seu caminho através<br />

do filme. Mas, com o Roman, senti que<br />

ele também estava muito envolvido<br />

com o modo como a representei. É como<br />

se ele também estivesse dentro <strong>da</strong><br />

personag<strong>em</strong>. É muito picuinhas, muito<br />

perfeccionista – passava cinco minutos<br />

a organizar as garrafas num armário<br />

mesmo que nunca aparecess<strong>em</strong> foca<strong>da</strong>s,<br />

arranjava tudo o que estava <strong>em</strong><br />

Ewan McGregor é o “escritorfantasma”<br />

do título, contratado<br />

para reescrever as m<strong>em</strong>órias do<br />

primeiro-ministro Pierce<br />

Brosnan<br />

cima <strong>da</strong> mesa, enquadrava a câmara,<br />

dizia o que achava <strong>da</strong> luz <strong>da</strong> parede...<br />

Se as coisas não for<strong>em</strong> como ele imagina,<br />

ou pelo menos como as vê enquanto<br />

escreve, e se não estiver<strong>em</strong> a<br />

correr do modo que ele quer, pára tudo.<br />

N<strong>em</strong> sequer espera pelo fim do<br />

‘take’; pára tudo e começa a refazer. E,<br />

de certo modo, o modo como interpreto<br />

o escritor t<strong>em</strong> tudo a ver com isso.<br />

Tive o luxo de estar com ele durante<br />

to<strong>da</strong> a ro<strong>da</strong>g<strong>em</strong> e aprendi muito rapi<strong>da</strong>mente<br />

o que lhe agra<strong>da</strong>va e o que<br />

lhe desagra<strong>da</strong>va, uma sensação do que<br />

ele queria de mim.”<br />

O fantasma <strong>da</strong> política<br />

O “escritor-fantasma” de McGregor<br />

(tanto mais fantasma quanto o seu<br />

nome nunca é usado no filme...) é a<br />

única personag<strong>em</strong> que atravessa o<br />

filme de ponta a ponta – “Estive no<br />

‘plateau’ o t<strong>em</strong>po todo, do princípio<br />

ao fim, e os outros actores chegavam,<br />

partiam, voltavam... Houve um bloco<br />

de t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que era eu e o Pierce,<br />

depois eu e a Olivia [Williams], depois<br />

eu e a Kim [Cattrall], depois uma secção<br />

no meio <strong>em</strong> que estiv<strong>em</strong>os todos<br />

juntos durante uma ou duas s<strong>em</strong>anas”<br />

– e essa presença t<strong>em</strong> sido recompensa<strong>da</strong><br />

com algumas <strong>da</strong>s suas<br />

melhores críticas <strong>em</strong> muitos anos.<br />

No dossier de imprensa, Robert<br />

Harris elogiava o actor por ter aceite<br />

interpretar uma personag<strong>em</strong> tão indefini<strong>da</strong>,<br />

tão “<strong>em</strong> branco”, mas Mc-<br />

Gregor negá-lo-á mais tarde, explicando:<br />

“O guião era muito claro, não<br />

senti que houvesse ‘buracos’ para<br />

preencher. Penso que é porque o Robert<br />

e o Roman o escreveram muito<br />

b<strong>em</strong>, senti que podia ‘ver’ a persona-<br />

g<strong>em</strong>. Alguém nos trinta e muitos, que<br />

se sente lev<strong>em</strong>ente aquém do que podia<br />

<strong>da</strong>r, mas bastante confortável com<br />

a vi<strong>da</strong> que leva.”<br />

O romancista, na conferência de<br />

imprensa, confessara adorar a ideia<br />

de ser um escritor-fantasma, ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po que “não conseguia imaginar<br />

ninguém com uma profissão<br />

pior”; mas McGregor desmenti-lo-á.<br />

“O Robert fala disso como um pequeno<br />

defeito. Ser um escritor que aceita<br />

que o seu nome nunca apareça <strong>em</strong><br />

na<strong>da</strong> implica um certo fracasso, e penso<br />

que há alguma ver<strong>da</strong>de nisso. Mas<br />

gosto <strong>da</strong> ideia de ele ser muito bom<br />

naquilo que faz, como no primeiro<br />

encontro com A<strong>da</strong>m Lang, <strong>em</strong> que ele<br />

responde que faz as perguntas e depois<br />

torna as respostas <strong>em</strong> prosa.”<br />

Interpretado por Pierce Brosnan,<br />

Lang é o primeiro-ministro britânico<br />

cujas m<strong>em</strong>órias a personag<strong>em</strong> de Mc-<br />

Gregor é contrata<strong>da</strong> para reescrever<br />

após a morte suspeita do seu predecessor.<br />

Inevitavelmente, o nome de<br />

Tony Blair v<strong>em</strong> à baila — é um dos<br />

fantasmas políticos de um filme que<br />

se estreou no exacto momento <strong>em</strong><br />

que se falava <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de Blair<br />

ser levado a tribunal devido ao envolvimento<br />

inglês na guerra do Iraque,<br />

destino reservado no filme à personag<strong>em</strong><br />

de Brosnan.<br />

Na conferência de imprensa, o actor<br />

irlandês diz s<strong>em</strong> pejo que o seu<br />

Lang não é Blair. “A primeira coisa<br />

que perguntei ao Roman foi: ‘Estou a<br />

fazer de Tony Blair?’ E ele disse-me:<br />

‘Não, esquece isso, limita-te a interpretá-lo.’<br />

O que foi muito libertador.<br />

Comecei a pensar <strong>em</strong> termos de uma<br />

personag<strong>em</strong> shakespeareana, um rei<br />

que se perdeu pelo caminho. Lang<br />

começa como um actor e torna-se<br />

num hom<strong>em</strong> que está a representar<br />

um primeiro-ministro...”<br />

McGregor confirma: “Se o Pierce<br />

estivesse a fazer de Blair não teria funcionado,<br />

desde logo porque não tínhamos<br />

pretensões de estar a contar<br />

uma história ver<strong>da</strong>deira. É uma ficção.<br />

Claro que o A<strong>da</strong>m Lang foi muito<br />

influenciado pelo Blair quando o Robert<br />

escreveu o romance.” O romancista<br />

anui: “O livro foi escrito <strong>em</strong> 2007<br />

e desde então a reali<strong>da</strong>de conspirou<br />

para fazer do filme mais documentário<br />

do que ficção – a revelação dos<br />

voos de rendição <strong>da</strong> CIA que aterraram<br />

no Reino Unido, o MI5 estar a<br />

receber provas resultantes desses interrogatórios,<br />

foram coisas que o filme<br />

pareceu prefigurar... Todos os livros<br />

que escrevi são de algum modo<br />

políticos, e um dos fantasmas do livro<br />

é a ideia de a Grã-Bretanha já não ser<br />

um poder independente – t<strong>em</strong>os a<br />

sensação de sermos apenas um 52º<br />

estado americano.”<br />

Mas McGregor, dias depois, no<br />

Adlon, aconselha a que não se leia<br />

d<strong>em</strong>asia<strong>da</strong> intenção no que é essen-<br />

O realizador-fantasma<br />

Roman Polanski dirigiu um policial hitchcockiano sobre um autor que escreve <strong>em</strong> nome<br />

de outros e é apanhado numa intriga que o transcende. Mas entre a ro<strong>da</strong>g<strong>em</strong> e a estreia de<br />

“O Escritor-Fantasma”, o realizador polaco deu por si apanhado no folhetim judicial que o<br />

persegue há mais de 30 anos –e o fi lme sobre o “escritor-fantasma” tornou-se no fi lme de um<br />

realizador-fantasma. Jorge Mourinha, <strong>em</strong> Berlim


Cin<strong>em</strong>a<br />

cialmente casuali<strong>da</strong>de: “Claro que é<br />

uma história sobre a política e os políticos,<br />

que comenta acontecimentos,<br />

tópicos, o envolvimento do primeiroministro<br />

na guerra do Iraque, a intriga,<br />

o engano, as facadinhas nas costas<br />

que acontec<strong>em</strong> na política... Mas acho<br />

o el<strong>em</strong>ento político mais interessante<br />

desde que acabámos a ro<strong>da</strong>g<strong>em</strong>. Na<br />

altura, não passei muito t<strong>em</strong>po a pensar<br />

no assunto. Estava muito mais<br />

interessado <strong>em</strong> ver tudo pelos olhos<br />

do escritor, que não é uma pessoa<br />

política. Diz, logo ao princípio, que é<br />

por não perceber na<strong>da</strong> de política que<br />

pode fazer as perguntas que chegam<br />

ao âmago de qu<strong>em</strong> é A<strong>da</strong>m Lang.”<br />

O fantasma de Hitchcock<br />

Essa ideia do inocente apanhado nas<br />

malhas de uma intriga que o ultrapassa<br />

(para o actor, “alguém que está<br />

longe de ser ingénuo, mas que não<br />

t<strong>em</strong> unhas para a guitarra que quer<br />

tocar, n<strong>em</strong> está num mundo que domine<br />

ou conheça”) r<strong>em</strong>ete para o outro<br />

fantasma cuja presença Harris<br />

evoca na conferência de imprensa – os<br />

“thrillers” de Alfred Hitchcock, cheios<br />

de inocentes arrastados para situações<br />

de perigo.<br />

Mas é o único fantasma abertamente<br />

assumido por todos – afinal, Polanski<br />

nunca escondeu o seu gosto pelo cin<strong>em</strong>a<br />

de género (alguns dos seus filmes<br />

mais <strong>em</strong>bl<strong>em</strong>áticos e de maior sucesso<br />

foram entra<strong>da</strong>s de género como “A S<strong>em</strong>ente<br />

do Diabo”, 1968, ou “Chinatown”,<br />

1974); Alexandre Desplat invoca<br />

abertamente Bernard Herrmann, o<br />

compositor cúmplice de Hitchcock, na<br />

sua ban<strong>da</strong> sonora; e Robert Harris<br />

aponta que, para o cineasta, “chamar<br />

a um filme ‘arte e ensaio’ é o maior<br />

insulto que existe”.<br />

A colaboração entre ambos não<br />

devia ter começado por aqui, mas por<br />

uma a<strong>da</strong>ptação de um outro romance<br />

do escritor, “Pompeia”: quando o<br />

autor falou ao cineasta do seu novo<br />

livro, Polanski torceu o nariz, mas<br />

depois de ler as provas mudou de<br />

ideias. “Telefonou-me entusiasmado<br />

a dizer que achava isto Raymond<br />

“Polanski é muito<br />

perfeccionista.<br />

Se as coisas não<br />

for<strong>em</strong> como imagina,<br />

n<strong>em</strong> sequer espera<br />

pelo fim do ‘take’.<br />

Pára tudo e começa<br />

a refazer.”<br />

Ewan McGregor<br />

Chandler puro! E disse-me que há<br />

muito t<strong>em</strong>po que queria fazer outro<br />

filme deste género” – a última vez que<br />

o fizera foi “Frenético”, com Harrison<br />

Ford, <strong>em</strong> 1988.<br />

Inevitavelmente, há uma pergunta<br />

a fazer: será que o caso Polanski afecta<br />

a resposta ao filme? A crítica internacional<br />

t<strong>em</strong> sido unânime no elogio<br />

a “O Escritor-Fantasma”, que saiu de<br />

Berlim com o Urso de Ouro para melhor<br />

realização, ao mesmo t<strong>em</strong>po que<br />

procura nele pistas que possam espelhar<br />

a sua situação actual.<br />

Mas o público conseguirá olhar para<br />

ele abstraindo-se <strong>da</strong> controvérsia<br />

que rodeia o cineasta? É possível separar<br />

o artista <strong>da</strong> pessoa? Na mesaredon<strong>da</strong>,<br />

Ewan McGregor diz não<br />

saber. “Não tenho a resposta para<br />

essa pergunta. Não sei se as pessoas<br />

que não o irão ver por ele estar nesta<br />

situação o iriam ver noutra altura.”<br />

Ca<strong>da</strong> um que escolha se quer, ou<br />

não, entrar nesta casa assombra<strong>da</strong>.<br />

Ver crítica de filmes págs. 40 e segs.<br />

Polanski<br />

durante as<br />

ro<strong>da</strong>gens.<br />

A Suíça<br />

devolveu-lhe a<br />

liber<strong>da</strong>de esta<br />

s<strong>em</strong>ana<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 13<br />

DR


Reportag<strong>em</strong><br />

“Coimbra não sab<br />

– e por isso não va<br />

T<strong>em</strong> duas companhias de teatro profi ssionais, um realizador de cin<strong>em</strong>a instalado num ovni, u<br />

músicos que levaram longe o nome <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. E, no entanto, não está no mapa cultural do país. A<br />

14 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

Sab<strong>em</strong>os o que Lisboa fez no Verão<br />

passado e talvez o que o Porto fez há<br />

duas s<strong>em</strong>anas. Mas quando foi a última<br />

vez que tiv<strong>em</strong>os notícias culturais<br />

de Coimbra? Vinte valores para<br />

qu<strong>em</strong> disse 2003: era ano de Capital<br />

Nacional <strong>da</strong> Cultura (CNC), a primeira<br />

do país, e a ci<strong>da</strong>de onde, diz<strong>em</strong>,<br />

se fala o melhor português de Portugal,<br />

acontecia hora sim, hora sim.<br />

Houve até qu<strong>em</strong> se queixasse de tanta<br />

fartura. “Que era oferta cultural a<br />

mais”, recor<strong>da</strong> Abílio Hernández,<br />

que foi o comissário <strong>da</strong> CNC.<br />

De então para cá, foi a travessia no<br />

deserto – ok, este ano há U2, os bilhetes<br />

esgotaram-se enquanto o diabo<br />

esfregou um olho, mas esgotar-se-iam<br />

na mesma se o concerto fosse <strong>em</strong> Lisboa<br />

ou <strong>em</strong> Freixo de Espa<strong>da</strong> à Cinta.<br />

Isto somos nós que diz<strong>em</strong>os, que de<br />

então para cá foi a travessia no deserto<br />

– porque a qu<strong>em</strong> lá está apetece<br />

dizer que qu<strong>em</strong> está fora racha lenha.<br />

Que é como qu<strong>em</strong> diz que <strong>em</strong> Coimbra<br />

se passam coisas, muitas coisas<br />

até, mas não passam na comunicação<br />

social. E o que não está na comunicação<br />

social não existe para o país.<br />

E Coimbra existe para o país?<br />

Existe, e foi por isso que lá fomos,<br />

saber o que se passa com a cultura<br />

de uma ci<strong>da</strong>de a que se associa de<br />

imediato, para o b<strong>em</strong> e para o mal,<br />

a sua universi<strong>da</strong>de. E aqui estamos<br />

nós, numa tarde sufocante de uma<br />

quinta-feira, sentados numa esplana<strong>da</strong>,<br />

a ver Coimbra e a sua universi<strong>da</strong>de<br />

passar<strong>em</strong>. Isto é a Praça <strong>da</strong><br />

República, as Esca<strong>da</strong>s Monumentais<br />

são ali ao virar <strong>da</strong> esquina e vamos<br />

olhando estu<strong>da</strong>ntes trajados e deitando<br />

o ouvido às conversas de café.<br />

Fala-se essencialmente <strong>da</strong> Queima<br />

<strong>da</strong>s Fitas, que acabou há uma s<strong>em</strong>ana<br />

(estiv<strong>em</strong>os lá dois dias <strong>em</strong> Maio).<br />

E isso explica muita coisa. Explica,<br />

por ex<strong>em</strong>plo, que a ci<strong>da</strong>de esteja ain<strong>da</strong><br />

a ressacar dos excessos – e que<br />

por isso não haja grande coisa para<br />

fazer nesta primeira noite. Abrimos<br />

o “Diário de Coimbra”, um dos dois<br />

jornais diários <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, e a oferta<br />

cultural para hoje é praticamente<br />

nula. Sim, há cin<strong>em</strong>a (Lusomundo,<br />

<strong>em</strong> dois centros comerciais), mas<br />

na<strong>da</strong> que nos estimule. E depois há<br />

o lançamento de um livro de Leonel<br />

Cosme na Livraria Almedina; fado<br />

no Centro Cultural D. Dinis; uma conferência<br />

de João César <strong>da</strong>s Neves e<br />

finalmente as Jorna<strong>da</strong>s de Cultura<br />

Popular do Grupo de Etnografia e<br />

Folclore <strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia de Coimbra.<br />

O vizinho Teatro Académico de Gil<br />

Vicente (TAGV) está a zeros; a companhia<br />

de teatro Escola <strong>da</strong> Noite saiu<br />

com um espectáculo para Braga; O<br />

Teatrão ocupa-se por enquanto com<br />

a Mostra de Teatro Escolar; no Círculo<br />

de Artes Plásticas (CAPC) ultima-se<br />

uma exposição que há-de<br />

inaugurar-se no dia seguinte à visita<br />

Teatro <strong>da</strong> Cerca de S. Bernardo, Escola <strong>da</strong> Noite A Escola <strong>da</strong> Noite t<strong>em</strong> 15 profissionais<br />

<strong>em</strong> permanência, mas, na opinião de Pedro Rodrigues, precisaria de pelo menos mais dez. “T<strong>em</strong>os a mesma<br />

estrutura de pessoal para a programação e para a criação artística, o que nos obriga a uma grande ginástica.”<br />

Excluindo os seus próprios espectáculos, a companhia programa na área do teatro desde Janeiro de 2009<br />

do Ípsilon; o mesmo dia <strong>em</strong> que haverá<br />

concerto no Salão Brazil.<br />

Sentimo-nos tentados a encolher<br />

os ombros e a <strong>da</strong>r por termina<strong>da</strong> a<br />

nossa missão: Coimbra é invisível para<br />

o país, porque aqui não se passa<br />

na<strong>da</strong>. Mas perceber<strong>em</strong>os que tiv<strong>em</strong>os<br />

apenas azar na noite.<br />

Lisboa e a paisag<strong>em</strong><br />

Sorte tiv<strong>em</strong>os com o sítio onde marcámos<br />

encontro com Abílio Hernández.<br />

O café do TAGV está quase deserto<br />

e o ar condicionado competentíssimo<br />

talvez ajude a uma conversa<br />

mais flui<strong>da</strong>. O ex-comissário <strong>da</strong> CNC,<br />

professor <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Letras,<br />

serve-se do passado para enquadrar<br />

o presente <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. “Coimbra teve<br />

durante séculos a única universi<strong>da</strong>de<br />

do país e manteve-se como a terceira<br />

ci<strong>da</strong>de de Portugal até aos anos de<br />

1960. A partir de meados do século<br />

passado, as outras ci<strong>da</strong>des do país<br />

mu<strong>da</strong>ram muito: Leiria, Aveiro, Guar<strong>da</strong>.<br />

Cresceram e sentiram necessi<strong>da</strong>de<br />

de crescer contra o modelo central<br />

de ci<strong>da</strong>de que era Coimbra. Não pod<strong>em</strong>os<br />

esquecer-nos que foi <strong>da</strong>qui<br />

que saiu Salazar e essa foi uma marca<br />

que as outras ci<strong>da</strong>des usaram <strong>em</strong> seu<br />

benefício.”<br />

Coimbra reagiu <strong>da</strong> pior maneira a esta<br />

concorrência: “ensimesmou-se”.<br />

“Reagiu como o fi<strong>da</strong>lgo que não vê a<br />

decadência <strong>em</strong> que mergulhou. E viveu<br />

durante muito t<strong>em</strong>po à sombra<br />

<strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de – e <strong>da</strong>ndo-se mal com<br />

a universi<strong>da</strong>de, o que é um mistério.”<br />

Durante vários anos, a ci<strong>da</strong>de “não<br />

conseguiu olhar para cima, para a<br />

universi<strong>da</strong>de – na<strong>da</strong> se fazia <strong>em</strong> Coimbra<br />

s<strong>em</strong> pedir autorização à universi<strong>da</strong>de”.<br />

“Nas últimas duas déca<strong>da</strong>s t<strong>em</strong><br />

havido tentativas de reconciliação e<br />

agora há uma boa relação institucional<br />

entre a ci<strong>da</strong>de e a universi<strong>da</strong>de”,<br />

acrescenta Hernández, que foi próreitor<br />

<strong>da</strong> cultura entre 1994 e 1998.<br />

Estes são probl<strong>em</strong>as que “ain<strong>da</strong><br />

não estão totalmente resolvidos” e<br />

que se reflect<strong>em</strong> na dinâmica cultural<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. “Coimbra t<strong>em</strong>-na, e t<strong>em</strong>-na<br />

através <strong>da</strong> acção dos produtores e dos<br />

dinamizadores culturais, que exist<strong>em</strong><br />

e têm uma acção de relevo: o CAPC,<br />

que foi muito importante para o lançamento<br />

<strong>da</strong> arte conceptual <strong>em</strong> Portugal<br />

nos anos 1970, as companhias<br />

A Escola <strong>da</strong> Noite e O Teatrão, a Bo-


e para onde vai<br />

i a lado nenhum”<br />

, um antigo salão de jogos que agora é restaurante-bar-sala-de-concertos-e-tudo-o-mais-que-vier,<br />

. Afi nal, o que é que Coimbra não t<strong>em</strong>? Sandra Silva Costa (texto) e Paulo Pimenta (fotos)<br />

nifrates, que t<strong>em</strong> um percurso na área<br />

do teatro amador muito consistente.<br />

Mas os protagonistas não chegam.”<br />

Voz aos protagonistas, então. A Isabel<br />

Craveiro, directora artística d’O<br />

Teatrão, que nos abre a porta <strong>da</strong> Tabacaria,<br />

uma <strong>da</strong>s salas de espectáculos<br />

<strong>da</strong> Oficina <strong>Municipal</strong> do Teatro (OMT),<br />

para onde a companhia se mudou no<br />

final de 2008. “Coimbra ain<strong>da</strong> sofre<br />

um bocado do mito de estar para<strong>da</strong><br />

no t<strong>em</strong>po, mas acho que é só conversa.<br />

Do meu ponto de vista, é possível<br />

fazer cá coisas, e com resultados b<strong>em</strong><br />

conseguidos. O probl<strong>em</strong>a é que ain<strong>da</strong><br />

há uma espécie de folclore à volta <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de que a torna um bocado anacrónica.<br />

Isso condiciona a visão de<br />

Coimbra, que parece uma ci<strong>da</strong>de onde<br />

as coisas não acontec<strong>em</strong>, como se<br />

a tradição a sufocasse.”<br />

A ver<strong>da</strong>de é que acontec<strong>em</strong>: veja-se<br />

o caso d’O Teatrão. Com subsídios<br />

anuais de 150 mil euros <strong>da</strong> Direcção-<br />

Geral <strong>da</strong>s Artes e 60 mil euros <strong>da</strong> Câmara<br />

<strong>Municipal</strong> de Coimbra – “muito<br />

pouco, quando comparados com os<br />

de outras companhias”, realça Isabel<br />

Craveiro –, o ritmo de produção e programação<br />

<strong>da</strong> companhia é assinalável.<br />

O relatório de activi<strong>da</strong>des de 2009<br />

(olhámos para este ano por incluir<br />

uma compilação definitiva e fiável dos<br />

<strong>da</strong>dos) <strong>da</strong> companhia assinala a produção<br />

de quatro espectáculos: “Cenas<br />

de Espera I e II”, na Tabacaria, com<br />

91 espectadores <strong>em</strong> duas apresentações;<br />

“Refuga”, com os adolescentes<br />

como público-alvo; “Fios e Labirintos”,<br />

um projecto pe<strong>da</strong>gógico <strong>em</strong> colaboração<br />

com a Câmara <strong>Municipal</strong> e<br />

a Escola Superior de Educação de<br />

Coimbra; “Boa Alma de Setzuan”, um<br />

regresso d’O Teatrão a Brecht que levou<br />

à OMT 562 espectadores; e “D.<br />

Quixote (de Coimbra)”: 72 apresentações<br />

que entraram por Janeiro deste<br />

ano, com uma média de 94 espectadores<br />

por noite. E depois houve um<br />

não mais acabar de acolhimento de<br />

espectáculos – desde Ana Deus aos<br />

Gaiteiros de Lisboa, passando pela<br />

companhia de Paulo Ribeiro. Ao todo,<br />

passaram <strong>em</strong> 2009 pela OMT 15. 452<br />

espectadores – uma média de 71 por<br />

espectáculo. “Nós não faz<strong>em</strong>os só espectáculos,<br />

faz<strong>em</strong>os espectáculos<br />

para chegar<strong>em</strong> às pessoas, e perceb<strong>em</strong>os<br />

que elas estão disponíveis para<br />

ser trabalha<strong>da</strong>s enquanto público”,<br />

observa Isabel Craveiro.<br />

E o público também encara “com<br />

muita simpatia” o trabalho que A Escola<br />

<strong>da</strong> Noite v<strong>em</strong> fazendo <strong>em</strong> Coimbra<br />

há 18 anos, informa, por sua vez,<br />

António Augusto Barros, director artístico<br />

<strong>da</strong> companhia, que há menos<br />

de dois anos é a residente do Teatro<br />

<strong>da</strong> Cerca de S. Bernardo, uma bela<br />

sala de espectáculos que ain<strong>da</strong> cheira<br />

a novo. Regra geral, assist<strong>em</strong> aos espectáculos<br />

d’A Escola <strong>da</strong> Noite cerca<br />

de 100 pessoas, quando a sala t<strong>em</strong><br />

capaci<strong>da</strong>de para 180, adianta Pedro<br />

Rodrigues, produtor <strong>da</strong> companhia.<br />

“Coimbra é uma ci<strong>da</strong>de boa para trabalhar,<br />

boa para experimentar, boa<br />

para um projecto se desenvolver”,<br />

considera António Augusto Barros,<br />

mas esbarra num probl<strong>em</strong>a fun<strong>da</strong>mental:<br />

o “feedback”.<br />

Discurso directo: “Um dos grandes<br />

probl<strong>em</strong>as <strong>da</strong> área artística é a questão<br />

do ‘feedback’. Nós não somos muito<br />

bafejados pela sorte, não t<strong>em</strong>os cá<br />

comunicação social, t<strong>em</strong>os muita dificul<strong>da</strong>de<br />

<strong>em</strong> meter notícias. Os jornais<br />

só falam de Lisboa, para eles o<br />

resto é paisag<strong>em</strong>. Qu<strong>em</strong> man<strong>da</strong> nos<br />

jornais nunca tira o cu de Lisboa,<br />

aconteça o que acontecer, mesmo o<br />

Porto t<strong>em</strong> muita dificul<strong>da</strong>de <strong>em</strong> meter<br />

notícias. A informação cultural é muito<br />

regionalista, muito coloniza<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />

termos de amiguismo e de clientela.<br />

Costumo dizer: Jorge Silva Melo a sul<br />

e Ricardo Pais a norte. E isto significa<br />

uma per<strong>da</strong> para o país todo.”<br />

Isabel Craveiro faz uma leitura simi-<br />

lar. “T<strong>em</strong>os muita dificul<strong>da</strong>de <strong>em</strong> chamar<br />

a atenção <strong>da</strong>s pessoas para o que<br />

aqui vamos fazendo. Neste momento<br />

não há um crítico de teatro que venha<br />

assistir aos espectáculos.” E mais:<br />

tratando-se de companhias subsidia<strong>da</strong>s,<br />

a directora d’O Teatrão entende<br />

que a activi<strong>da</strong>de deveria ser escrutina<strong>da</strong>.<br />

“Se os dinheiros são públicos,<br />

então por favor fiscaliz<strong>em</strong>-nos.”<br />

Antes de cortarmos o microfone ao<br />

teatro e o abrirmos ao cin<strong>em</strong>a, mais<br />

duas achas para a fogueira. António<br />

Augusto Barros: “A Escola <strong>da</strong> Noite<br />

faz muitas digressões pelo país, mas<br />

não vai ao Porto e a Lisboa porque<br />

não há salas disponíveis para acolher<br />

os nossos espectáculos.” Isabel Craveiro:<br />

“Há uns t<strong>em</strong>pos recebi um ‘<strong>em</strong>ail’<br />

<strong>da</strong>ndo conta <strong>da</strong> presença de<br />

Valentin Teplyakov [professor <strong>da</strong> Acad<strong>em</strong>ia<br />

Russa de Artes de Moscovo]<br />

‘pela primeira vez <strong>em</strong> Portugal’. Ele<br />

já tinha estado duas vezes <strong>em</strong> Coimbra.<br />

Não veio a Lisboa? Então não<br />

aconteceu.”<br />

Navegar à vista<br />

E a nós o que nos aconteceu?<br />

Andámos perdidos <strong>em</strong> Cernache,<br />

a uns 15 quilómetros de Coimbra, debaixo<br />

de um calor ain<strong>da</strong> mais sufocante,<br />

à procura de um ovni. A custo,<br />

chegamos à Rua Ribeira de Casconha,<br />

mas n<strong>em</strong> sombras <strong>da</strong> Persona Non<br />

Grata, a produtora de cin<strong>em</strong>a que o<br />

realizador António Ferreira instalou<br />

num antigo lagar de azeite. Perd<strong>em</strong>onos,<br />

an<strong>da</strong>mos às voltas, usamos o tel<strong>em</strong>óvel.<br />

Lá está António, ao fundo<br />

<strong>da</strong> rua, de calções e t-shirt, a acenarnos.<br />

Chegamos finalmente ao ovni.<br />

Visto de fora, este é apenas um edifício<br />

agrícola recuperado e, não se<br />

tivesse <strong>da</strong>do o caso de António Ferreira<br />

ter convi<strong>da</strong>do a freguesia a visitar<br />

a produtora, ninguém diria que<br />

“Há uns t<strong>em</strong>pos,<br />

recebi um ‘mail’<br />

<strong>da</strong>ndo conta <strong>da</strong><br />

presença de Valentin<br />

Teplyakov ‘pela<br />

primeira vez <strong>em</strong><br />

Portugal’. Ele já tinha<br />

estado duas vezes<br />

<strong>em</strong> Coimbra. Não veio<br />

a Lisboa? Então não<br />

aconteceu”, desabafa<br />

Isabel Craveiro<br />

<strong>da</strong>qui sa<strong>em</strong> filmes para o mundo ou<br />

“videoclips” para a Disney. A Persona<br />

Non Grata está ligeiramente fora do<br />

contexto: rodea<strong>da</strong> de campos de milho,<br />

implanta<strong>da</strong> numa zona completamente<br />

rural, onde a vi<strong>da</strong> acontece<br />

devagar – nas ruas, na igreja e no café<br />

ali do lado. É por isso que lhe chamamos<br />

“ovni”. Como também poderíamos<br />

chamar (mas não chamamos)<br />

extraterrestre a António Ferreira – ele<br />

que detém a única produtora de cin<strong>em</strong>a<br />

fora de Lisboa e do Porto.<br />

Circunstâncias <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>: “Estou aqui<br />

porque sou de Coimbra, se não não<br />

estaria, isso é óbvio. Mas de qualquer<br />

forma estou aqui um pouco por teimosia.<br />

Chegámos a Cernache há quatro<br />

meses, antes estávamos <strong>em</strong> Coim-<br />

Alexandre L<strong>em</strong>os, director <strong>da</strong> RUC Licenciado <strong>em</strong><br />

Programação Cultural, Alexandre L<strong>em</strong>os é o representante <strong>em</strong> Portugal<br />

<strong>da</strong> editora Bubok. Para além disso, integra a companhia de teatro<br />

Marionet, que t<strong>em</strong> residência no Centro de Neurociências e explora as<br />

relações entre o teatro e a ciência<br />

bra, no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, mas já não<br />

tínhamos condições para lá estar. Se<br />

estivéss<strong>em</strong>os <strong>em</strong> Lisboa, não sei até<br />

que ponto conseguiríamos produzir<br />

ao custo a que conseguimos produzir<br />

aqui. E no ano passado produzimos<br />

três longas-metragens, três curtas, aí<br />

uns dez ‘videoclips’.”<br />

Tudo isto para dizer que sim, faz<strong>em</strong>-se<br />

coisas <strong>em</strong> Coimbra. “Há certos<br />

agentes que, por sua conta, têm <strong>da</strong>do<br />

alguma visibili<strong>da</strong>de à cultura na ci<strong>da</strong>de.<br />

Não é, seguramente, à custa <strong>da</strong><br />

câmara”, diz António Ferreira – e agora<br />

está definitivamente posto o dedo<br />

na feri<strong>da</strong>. “T<strong>em</strong>os tido apoio zero. No<br />

ano passado filmámos uma longa to<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> Coimbra e n<strong>em</strong> sequer nos livraram<br />

<strong>da</strong>s taxas de ruído e de ocupação<br />

<strong>da</strong> via pública. Só t<strong>em</strong>os queixas<br />

a fazer. An<strong>da</strong>mos há dez anos a<br />

produzir <strong>em</strong> Coimbra e ain<strong>da</strong> nos perguntam<br />

se somos de Coimbra.”<br />

Mais de Coimbra não há – este poderia<br />

muito b<strong>em</strong> ser o slogan <strong>da</strong> RUC,<br />

a rádio que, <strong>em</strong> 107.9 FM e desde<br />

1989, põe a ci<strong>da</strong>de e os seus estu<strong>da</strong>ntes<br />

no mapa. Aqui estamos nós no<br />

edifício <strong>da</strong> Associação Académica, a<br />

ouvir pe<strong>da</strong>ços de Origami, o programa<br />

que, às 17h30, se dedica à música<br />

electrónica. Mas para Alexandre L<strong>em</strong>os,<br />

o actual director <strong>da</strong> RUC, agora<br />

a música é outra. “<strong>Em</strong> muitos aspectos,<br />

a cultura <strong>em</strong> Coimbra é basilar<br />

para a cultura portuguesa, mas quando<br />

nos pomos a pensar quando foi a<br />

última vez que tiv<strong>em</strong>os notícias culturais<br />

de Coimbra, aí t<strong>em</strong>os razões<br />

para ficar preocupados”, diz.<br />

Agora <strong>em</strong> veloci<strong>da</strong>de de cruzeiro<br />

comenta: “Passaram sete anos desde<br />

a CNC e não aconteceu na<strong>da</strong> a seguir.<br />

Aliás, perderam-se coisas: o TAGV, a<br />

grande sala de espectáculos que t<strong>em</strong>os,<br />

passou de uma sala com programação<br />

própria para uma sala que<br />

acolhe espectáculos apenas – e às vezes<br />

de quali<strong>da</strong>de duvidosa.”<br />

Abrimos um parêntesis para <strong>da</strong>r<br />

voz a Isabel Vargues, directora do TA-<br />

GV desde Set<strong>em</strong>bro de 2008: “Quando<br />

entrei, estávamos num processo<br />

de arrumar a casa. Agora somos uma<br />

fun<strong>da</strong>ção, com tudo o que isso implica.<br />

Continuamos a colaborar muito<br />

com a Associação Académica, correspond<strong>em</strong>os<br />

aos pedidos <strong>da</strong>s escolas.<br />

E duvido de qual seja o interesse de<br />

termos peças de teatro com duas ou<br />

três pessoas a assistir. Creio que aí<br />

estamos a falar de grandes criações<br />

narcísicas. Se o TAGV hoje já não ocupa<br />

o lugar que ocupava? Hoje há uma<br />

oferta enorme: o Teatro <strong>da</strong> Cerca de<br />

S. Bernardo, o Salão Brazil, o Café<br />

Santa Cruz... Há uma febre de produção<br />

de acontecimentos culturais <strong>em</strong><br />

espaços que antes não se dedicavam<br />

tanto a isso. São públicos diferentes,<br />

e o TAGV não está preocupado com<br />

protagonismo.”<br />

Fechamos o parêntesis e volta-<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 15


mos à RUC e a Alexandre L<strong>em</strong>os,<br />

que estudou programação cultural.<br />

“Se Coimbra está como está é por<br />

uma questão de opção. A câmara não<br />

faz opções, a Fun<strong>da</strong>ção Bissaya Barreto<br />

não marca a agen<strong>da</strong> nacional, a<br />

própria universi<strong>da</strong>de também não<br />

consegue fazer na<strong>da</strong>, sab<strong>em</strong>os como<br />

estão as universi<strong>da</strong>des.” Resultado:<br />

se à equação tirarmos “todos os agentes<br />

naturais <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, o que vamos<br />

encontrar é o vazio de investimento”.<br />

“Não há ninguém que tenha capaci<strong>da</strong>de<br />

e vontade para marcar severamente<br />

a agen<strong>da</strong> de Coimbra”, acusa<br />

o director <strong>da</strong> RUC, para logo a seguir<br />

avançar com uma sugestão. “O que<br />

faz falta é uma superestrutura que<br />

pegue nas várias coisas que acontec<strong>em</strong><br />

<strong>em</strong> Coimbra e lhes dê um sentido<br />

comum. A ci<strong>da</strong>de não sabe atrair.<br />

Todos conhec<strong>em</strong>os ci<strong>da</strong>des menos<br />

interessantes de ‘per si’ do que Coimbra,<br />

com património edificado menos<br />

atractivo, que sab<strong>em</strong> vender-se. Aqui<br />

não é falta de ‘hardware’. É falta de<br />

fôlego, de agressivi<strong>da</strong>de e de estratégia.<br />

A vereação <strong>da</strong> cultura, mesmo<br />

s<strong>em</strong> um tostão para programar, t<strong>em</strong><br />

de ser capaz de gerir a agen<strong>da</strong> cultural<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.”<br />

Neste ponto, to<strong>da</strong> a gente concor<strong>da</strong>.<br />

“Coimbra teria to<strong>da</strong>s as condições<br />

para se constituir como um ‘cluster’<br />

cultural. É maneirinha, ‘cosy’. Mas<br />

para isso era preciso que houvesse<br />

qu<strong>em</strong> se responsabilizasse por assegurar<br />

a dinâmica cultural que nasceu<br />

“Já estamos noutra<br />

era que não<br />

a de Pedro e Inês<br />

e Coimbra ain<strong>da</strong> não<br />

percebeu isso”,<br />

considera o<br />

realizador António<br />

Ferreira<br />

16 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

Oficina <strong>Municipal</strong> do Teatro, O Teatrão Isabel Craveiro, directora artística d’O Teatrão,<br />

reconhece que a itinerância dos projectos <strong>da</strong> companhia é ain<strong>da</strong> “um bocadinho residual”. “O nosso é um projecto<br />

que ain<strong>da</strong> não é muito conhecido. Alguns programadores prefer<strong>em</strong> ter nos seus espaços apenas um espectáculo<br />

por mês, mas um espectáculo que marque, <strong>em</strong> lugar de se abrir<strong>em</strong> a outras abor<strong>da</strong>gens teatrais.”<br />

depois <strong>da</strong> CNC”, refere Abílio Hernández.<br />

E esse papel, na opinião de António<br />

Barros, deveria passar “pela<br />

acção <strong>da</strong> autarquia”. “Há falta de ambição<br />

cultural na ci<strong>da</strong>de”, sublinha.<br />

A Câmara <strong>Municipal</strong> de Coimbra<br />

t<strong>em</strong> outra visão. Por “e-mail”, Joana<br />

Loureiro, a adjunta <strong>da</strong> vereadora<br />

<strong>da</strong> Cultura, Maria José Azevedo Santos,<br />

explica ao Ípsilon que, apesar dos<br />

constrangimentos financeiros que<br />

afectam praticamente to<strong>da</strong>s as autarquias<br />

do país, a câmara não deixa “de<br />

ter planos concretos, e nalguns casos<br />

ambiciosos”, para atingir o seu “grande<br />

objectivo”. Que não é um, são vários.<br />

A saber: “melhorar consideravelmente<br />

a difusão <strong>da</strong> leitura e do livro<br />

no concelho”; criar “um arquivo<br />

municipal constituído por to<strong>da</strong> a m<strong>em</strong>ória<br />

escrita, que r<strong>em</strong>onta à I<strong>da</strong>de<br />

Média e v<strong>em</strong> até à actuali<strong>da</strong>de – uma<br />

<strong>da</strong>s grandes estratégias [<strong>da</strong> autarquia]”;<br />

defender e preservar “o património<br />

municipal”; promover e dinamizar<br />

“uma acção cultural multímo<strong>da</strong>,<br />

de quali<strong>da</strong>de, atractiva, que, nas<br />

suas várias expressões, desde o teatro<br />

ao cin<strong>em</strong>a, à música, à <strong>da</strong>nça, ao folclores<br />

e às artes plásticas, passando<br />

por ateliers e ‘workshops’ de poesia,<br />

contos, gastronomia e artesanato,<br />

cative vertical e transversalmente os<br />

públicos (urbano e rural) e de to<strong>da</strong>s<br />

as faixas etárias”; e, finalmente, “fazer<br />

um esforço ca<strong>da</strong> vez maior para<br />

trabalhar <strong>em</strong> rede com to<strong>da</strong>s as instituições<br />

e agentes culturais <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />

e do país”.<br />

Este argumentos não convenc<strong>em</strong><br />

qu<strong>em</strong> lá está. “No que toca à cultura,<br />

a câmara não t<strong>em</strong> visão, navega à vista.<br />

Estamos na ci<strong>da</strong>de dos doutores,<br />

mas uma ci<strong>da</strong>de que não percebe que<br />

o mundo mudou, que já estamos noutra<br />

era que não a de Pedro e Inês. Lisboa<br />

e Porto são ci<strong>da</strong>des criativas, vira<strong>da</strong>s<br />

para a moderni<strong>da</strong>de. Aqui não,<br />

dá-se maioria a pessoas conservadoras,<br />

que apostam nas rotas gastronómicas<br />

e nas viagens medievais. O Mostra<br />

Língua – Festival Internacional de<br />

Cin<strong>em</strong>a <strong>em</strong> Língua Portuguesa vai<br />

este ano para a sua quarta edição e<br />

nunca teve um euro de apoio <strong>da</strong> câmara.<br />

É revelador”, comenta António<br />

Ferreira. E Alexandre L<strong>em</strong>os solta<br />

aquela que será, provavelmente, a<br />

tira<strong>da</strong> mais cáustica: “Coimbra é uma<br />

ci<strong>da</strong>de que não sabe para onde vai e<br />

que consequent<strong>em</strong>ente não vai a lado<br />

nenhum.”<br />

“Ci<strong>da</strong>de do Conhecimento”<br />

Nós sab<strong>em</strong>os muito b<strong>em</strong> onde vamos<br />

– jantar ao Salão Brazil. An<strong>da</strong> nas bocas<br />

do mundo <strong>em</strong> Coimbra, mas, confessamos,<br />

não perceb<strong>em</strong>os logo porquê.<br />

Estamos no primeiro an<strong>da</strong>r de<br />

um edifício de 1896 no Largo do Poço<br />

e o que t<strong>em</strong>os à nossa frente é uma<br />

banalíssima sala de restaurante. O pé<br />

direito é assinalável, as janelas oferec<strong>em</strong><br />

uma bela vista para o <strong>em</strong>aranhado<br />

de ruelas <strong>da</strong> Baixinha de Coimbra,<br />

mas não simpatizamos muito com as<br />

cadeiras de napa vermelhas, n<strong>em</strong><br />

com as toalhas de papel. O que é o<br />

Salão Brazil?, apetece-nos perguntar.<br />

Perguntamos mesmo e Telmo Costa<br />

responde: “Abriu há seis anos e<br />

resultou <strong>da</strong> recuperação de um antigo<br />

salão de jogos muito popular. No<br />

início era apenas um restaurante, agora<br />

é muita coisa. É um lugar onde se<br />

almoça por cinco euros, onde à noite<br />

se pode jantar por nove ou por 30 ou<br />

40 e onde há uma programação musical<br />

de quali<strong>da</strong>de.”<br />

Não é o caso esta noite, o que há<br />

esta noite é um jantar de curso – e<br />

também é por isso que o Salão Brazil,<br />

“um espaço que conta quando se trata<br />

de fazer cultura <strong>em</strong> Coimbra”, é<br />

um lugar estranho. Por aqui tanto<br />

passam estu<strong>da</strong>ntes barulhentos, como<br />

músicos como António Zambujo,<br />

que se incomodou “com o ruído dos<br />

frigoríficos”. “Talvez tenha sido um<br />

dos melhores concertos que já aqui<br />

tive”, conta Telmo Costa, que já teve<br />

no seu Salão Brazil nomes tão díspares<br />

como Ena Pá 2000 ou Henry Grimes,<br />

músico de jazz que regressou ao<br />

mundo dos vivos <strong>em</strong> Maio de 2003,<br />

depois de 35 anos afastado dos palcos<br />

– o Salão Brazil é palco habitual do<br />

Festival Jazz ao Centro.<br />

Qu<strong>em</strong> também já passou pelo Salão<br />

foi JP Simões – ain<strong>da</strong> este ano, <strong>em</strong> Março,<br />

para apresentar o seu álbum “Boato”.<br />

Foi <strong>em</strong> Coimbra que nasceu, foi<br />

<strong>em</strong> Coimbra que acordou para a música<br />

– e foi <strong>em</strong> Coimbra que “a fúria<br />

boémia e alienista dos anos 80” o esclareceu<br />

sobre “a importância <strong>da</strong> arte<br />

e <strong>da</strong> atitude como forma de resistência<br />

ao morno caldo social que nos convi<strong>da</strong><br />

a morrer <strong>em</strong> vi<strong>da</strong>”, recor<strong>da</strong>, por “<strong>em</strong>ail”.<br />

Agora radicado <strong>em</strong> Lisboa, JP<br />

Simões l<strong>em</strong>bra que, vista <strong>da</strong> A1, “Coimbra<br />

começou por ter uma placa ilustrativa<br />

que a designava como ‘Ci<strong>da</strong>de<br />

Museu’”. Agora é a “Ci<strong>da</strong>de do Conhecimento”.<br />

“Institucionalmente, isto<br />

quer dizer que os pensadores <strong>da</strong> edili<strong>da</strong>de<br />

não apreciaram a morbidez <strong>da</strong><br />

primeira sugestão, ou seja, de Coimbra<br />

ser uma ci<strong>da</strong>de morta, museu de si<br />

Teatro Académico Gil Vicente Já foi “a” sala de espectáculos de Coimbra, mas nos últimos anos<br />

o TAGV foi perdendo o brilho. A directora, Isabel Vargues, diz que, com a passag<strong>em</strong> a fun<strong>da</strong>ção, há novos desafios<br />

pela frente. “Não somos a Gulbenkian, n<strong>em</strong> Serralves, n<strong>em</strong> t<strong>em</strong>os um mecenas por trás, t<strong>em</strong>os antes a<br />

universi<strong>da</strong>de, mas vamos fazendo o nosso caminho.”


Salão Brazil “O que é que fazias, se isto fosse teu?”, perguntou<br />

Telmo Costa aos amigos. Eles foram respondendo e o Salão Brazil agora<br />

dá cartas <strong>em</strong> Coimbra. É uma sala de concertos por onde tanto pod<strong>em</strong><br />

passar os Ena Pá 2000, como nomes importantes <strong>da</strong> cena jazz mundial<br />

própria, presa de uma mítica vitali<strong>da</strong>de<br />

intelectual muito associa<strong>da</strong> ao facto<br />

de ter uma <strong>da</strong>s mais antigas universi<strong>da</strong>des<br />

<strong>da</strong> Europa e reitera<strong>da</strong> pelas lutas<br />

estu<strong>da</strong>ntis que exaltam a ligação <strong>da</strong><br />

acad<strong>em</strong>ia ao fado dito ‘erudito’, à vi<strong>da</strong><br />

boémia, poética e pró-revolucionária<br />

<strong>da</strong> massa estu<strong>da</strong>ntil.”<br />

Para JP Simões, isto quer dizer que<br />

“há também uma enorme expectativa,<br />

mesmo do resto do país, sobre<br />

aquilo que Coimbra poderá <strong>da</strong>r à cultura<br />

portuguesa”. O probl<strong>em</strong>a, acredita,<br />

é que isso “t<strong>em</strong> estagnado a criação<br />

artística e a produção cultural, na<br />

medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que fortalece a mera e<br />

constante auto-homenag<strong>em</strong> que as<br />

classes políticas tanto apreciam, <strong>em</strong><br />

detrimento <strong>da</strong> força crítica e do combate<br />

estético-ideológico que qualquer<br />

comuni<strong>da</strong>de precisa para intensificar<br />

a sua forma de se compreender”.<br />

A boa notícia é que a ci<strong>da</strong>de “conta<br />

com uma série de irredutíveis do teatro,<br />

<strong>da</strong> fotografia, <strong>da</strong> música e <strong>da</strong> poesia,<br />

que vão serenamente construindo<br />

o seu futuro e, possivelmente, o<br />

futuro <strong>da</strong> criação artística <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de”.<br />

A má notícia: “O grosso <strong>da</strong> população<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de não se constitui num público<br />

suficient<strong>em</strong>ente interessado para<br />

garantir a exequibili<strong>da</strong>de e a continui<strong>da</strong>de<br />

de projectos culturais minimamente<br />

excitantes: trata-se de uma<br />

ci<strong>da</strong>de muito conservadora que precisa<br />

de renascer intelectualmente.”<br />

Desgraça não, justiça<br />

Hoje já é sexta-feira, continua o mesmo<br />

calor, e subimos a custo até ao<br />

Pátio <strong>da</strong> Inquisição. Ain<strong>da</strong> não são<br />

13h00, estamos filados <strong>em</strong> ir espreitar<br />

o Centro de Artes Visuais de Coimbra,<br />

herdeiro dos célebres Encontros de<br />

Fotografia. Damos com o nariz na porta:<br />

na Internet tínhamos lido que abria<br />

<strong>da</strong>s 10h00 às 19h00, esta porta informa<br />

que abre <strong>da</strong>s 14h00 às 19h00. T<strong>em</strong>os<br />

pena, mas não pod<strong>em</strong>os esperar.<br />

Como não pod<strong>em</strong>os esperar pelo fim<br />

<strong>da</strong> tarde, que marca a inauguração <strong>da</strong><br />

exposição “Um olhar sobre a colecção<br />

do CAPC”. Foi dica de Abílio Hernández,<br />

mas não chegámos a fazer este<br />

inquérito – e se calhar devíamos ter<br />

feito. “Se for perguntar às pessoas na<br />

rua, provavelmente 80 por cento delas<br />

não sabe que o CAPC existe e se<br />

sabe não sabe onde ele está.” Para que<br />

conste, está na Casa <strong>Municipal</strong> <strong>da</strong> Cultura,<br />

ao cimo do Jardim <strong>da</strong> Sereia, e<br />

está a “entrar numa espécie de nova<br />

euforia”, informa, por telefone, António<br />

Olaio, artista plástico <strong>em</strong>ocionalmente<br />

ligado ao CAPC, mas que<br />

não t<strong>em</strong> nele qualquer função directiva.<br />

“Até agora, o CAPC fazia um trabalho<br />

muito mais interessante do que a<br />

divulgação do trabalho que fazia.<br />

Parece-me que pode haver um reforço<br />

na sua visibili<strong>da</strong>de, com a direcção<br />

que tomou posse há pouco t<strong>em</strong>po”,<br />

junta o também professor na Facul<strong>da</strong>de<br />

de Arquitectura, que gostaria<br />

que a própria ci<strong>da</strong>de “estivesse mais<br />

familiar” com o Círculo de Artes Plásticas.<br />

“É importante aproximar a ci<strong>da</strong>de<br />

do CAPC, o que não passa por<br />

uma mu<strong>da</strong>nça de estratégia de programação,<br />

no sentido de imaginar<br />

uma estratégia mais populista. O importante<br />

é que reforce a relação com<br />

a universi<strong>da</strong>de e através dela com os<br />

estu<strong>da</strong>ntes e com a ci<strong>da</strong>de.”<br />

E como é que o ex-Repórter Estrábico<br />

vê a cultura <strong>em</strong> Coimbra? “Há<br />

muitas ci<strong>da</strong>des dentro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Eu<br />

lido mais com a parte dela que é exigente<br />

<strong>em</strong> termos culturais e que está<br />

naquele grupo que não está satisfeito,<br />

mas já me cansei de fazer o discurso<br />

<strong>da</strong> desgraça. Se há tanta gente a fazer<br />

esse discurso, no mínimo essas pessoas<br />

já compõ<strong>em</strong> uma ci<strong>da</strong>de interessante”,<br />

considera. E diz mais: “Coimbra<br />

vive numa contradição: t<strong>em</strong> uma<br />

produção cultural que nasceu muito<br />

do meio estu<strong>da</strong>ntil e ao mesmo t<strong>em</strong>po<br />

uma imag<strong>em</strong> de alguma boçali<strong>da</strong>de<br />

liga<strong>da</strong> sobretudo às praxes. Viveu<br />

muito t<strong>em</strong>po à sombra <strong>da</strong> excelência<br />

<strong>da</strong> sua universi<strong>da</strong>de e depois ridicularizou-se<br />

a própria pretensão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />

Acho que já é t<strong>em</strong>po de olharmos<br />

com mais justiça para ela.”<br />

Apetecia-nos dizer assim seja, mas<br />

diz<strong>em</strong>os antes ponto final.<br />

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singular como intérprete de<br />

eleição do fado cont<strong>em</strong>porâneo.<br />

Foram muitos os prémios que<br />

recebeu e muitas as colaborações<br />

com músicos <strong>da</strong>s áreas mais<br />

diversas. Com um novo álbum na<br />

calha, esta voz fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong><br />

música portuguesa apresenta<br />

um concerto recheado de<br />

êxitos de carreira.<br />

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Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 17


FOTOGRAFIAS DE “TEREZÍN” DE DANIEL BLAUFUKS, PUBLICADO POR STEIDL/TINTA DA CHINA<br />

Daniel<br />

Blaufuks<br />

O fotógrafo<br />

que suspeita <strong>da</strong>s<br />

imagens<br />

Daniel Blaufuks foi ao campo de concentração de<br />

Terezín porque desconfi ou de uma fotografi a. “As<br />

imagens ment<strong>em</strong>”, diz ele. É por isso que “Terezín”,<br />

livro sob a infl uência de W. G. Sebald, é um aviso sobre<br />

o presente. Kathleen Gomes<br />

Terezín é o nome <strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de checa,<br />

60 quilómetros a norte de Praga, onde<br />

os nazis estabeleceram um campo<br />

de concentração <strong>em</strong> 1942, com algumas<br />

características excepcionais: para<br />

ali foi envia<strong>da</strong> a elite ju<strong>da</strong>ica — artistas,<br />

intelectuais, ricos —, gente cujo<br />

desaparecimento poderia causar dissabores<br />

ao Terceiro Reich. <strong>Em</strong> 1944,<br />

a Cruz Vermelha Internacional fez<br />

uma visita de inspecção a Terezín, o<br />

que motivara, meses antes, uma “acção<br />

de <strong>em</strong>belezamento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de”<br />

decreta<strong>da</strong> pelas SS: a densi<strong>da</strong>de populacional<br />

foi alivia<strong>da</strong>, as facha<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong>s casas foram pinta<strong>da</strong>s, plantaramse<br />

flores, os cafés e lojas foram recuperados,<br />

criou-se um banco e um<br />

centro comunitário com auditório,<br />

biblioteca, sinagoga. Uma ci<strong>da</strong>de inventa<strong>da</strong>.<br />

O relatório <strong>da</strong> visita <strong>da</strong> Cruz<br />

Vermelha foi tão positivo que a organização<br />

desistiu de inspeccionar ou-<br />

18 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

tros campos. O que inspirou os nazis<br />

a produzir<strong>em</strong> um filme de propagan<strong>da</strong>,<br />

ro<strong>da</strong>do <strong>em</strong> Terezín, retratando<br />

um quotidiano idílico, para sossegar<br />

a comuni<strong>da</strong>de internacional.<br />

“Terezín” é o livro de um fotógrafo<br />

que desconfia <strong>da</strong>s imagens. A primeira<br />

vez que Daniel Blaufuks viu uma<br />

fotografia de Terezín foi no livro do<br />

escritor al<strong>em</strong>ão W. G. Sebald, “Austerlitz”.<br />

Uma reprodução cinzenta e granulosa<br />

— como uma fotocópia de má<br />

quali<strong>da</strong>de — de uma sala com ficheiros<br />

dos prisioneiros do campo até ao tecto.<br />

<strong>Em</strong> “Terezín”, Blaufuks começa por<br />

examinar obsessivamente esta imag<strong>em</strong>,<br />

ampliando algumas zonas, esventrando-a,<br />

como se fizesse uma autópsia.<br />

A sala, escreve, pareceu-lhe “o<br />

cenário de uma peça de teatro inacaba<strong>da</strong>”,<br />

“d<strong>em</strong>asiado perfeita para ser<br />

real”. Algum t<strong>em</strong>po depois, Blaufuks,<br />

que “nunca quis fazer livros ou ima-<br />

gens de campos de concentração”,<br />

viajou para Terezín. E assim nasceu<br />

“Terezín”, livro extraordinário, nos<br />

passos de W. G. Sebald. Editado pela<br />

reputadíssima Steidl, “Terezín” é o<br />

primeiro livro de Blaufuks com distribuição<br />

internacional (<strong>em</strong> Portugal, é<br />

co-editado pela Tinta <strong>da</strong> China). O livro<br />

inclui um DVD com uma montag<strong>em</strong><br />

dos fragmentos que restam do filme<br />

ro<strong>da</strong>do <strong>em</strong> Terezín. (“Terezín” também<br />

é uma “ghost story”. Os rostos<br />

que se vê<strong>em</strong> nele estão mortos.) Encontro<br />

com um escritor de imagens.<br />

No lançamento de “Terezín”,<br />

praticamente não se falou de<br />

fotografia. Falou-se <strong>da</strong> história do<br />

campo de Terezín, <strong>da</strong>s motivações<br />

que o conduziram a este projecto,<br />

do que ele representa para si. Este<br />

livro é a obra de um fotógrafo<br />

e, no entanto, não é um livro de<br />

fotografia?<br />

Não, eu acho que é um livro de fotografia.<br />

Penso é que a fotografia pode<br />

cobrir estes campos também. E, portanto,<br />

ao ser um livro de fotografia,<br />

pode-nos levar para outros interesses<br />

e para outros conhecimentos. Não é<br />

o livro de um historiador, é um livro<br />

subjectivo, apesar dos <strong>da</strong>dos que lá<br />

estão ser<strong>em</strong> objectivos.<br />

Esta pergunta t<strong>em</strong> a ver com<br />

o facto de a maior parte <strong>da</strong>s<br />

imagens conti<strong>da</strong>s no livro não<br />

ser<strong>em</strong> fotografias efectivas.<br />

São digitalizações de outras<br />

imagens, de objectos, o que, não<br />

sendo novo no seu trabalho,<br />

adquire aqui outra gravi<strong>da</strong>de.<br />

Nos trabalhos anteriores, essa<br />

pulsão arquivista denunciava<br />

um certo fetichismo.<br />

Este trabalho t<strong>em</strong> muito a ver com o<br />

“Sob Céus Estranhos”, onde a maior<br />

parte <strong>da</strong>s fotografias utiliza<strong>da</strong>s não<br />

eram, de facto, minhas. Eram fotografias<br />

de fotografias de família, também<br />

eram documentos. É o que hoje<br />

<strong>em</strong> fotografia se chama “after image”,<br />

isto é, trabalha-se a partir de imagens<br />

já existentes, mas que criam um novo<br />

“corpus”. As imagens criam novas<br />

imagens, apesar de continuar<strong>em</strong> a ser<br />

as mesmas imagens. Quando já exist<strong>em</strong><br />

imagens não vale a pena chover<br />

sobre chão molhado, não vale a pena<br />

fotografar aquilo que já está fotografado,<br />

será mais interessante utilizá-las<br />

de outra forma ou com outra visão.<br />

Nunca quis fazer livros sobre campos<br />

de concentração, com imagens de<br />

campos de concentração. Acho que<br />

isso já foi feito, e muito b<strong>em</strong>, no seu<br />

t<strong>em</strong>po — já não cabe à minha geração<br />

fazê-lo. As poucas imagens que exist<strong>em</strong><br />

minhas dentro do livro apenas<br />

lhes dão uma certa alma que não teriam<br />

de outra maneira.<br />

As minhas fotografi as, no fundo, são as ruínas do t<strong>em</strong>po, são o test<strong>em</strong>unho do


Livros<br />

Essas imagens pré-existentes,<br />

isola<strong>da</strong>s, têm tanto valor como<br />

as fotografias feitas por si?<br />

Nunca estive interessado na fotografia<br />

como obra única. Não me interessa<br />

uma fotografia; interessa-me uma<br />

fotografia como parte integrante de<br />

um projecto e de um contexto. Mesmo<br />

nos diários de polaróides, os<br />

“London Diaries” (feito <strong>em</strong> 1993, publicado<br />

<strong>em</strong> 1994), há fotografias que<br />

não me interessam na<strong>da</strong> como fotografias,<br />

são más fotografias, se quisermos,<br />

mas que se integram no meu<br />

discurso. Um livro de um escritor não<br />

é feito apenas de belas palavras ou de<br />

frases bonitas, é preciso outras para<br />

sustentar o “corpus” e a lineari<strong>da</strong>de<br />

do texto. Nesse sentido, to<strong>da</strong>s as fotografias<br />

serv<strong>em</strong> o mesmo fim. Haverá<br />

umas que se destacam mais do que<br />

outras de uma forma estética mas<br />

que, sozinhas, para mim, não teriam<br />

muito interesse. As fotografias não<br />

serv<strong>em</strong> para decorar paredes.<br />

E se não as isolarmos? Têm o<br />

mesmo valor para si?<br />

Claro que há um nível autoral diferente.<br />

Como peça de puzzle, como peça<br />

de livro, têm exactamente o mesmo<br />

valor. Aliás, as fotografias que eu poderia<br />

tirar <strong>da</strong>í são as minhas. A informação<br />

não se perderia. Ficaria um<br />

livro mais pobre, porque há um olhar<br />

meu nessas fotografias que lhes dá o<br />

t<strong>em</strong>po presente — a ideia de que isto<br />

é feito e visto de hoje. As minhas fotografias,<br />

no fundo, são as ruínas do<br />

t<strong>em</strong>po, são o test<strong>em</strong>unho do t<strong>em</strong>po<br />

que passou. Penso que o meu trabalho<br />

também é sobre encontrar ord<strong>em</strong><br />

num certo caos. Essas fotografias são<br />

muito isso também: fecham o espaço,<br />

para que tenhamos uma noção clara<br />

do que é o espaço. Mas, no fim, o valor<br />

de to<strong>da</strong>s elas será igual.<br />

Foi uma imag<strong>em</strong> desta sala que Blaufuks viu no livro “Austerlitz”,<br />

de Sebald., e que está na orig<strong>em</strong> de “Terezín”. O espaço pareceu-lhe<br />

encenado, “d<strong>em</strong>asiado perfeito para ser real”. Quando foi a Terezín,<br />

Blaufuks tirou esta fotografia, que está na capa do seu livro<br />

Vamos à orig<strong>em</strong> de “Terezín”.<br />

Este projecto parte de uma<br />

imag<strong>em</strong> que viu no livro de<br />

Sebald, “Austerlitz”, de um<br />

escritório estranhamente<br />

burocrático e estranhamente<br />

vazio. Esse espaço, como conta<br />

no livro, pareceu-lhe encenado,<br />

e “d<strong>em</strong>asiado perfeito para ser<br />

real”. Ou seja, o que o moveu foi<br />

a desconfiança, a suspeita <strong>em</strong><br />

relação à imag<strong>em</strong>.<br />

Sim. A imag<strong>em</strong> aparece no livro, ele<br />

não diz onde é que é, fica subjacente<br />

que pode ser <strong>em</strong> Terezín, mas, como<br />

s<strong>em</strong>pre, o Sebald não é explícito. Na<strong>da</strong><br />

no Sebald é explícito, tudo no Se-<br />

bald é coincidência sobre coincidência<br />

e quando achamos que é mentira<br />

o que ele está a dizer, ele põe-nos<br />

uma imag<strong>em</strong> que aparent<strong>em</strong>ente prova<br />

que é ver<strong>da</strong>de — como se uma imag<strong>em</strong><br />

não pudesse ser também uma<br />

mentira. Essa imag<strong>em</strong> é to<strong>da</strong> uma<br />

espécie de encenação. Como eu escrevo<br />

no livro, há um relógio que está<br />

parado exactamente às seis <strong>da</strong> tarde,<br />

os ponteiros estão verticais, há<br />

um lado vazio naquele espaço de escritório<br />

que, a mim, desde o início,<br />

me l<strong>em</strong>brou uma peça de teatro. Foi<br />

isso que me provocou mais estranheza<br />

dentro <strong>da</strong>quela sala. Foi uma curiosi<strong>da</strong>de<br />

que fui tendo até que deci-<br />

t<strong>em</strong>po que passou. O que estou à procura talvez seja do que está debaixo de água<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 19


O cr<strong>em</strong>atório, <strong>em</strong> Terezín. Blaufuks fotografou a cores, mas o efeito<br />

parece preto e branco porque o espaço era lúgubre<br />

di pegar numas milhas <strong>da</strong> TAP e ir<br />

até lá. Não fui com a ideia de fazer<br />

um livro ou um projecto deste tamanho.<br />

Fui com a ideia de talvez tirar<br />

uma fotografia que fosse igual à do<br />

Sebald mas que fosse minha — apropriar-me<br />

<strong>da</strong>quela imag<strong>em</strong>. Depois, a<br />

coisa saiu um pouco de controlo, foime<br />

escapando, isto é, foi s<strong>em</strong>pre estando<br />

mais à frente do que eu e eu<br />

fui s<strong>em</strong>pre atrás, a perseguir. É como<br />

entrar num túnel: achamos que é um<br />

buraco pequeno e o túnel vai continuando,<br />

continuando, até conseguirmos<br />

sair outra vez.<br />

Portanto, não foi programado.<br />

Sim. Eu não queria fazer isto — fui<br />

fazendo. Aliás, fez-me imensa confusão<br />

ir a um campo de concentração.<br />

Nunca tinha ido, nunca tinha pensado<br />

ir. Deve ter sido o trabalho, não<br />

digo menos pensado porque ele foi<br />

muito pensado no decorrer do fazer,<br />

mas menos pensado anteriormente.<br />

Porque é que nunca quis ir a um<br />

20 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

campo de concentração? Por<br />

pudor?<br />

Por um lado, por pudor. Por outro<br />

lado, porque acho que um campo de<br />

concentração é um sítio tão óbvio, tão<br />

claro. E eu sei que as minhas imagens,<br />

voluntária ou involuntariamente, têm<br />

um pendor estético, têm um lado de<br />

beleza. Explorar essa beleza ou esse<br />

lado estético num campo de concentração<br />

é um pouco perverso e não é<br />

propriamente aquilo que me move.<br />

Mas criar imagens feias de um campo<br />

de concentração também não me parece<br />

muito interessante. Pessoalmente,<br />

nunca pensei que visitar um campo<br />

de concentração me levasse a algum<br />

lado onde não tivesse já estado,<br />

conhecendo eu a História e as histórias,<br />

conhecendo as m<strong>em</strong>órias dos<br />

campos de concentração, conhecendo<br />

as imagens e os filmes dos campos<br />

de concentração. Nunca senti necessi<strong>da</strong>de<br />

de estar num sítio destes. Para<br />

além de todo o terror que isso envolve<br />

e de to<strong>da</strong> a possível amargura e<br />

depressão que se sente quando se sai<br />

de um sítio desses.<br />

Nunca sentiu qualquer desejo de<br />

experiência do lugar?<br />

Não, pelo contrário. Depois de ter<br />

feito isto não tenho qualquer vontade<br />

de visitar Auschwitz ou Dachau. Não<br />

quer dizer que, se por acaso estiver<br />

perto, não vá lá. Provavelmente a minha<br />

curiosi<strong>da</strong>de levar-me-à a um desses<br />

sítios se eu estiver perto. Agora,<br />

fazer a viag<strong>em</strong> proposita<strong>da</strong>mente...<br />

Há tantos sítios bonitos no mundo<br />

que eu quero visitar. Um campo de<br />

concentração hoje serve principalmente<br />

como um local de m<strong>em</strong>ória,<br />

mas também como um local de ensino.<br />

Mas, infelizmente, já nasci ensinado.<br />

Enquanto judeu, há qualquer<br />

coisa que o aproxima <strong>da</strong>quela<br />

história e que é para si mais<br />

pessoal. O facto de ser fotógrafo<br />

coloca uma distância entre si e<br />

aquele lugar?<br />

A câmara fotográfica é uma desculpa<br />

— para fazer certas coisas e estar nos<br />

sítios. Por vezes penso que as pessoas<br />

resolv<strong>em</strong> muitas <strong>da</strong>s suas angústias<br />

não sendo fotógrafas mas fotografan-<br />

do. Hoje as pessoas chegam a um sítio<br />

muito bonito e a primeira coisa que<br />

faz<strong>em</strong> é pegar na máquina fotográfica,<br />

n<strong>em</strong> sequer têm a experiência <strong>da</strong><br />

beleza do lugar. Possivelmente já n<strong>em</strong><br />

sab<strong>em</strong> dialogar com essa beleza. Da<br />

mesma maneira que, num sítio tão<br />

horroroso como Auschwitz, imagino<br />

que as pessoas chegam lá e a primeira<br />

coisa que faz<strong>em</strong> é tirar fotografias.<br />

A câmara fotográfica acaba por ser<br />

uma defesa. E isso funciona tanto para<br />

um fotógrafo como para um amador.<br />

Há muitas coisas que fiz na vi<strong>da</strong><br />

<strong>em</strong> que a câmara foi uma desculpa.<br />

Terezín não era um campo<br />

de concentração como os<br />

outros. Não era um campo de<br />

extermínio, mas de transição.<br />

Nesse sentido, era uma<br />

experiência menos aterradora?<br />

Sim, menos aterradora no sentido <strong>em</strong><br />

que não havia câmaras de morte. Mas<br />

é muito difícil comparar o sofrimento.<br />

Para as pessoas que estavam <strong>em</strong> Terezín<br />

aquilo era um ponto de chega<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> delas que até aí se tinha passado<br />

<strong>em</strong> liber<strong>da</strong>de, <strong>em</strong> ci<strong>da</strong>des normais,<br />

na Al<strong>em</strong>anha e noutros países.<br />

Portanto, para elas, o terror já era<br />

aquilo: uma ci<strong>da</strong>de inventa<strong>da</strong>, <strong>em</strong><br />

que morriam pessoas de doença, <strong>em</strong><br />

que não havia condições de vi<strong>da</strong>, porque<br />

estava mais que sobrelota<strong>da</strong>, com<br />

50 mil pessoas, e <strong>em</strong> que as pessoas<br />

não podiam imaginar que houvesse<br />

pior do que aquilo. Só que o ser humano<br />

a<strong>da</strong>pta-se. E ali estavam vivos.<br />

<strong>Em</strong> Auschwitz não estavam vivos.<br />

Ali [Terezín] não se sabia o que se<br />

estava a passar com os judeus. Portanto,<br />

dentro do seu sofrimento, penso<br />

que as pessoas podiam ser felizes<br />

<strong>em</strong> Terezín. E é isso que é estranho<br />

no filme [feito <strong>em</strong> Terezín], é essa felici<strong>da</strong>de,<br />

ver<strong>da</strong>deira ou não, que se<br />

vê na cara de algumas pessoas. A<br />

maior parte <strong>da</strong>s pessoas que aparec<strong>em</strong><br />

no documentário falso não sobreviveu,<br />

portanto, para nós, visto de<br />

hoje, é s<strong>em</strong>pre uma felici<strong>da</strong>de irreal.<br />

Mas até que ponto não era também<br />

ver<strong>da</strong>deira? Porque as pessoas estavam<br />

vivas. Dentro de todo o horror<br />

que se passava à volta, Terezín quase<br />

era uma ci<strong>da</strong>de feliz.<br />

Frequent<strong>em</strong>ente, existe no<br />

livro uma descrição textual<br />

minuciosa <strong>da</strong>s imagens que<br />

aparec<strong>em</strong> ao lado. De novo, isso<br />

Um campo de concentração é um sítio tão óbvio, tão claro. E eu sei que as minhas<br />

involuntariamente, têm um pendor estético. Explorar esse lado estético num campo


t<strong>em</strong> a ver com uma suspeita sua<br />

<strong>em</strong> relação às imagens como<br />

estratégia de realismo, como<br />

prova irrefutável. Este livro<br />

parece dirigir-se constant<strong>em</strong>ente<br />

aos leitores, dizendo:<br />

desconfi<strong>em</strong> <strong>da</strong>s imagens.<br />

Absolutamente. Não pod<strong>em</strong>os confiar<br />

nas imagens. Como fotógrafo, sou o<br />

primeiro a dizer isso. As minhas fotografias<br />

são completamente subjectivas.<br />

Não há objectivi<strong>da</strong>de na fotografia,<br />

não existe. A maior parte <strong>da</strong>s fotografias<br />

de reportag<strong>em</strong> até há b<strong>em</strong><br />

pouco t<strong>em</strong>po eram a preto e branco.<br />

A ideia de que uma fotografia a preto<br />

e branco pode ser realista é uma mentira<br />

absoluta na qual todos nós acreditamos<br />

a certo ponto. Como é que<br />

uma fotografia a preto e branco pode<br />

ser realista e documentar a ver<strong>da</strong>de<br />

se nós v<strong>em</strong>os a cores? A partir <strong>da</strong>í,<br />

tudo é uma sucessão de mentiras. As<br />

imagens ment<strong>em</strong>, ment<strong>em</strong>, ment<strong>em</strong>.<br />

Estão s<strong>em</strong>pre a mentir.<br />

Este livro podia existir s<strong>em</strong> o<br />

texto?<br />

Não, porque as pessoas não o saberiam<br />

ler. Eu próprio não o saberia ler.<br />

Quando fui a Terezín não tinha infor-<br />

s imagens, voluntária ou<br />

de concentração é perverso<br />

mação suficiente. O que é bonito e<br />

poético nas fotografias que se expõ<strong>em</strong><br />

numa galeria de arte, <strong>em</strong> que ca<strong>da</strong> um<br />

pensa o que quiser e tira as conclusões<br />

que quiser — vê um limão ou vê um<br />

amor perdido dentro de um mesmo<br />

enquadramento —, numa fotografia<br />

de informação é perigosíssimo.<br />

Sebald não é só o ponto de<br />

parti<strong>da</strong>, é a figura tutelar de<br />

todo este projecto. O livro segue<br />

uma estratégia sebaldiana: o<br />

Sebald integra imagens nos<br />

seus livros, a par do texto, e<br />

elas adquir<strong>em</strong> uma função<br />

paradoxal: por um lado,<br />

parec<strong>em</strong> confirmar o que é<br />

descrito no texto, mas por<br />

outro instalam a incerteza no<br />

leitor, questionando a facul<strong>da</strong>de<br />

documental <strong>da</strong>s imagens.<br />

Exactamente. E aqui é ao contrário.<br />

Onde o Sebald insere uma fotografia<br />

para tentar comprovar o seu texto,<br />

eu faço o contrário: eu insiro texto<br />

para tentar comprovar ou não as minhas<br />

fotografias. No fundo, é uma<br />

estratégia paralela ao Sebald, mas<br />

contrária. Quando fiz “Sob Céus Estranhos”,<br />

não o livro, mas o filme,<br />

pouco depois peguei no primeiro livro<br />

do Sebald, que não conhecia até<br />

aí. E quase chorei por não ter conhecido<br />

o Sebald antes de fazer o filme,<br />

porque estava ali aquilo que eu procurava:<br />

essa ideia <strong>da</strong> História como<br />

uma coisa maleável, mas que se baseia<br />

<strong>em</strong> factos — os factos são inalteráveis,<br />

mas tudo o que está à volta<br />

desses factos é moldável. O que é real<br />

neste livro são os factos, isto é, o<br />

número de mortos, as pessoas que<br />

estavam, etc. Fiz pesquisa para chegar<br />

a essas conclusões. O resto pode<br />

ser ficção.<br />

Isso é ver<strong>da</strong>de <strong>em</strong> relação ao<br />

diário de Ernst K. Estão lá as<br />

fotografias do diário, mas não<br />

t<strong>em</strong>os a certeza que ele tenha<br />

existido, ou que aquele objecto<br />

seja mesmo de um senhor<br />

chamado Ernst K. E depois, o<br />

nome dele r<strong>em</strong>ete para uma<br />

figura literária: Josef K, de “O<br />

Processo”, do Kafka.<br />

Não vou responder a isso [risos]. No<br />

fundo, todo o livro podia ser uma ficção,<br />

se não soubéss<strong>em</strong>os que esta<br />

ci<strong>da</strong>de existiu. Tudo aquilo que não<br />

é facto histórico neste livro pode ser<br />

ficcionado.<br />

Como foi o seu encontro com o<br />

Sebald? Leu-o <strong>em</strong> al<strong>em</strong>ão, antes<br />

de sair a primeira tradução<br />

portuguesa [2004]. Quando o<br />

descobriu, foi a confirmação de<br />

um caminho que estava a fazer<br />

com o seu trabalho?<br />

Foi, de facto, alguém que eu encontrei<br />

como uma alma gémea. Alguém<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 21


22 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

que estava <strong>em</strong> <strong>busca</strong> <strong>da</strong>quilo que<br />

eu também estava à procura, mas<br />

muito mais à frente e muito mais talentoso.<br />

Um dia estava num “diner”<br />

<strong>em</strong> Nova Iorque e virou-se um estranho<br />

para mim, mostra-me o jornal,<br />

que t<strong>em</strong> a morte do Sebald, e ele diz:<br />

“Do you know this writer?” Foi assim<br />

que eu soube <strong>da</strong> morte dele, num acidente<br />

de automóvel [<strong>em</strong> 2001]. Não<br />

se sabe se ele teve um acidente, se<br />

teve um ataque de coração, foi uma<br />

morte <strong>em</strong> “loop”, como os próprios<br />

livros dele. Tenho pena de não ter<br />

guar<strong>da</strong>do o “New York Times” com a<br />

notícia <strong>da</strong> morte dele na altura.<br />

Esta maneira de contar a História<br />

contando historiazinhas é o que me<br />

interessa. “Sob Céus Estranhos” é feito<br />

antes de eu descobrir o Sebald, mas<br />

a ideia era essa: ao contar a história<br />

de duas pessoas [os avós maternos de<br />

Blaufuks], conseguir contar a história<br />

do mundo.<br />

Sebald não era judeu, era<br />

al<strong>em</strong>ão, filho de católicos...<br />

Ain<strong>da</strong> b<strong>em</strong>. Isto não é uma história<br />

dos judeus, é uma história <strong>da</strong> Europa,<br />

é indiferente qu<strong>em</strong> foram as vítimas.<br />

Podia ter sido qualquer minoria – naquela<br />

altura eram os judeus, os homossexuais,<br />

os ciganos, e os deficientes.<br />

O Sebald é apenas o cristalizar de<br />

uma cultura al<strong>em</strong>ã que, apesar dos 11<br />

anos de nazismo, é uma cultura inacreditavelmente<br />

rica e admirável.<br />

O que o levou a submeter as<br />

imagens do documentário a um<br />

filtro vermelho? T<strong>em</strong> um óbvio<br />

efeito dramático.<br />

Quando vi o filme, a mentira é tão<br />

forte que, mesmo a mim, que tinha<br />

to<strong>da</strong> a informação, aquilo pareceu-me<br />

um “kibbutz”. No YouTube exist<strong>em</strong><br />

excertos do filme como propagan<strong>da</strong>,<br />

a mostrar que os campos de concentração<br />

eram sítios óptimos. Portanto,<br />

a força do filme mantém-se como<br />

mentira, para qu<strong>em</strong> quiser acreditar<br />

nela. Eu não queria mostrar o filme<br />

como ele é, no original, com o preto<br />

e branco. Primeiro, decidi deixar<br />

aquela frase “Staged Nazi Film”, que<br />

acho fortíssima, e gostei imenso <strong>da</strong><br />

palavra “staged”, que r<strong>em</strong>etia para a<br />

fotografia inicial. E cheguei ao verme-<br />

Blaufuks submeteu as imagens do documentário ro<strong>da</strong>do <strong>em</strong><br />

Terezín a um filtro vermelho: era a cor “J” com que os nazis<br />

carimbavam os passaportes ju<strong>da</strong>icos<br />

lho, menos por ser a cor do sangue,<br />

mas mais porque os al<strong>em</strong>ães carimbavam<br />

um “J” nos passaportes ju<strong>da</strong>icos<br />

a vermelho. Isto, para os judeus<br />

ser<strong>em</strong> identificados, não dentro <strong>da</strong><br />

Al<strong>em</strong>anha, mas principalmente para<br />

os outros países, nomea<strong>da</strong>mente Portugal<br />

e a Suíça, saber<strong>em</strong> qu<strong>em</strong> haviam<br />

de deixar entrar. Por isso decidi carimbar<br />

o filme todo com esta cor vermelha.<br />

No fundo, aquilo é um carimbo<br />

que r<strong>em</strong>ete para esse “J”, r<strong>em</strong>ete<br />

para a estrela amarela que os judeus<br />

eram obrigados a usar na Al<strong>em</strong>anha<br />

e <strong>em</strong> Terezín, o que é irónico, porque<br />

só havia judeus na ci<strong>da</strong>de. A ideia era<br />

uma cor que <strong>em</strong>bebesse, e que as imagens<br />

que estão ao de cima passass<strong>em</strong><br />

para segundo plano — a cor é que passa<br />

a ser o primeiro plano.<br />

Há uma frase que Eduardo<br />

Prado Coelho escreveu <strong>em</strong> 2000<br />

a propósito de uma exposição<br />

sua, e que parece pr<strong>em</strong>onitória<br />

<strong>em</strong> relação a “Terezín”: “O que<br />

Daniel Blaufuks nos mostra está<br />

quase s<strong>em</strong>pre desabitado: foi<br />

o humano que se retirou.” Faz<br />

l<strong>em</strong>brar o que Walter Benjamin<br />

escreveu sobre as fotografias de<br />

Eugène Atget <strong>em</strong> Paris: que ele<br />

fotografou a ci<strong>da</strong>de s<strong>em</strong> figuras<br />

humanas, como qu<strong>em</strong> fotografa<br />

o local de um crime.<br />

E aqui aconteceu um crime, de facto.<br />

O filme e os fotogramas do filme preench<strong>em</strong><br />

esse vazio. Ao fazer este trabalho<br />

senti uma coisa que eu já tinha<br />

sentido no “Sob Céus Estranhos”,<br />

com as fotografias que retirei dos arquivos<br />

do Ministério dos Negócios<br />

Estrangeiros. Fui fotografar fotografias<br />

de pessoas que tinham pedido<br />

vistos na altura e que não puderam<br />

entrar <strong>em</strong> Portugal. É que elas não<br />

me deram autorização para estar<br />

aqui, não falei com nenhuma destas<br />

pessoas, n<strong>em</strong> poderia, porque elas<br />

morreram praticamente to<strong>da</strong>s na altura.<br />

O facto de não lhes pedir autorização<br />

e agora estar<strong>em</strong> s<strong>em</strong> autorização<br />

neste livro e neste DVD ain<strong>da</strong><br />

me causa um pouco de pudor, de impressão,<br />

não há aqui um diálogo. Mas<br />

eu precisava <strong>da</strong>s pessoas para ocupar<strong>em</strong><br />

este espaço. Só as pessoas que<br />

habitaram esta ci<strong>da</strong>de é que dão sentido<br />

ao projecto. Ain<strong>da</strong> pensei <strong>em</strong><br />

trabalhar sobre Terezín hoje, que é<br />

uma ci<strong>da</strong>de habita<strong>da</strong> por três mil checos,<br />

deverá ser interessante falar com<br />

eles e fazer um documentário. Mas<br />

não é disso que estou à procura. O<br />

que estou à procura talvez seja do que<br />

está debaixo de água. E as pessoas<br />

que lá estão hoje estão por cima <strong>da</strong><br />

água. Há uma imag<strong>em</strong> que acho importantíssima<br />

e que v<strong>em</strong> no filme, de<br />

uma mulher que se olha ao espelho.<br />

A falta de privaci<strong>da</strong>de num campo de<br />

concentração é fortíssima. Portanto,<br />

uma mulher olhar ao espelho... acho<br />

que é mais uma <strong>da</strong>s mentiras deste<br />

filme. Não sei se as pessoas tinham<br />

t<strong>em</strong>po para se olhar ao espelho, não<br />

sei se tinham espelho, não sei se ain<strong>da</strong><br />

tinham vai<strong>da</strong>de para se olhar<strong>em</strong><br />

ao espelho. No fundo, este campo de<br />

concentração põe <strong>em</strong> causa todos os<br />

outros campos de concentração.<br />

“Terezín” é o seu primeiro<br />

livro com distribuição<br />

ver<strong>da</strong>deiramente internacional.<br />

O t<strong>em</strong>a teve alguma influência<br />

nisso?<br />

O t<strong>em</strong>a, neste momento, até pode<br />

funcionar pelo contrário. Na Al<strong>em</strong>anha<br />

está-se um pouco cansado <strong>da</strong><br />

t<strong>em</strong>ática. O risco que estas t<strong>em</strong>áticas<br />

corr<strong>em</strong> é de se esgotar<strong>em</strong> e de deixar<strong>em</strong><br />

de chegar às pessoas porque elas<br />

já estão cansa<strong>da</strong>s. Quando fiz a escola<br />

na Al<strong>em</strong>anha, tudo o que aprendi<br />

<strong>em</strong> História foi o nazismo. Era tal a<br />

preocupação com o ensinamento do<br />

nazismo que não aprendi mais na<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> História al<strong>em</strong>ã. De ca<strong>da</strong> vez que<br />

vinha um professor novo ele sentia<br />

necessi<strong>da</strong>de de falar sobre isso. Isso<br />

torna-se contraproducente.<br />

O que eu acho que ajudou é o livro<br />

ser o que é. E teve a sorte de chegar<br />

à editora certa. Penso que é um livro<br />

diferente <strong>da</strong> maior parte dos livros de<br />

fotografia que se faz<strong>em</strong> hoje. Desde<br />

o meu primeiro livro foi isso que me<br />

interessou. A maior parte dos livros<br />

de fotografia são “greatest hits”: os<br />

fotógrafos juntam as melhores fotografias<br />

e põ<strong>em</strong>-nas num livro. Para<br />

mim, um livro não é isso. É como um<br />

livro de escrita: t<strong>em</strong> de ter um t<strong>em</strong>a,<br />

t<strong>em</strong> de ter um princípio, um meio e<br />

um fim. Algumas dessas fotografias<br />

se calhar são boas fotografias, se calhar<br />

não são, mas há uma coisa fecha<strong>da</strong><br />

dentro desse livro que não é a obra<br />

do fotógrafo. Não há tantos livros de<br />

fotografia que sejam assim – pelo<br />

mundo fora. Na maior parte dos livros<br />

de fotografia tanto faz ver <strong>em</strong> livro<br />

como ver numa exposição ou ver <strong>em</strong><br />

fotografias soltas, na Internet, etc.<br />

Este é um trabalho que foi pensado<br />

desde o início como livro.<br />

O livro é mais importante do que<br />

a exposição que fez no CCB <strong>em</strong><br />

2007, que lhe valeu o Prémio<br />

BESPhoto?<br />

Não penso que na exposição se possa<br />

compreender o trabalho. Penso é que<br />

se pode ganhar curiosi<strong>da</strong>de pelo t<strong>em</strong>a.<br />

As fotografias funcionam como<br />

test<strong>em</strong>unho de um espaço, mas não<br />

dão a dimensão e a profundi<strong>da</strong>de e o<br />

prazer que dá o livro. Por isso é que<br />

apresentei a maqueta do livro na exposição<br />

do BES. Aliás, eu cheguei a<br />

pensar para o BES só expor o livro.<br />

Só que seria d<strong>em</strong>asiado arrojado para<br />

uma exposição de fotografia.<br />

Se pegar nos meus livros — não são<br />

catálogos, eu tenho muito poucos catálogos<br />

—, todos eles têm muito mais<br />

trabalho do que é possível expor e<br />

todos eles têm muito mais informação<br />

do que é possível mostrar numa exposição.<br />

Quando já estava a produzir<br />

o livro, descobriu o autor <strong>da</strong><br />

fotografia do “Austerlitz”. Quer<br />

contar?<br />

Fui à Steidl preparar o livro, e é o senhor<br />

Steidl que trata de tudo. Quando<br />

estava à espera dele, estavam lá os<br />

livros todos que a Steidl já produziu<br />

e entre eles encontrava-se um livro<br />

de Dirk Reinartz, um fotógrafo que<br />

eu não conhecia. Que t<strong>em</strong> este livro<br />

sobre campos de concentração que<br />

se chama “Deathly Still”, que foi impresso<br />

na Steidl. Descobri esta fotografia<br />

por um grande acaso. Antes do<br />

meu livro ser entregue para impressão<br />

decidi acrescentar aquela frase<br />

que aparece no final, que era a única<br />

página possível, porque achei d<strong>em</strong>asia<strong>da</strong><br />

coincidência. Foi a última coisa.<br />

Achei incrível: ao fim destes anos todos,<br />

depois de ter procurado a imag<strong>em</strong><br />

na Internet, depois de imensas<br />

“démarches”...<br />

Há pouco falava do túnel: na saí<strong>da</strong><br />

do túnel, de certa forma, está a solução<br />

do início do túnel. Se o Sebald<br />

tivesse escrito de onde era a fotografia,<br />

de qu<strong>em</strong> era a fotografia, provavelmente<br />

eu nunca teria feito este<br />

projecto. Porque estava já tudo explicado.<br />

Ont<strong>em</strong>, um amigo meu perguntou-me<br />

se eu tinha lido o livro do George<br />

Steiner, “Os Livros Que Não Escrevi”.<br />

Que eu nunca li. Ele diz que<br />

um judeu lê um livro com um lápis na<br />

mão. Para quê? Para escrever outro<br />

livro a partir desse livro. E aqui foi o<br />

que aconteceu. Escrevi um livro a<br />

partir de outro livro, do Sebald. É<br />

uma ideia muito bonita: tudo é<br />

transmissão. Tudo vai <strong>da</strong>r noutra<br />

coisa e noutra coisa e noutra coisa.<br />

E isso, no fundo, é a história<br />

<strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. To<strong>da</strong>s<br />

as histórias vão tendo<br />

continui<strong>da</strong>de através<br />

<strong>da</strong>s gerações. É o que<br />

faz nós sermos seres<br />

humanos. <strong>Em</strong>bora às<br />

vezes nos esqueçamos.<br />

A maior parte dos livros de fotografi a são ‘greatest hits’: os fotógrafos juntam<br />

as melhores fotografi as. Para mim, um livro não é isso<br />

O escritor<br />

al<strong>em</strong>ão W. G.<br />

Sebald.<br />

Blaufuks<br />

refere-se a ele<br />

como “uma<br />

alma gémea”


SCHOOL OF<br />

SEVEN BELLS<br />

THE PHENOMENAL<br />

HANDCLAP BAND<br />

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QUINTA 22<br />

MANTA<br />

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BLOOD RED SHOES<br />

SEXTA 23<br />

JARDIM DO CENTRO CULTURAL VILA FLOR<br />

GUIMARÃES<br />

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BILHETES À VENDA EM<br />

WWW.CCVF.PT


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Livros<br />

MIGUEL MADEIRA<br />

Al<strong>em</strong>anha, início do século XIX: pela<br />

ci<strong>da</strong>de imagina<strong>da</strong> de Wanderburgo<br />

passa um viajante s<strong>em</strong> rumo definido<br />

que decide parar na ci<strong>da</strong>de encantado<br />

com o som do tocador de realejo<br />

na praça central.<br />

Hans, deixa-se ficar. Frequenta o<br />

principal salão literário <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de onde<br />

se discute to<strong>da</strong>s as sextas feiras<br />

filosofia, política, literatura e um sonho<br />

europeu que sab<strong>em</strong>os hoje se<br />

frustrou. No meio <strong>da</strong>s acalora<strong>da</strong>s discussões<br />

conhece a filha do dono <strong>da</strong><br />

casa, Sophie. Apaixonados, propõ<strong>em</strong>se<br />

traduzir juntos o melhor <strong>da</strong> poesia<br />

de to<strong>da</strong> a Europa.<br />

Andrés Neuman, (Buenos Aires,<br />

1977) é autor de vários livros de contos,<br />

e de três romances, dois dos quais<br />

finalistas do prestigiado Prémio Herralde.<br />

“O Viajante do Século” (ed.Alfaguara)<br />

é o seu livro mais ambicioso.<br />

E foi com ele que passou de promessa<br />

a talento consagrado entre a nova<br />

geração de escritores nascidos na<br />

América Latina. Prémio Alfaguara <strong>em</strong><br />

2009, “O Viajante do Século” foi ain<strong>da</strong><br />

eleito pela crítica como o melhor<br />

livro publicado <strong>em</strong> Espanha no ano<br />

passado. Conversar com Andrés Neuman<br />

é viajar a grande veloci<strong>da</strong>de. S<strong>em</strong><br />

travões. Pela história <strong>da</strong> civilização<br />

europeia dos últimos 200 anos e pelos<br />

caminhos do romantismo.<br />

Porque se detém de repente<br />

este Hans, o viajante, a meio<br />

do caminho contrariando logo<br />

nas primeiras páginas uma <strong>da</strong>s<br />

epígrafes do romance rouba<strong>da</strong><br />

a Georges Steiner: “Os vegetais<br />

têm raízes, as mulheres e os<br />

homens têm pés”?<br />

A culpa é de Franz Schubert: os meus<br />

pais eram os dois músicos e eu cresci<br />

a escutar “A Viag<strong>em</strong> de Inverno”, um<br />

ciclo de canções românticas que Schu-<br />

bert compôs a partir de po<strong>em</strong>as de<br />

Wilhelm Müller. Estes 24 po<strong>em</strong>as formam<br />

um conto <strong>em</strong> que de repente um<br />

hom<strong>em</strong> diz: “Boa noite”, sai de casa e<br />

atravessa a paisag<strong>em</strong> s<strong>em</strong> saber para<br />

onde o levam os seus passos, até que<br />

encontra um músico feliz com o seu<br />

realejo. Chegámos a Wanderburgo.<br />

Que é uma ci<strong>da</strong>de imaginária,<br />

mas onde o paralelismo com a<br />

geografia <strong>da</strong> Al<strong>em</strong>anha é total.<br />

Quis que ao detalhe se contrapusesse<br />

a fantasia. Hans vive como num sonho,<br />

nesta errância algures entre Dessau,<br />

ci<strong>da</strong>de onde morreu o poeta Müller,<br />

e Berlim, uma ci<strong>da</strong>de política.<br />

Quis manter uma atmosfera estranha<br />

na relação entre o viajante e as pedras<br />

e ruas desta Wanderburgo inventa<strong>da</strong>.<br />

Como se estas se montass<strong>em</strong> e desmontass<strong>em</strong><br />

do dia para a noite. Uma<br />

ci<strong>da</strong>de conjectural como as que imaginou<br />

Italo Calvino, já no século XX<br />

mas com a aparência exacta de uma<br />

ci<strong>da</strong>de típica do centro <strong>da</strong> Europa no<br />

início do século XIX.<br />

Mas “O Viajante do Século”<br />

está longe de ser um romance<br />

histórico...<br />

Sim, porque desobedece às regras do<br />

género. Há um salto ao século XX para<br />

contar esta história que decorre no<br />

século XIX e esse salto do t<strong>em</strong>po nunca<br />

ocorre no tradicional romance histórico.<br />

“O Viajante do Século” está<br />

cheio de recursos que pertenc<strong>em</strong> à<br />

vanguar<strong>da</strong> literária do século XX:<br />

Franz Kafka, John Cheever. Há descrições<br />

quotidianas que l<strong>em</strong>bram Raymond<br />

Carver, monólogos interiores<br />

que recor<strong>da</strong>m James Joyce, a construção<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de aponta a Kafka, o espaço<br />

visual é cin<strong>em</strong>atográfico, os diálogos<br />

são radiofónicos. Nos encontros<br />

do salão literário, que são <strong>em</strong> si uma<br />

ideia pesa<strong>da</strong>, solene, os meus perso-<br />

nagens por ex<strong>em</strong>plo não falam um de<br />

ca<strong>da</strong> vez, interromp<strong>em</strong>-se <strong>em</strong> acções<br />

e <strong>em</strong> pensamentos, distra<strong>em</strong>-se, voltam<br />

atrás, segu<strong>em</strong> <strong>em</strong> frente. O que<br />

acontece se colocarmos um helicóptero<br />

dentro de uma carruag<strong>em</strong> – o<br />

helicóptero fica parado ou a carruag<strong>em</strong><br />

desata a voar? Quis perceber se<br />

a partir de fragmentos breves e velozes,<br />

se podia manter uma atmosfera<br />

lenta. Um híbrido do romance clássico<br />

com a narrativa dos nossos dias,<br />

nos planos estilísticos, político e estrutural.<br />

E assim amarra os séculos XIX<br />

e XX. Mas também escreve que<br />

“o passado serve de laboratório<br />

para analisar o presente”. E o<br />

nosso presente é o século XXI. Ao<br />

qual pertenc<strong>em</strong> os seis anos que<br />

levou a escrever este romance.<br />

A minha ideia nunca foi reconstituir o<br />

passado, mas sim detectar conflitos<br />

que, tendo-se iniciado na primeira metade<br />

do século XIX, se instalaram até<br />

hoje na nossa socie<strong>da</strong>de. Quis deixar<br />

b<strong>em</strong> à vista o que o passado pode ter<br />

de revelador, os sinais que deixa ao<br />

futuro que infelizmente se acabam por<br />

“Estamos no universo<br />

de Jane Austen.<br />

E de repente, esses<br />

dois seres românticos<br />

tiram a roupa<br />

e descobr<strong>em</strong> que<br />

têm estrias, peitos<br />

descaídos, sémen”<br />

confirmar. A decepção com os projectos<br />

revolucionários começou com o<br />

espanto dos intelectuais pela forma<br />

como Napoleão exercia o poder. Daí<br />

passámos às utopias do comunismo<br />

impossíveis de concretizar e que arrastaram<br />

na sua que<strong>da</strong> desilusão e frustração<br />

<strong>em</strong> milhões de pessoas.<br />

<strong>Em</strong> segundo lugar, há este paralelismo<br />

entre a revolução industrial e<br />

revolução digital. A máquina a vapor<br />

e o comboio mu<strong>da</strong>m o conceito de<br />

espaço e t<strong>em</strong>po. Mu<strong>da</strong> o conceito de<br />

lugar, o hom<strong>em</strong> passa a deslocar-se<br />

mais rapi<strong>da</strong>mente do que a natureza.<br />

E isso repete-se com a revolução digital<br />

que hoje viv<strong>em</strong>os. E tudo isto ocorre<br />

não porque a história se repita mas<br />

antes porque o início do século XIX é<br />

na minha opinião o início do presente.<br />

Cai por terra, pelo menos para mim,<br />

a ideia de que a história é veloz e an<strong>da</strong><br />

mais depressa do que o hom<strong>em</strong>.<br />

E t<strong>em</strong>os Sophie, uma mulher<br />

<strong>em</strong>ancipa<strong>da</strong> antes do t<strong>em</strong>po,<br />

que rompe barreiras <strong>em</strong> nome<br />

de um amor romântico. “O<br />

Viajante do Século” é um elogio<br />

ao romantismo no seu carácter<br />

revolucionário?<br />

A história romântica entre o viajante<br />

Hans e a jov<strong>em</strong> Sophie t<strong>em</strong> duas metades<br />

b<strong>em</strong> diferentes: num primeiro<br />

momento tudo é subterfúgios, olhares<br />

que se cruzam e se desviam com pudor,<br />

movimentos quase imperceptíveis<br />

de tecidos esvoaçantes, toques<br />

de pele subtis. Estamos no universo<br />

de Jane Austen. E de repente, esses<br />

dois seres românticos tiram a roupa<br />

e descobr<strong>em</strong> que têm estrias, barriga,<br />

peitos descaídos, sémen, suji<strong>da</strong>de.<br />

Acaba o idealismo <strong>em</strong> torno dos<br />

corpos e o romance torna-se cont<strong>em</strong>porâneo<br />

na forma como é contado.<br />

Fala-se de menstruação, algo muito<br />

pouco romântico. Tentei mostrar o<br />

que se poderia passar dentro <strong>da</strong> carruag<strong>em</strong><br />

de Ma<strong>da</strong>me Bovary que percorre<br />

Paris com as cortinas corri<strong>da</strong>s.<br />

No romance de Flaubert sab<strong>em</strong>os que<br />

a carruag<strong>em</strong> leva o amante lá dentro<br />

mas nunca o v<strong>em</strong>os.<br />

Mas mesmo que lá dentro se pratique<br />

coito anal, a ideia era manter o<br />

nível poético. Tentei que na prosa não<br />

se distinguisse entre uma discussão<br />

filosófica sobre Kant, uma tradução<br />

de Bocage e uma descrição de uma<br />

qualquer axila.<br />

E quando não estão a fazer amor,<br />

Hans e Sophie traduz<strong>em</strong> poesia.<br />

A tradução é também um dos t<strong>em</strong>as<br />

essenciais deste romance: a forma<br />

como traduzimos o passado no t<strong>em</strong>po<br />

presente. A história de amor entre<br />

Hans e Sophie d<strong>em</strong>onstra como o<br />

amor se pratica traduzindo: gestos,<br />

silêncios, as tuas palavras através <strong>da</strong>s<br />

minhas palavras. To<strong>da</strong> a tradução é<br />

um acto de amor.<br />

Hans e Sophie têm o objectivo ambicioso<br />

de traduzir to<strong>da</strong> a poesia europeia<br />

de to<strong>da</strong>s as línguas: esta ânsia<br />

de tudo traduzir antecipa o diálogo<br />

de culturas, a ideia de uma Europa de<br />

civilizações e até de ferramentas como<br />

o Google.<br />

Ver crítica de livros págs. 44 e segs.<br />

Andrés<br />

Neuman quis<br />

desobedecer<br />

às regas do<br />

romance<br />

histórico<br />

Três séculos:<br />

um só romance<br />

“O Viajante do Século” t<strong>em</strong> a ambição de nos pôr a olhar para um espelho com o passado lá<br />

dentro. Conversar com Andrés Neuman é viajar a grande veloci<strong>da</strong>de. Rui Lagartinho<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 25


26 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

Teatro<br />

ENRIC VIVES-RUBIO<br />

Jer<strong>em</strong><br />

os seus<br />

Este é um fi lme sobre pessoas,<br />

Angola Project” é uma “performan<br />

“The Angola Project” começou<br />

há alguns anos e, no momento<br />

<strong>em</strong> que chega a Lisboa<br />

para um espectáculo, hoje, no<br />

Teatro Maria Matos, o seu caminho<br />

ain<strong>da</strong> não se esgotou. É<br />

uma “performance” com vídeo<br />

do actor, bailarino e também<br />

realizador norte-americano de<br />

38 anos Jer<strong>em</strong>y Xido sobre a<br />

vontade de fazer um “road movie”<br />

e contar a história de dois<br />

irmãos que part<strong>em</strong> de Portugal<br />

<strong>em</strong> <strong>busca</strong> <strong>da</strong> casa que a mãe angolana<br />

lhes deixou no interior<br />

de Angola. O caminho dos dois<br />

irmãos cruza-se com o de Simão<br />

Branco de Sousa, ex-sol<strong>da</strong>do angolano<br />

a qu<strong>em</strong> a guerra civil tomou<br />

a adolescência, também ele<br />

num regresso às origens, <strong>da</strong> costa<br />

para o Planalto Central.<br />

Na génese ou no meio deste projecto<br />

de “performance”, encomen<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

a Jer<strong>em</strong>y Xido pela Transforma<br />

Associação Cultural (organização de<br />

artes performativas com sede <strong>em</strong> Torres<br />

Vedras), estão outras histórias: de<br />

uma diáspora angolana <strong>em</strong> Lisboa e<br />

de uma comuni<strong>da</strong>de asiática activa<br />

na reconstrução de Angola. Ambas<br />

reflect<strong>em</strong> um mundo <strong>em</strong> transformação,<br />

com novos protagonistas do século<br />

XXI, muito diferentes dos que<br />

dominaram o século XX com lutas por<br />

uma heg<strong>em</strong>onia mundial.<br />

Nesse “road movie” ain<strong>da</strong> imaginário,<br />

cujas imagens são a matéria-prima<br />

principal <strong>da</strong> “performance” de Jer<strong>em</strong>y<br />

Xido, cruza-se ain<strong>da</strong> a história do próprio<br />

realizador, “único miúdo branco<br />

num bairro de negros <strong>em</strong> Detroit”, e<br />

de como, por falta de financiamento,<br />

ain<strong>da</strong> não foi possível realizar este filme<br />

sobre Simão Branco de Sousa e os<br />

dois irmãos, personagens inspira<strong>da</strong>s<br />

<strong>da</strong>s entrevistas que Xido fez a jovens<br />

angolanos <strong>em</strong> Portugal. A “performance”<br />

foi pretexto para o actor e bailarino<br />

falar ao Ípsilon, já <strong>em</strong> Lisboa, <strong>da</strong>s<br />

ligações reais e imaginárias a África e<br />

de um país, Angola, oito anos depois<br />

do fim <strong>da</strong> guerra.<br />

Xido: “Os dois irmãos são europeus<br />

e têm uma relação com Angola completamente<br />

imaginária, como a relação<br />

com África que nós tínhamos<br />

a partir de Detroit. Quando chegam<br />

a Angola, encontram um mundo onde<br />

os chineses estão a reconstruir os<br />

Caminhos-de-Ferro de Benguela, e<br />

uma rapariga chinesa que é mais<br />

angolana do que qualquer outra pessoa.<br />

As identi<strong>da</strong>des e noções de raça<br />

estão vira<strong>da</strong>s do avesso. As pessoas<br />

estão a li<strong>da</strong>r com o passado e à procura<br />

do significado <strong>da</strong>s suas raízes.<br />

Era esse o território de parti<strong>da</strong>.”<br />

Como diria Xido a potenciais financiadores<br />

do seu projecto: “Este é um<br />

filme sobre pessoas, esperança, medo<br />

e redenção.” Isso num primeiro pla-<br />

no, o <strong>da</strong>s pessoas, que se sobrepõe ao<br />

de um mundo global <strong>em</strong> mutação. Se<br />

o filme existisse mesmo, teríamos, de<br />

um lado, Simão como test<strong>em</strong>unha <strong>da</strong><br />

História a passar por um território<br />

(antes destruído) <strong>em</strong> mu<strong>da</strong>nça e, do<br />

outro, os dois irmãos, filhos de uma<br />

independência tardia <strong>da</strong>s ex-colónias<br />

de Portugal, heróis de um futuro <strong>em</strong><br />

que “to<strong>da</strong>s as hierarquias e regras estão<br />

inverti<strong>da</strong>s”, <strong>em</strong> que “há liber<strong>da</strong>de<br />

de identi<strong>da</strong>de”.<br />

Fascínio e presença africana<br />

No princípio de “The Angola Project”,<br />

há uma descoberta que se torna força<br />

motora do projecto.<br />

Xido: “A primeira vez que vim a Lisboa<br />

[<strong>em</strong> 2006 ou 2007] fiquei fascinado<br />

com a presença africana. <strong>Em</strong><br />

parte por causa de onde eu venho.<br />

Venho de Detroit, Michigan. África<br />

era uma questão imensa na minha<br />

<strong>infância</strong>. To<strong>da</strong>s as pessoas no meu<br />

bairro estavam fascina<strong>da</strong>s com África<br />

mesmo s<strong>em</strong> saber<strong>em</strong> onde era.<br />

Depois, apercebi-me aqui <strong>em</strong> Portugal<br />

de uma presença africana muito<br />

antiga, totalmente diferente de tudo<br />

aquilo que eu conhecia dos Estados<br />

Unidos e outras metrópoles na Europa.<br />

Achei que era uma relação<br />

muito mais antiga e directa com África,<br />

enquanto para nós era uma relação<br />

com um lugar imaginário s<strong>em</strong><br />

reali<strong>da</strong>de física.”<br />

Num segundo momento, mas quase<br />

<strong>em</strong> simultâneo com esse fascínio<br />

fun<strong>da</strong>dor (que revela a Jer<strong>em</strong>y Xido<br />

algo sobre ele próprio e o lugar de<br />

onde v<strong>em</strong>) há a frase de uma estu<strong>da</strong>nte<br />

do Sul de Angola – “A Europa morreu,<br />

Angola é o futuro” – numa <strong>da</strong>s<br />

entrevistas com a comuni<strong>da</strong>de angolana<br />

<strong>em</strong> Portugal.<br />

Xido: “Ela era africana, e não estava<br />

a falar no sentido de que ‘não há futuro<br />

para mim aqui’, era no sentido<br />

de que não há futuro para ninguém<br />

jov<strong>em</strong>, não há sentimento de excitação<br />

ou potencial ou entusiasmo, mesmo<br />

para os jovens portugueses. As<br />

pessoas estão cansa<strong>da</strong>s, não há uma<br />

força mitológica que as mova. Para<br />

ela, pelo contrário, havia um mito<br />

muito poderoso que estava vivo.”<br />

A essa força, juntou-se essa ideia<br />

latente do declínio de antigos poderes<br />

e do começo de novos.<br />

Xido: “Entre o grupo de jovens entrevistados<br />

havia este sentimento de<br />

futuro e de possibili<strong>da</strong>de <strong>em</strong> África<br />

que não havia <strong>da</strong> Europa. Fiquei espantado<br />

com esta constatação de<br />

que há enormes mu<strong>da</strong>nças nos equilíbrios<br />

geopolíticos e de poder com<br />

a Ásia e a África. A pro<strong>em</strong>inência <strong>da</strong><br />

China como uma potência mundial,<br />

a mu<strong>da</strong>nça no papel que a África


y Xido Angola com<br />

s universos paralelos<br />

esperança, medo e redenção. Ou virá a ser, quando tiver fi nanciamento garantido. Para já, “The<br />

ce”, com vídeo, texto e imagens de uma Angola que nos revela um mundo novo. Ana Dias Cordeiro<br />

Xido não sabe ain<strong>da</strong> se o seu<br />

filme será uma ficção, um<br />

documentário ou algo entre os<br />

dois<br />

pode ter no século XXI e o declínio<br />

<strong>da</strong> Europa e dos Estados Unidos como<br />

poderes heg<strong>em</strong>ónicos no mundo.<br />

Neste virar de mesa, nesta inversão<br />

de papéis, encontro uma sensação<br />

de liber<strong>da</strong>de que me fascina.”<br />

Se há esperança num território destruído<br />

por uma guerra do século XX,<br />

também haveria para o filme de Xido<br />

que ninguém ain<strong>da</strong> quis financiar.<br />

Como se Angola d<strong>em</strong>onstrasse que<br />

“há alternativas a tudo aquilo que havia<br />

no século XX”. Como se a História<br />

não tivesse s<strong>em</strong>pre que ser conta<strong>da</strong><br />

pelos vencedores (ou pelos que têm<br />

o dinheiro). Para isso, basta encontrar<br />

alternativas. O filme-ficção sobre os<br />

dois irmãos pode passar a ser um documentário,<br />

mais centrado <strong>em</strong> Simão<br />

Branco, se com isso houver mais hipóteses<br />

de financiamento. Mas tudo<br />

são ain<strong>da</strong> interrogações.<br />

Xido: “O meu objectivo é talvez fazer<br />

os dois [filme e documentário], ou um<br />

filme na fronteira entre o documentário<br />

e a ficção, que é o que nós, Cabula6,<br />

como companhia de teatro,<br />

faz<strong>em</strong>os, entre o que é real e o que é<br />

fabricado, jogando com o poder <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de e o poder <strong>da</strong> ficção.”<br />

A companhia Cabula6, de Jer<strong>em</strong>y<br />

Xido e Claudia Heu, foi distingui<strong>da</strong><br />

como “Companhia do Ano de 2009”<br />

pela revista “Ballettanz” e galardoa<strong>da</strong><br />

com o “Outstanding Artist Award –<br />

Intercultural dialogue 2010”, pelo<br />

Ministério <strong>da</strong> Cultura austríaco. O seu<br />

trabalho, posto <strong>em</strong> cena e mostrado<br />

na Internet, é visto como criador de<br />

uma arte de distância do teatro e de<br />

aproximação à literatura.<br />

Século de oportuni<strong>da</strong>des<br />

O filme (ou documentário) vai tomando<br />

forma na cabeça de Xido (e é isso<br />

que ele mostra na sua “performance”).<br />

Passa pela história de Simão<br />

Branco nesse regresso à províncias<br />

do Huambo e do Bié, que também ele<br />

ajudou a destruir, e na sua procura<br />

de um <strong>em</strong>prego na <strong>em</strong>presa chinesa<br />

que está a reconstruir a mítica linha<br />

dos Caminhos-de-Ferro de Benguela.<br />

Essa linha é quase inversamente paralela<br />

à rota dos escravos que saíam<br />

do coração de África, levados para o<br />

outro lado do Atlântico.<br />

Xido: “Aqui estávamos nós na linha<br />

transcontinental de Benguela, construí<strong>da</strong><br />

pelos britânicos, a pedido dos<br />

portugueses, ao longo <strong>da</strong>s antigas<br />

rotas de caravanas de escravos por<br />

onde passaram antepassados de pessoas<br />

como as que viv<strong>em</strong> no meu bairro.<br />

A mesma linha que no século XX<br />

foi bombardea<strong>da</strong> e mina<strong>da</strong> pelas potências<br />

envolvi<strong>da</strong>s na Guerra Fria e<br />

que agora está a ser reconstruí<strong>da</strong> por<br />

<strong>em</strong>presas <strong>da</strong> China, a nova potência<br />

dominante <strong>em</strong>ergente no mundo.”<br />

Mais do que uma vez, na “performance”,<br />

Xido diz: “Estamos no século<br />

XXI.” Quase s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> sinal de<br />

esperança e a l<strong>em</strong>brar que o seu filme<br />

ain<strong>da</strong> virtual olha para o futuro. Se,<br />

no passado, não havia esperança de<br />

conseguir apoios para um filme com<br />

protagonistas negros, no século XXI<br />

isso não só é possível como é comum<br />

encontrar<strong>em</strong>-se e contar<strong>em</strong> “histórias<br />

<strong>em</strong> que os brancos são totalmente<br />

irrelevantes”. “É uma maneira importante<br />

e nova de contar o mundo”,<br />

acrescenta.<br />

Saloon futurista<br />

<strong>Em</strong> Benguela, ou mais para dentro do<br />

coração de Angola, Xido encontrou<br />

um mundo muito mais vibrante do<br />

“[<strong>Em</strong> Angola]<br />

encontrei um mundo<br />

muito à frente<br />

<strong>da</strong> Europa, como uma<br />

fronteira onde<br />

as identi<strong>da</strong>des<br />

e designações de<br />

identi<strong>da</strong>des são mais<br />

flui<strong>da</strong>s e as pessoas<br />

pod<strong>em</strong> ser coisas<br />

que não sabíamos<br />

que podiam ser”<br />

Jer<strong>em</strong>y Xido<br />

que imaginou. E muito mais “freaky”<br />

(bizarro e estranho), o que na cabeça<br />

de Xido é positivo, no sentido de<br />

“complexo e inesperado”, mesmo<br />

que o que encontrou <strong>em</strong> Luan<strong>da</strong> não<br />

lhe tenha inspirado um sorriso. Na<br />

capital angolana, Xido viu “coisas<br />

confusas”, como grandes edifícios de<br />

escritórios com as luzes indicadoras<br />

s<strong>em</strong>pre liga<strong>da</strong>s à noite, ao lado de<br />

bairros inteiros s<strong>em</strong> luz nas ruas e nas<br />

casas onde viv<strong>em</strong> as pessoas. A vibração,<br />

sentiu-a no resto do país.<br />

Xido: “<strong>Em</strong> Benguela conheci médicos<br />

russos e cubanos, construtores <strong>da</strong>s<br />

Filipinas, sol<strong>da</strong>dos e prostitutas e<br />

trabalhadores por conta própria vietnamitas,<br />

que me convi<strong>da</strong>ram a entrar<br />

na sua vi<strong>da</strong> nocturna homossexual<br />

de Benguela, que eu não fazia<br />

ideia de que existia. Bizarro. Encontrei<br />

um mundo muito à frente <strong>da</strong> Europa,<br />

como uma fronteira onde as<br />

identi<strong>da</strong>des e designações de identi<strong>da</strong>des<br />

são mais flui<strong>da</strong>s e as pessoas<br />

pod<strong>em</strong> ser coisas que não sabíamos<br />

que podiam ser. Havia gente de todo<br />

o mundo, suecos e dinamarqueses,<br />

al<strong>em</strong>ães <strong>da</strong> Baviera, com bigodes gigantes<br />

e planos para construir fábricas<br />

de cerveja. E chinesas que acabaram<br />

de se licenciar e estão a <strong>da</strong>r a<br />

volta ao mundo. Na China, a tradutora<br />

[a trabalhar no complexo de<br />

construtores] teria que corresponder<br />

a um certo papel enquanto mulher<br />

na socie<strong>da</strong>de. <strong>Em</strong> Angola, era a pessoa<br />

mais importante do complexo.”<br />

Num bar de kuduro, na última parag<strong>em</strong><br />

<strong>da</strong> linha dos Caminhos-de-Ferro<br />

de Benguela, Xido encontrou “pessoas<br />

a arrastar cabras, sol<strong>da</strong>dos bêbedos,<br />

uma mulher com uma feri<strong>da</strong> de bala<br />

na cabeça que batia no hom<strong>em</strong> ao seu<br />

lado, um travesti que falava sozinho”.<br />

Encontrou “o que imaginava ser a reali<strong>da</strong>de<br />

nos ‘westerns’ americanos,<br />

como um bar de fronteira”. Sentiu que<br />

estava num “saloon” futurista, do<br />

século XXI. O século de Angola?<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 27


É um dia calmo lá <strong>em</strong> casa. A campainha<br />

toca. Espreita-se pelo óculo<br />

<strong>da</strong> porta para ver qu<strong>em</strong> é. Vislumbra-se<br />

um hom<strong>em</strong> baixo, cabelo<br />

com gel, roupas colori<strong>da</strong>s,<br />

sapatos de salto alto e Bíblia na<br />

mão. Pensamos ser um sósia de<br />

Prince. Depois o hom<strong>em</strong> fala, diz<br />

que quer falar connosco sobre<br />

Deus, fica-se curioso e abre-se a<br />

porta. E às tantas percebe-se que<br />

não é um sósia. É mesmo ele.<br />

<strong>Em</strong> Portugal não se corre esse<br />

risco. Mas <strong>em</strong> pequenas ci<strong>da</strong>des<br />

do interior dos Estados Unidos,<br />

nos últimos dez anos, t<strong>em</strong> acontecido.<br />

A maior parte <strong>da</strong>s vezes não<br />

é reconhecido. Às vezes enverga<br />

até uma roupa mais comedi<strong>da</strong> e<br />

faz questão de metamorfosear o<br />

cabelo. Mas muitos já apanharam<br />

o sobressalto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, abrindo a<br />

porta a uma test<strong>em</strong>unha de Jeová<br />

e acabando a falar com uma <strong>da</strong>s<br />

maiores estrelas pop <strong>da</strong>s últimas<br />

três déca<strong>da</strong>s.<br />

A história v<strong>em</strong> conta<strong>da</strong> no jornal<br />

inglês “Daily Mirror”, que distribuiu<br />

gratuitamente o seu último<br />

álbum, “20Ten”, na edição de sábado<br />

passado, mas t<strong>em</strong> sido reafirma<strong>da</strong><br />

ao longo dos últimos anos<br />

<strong>em</strong> vários artigos de imprensa.<br />

Prince é Test<strong>em</strong>unha de Jeová,<br />

professando com convicção, inclusive<br />

no porta a porta.<br />

Na<strong>da</strong> disso interessava, se ele<br />

não estivesse de regresso. Há o ál-<br />

28 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

bum novo, provavelmente o seu<br />

melhor desde “Sign ‘O’ The Times”<br />

(1987). Houve uma aparição recente,<br />

<strong>em</strong> Paris, ao lado de Stevie Wonder.<br />

Há essa relação de admiração<br />

<strong>em</strong> relação à fadista Ana Moura,<br />

que o levou a assistir a um espectáculo<br />

seu <strong>em</strong> Paris o ano passado.<br />

Dessa relação resultará a interpretação,<br />

<strong>em</strong> estreia, e <strong>em</strong> dueto, no<br />

Meco, de “Walk in sand”, uma canção<br />

do último álbum dele, composta<br />

a pensar <strong>em</strong> Portugal. E há uma<br />

série de concertos recentes entusiasmantes,<br />

como há 15 dias no festival<br />

Roskilde, <strong>da</strong> Dinamarca, perante<br />

70 mil pessoas, onde tocou<br />

sucessos de s<strong>em</strong>pre (“Kiss”, “Little<br />

red corvette”, “1999”, “Let’s go<br />

crazy”, “Purple rain”) e versões<br />

surpreendentes como “Le freak”<br />

dos Chic, “Shake your body” dos<br />

Jackson 5 ou “Every<strong>da</strong>y people”<br />

de Sly & The Family Stone.<br />

E há, claro, esse concerto no Festival<br />

Super Bock Super Rock, no<br />

Meco, no próximo domingo, pelas<br />

23h45. Curiosamente é um evento<br />

onde se poderão encontrar alguns<br />

dos seus descendentes como Jamie<br />

Lidell (hoje, 19h) ou Mayer Hawthorne<br />

(hoje, 20h10), para além<br />

de muitos outros pontos de interesse<br />

provenientes <strong>da</strong> pop electrónica,<br />

como os Cut Copy (hoje,<br />

21h20) e Hot Chip (sábado, 22h30),<br />

do rock menos convencional, como<br />

os Grizzly Bear (hoje, 23h30),<br />

Ele admira a fadista<br />

Ana Moura. Os dois<br />

vão cantar <strong>em</strong> dueto<br />

“Walk in sand”,<br />

a canção que ele<br />

compôs a pensar<br />

<strong>em</strong> Portugal<br />

Julian Casablancas abllancas<br />

(sábado, 21h),<br />

Vampire Weekend Weeekend<br />

(sábado, 23h50)<br />

e National (do (domingo, omingo, 21h30) ou <strong>da</strong>s<br />

linguagens ns <strong>da</strong>nçantes, d<strong>da</strong>nçantes,<br />

como Ri- Richie<br />

Hawtin tin ( (hoje, 01h).<br />

Ninguém m sabe saabe<br />

o que irá acontecer<br />

exactamente amente<br />

no Meco. A imprevisibili<strong>da</strong>de<br />

li<strong>da</strong>ade<br />

ain<strong>da</strong> faz parte<br />

dele. Qu<strong>em</strong> m o<br />

o viu <strong>em</strong> Portugal (<strong>em</strong><br />

1993 no Estádio stáddio<br />

de Alvalade e <strong>em</strong><br />

1998 no Pavilhão avilh hão Atlântico e, horas<br />

mais tarde, e, no o Lux, num concertosurpresa<br />

onde ondde<br />

se fartou de improimprovisar) sabe-o. e-o. . Mas é previsível que<br />

se apresente ntee<br />

com um naipe alargado<br />

de músi músicos icos e bailarinos. Que<br />

d<strong>em</strong>onstre e uma uuma<br />

excelente forma<br />

física aos 52 anos. aanos.<br />

E que apresente<br />

êxitos – ficando anddo<br />

de fora os que possu<strong>em</strong><br />

carga ga eerótica<br />

rótica mais explícita,<br />

talvez – misturados mistuurados<br />

com canções<br />

do novo registo. egissto.<br />

Apesar <strong>da</strong> sua devoção a Deus,<br />

O nome dele é<br />

e ain<strong>da</strong> é funky<br />

não é costume evocá-lo<br />

directamente <strong>em</strong> palco,<br />

<strong>em</strong>bora as canções do<br />

novo disco tenham sido<br />

influencia<strong>da</strong>s pela sua fé.<br />

Isto ao nível <strong>da</strong>s letras. Do<br />

ponto de vista sónico é o seu<br />

disco, desde há muito, que mais<br />

investe na fisicali<strong>da</strong>de e no dinamismo<br />

rítmico. Há um balanço<br />

sensual como <strong>em</strong> “Sign ‘O’ the Times”,<br />

economia minimalista como<br />

no álbum “Parade” (1986), rasgos<br />

de electro-funk como <strong>em</strong> “1999”<br />

(1983) e os habituais solos de guitarra,<br />

piana<strong>da</strong>s jazzísticas, sintetizadores<br />

que parec<strong>em</strong> fanfarras<br />

e o registo <strong>em</strong> falsete. Não constituiu,<br />

evident<strong>em</strong>ente, uma revolução.<br />

Mas é o seu disco mais inspirado<br />

de há muito t<strong>em</strong>po, visível<br />

<strong>em</strong> canções como “Compassion”,<br />

“Sticky like glue” ou “Everybody<br />

loves me”.<br />

Hoje <strong>em</strong> dia diz-se um hom<strong>em</strong><br />

tranquilo, apesar de continuar <strong>em</strong><br />

luta com a indústria tradicional <strong>da</strong><br />

música e com a Internet, procurando<br />

novas formas de distribuir a sua<br />

música. Os jornais são apenas uma<br />

delas – para além do “Daily Mirror”<br />

inglês, também o “Daily Record”<br />

<strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong> e o “Het Nieuwsblad”<br />

belga distribuíram o seu álbum<br />

gratuitamente no sábado e a<br />

“Rolling Stone” al<strong>em</strong>ã irá fazê-lo<br />

a 22 de Julho. Ao contrário <strong>da</strong><br />

maior parte <strong>da</strong>s estrelas pop,<br />

Prince<br />

O festival começa hoje, no Meco, com Pet Sh Shop hop Boys ou<br />

Grizzly Bear. Mas é no domingo que actua o<br />

nome mais<br />

aguar<strong>da</strong>do, Prince, que acaba de lançar novo ovvo<br />

álbum e<br />

interpretará uma canção, inspira<strong>da</strong> <strong>em</strong> Portugal, rtuugal,<br />

com a<br />

fadista Ana Moura. E conseguirá ele mostrar ar que não<br />

existe contradição <strong>em</strong> ser-se test<strong>em</strong>unha de e JJeová<br />

Jeová e<br />

celebri<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cultura pop? Vítor Belanciano anno<br />

festival


Música<br />

Sexta, 16<br />

Palco Super Bock<br />

Pet Shop Boys: 00h40-02h10<br />

Keane: 22h40-23h55<br />

Cut Copy: 21h20-22h20<br />

Mayer Hawthorne & The County:<br />

20h10-21h00<br />

Jamie Lidell: 19h00-19h50<br />

Palco EDP<br />

Grizzly Bear: 23h30-00h30<br />

The T<strong>em</strong>per Trap: 22h00-23h00<br />

Beach House: 20h40-21h40<br />

St. Vincent: 19h35-20h20<br />

Godmen: 18h45-19h15<br />

Palco @Meco<br />

M-Nus Showcase: 22h00-04h00<br />

Richie Hawtin<br />

Marco Carola<br />

Mag<strong>da</strong><br />

Sábado, 17<br />

Palco Super Bock<br />

Leftfi eld: 01h30-02h30<br />

Vampire Weekend: 23h50-01h05<br />

Hot Chip: 22h30-23h30<br />

Julian Casablancas: 21h00-22h10<br />

Tiago Bettencourt & Mantha:<br />

19h40-20h30<br />

Palco EDP<br />

Patrick Watson: 23h10-00h20<br />

Rita Redshoes: 21h40-22h40<br />

Holly Miran<strong>da</strong>: 20h20-21h20<br />

Sweet Billy Pilgrim: 19h20-20h00<br />

Malcontent: 18h30-19h00<br />

Palco @Meco<br />

Ricardo Villalobos & ZIP: 01h00-<br />

04h00<br />

Bloop Showcase: 22h00-01h00<br />

Magazino<br />

Joao Maria<br />

Jose Belo<br />

Henriq & Bart Cruz: 21h00-22h00<br />

Domingo, 18<br />

Palco Super Bock<br />

<strong>Em</strong>pire of the Sun: 02h00-03h00<br />

Prince: 23h45-01h15<br />

The National: 21h30-22h45<br />

Spoon: 20h20-21h10<br />

Stereophonics: 19h10-20h00<br />

Palma’s Gang: 18h00-18h50<br />

Palco EDP<br />

John Butler Trio: 23h05-00h05<br />

Sharon Jones & The Dap Kings:<br />

21h45-22h45<br />

Wild Beasts: 20h25-21h15<br />

The Morning Benders: 19h20-20h05<br />

Stereo Parks: 18h30-19h00<br />

Palco @Meco<br />

Laurent Garnier Live: 02h30-04h00<br />

Rui Vargas & André Cascais:<br />

00h30-02h30<br />

Zé Salvador: 23h00-00h30<br />

Hi-Tech²: 22h00-23h00<br />

Mary B: 21h00-22h00<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 29


Madonna<br />

Aprender a rezar na era <strong>da</strong> estética<br />

Prince não é excepção. Muitas são as estrelas – <strong>da</strong> música e não só – que fi zeram <strong>da</strong> sua conversão espectáculo. A fé nasce,<br />

sobretudo, do desespero? João Bonifácio<br />

Houve um certo bruá quando se<br />

soube que o ex-debochado Prince<br />

tinha decidido entregar a sua alma<br />

à religião, mais propriamente às<br />

Test<strong>em</strong>unhas de Jeová. Um certo<br />

barulho mas menos, muito menos,<br />

do que aquele com que, há vinte e<br />

tais anos, Bob Dylan teve de li<strong>da</strong>r<br />

por causa dos seus probl<strong>em</strong>as<br />

com a fé. Muito provavelmente,<br />

desde Kierkegaard que ninguém<br />

teve tantos probl<strong>em</strong>as com a fé<br />

como Bob Dylan. Ou, de forma<br />

ain<strong>da</strong> mais precisa, nenhuma<br />

celebri<strong>da</strong>de teve tantos probl<strong>em</strong>as<br />

com a fé como Bob Dylan.<br />

Para sermos absolutamente<br />

exactos, não há nenhuma prova<br />

de que Dylan tenha de facto tido<br />

probl<strong>em</strong>as com a fé visto nunca<br />

o bardo ter dito duas palavras<br />

sobre ter-se tornado cristão<br />

novo. Os probl<strong>em</strong>as pertenc<strong>em</strong><br />

exclusivamente aos outros: os<br />

fãs <strong>da</strong> fase folk, os fãs <strong>da</strong> fase<br />

eléctrica, os fãs socialistas, os<br />

fãs do lado cínico, os músicos, os<br />

jornalistas. Essencialmente isto –<br />

os jornalistas.<br />

Por que é que um hom<strong>em</strong><br />

como Dylan, que para os<br />

homens do papel e <strong>da</strong> caneta era<br />

simplesmente a) o profeta acabado<br />

de b) uma geração que tinha<br />

corrido mal (a primeira pr<strong>em</strong>issa<br />

está erra<strong>da</strong>, a segun<strong>da</strong> certa),<br />

haveria de aderir a uma religião<br />

minoritária e obscura, assim<br />

lançando (ain<strong>da</strong> mais) sombras<br />

sobre a sua carreira?<br />

É curioso que nunca ninguém<br />

coloque a pergunta quando se<br />

trata de músicos negros, quase<br />

todos invariavelmente devotos.<br />

Talvez o facto de Dylan ser judeu<br />

tenha aumentado o “escân<strong>da</strong>lo” –<br />

que ain<strong>da</strong> dura e alimenta páginas<br />

de revistas e livros até hoje. Os<br />

judeus são muito ciosos dos seus.<br />

São capazes de aceitar as ovelhas<br />

tresmalha<strong>da</strong>s que gozam com<br />

o seu povo, desde que tenham<br />

sucesso (Woody Allen, Roth,<br />

Larry David), mas não perdoam<br />

abandonos. Excepto no caso de<br />

Leonard Cohen, que por mais<br />

budista que se tenha tornado<br />

s<strong>em</strong>pre afi rmou nunca ter deixado<br />

de ser judeu.<br />

A religião como refúgio<br />

Ao lado de Dylan nas conversões<br />

religiosas que deixaram o mundo<br />

surpreendido, só mesmo Cat<br />

Stevens, hoje conhecido por Yusuf<br />

Islam, devi<strong>da</strong>mente convertido<br />

30 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

Al Green<br />

A lista de estrelas do<br />

entretenimento<br />

que ofereceu a alma<br />

ao Criador <strong>da</strong> sua<br />

eleição após ter<br />

encontrado a fama<br />

é imensa<br />

ao islamismo como o nome<br />

indica. O caso de Stevens está<br />

provavelmente mais próximo do<br />

que hoje acontece com a maior<br />

parte <strong>da</strong>s celebri<strong>da</strong>des do que<br />

o caso de Dylan. O bardo era<br />

um experimentador, um eterno<br />

irrequieto que um dia acor<strong>da</strong>va<br />

cínico, noutro Don Juan, a seguir<br />

pai de família, às quartas era<br />

bluesman, às quintas literato e às<br />

sextas melómano. Ser religioso<br />

era uma experiência como outra<br />

qualquer.<br />

Mas para Stevens o islamismo<br />

foi uma forma de sobrevivência.<br />

Compositor de folk sensível,<br />

lançado para o estrelato do dia<br />

para a noite, Stevens sentiu a fama<br />

como uma que<strong>da</strong> interminável<br />

no vazio, agarrando-se à heroína<br />

com a força dos fun<strong>da</strong>mentalistas.<br />

Quando a heroína deixou de o<br />

aju<strong>da</strong>r, o islamismo estava lá para<br />

funcionar como rede. O caso foi<br />

ain<strong>da</strong> mais ba<strong>da</strong>lado porque, a<br />

partir <strong>da</strong>í, a carreira de Stevens<br />

deixou praticamente de existir.<br />

Não foi o único caso <strong>em</strong> que<br />

uma conversão religiosa deitou<br />

uma carreira a perder: o soulman<br />

Al Green, quando decidiu deixar<br />

de cantar “secular music”, isto<br />

é, música pagã, tornou-se uma<br />

páli<strong>da</strong> imag<strong>em</strong> do que havia sido<br />

até aí.<br />

(Por outro lado, n<strong>em</strong> to<strong>da</strong>s<br />

as conversões redun<strong>da</strong>ram <strong>em</strong><br />

fracaso: Lew Alcindor atingiu a<br />

fama já como Kare<strong>em</strong>-Abdul Jabar,<br />

extraordinário basquetebolista<br />

dos Lakers. Mohamed Ali teve os<br />

seus grandes momentos já depois<br />

de se tornar muçulmano.)<br />

Mas Stevens e Al Green são um<br />

bom símbolo do que acontece<br />

nos dias de hoje: homens que,<br />

devorados pela fama, procuraram<br />

refúgio na religião. No caso de<br />

Green tratou-se de um ataque<br />

de uma namora<strong>da</strong> furiosa com a<br />

Serena e Venus Williams<br />

sua promiscui<strong>da</strong>de a espoletar a<br />

conversão.<br />

Nestes casos estávamos perante<br />

religiões clássicas. Mas quando<br />

olhamos para as primeiras<br />

páginas dos jornais a reacção<br />

mediática às conversões de fé <strong>da</strong>s<br />

estrelas está mais próxima <strong>da</strong> que<br />

Dylan enfrentou: é como se, de<br />

repente, aqueles seres inatingíveis<br />

e perfeitos se entregass<strong>em</strong> a algo<br />

de obscuro que, possivelmente,<br />

terá ligações com o oculto.<br />

A lista de estrelas do<br />

entretenimento que ofereceu a<br />

alma ao Criador <strong>da</strong> sua eleição<br />

após ter encontrado a fama é<br />

imensa: Madonna vota na Cabala<br />

e não contente com isso fez<br />

Britney Spears juntar-se a ela.<br />

Ao mesmo clube aderiram D<strong>em</strong>i<br />

Moore e marido (Ashton Kutcher)<br />

e Victoria Beckham. Tom Cruise &<br />

senhora alinha pela Cientologia,<br />

que entretanto já arrecadou Beck<br />

e uma <strong>da</strong>ta de colunáveis de<br />

Hollywood.<br />

Há outros casos de adesão mais<br />

ou menos profun<strong>da</strong> à fé. Richard<br />

Gere, um hom<strong>em</strong> conhecido por<br />

ser capaz de franzir o sobrolho<br />

à maneira de Richard Gere<br />

mesmo com palitos a içar-lhe o<br />

sobrolho é um (aham) estudioso<br />

devoto do budismo há muito. As<br />

manas Williams (as tenistas) são<br />

test<strong>em</strong>unhas de Jeová. Isto é tudo<br />

gente que há muito encontrou<br />

numa qualquer forma de fé um<br />

sustentáculo <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, por<br />

oposição a qu<strong>em</strong> de repente<br />

descobriu a luz.<br />

É que há ligeiras diferenças<br />

entre as opções que se tomam. A<br />

monumental adesão de VIP com<br />

viven<strong>da</strong>s <strong>em</strong> L.A. à Cabala soa<br />

quase a mo<strong>da</strong>. Esta não é uma<br />

opinião pessoal – é uma opinião<br />

de qu<strong>em</strong> estu<strong>da</strong> e pratica religião<br />

como última fi nali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>,<br />

mais propriamente do rabi David<br />

Wolpe do Conservative Sinai<br />

T<strong>em</strong>ple de Los Angeles (portanto,<br />

habituado às i<strong>da</strong>s e vin<strong>da</strong>s de<br />

deslumbrados <strong>da</strong> fé). Aquando<br />

<strong>da</strong> súbita conversão de Madonna<br />

à Cabala, pediram ao rabi um<br />

comentário. Hom<strong>em</strong> avisado, disse<br />

apenas: “As almas não cresc<strong>em</strong><br />

com respostas simples. Fitas<br />

vermelhas [como a que Madonna<br />

usava <strong>em</strong> sinal de culto à Cabala]<br />

e garrafas de água mágicas não<br />

mu<strong>da</strong>m o mundo e não mu<strong>da</strong>m as<br />

pessoas.”<br />

Não é difícil ver as adesões<br />

Bob Dylan<br />

à cabala como uma simples<br />

mo<strong>da</strong> a que se presta gente com<br />

d<strong>em</strong>asiado t<strong>em</strong>po para gastar. A<br />

Cientologia parece outro território<br />

– ninguém que lá entre abre a<br />

boca sobre a instituição, o que faz<br />

sentido se analisarmos com calma<br />

os pressupostos “teológicos” que<br />

a reg<strong>em</strong>.<br />

Fé e identi<strong>da</strong>de<br />

Faz sentido que estrelas adiram<br />

a um culto tão cerrado. ado. O mundo mundo<br />

dessas estrelas é o <strong>da</strong> idolatração<br />

contínua, <strong>em</strong> que uma ma parte<br />

do ego se rege (e reage) age) a algo<br />

tão vago quanto a sua suposta<br />

populari<strong>da</strong>de – algo o que na<br />

reali<strong>da</strong>de não é mensurável, nsurável,<br />

excepto na conta bancária. ancária.<br />

Convenhamos que não há-de ser<br />

saudável estar habituado ituado a ser<br />

visto por milhões, a ser seguido<br />

por milhões, a defi nir ca<strong>da</strong> um<br />

dos passos pela possível ssível reacção<br />

desses milhões. Algo go assim dá<br />

cabo <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de. . A proverbial<br />

e adolescente questão tão do<br />

“Qu<strong>em</strong> sou eu?” fará á certamente<br />

sentido na cabeça de pessoas<br />

que não dão um passo sso s<strong>em</strong> um<br />

séquito de aconselhadores hadores<br />

que, por norma, está tá lá<br />

apenas e só para gabar abar a<br />

estrela e para lhe mostrar<br />

como o resto do mundo undo está<br />

contra ela.<br />

Assim sendo faz sentido que<br />

Prince se tenha convertido nvertido à<br />

religião <strong>da</strong>s manas Williams. <strong>Em</strong><br />

1982 ele escrevia explicitamente<br />

xplicitamente<br />

sobre um método que tinha<br />

vontade de pôr <strong>em</strong> prática<br />

para sentir o sabor de uma<br />

boca f<strong>em</strong>inina através vés de um<br />

sist<strong>em</strong>a perceptivo altamente<br />

desenvolvido e mun<strong>da</strong>namente<br />

n<strong>da</strong>namente<br />

conhecido por pénis. is. <strong>Em</strong> 2010<br />

ele acredita <strong>em</strong> conspirações<br />

nspirações<br />

químicas (tal como Beck) e acha<br />

que o mundo está aí para <strong>da</strong>r cabo<br />

de nós.<br />

Faz tanto mais sentido entido se<br />

pensarmos que há mais de<br />

uma dezena de anos os que<br />

Prince não vende <strong>em</strong> m números<br />

ver<strong>da</strong>deiramente grandiosos, randiosos,<br />

se pensarmos que hoje ele é o<br />

tipo que infl uenciou u os tipos<br />

que estão no topo (O O que implica<br />

que ele não esteja no topo). Há<br />

quantos anos não faz az Prince uma<br />

canção m<strong>em</strong>orável? ? Essa simples<br />

noção, de que já não o se está no<br />

topo do mundo, de que as Kim<br />

Basingers de hoje prefeririam um<br />

Justin Timberlake ao velha<strong>da</strong>s<br />

que escreve “Sign the times”, é<br />

coisa para <strong>da</strong>r cabo do ego de um<br />

“entertainer”.<br />

Um “entertainer” vive dos<br />

aplausos. Quando os aplausos<br />

rareiam raras vezes o “entertainer”<br />

aceita que são as regras do<br />

t<strong>em</strong>po. Por norma, como “Sunset<br />

Boulevard” tão b<strong>em</strong> d<strong>em</strong>onstrava,<br />

há um certo desespero que se<br />

apodera destes tipos que antes<br />

tiveram tudo e que se mov<strong>em</strong> <strong>em</strong><br />

meios onde é obrigatório fruir<br />

tudo tudo o que se t<strong>em</strong> à disposição:<br />

to<strong>da</strong>s as drogas, to<strong>da</strong>s<br />

as as mulheres, todos<br />

os contactos<br />

sociais, todos os<br />

carros, to<strong>da</strong>s<br />

as capas de<br />

jornais.<br />

Quando isso<br />

se vai <strong>em</strong>bora,<br />

v<strong>em</strong> a fé.<br />

Duvi<strong>da</strong>-se<br />

que essa fé<br />

seja fruto<br />

do estudo<br />

e apostase<br />

que<br />

nasce do<br />

desespero.<br />

Cat Stevens


festival<br />

proibiu o YouTube e o iTunes<br />

de utilizar<strong>em</strong> a sua música<br />

e n<strong>em</strong> sequer t<strong>em</strong> sítio<br />

oficial na Internet. Numa entrevista<br />

recente afirmava que<br />

a Internet está acaba<strong>da</strong>. “Não<br />

vejo por que é que hei-de <strong>da</strong>r a minha<br />

música ao iTunes ou a qu<strong>em</strong><br />

quer que seja. Não me pagam um<br />

avanço e ain<strong>da</strong> por cima ficam zangados,<br />

quando não consegu<strong>em</strong> o<br />

que quer<strong>em</strong>.” Para ele, a Internet<br />

é como a MTV. “A MTV era o máximo<br />

e de repente ficou <strong>da</strong>ta<strong>da</strong>.”<br />

Quase não dá entrevistas, faz os<br />

concertos que quer, lança discos<br />

quando lhe apetece. Diz-se satisfeito<br />

com o que t<strong>em</strong>. E t<strong>em</strong> ain<strong>da</strong> muito.<br />

Continua a ter Paisley Park, perto<br />

de Minneapolis, um complexo<br />

de edifícios e estúdios que é sinónimo<br />

de Prince, como Neverland<br />

era de Michael Jackson. Mas algo<br />

mudou há muitos anos. Tudo terá<br />

começado começad <strong>em</strong> 1996, quando o filho<br />

Gregory faleceu, sete dias depois<br />

de ter na nascido. Logo de segui<strong>da</strong> fo-<br />

ram os ppais,<br />

o pianista John L. Nel-<br />

son e a cantora c jazz Mattie Shaw.<br />

A mãe<br />

era test<strong>em</strong>unha de Jeová<br />

e o seu desejo d final foi que o filho<br />

se conve convertesse. Nesse período crí-<br />

tico – par para além <strong>da</strong>s mortes incompatibilizou-se<br />

patibilizo com editoras – aproximou-se<br />

ximou-s de Larry Graham, bai-<br />

xista e fun<strong>da</strong>dor fu dos Sly and the<br />

Family Stone, S que lhe disse que<br />

havia recuperado rec de uma vi<strong>da</strong> de<br />

drogas e<br />

violência pelo facto de<br />

ser teste test<strong>em</strong>unha de Jeová. E a con-<br />

versão aconteceu.<br />

a<br />

Deu la largas somas de dinheiro<br />

para cau causas <strong>em</strong> todo o mundo e o<br />

hom<strong>em</strong> que q era conhecido por coleccionar<br />

lecciona casos (Kim Basinger,<br />

Sheena Easton E ou Cármen Electra)<br />

tornou-se tornou-s monogâmico. A sua na-<br />

mora<strong>da</strong> aactual<br />

é Bria Valente, cujo<br />

álbum dde<br />

estreia produziu o ano<br />

passado. passado Ela também é test<strong>em</strong>u-<br />

nha de Je Jeová. Ele diz que estu<strong>da</strong>m<br />

cinco horas ho por dia. Hoje, quando<br />

lhe falam<br />

<strong>da</strong>s letras libidinosas e<br />

<strong>da</strong> capa<br />

de discos como “Lovese-<br />

xy” onde surge nu, limita-se a sor-<br />

rir e diz que “vive agora, não no<br />

passado”. passado<br />

Ao longo lon de 30 anos de carreira,<br />

vendeu mais de 100 milhões de<br />

álbuns. A déca<strong>da</strong> de 80 foi a sua<br />

fase mais mai cintilante, aquela que<br />

marcou definitivamente os cami-<br />

nhos <strong>da</strong> música popular, <strong>em</strong> ál-<br />

buns com como “Dirty Mind”, “Controversy”,<br />

troversy “1999”, “Purple Rain”,<br />

“Parade” “Parade e “Sign ‘O’ Times”. Na<br />

alvora<strong>da</strong> dos anos 80, <strong>em</strong> pleno<br />

período pós-punk, não era fácil<br />

gostar dele. d Não era só a música,<br />

de economia econo narrativa, capaz de<br />

congregar congrega num só miligrama pop,<br />

funk, soul, so folk ou rock & roll de<br />

forma la lasciva e apaixona<strong>da</strong>, era<br />

também o visual e a atitude extravagante,<br />

travaga num t<strong>em</strong>po onde o<br />

artifício artifíc e o excesso não eram<br />

paradigmas parad reinantes.<br />

Era como se conseguisse sintetizar<br />

tetiz o que vinha de trás –<br />

Não vejo por que é que<br />

hei-de <strong>da</strong>r a minha<br />

música ao iTunes.<br />

Não me pagam um<br />

avanço e ficam<br />

zangados, quando<br />

não consegu<strong>em</strong> o que<br />

quer<strong>em</strong><br />

Marvin Gaye, Miles Davis, Chic, Sly<br />

& The Family Stone ou Beatles –,<br />

ao mesmo t<strong>em</strong>po que prenunciava<br />

quase tudo o que iria marcar a música<br />

negra pop, e não só, <strong>da</strong>s próximas<br />

déca<strong>da</strong>s – Pharrell Williams,<br />

Kenye West, Justin Timberlake,<br />

Timbaland, Beck, Jamie Lidell ou<br />

OutKast. Durante muitos anos,<br />

coincidente com os anos de ouro<br />

<strong>da</strong> MTV, insistiu-se numa rivali<strong>da</strong>de<br />

com Michael Jackson. Mas eram<br />

de mundos diferentes. Jackson era<br />

o hom<strong>em</strong> que tentava s<strong>em</strong>pre ajustar-se<br />

ao centro do mercado. Prince<br />

simplesmente não queria saber.<br />

Era uma mente livre.<br />

E excêntrica. Famosas ficaram<br />

as digressões faraónicas e os seus<br />

caprichos. Há sete anos, <strong>em</strong> Miami,<br />

num debate sobre a indústria<br />

<strong>da</strong> música moderado pelo falecido<br />

Tony Wilson, <strong>da</strong> editora Factory,<br />

era apontado como o caso típico<br />

do músico esbanjador. Na altura,<br />

Casey Spooner (dos Fischerspooner)<br />

estava <strong>em</strong> estúdio com músicos<br />

de Prince, que lhe contavam<br />

histórias do género desta: “Era<br />

capaz de <strong>da</strong>r um concerto <strong>em</strong> Roma,<br />

depois tocar num clube local<br />

e, na mesma noite, voar no seu<br />

avião particular para o seu estúdio<br />

<strong>em</strong> Minneapolis onde tinha os seus<br />

músicos à espera para registar<br />

uma ideia que havia tido nessa<br />

mesma noite. Depois, no dia seguinte,<br />

regressava à Europa para<br />

mais um concerto!”<br />

Longe vão os t<strong>em</strong>pos <strong>em</strong> que<br />

cantava, no princípio dos anos 90,<br />

“My name is Prince and i am<br />

funky”, como forma de tentar conquistar<br />

público do universo hiphop,<br />

apostando numa linguag<strong>em</strong><br />

mais afirmativa. Hoje já não tenta<br />

ser qu<strong>em</strong> não é. É ver<strong>da</strong>de que já<br />

não quer expandir a paleta <strong>da</strong> sua<br />

música, como aconteceu nos anos<br />

80 e primeira metade dos 90, <strong>em</strong><br />

que ca<strong>da</strong> novo álbum seu era um<br />

desassossego de novi<strong>da</strong>de. Hoje<br />

limita-se a fazer álbuns à Prince,<br />

ou seja, exactamente o mesmo que<br />

a maior parte dos agentes <strong>da</strong> pop<br />

moderna tenta fazer.<br />

A próxima vez que uma test<strong>em</strong>unha<br />

de Jeová vos inquirir, já<br />

sab<strong>em</strong>, olh<strong>em</strong> para os sapatos.<br />

Nunca se sabe. Pode ser Prince.<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 31


Pet Shop Boys<br />

Pop coreográfi ca<br />

Recent<strong>em</strong>ente, no terreno do rock, no festival Glastonbury, foram coroados como os grandes<br />

triunfadores. Conseguirão os Pet Shop Boys fazer o mesmo, hoje, no Meco? Neil Tennant acha<br />

que sim. Vítor Belanciano<br />

Foi sábado, logo pela manhã, dia <strong>em</strong><br />

que completava 56 anos, que falámos<br />

com Neil Tennant pelo telefone, enquanto<br />

este tomava o pequeno-almoço.<br />

Não sabíamos que era o seu dia de<br />

aniversário, <strong>da</strong>í que quando introduzimos<br />

a primeira pergunta se tenha<br />

rido.<br />

Diss<strong>em</strong>os-lhe que havíamos entrevistado<br />

há pouco t<strong>em</strong>po James Murphy<br />

dos LCD Soundsyst<strong>em</strong>, que havia<br />

confessado estar saturado de grandes<br />

festivais, porque sentia que o design,<br />

o invólucro, a forma como são pensados,<br />

não era para pessoas com 40<br />

anos, como ele. “Ele disse isso? Gosto<br />

imenso de James Murphy, adorava<br />

trabalhar com ele e compreendo-o,<br />

mas não concordo. Pelo contrário,<br />

ca<strong>da</strong> vez mais <strong>em</strong> Inglaterra os grandes<br />

festivais são imaginados para gerações<br />

de pessoas mais velhas.”<br />

32 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

No Meco, os cabeças de cartaz serão<br />

eles e Prince, outro também na<br />

casa dos 50 anos. “É natural, t<strong>em</strong>os<br />

uma carreira e um percurso. É engraçado,<br />

porque nos sentimos muito<br />

mais à vontade hoje <strong>em</strong> dia a actuar<br />

<strong>em</strong> festivais do que no passado. No<br />

princípio, víamo-nos essencialmente<br />

como um projecto de estúdio. Hoje<br />

não, desfrutamos mais. Não t<strong>em</strong>os<br />

na<strong>da</strong> a perder. É muito bom.”<br />

No recente festival Glastonbury, o<br />

mais importante ao ar livre no Reino<br />

Unido, deram um dos concertos mais<br />

festejados, apesar de, segundo Tennant,<br />

a cultura rock ain<strong>da</strong> ter muitos<br />

preconceitos <strong>em</strong> relação ao tipo de<br />

espectáculo que os Pet Shop Boys<br />

apresentam.<br />

“A imprensa, e to<strong>da</strong> a lógica <strong>da</strong> indústria<br />

<strong>da</strong> música, ain<strong>da</strong> vive segundo<br />

os códigos do rock de há 40 anos. E<br />

isso acaba por ter um peso imenso<br />

sobre a forma como as pessoas pensam<br />

e viv<strong>em</strong> as coisas <strong>da</strong> música. É<br />

um tr<strong>em</strong>endo disparate, claro. Os<br />

concertos rock não mu<strong>da</strong>ram quase<br />

na<strong>da</strong> nos últimos 50 anos? Por quê?<br />

Porque existe esse poder paralisador<br />

que faz crer que as coisas <strong>da</strong> música<br />

têm de ser vivi<strong>da</strong>s de uma certa forma.”<br />

E como é um concerto dos Pet Shop<br />

Boys? T<strong>em</strong> um conceito. É cui<strong>da</strong>do<br />

visualmente. É teatralizado. “É excitante”,<br />

diz Tennant. “Pelo menos é<br />

essa a intenção.” No Meco haverá bailarinos<br />

com cubos na cabeça, projecções,<br />

um misto de design e coreografias,<br />

com o cantor e o cúmplice Chris<br />

Lowe no centro dos acontecimentos.<br />

“Poderíamos fazer uma ópera, mas<br />

apetece-nos fazer isto. Quando fiz<strong>em</strong>os<br />

a primeira digressão, <strong>em</strong> 1989,<br />

[o falecido realizador de cin<strong>em</strong>a] Derek<br />

Jarman criou um ‘show’ multimédia<br />

que nos fez acreditar que exist<strong>em</strong><br />

muitas maneiras de expor a nossa<br />

música. T<strong>em</strong>os ideias, gostamos de<br />

colaborar com artistas de outras áreas,<br />

sentimos que este é um campo<br />

ain<strong>da</strong> pouco explorado, pelo que continuamos<br />

a experimentar.”<br />

Hoje à noite ouvir-se-ão previsivelmente<br />

muitos sucessos dos últimos<br />

25 anos (“West end girls”, “Suburbia”,<br />

“Go west”, “Always on my mind”, “It’s<br />

a sin” ou “What have I done to deserve<br />

this?”) e também algumas canções<br />

do último álbum, “X”, o seu décimo<br />

longa-duração de estúdio, lançado o<br />

ano passado. Nesse disco entregaram<br />

a produção à equipa Xenomania (Girls<br />

Aloud, St. Etienne), o que parece ter<br />

funcionado, não só criativamente,<br />

como <strong>em</strong> termos comerciais, com a<br />

dupla a alcançar um sucesso nos Estados<br />

Unidos como nunca sucedera.<br />

Da electrónica ao ballet<br />

Nos últimos t<strong>em</strong>pos, por causa do<br />

êxito de cantoras americanas, como<br />

Lady GaGa, ou de inglesas, como La<br />

Roux, o nome dos Pet Shop Boys t<strong>em</strong><br />

sido evocado como grande referência,<br />

quando se fala do regresso <strong>da</strong> pop<br />

electrónica ao centro do mercado.<br />

“Não sei se existe um regresso, a pop<br />

electrónica s<strong>em</strong>pre esteve por aí”, diz<br />

Tennant. “Nos EUA, sim, parece-me<br />

que o sucesso de Lady GaGa t<strong>em</strong> sido<br />

importante para abrir uma série de<br />

portas. La Roux é diferente, é revivalista<br />

de mais para mim. Os anos 80 já<br />

lá vão.”<br />

Algumas <strong>da</strong>s melhores canções do<br />

duo são toca<strong>da</strong>s pelo equilíbrio instável<br />

entre ritmos electrónicos, ambientes<br />

melancólicos, arranjos faustosos<br />

e a voz de Tennant, que parece quase<br />

s<strong>em</strong>pre monocórdica. Durante muitos<br />

anos eram irónicos, sarcásticos até,<br />

não só nas canções, como na relação<br />

com a imprensa. Hoje diz<strong>em</strong>-se mais<br />

descontraídos <strong>em</strong> relação ao assunto.<br />

“Somos um pouco irónicos, sim, mas<br />

é uma questão de humor, e não de<br />

pose. Nunca tiv<strong>em</strong>os necessi<strong>da</strong>de de<br />

nos afirmar dessa forma, mas a partir<br />

de determina<strong>da</strong> altura, como reacção<br />

ao facto de a imprensa rock nos considerar<br />

frívolos, começámos mesmo<br />

a personificar essa frivoli<strong>da</strong>de, por<br />

excesso, brincando com isso, na<strong>da</strong><br />

mais.”<br />

Apesar dos festivais, o duo t<strong>em</strong> estado<br />

a trabalhar har num novo projecto.<br />

Foram convi<strong>da</strong>dos vi<strong>da</strong>dos pe- lo teatro<br />

londrino Sadler dler Wells a trabalhar<br />

<strong>em</strong> conjunto<br />

com o coreógrafo grafo Javier<br />

de Frutos tos e<br />

com o Royal yal<br />

Ballet numa ma<br />

a<strong>da</strong>ptação de<br />

uma história a do<br />

escritor dinanamarquês Hans ns<br />

Christian Anndersen.<br />

“Da poppapara o ballet? Porque<br />

“Somos um pouco<br />

irónicos, sim, mas<br />

é uma questão de<br />

humor, e não de pose.<br />

Nunca tiv<strong>em</strong>os<br />

necessi<strong>da</strong>de de nos<br />

afirmar dessa forma,<br />

mas a partir de<br />

determina<strong>da</strong> altura,<br />

como reacção ao facto<br />

de a imprensa rock<br />

nos considerar<br />

frívolos, começámos<br />

mesmo a personificar<br />

essa frivoli<strong>da</strong>de, por<br />

excesso, brincando<br />

com isso, na<strong>da</strong> mais.”<br />

não?”, ri-se Tennant. “S<strong>em</strong>pre nos<br />

interessou trabalhar com outras pessoas,<br />

noutros contextos. Ao longo dos<br />

anos t<strong>em</strong>os composto para pistas de<br />

<strong>da</strong>nça, fazê-lo para uma companhia<br />

de <strong>da</strong>nça parece-nos uma evolução<br />

natural”, diz, adiantando apenas que<br />

a música será se toca<strong>da</strong> por uma orques-<br />

tra e nã não pela dupla.<br />

No Meco, M na noite de hoje, to-<br />

carão jjá<br />

depois <strong>da</strong> meia-noite<br />

(00h40). (00h4 Apesar <strong>da</strong> s<strong>em</strong>ana de<br />

atraso, atraso talvez ain<strong>da</strong> seja possível<br />

improvisar impr um “parabéns a vo-<br />

cê” a<br />

Neil Tennant, <strong>em</strong>bora o<br />

próprio próp não pareça <strong>da</strong>r muita<br />

relevância rele ao assunto. “O que<br />

vou fazer hoje? Não faço a<br />

mais mai pequena ideia. Não se<br />

trata trat de recusar a i<strong>da</strong>de. Continuo<br />

tinu a gostar de me festejar.<br />

Mas Mas<br />

não sei. A sério.”


festival<br />

Está para a música de<br />

<strong>da</strong>nça dos últimos anos como Prince<br />

esteve para o funk dos anos 80, reduzindo<br />

as proprie<strong>da</strong>des electrónicas e<br />

as dinâmicas rítmicas ao mínimo, mas<br />

expondo o máximo de <strong>em</strong>oções. É um<br />

sonoplasta, alguém que abor<strong>da</strong> o som<br />

e a sua activi<strong>da</strong>de, como DJ e produtor,<br />

de forma minuciosa e ética, como<br />

se constata vendo o documentário<br />

(“Villalobos”) que estreou no festival<br />

de Veneza e que foi exibido no Indie-<br />

Lisboa <strong>em</strong> Abril.<br />

Figura central <strong>da</strong> música electrónica<br />

de <strong>da</strong>nça <strong>da</strong> última déca<strong>da</strong> é também<br />

uma personali<strong>da</strong>de misteriosa.<br />

“Inicialmente hesitei um pouco quando<br />

me convi<strong>da</strong>ram para o documentário”,<br />

afirma, “mas o realizador [Romuald<br />

Karmakar] é alguém muito<br />

conhecido na Al<strong>em</strong>anha, com um<br />

grande percurso, e percebi que era<br />

um projecto totalmente credível. Ain<strong>da</strong><br />

b<strong>em</strong> que o fiz<strong>em</strong>os.”<br />

Ricardo Villalobos t<strong>em</strong> 40 anos.<br />

Nasceu <strong>em</strong> Santiago do Chile, tendo<br />

partido para a Al<strong>em</strong>anha com a família<br />

na sequência do golpe de Estado<br />

do General Pinochet. O pai é mat<strong>em</strong>ático.<br />

E esse facto parece tê-lo marcado.<br />

“A minha relação com a música,<br />

num primeiro instante, é muito intuitiva”<br />

diz, “trata-se de procurar sons<br />

que sejam inteligíveis para mim e<br />

combiná-los, mas a partir de determina<br />

altura o que me interessa é restringir,<br />

seleccionar e reduzir e isso é um<br />

processo mais pensado. Mat<strong>em</strong>ático,<br />

talvez.”<br />

Na última meia dúzia de anos, principalmente<br />

depois do álbum “Alcachofa”<br />

(2003), construiu uma identi<strong>da</strong>de<br />

sonora vinca<strong>da</strong>. Um híbrido<br />

tecno e house, profundo e narcótico,<br />

onde existe um toque sul-americano,<br />

ao nível dos pormenores percussivos.<br />

No seu caso não se trata de exotismo.<br />

A sua perspectiva não é a fusão. É<br />

criar um ver<strong>da</strong>deiro corpo colorido,<br />

reconvertendo-o <strong>em</strong> figuras digitais<br />

que iluminam uma espécie de melancolia<br />

tecno.<br />

Compara a sua activi<strong>da</strong>de à de um<br />

percussionista. Este, quando está <strong>em</strong><br />

palco, deve saber estar no seu lugar,<br />

ouvir <strong>em</strong> redor e mu<strong>da</strong>r de intensi<strong>da</strong>de<br />

ao perceber uma sensibili<strong>da</strong>de<br />

comum. “Na minha música acontece<br />

o mesmo. Todos os sons parec<strong>em</strong> des<strong>em</strong>penhar<br />

o mesmo papel, mas lentamente<br />

vão-se modificando, contribuindo<br />

para a criação de um novo<br />

edifício.”<br />

Hedonismo ou nostalgia<br />

O chileno é alguém que é capaz de<br />

provocar a festa na pista de <strong>da</strong>nça.<br />

Nos últimos dez anos raros foram os<br />

fins-de-s<strong>em</strong>ana passados <strong>em</strong> casa,<br />

tal a abundância de convites para<br />

actuar <strong>em</strong> todo o mundo. Agora está<br />

mais selectivo. “Continuo a adorar<br />

a minha activi<strong>da</strong>de, mas também<br />

gosto de estar com a família e os amigos,<br />

para além do estúdio. Por isso<br />

tento limitar as viagens longas, ca<strong>da</strong><br />

vez mais. Mas por uma boa festa,<br />

porque não?”<br />

Mas a sua música não se restringe<br />

à funcionali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>nçante. <strong>Em</strong> álbuns<br />

como “Thé Au Harém D’Archimede”<br />

(2004), “Fizheuer Zieheuer” (2006),<br />

“Fabric 36” (2007) ou “Vasco” (2008)<br />

existe espaço para muitas variações.<br />

Sim, o minimalismo electrónico está<br />

quase s<strong>em</strong>pre no centro dos acontecimentos,<br />

mas a rodear essa movimentação<br />

há detalhes, microrganismos<br />

imperceptíveis e climas letárgicos<br />

que nos transportam para zonas desconheci<strong>da</strong>s.<br />

Às vezes é uma música que convi<strong>da</strong><br />

ao hedonismo. Outras vezes parece<br />

ser apenas a ban<strong>da</strong>-sonora de um filme<br />

nostálgico, povoado por aeroportos,<br />

auto-estra<strong>da</strong>s, grandes superfícies,<br />

lugares ocupados por gente <strong>em</strong><br />

trânsito, solitários, isentos de vi<strong>da</strong>.<br />

Espaços de ninguém, para uma música<br />

marca<strong>da</strong> por longos períodos de<br />

cadências repetitivas a veloci<strong>da</strong>de<br />

modera<strong>da</strong>, envolvendo-nos numa trama<br />

hipnótica. “Não trabalho a partir<br />

de imagens e n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre penso especificamente<br />

na pista de <strong>da</strong>nça” diz<br />

ele. “Só depois de criar um t<strong>em</strong>a é<br />

que penso nisso.”<br />

No passado recente já criou música<br />

para filmes, no âmbito de apresentações<br />

ao vivo específicas. No futuro<br />

próximo deseja mesmo criar ban<strong>da</strong>sonoras<br />

e aproximar-se ca<strong>da</strong> vez mais<br />

do jazz. Diz que <strong>em</strong> casa ouve predominant<strong>em</strong>ente<br />

clássica e jazz, e que<br />

“Quando se ouve um<br />

velho disco de jazz<br />

é como se ouvíss<strong>em</strong>os<br />

também a sala onde<br />

foi gravado ou<br />

a respiração dos<br />

músicos. Gosto dessa<br />

pureza, desse<br />

reconhecimento. Essa<br />

intensi<strong>da</strong>de, na maior<br />

parte dos casos, não<br />

é consegui<strong>da</strong> hoje”<br />

Ricardo Villalobos<br />

a Internet não o seduz – “d<strong>em</strong>asia<strong>da</strong><br />

informação s<strong>em</strong> sentido”, limita-se a<br />

afirmar s<strong>em</strong>pre que o interrogam sobre<br />

o assunto.<br />

Do que gosta mesmo de falar é do<br />

som, <strong>da</strong>s suas proprie<strong>da</strong>des, <strong>da</strong>quilo<br />

que o caracteriza. Gosta de pensar<br />

que os instrumentos electrónicos pod<strong>em</strong><br />

obter o mesmo tipo de quali<strong>da</strong>de<br />

que as velhas gravações acústicas,<br />

apesar de achar que ain<strong>da</strong> não acontece:<br />

“Quando se ouve um velho disco<br />

de jazz é como se ouvíss<strong>em</strong>os também<br />

a sala onde foi gravado ou a respiração<br />

dos músicos. Gosto dessa<br />

pureza, desse reconhecimento. Essa<br />

intensi<strong>da</strong>de, na maior parte dos casos,<br />

não é consegui<strong>da</strong> hoje.”<br />

É um clássico, mas profun<strong>da</strong>mente<br />

cont<strong>em</strong>porâneo. Um purista, mas vislumbrando<br />

o que se seguirá. É enigmático.<br />

Um dos criadores mais aventureiros<br />

<strong>da</strong> música actual, compondo com<br />

essa ideia <strong>em</strong> mente: decifrar o mistério<br />

que induz as pessoas à <strong>da</strong>nça.<br />

Ricardo Villalobos<br />

O mistério <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça<br />

Haverá Richie Hawtin ou Laurent Garnier. Mas no campo <strong>da</strong> música de <strong>da</strong>nça electrónica o<br />

destaque do Festival Super Bock Super Rock será Ricardo Villalobos, o chileno que vive há<br />

muitos anos na capital al<strong>em</strong>ã e que actuará no Meco, na noite de sábado. Vítor Belanciano<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 33


Música<br />

34 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

<strong>Em</strong> 2006, o agrupamento vocal e instrumental<br />

belga Capilla Flamenca<br />

gravou um CD fascinante que viria a<br />

obter os mais importantes prémios<br />

<strong>da</strong> crítica internacional. Tratava-se<br />

“Canticum Canticorum”, um percurso<br />

musical pela polifonia dos séculos<br />

XIV a XVI, inspira<strong>da</strong> no Cântico dos<br />

Cânticos, cuja extraordinária poesia<br />

t<strong>em</strong> servido de inspiração ao longo<br />

de mais de dois milénios para artistas<br />

de vários quadrantes. Este mesmo<br />

programa, com pequenas variantes,<br />

será apresentado esta noite, às 21h45,<br />

na Igreja Românica de São Pedro de<br />

Rates integrado no 32º Festival Internacional<br />

de Música <strong>da</strong> Póvoa de Varzim,<br />

onde a Capilla Flamenca faz a<br />

sua estreia.<br />

“Há muitos anos que o extenso repertório<br />

musical criado à volta do<br />

Cântico dos Cânticos nos atrai e preenche<br />

muitos dos nosso projectos”,<br />

disse ao Ípsilon o baixo Dirk Snellings,<br />

que é também o director artístico do<br />

grupo. “Trata-se de uma obra poética<br />

fantástica, antiquíssima, certamente<br />

b<strong>em</strong> anterior ao Antigo Testamento.<br />

É possível que se inspire numa ideia<br />

egípcia, que depois passou para os<br />

gregos, a seguir para os hebreus e depois<br />

para a Bíblia.” Snellings recor<strong>da</strong><br />

que se trata de um dos mais belos textos<br />

sobre o amor <strong>da</strong> civilização ocidental<br />

e que encontramos música<br />

inspira<strong>da</strong> no Cântico dos Cânticos ao<br />

longo de quase to<strong>da</strong> a história <strong>da</strong> música,<br />

desde melodias de cantochão<br />

concebi<strong>da</strong>s no século VIII até aos<br />

compositores do nosso t<strong>em</strong>po. “As<br />

hipóteses de escolha eram imensas<br />

mas como somos um grupo especializado<br />

<strong>em</strong> polifonia procurámos a<br />

conexão entre o cantochão e as primeiras<br />

versões polifónicas, avançando<br />

depois até ao século XVI”, explica.<br />

Entre os primeiros compositores a<br />

realizar versões a várias vozes de excertos<br />

do po<strong>em</strong>a encontra-se o inglês<br />

John Dunstable (c. 1390-1453). O seu<br />

ex<strong>em</strong>plo foi seguido no continente<br />

por figuras como Guillaume Dufay e<br />

pelos seus cont<strong>em</strong>porâneos <strong>da</strong> Escola<br />

<strong>da</strong> Borgonha no século XV. “A partir<br />

<strong>da</strong>í nunca mais pára. Nos finais <strong>da</strong><br />

I<strong>da</strong>de Média e inícios <strong>da</strong> Renascença<br />

os po<strong>em</strong>as são frequent<strong>em</strong>ente transpostos<br />

para o culto mariano, faz-se<br />

uma ponte entre o amor físico e o<br />

amor espiritual, mas no século XVI é<br />

a dimensão sensual que é mais enfatiza<strong>da</strong>”,<br />

diz o director artístico.<br />

Como uma Missa<br />

Tal como sucede no disco, o alinhamento<br />

do concerto é construído como<br />

uma espécie de Missa, já que existia<br />

uma tradição oriun<strong>da</strong> de Milão <strong>em</strong><br />

que secções do Próprio <strong>da</strong> Missa como<br />

o Intróito, o Gradual ou o Alleluia<br />

podiam ser substituí<strong>da</strong>s por motetes,<br />

ou seja, por composições livres sobre<br />

outros textos. “Era a chama<strong>da</strong> ‘Missa<br />

substitutio’. Partimos dessa ideia para<br />

o encadeamento <strong>da</strong>s peças, que são<br />

to<strong>da</strong>s de altíssima quali<strong>da</strong>de, como<br />

se o Cântico dos Cânticos tivess<strong>em</strong><br />

inspirado a música <strong>da</strong>s músicas.” O<br />

programa inclui obras de John Pyamour,<br />

John Dunstable, Johannes Prioris,<br />

Francesco <strong>da</strong> Milano, Jacquet de<br />

Mântua, Louis Compère, Alexander<br />

Agricola, Adriaen Willaert e Henrich<br />

Isaac, entre outras.<br />

Para acompanhar as quatro vozes<br />

masculinas <strong>da</strong> Capilla Flamenca, Dirk<br />

Snellings optou pelo alaúde, uma vez<br />

que se trata de um instrumento “com<br />

quali<strong>da</strong>des muito poéticas e expressivas”.<br />

“É frequente encontrarmos versões<br />

para alaúde e para instrumentos<br />

de tecla destas canções e o alaúde t<strong>em</strong><br />

“Há muitos anos que<br />

o extenso repertório<br />

musical criado à volta<br />

do Cântico dos<br />

Cânticos nos atrai<br />

e preenche muitos dos<br />

nosso projectos”,<br />

diz Dirk Snellings.<br />

“É uma obra poética<br />

fantástica”<br />

também uma função harmónica de<br />

apoio. Achei que era o ideal para realçar<br />

o significado desta poesia sublime<br />

sobre o amor”, explica Snellings.<br />

Quase todos os programas <strong>da</strong> Capilla<br />

Flamenca obedec<strong>em</strong> a percursos<br />

t<strong>em</strong>áticos, resultam de apura<strong>da</strong> pesquisa<br />

musicológica e reflect<strong>em</strong> uma<br />

técnica vocal apura<strong>da</strong> e um forte sentido<br />

estético. Para Dirk Snellings, os<br />

m<strong>em</strong>bros de um conjunto polifónico<br />

necessitam de ter quali<strong>da</strong>des especiais<br />

como “o controlo total sobre a<br />

voz e a sonori<strong>da</strong>de, a capaci<strong>da</strong>de de<br />

transmitir <strong>em</strong>oções e saber ouvir os<br />

outros pois só assim se pode obter<br />

uma boa fusão com as vozes <strong>em</strong> volta”.<br />

Cantar música antiga é uma tarefa<br />

especializa<strong>da</strong> que exige o conhecimento<br />

dos vários t<strong>em</strong>peramentos ou<br />

afinações usa<strong>da</strong>s ao longo <strong>da</strong> história,<br />

b<strong>em</strong> como <strong>da</strong>s notações antigas. No<br />

entanto, no momento <strong>da</strong> execução o<br />

grupo usa transcrições modernas.<br />

“Consultamos s<strong>em</strong>pre os originais e<br />

os nossos cantores sab<strong>em</strong> decifrá-los<br />

mas acontece que há notações de<br />

grande complexi<strong>da</strong>de, como a notação<br />

rítmica <strong>da</strong> Ars Subtiliors no final<br />

do século XIV. Na interpretação preferimos<br />

não ficar presos a essa complexi<strong>da</strong>de<br />

e concentrar o essencial <strong>da</strong><br />

nossa atenção na audição e na quali<strong>da</strong>de<br />

do trabalho de conjunto.”<br />

Nasci<strong>da</strong>s <strong>da</strong> improvisação<br />

Do seu percurso dos últimos anos como<br />

músico, musicólogo e director <strong>da</strong><br />

Capilla Flamenca, Dirk Snellings destaca<br />

o aprofun<strong>da</strong>mento estilístico <strong>da</strong>s<br />

diferentes escolas polifónicas e um<br />

conhecimento ca<strong>da</strong> vez mais claro <strong>da</strong><br />

linguag<strong>em</strong> de ca<strong>da</strong> compositor. “Há<br />

uma gramática comum, mas quanto<br />

mais mergulhamos no repertório,<br />

mais nos aperceb<strong>em</strong>os dos traços característicos<br />

de ca<strong>da</strong> autor. As diferenças<br />

são muito maiores do que parec<strong>em</strong><br />

à primeira vista.”<br />

Outro aspecto que o apaixona é a<br />

capaci<strong>da</strong>de de improvisar peças polifónicas<br />

a partir de uma melodia <strong>da</strong><strong>da</strong>.<br />

“Sab<strong>em</strong>os hoje ca<strong>da</strong> vez mais sobre<br />

o treino musical recebido cebido na Re<br />

nascença. Por ex<strong>em</strong>plo, os alunos de<br />

Josquin Desprez eram habituados a<br />

improvisar linhas contrapontísticas<br />

rapontísticas<br />

logo desde os oito anos, os, além de<br />

aprender<strong>em</strong> a ler música ca e de montar<strong>em</strong><br />

novas peças, era a o<br />

chamado ‘cantare supra a<br />

librum’”, acrescenta. “Ulltimamente tenho-me deedicado a desenvolver esta<br />

prática com os meus colegas olegas <strong>da</strong><br />

Capilla Flamenca. É algo go que nos<br />

dá grande prazer e que espero nos<br />

traga ain<strong>da</strong> maior liber<strong>da</strong>de ade e flexibili<strong>da</strong>de<br />

interpretativa pois ois há muitas<br />

obras escritas, como as de Agricola,<br />

que parec<strong>em</strong> ter nascido ascido <strong>da</strong><br />

improvisação.”<br />

Música <strong>da</strong>s músicas<br />

para o Cântico dos Cânticos<br />

O baixo Dirk<br />

Snellings é o<br />

director<br />

artístico deste<br />

importante<br />

agrupamento<br />

belga<br />

O agrupamento Capilla Flamenca faz a sua estreia no Festival <strong>da</strong> Póvoa de Varzim com música<br />

polifónica dos séculos XIV a XVI inspira<strong>da</strong> no amor sensual e espiritual do lendário po<strong>em</strong>a<br />

atribuído a Salomão. Cristina Fernandes


King Khan<br />

O ritual mágico<br />

King Khan é um herói underground idolatrado pela comuni<strong>da</strong>de garage (e t<strong>em</strong> como fãs Lou<br />

Reed e Laurie Anderson). Encontrámo-lo no Festival Med onde, provocador punk e pregador<br />

soul, nos falou do rock’n’roll como “um ritual mágico”. Mário lopes<br />

Música<br />

Estamos na piscina de um hotel de<br />

Loulé, no terraço do último an<strong>da</strong>r,<br />

aju<strong>da</strong>ndo o hom<strong>em</strong> que será nosso<br />

entrevistado a carregar uma espreguiçadeira<br />

até à sombra. “Não pod<strong>em</strong>os<br />

falar ao sol. O sol deixa-me tonto”,<br />

justifica o hom<strong>em</strong> de calções de<br />

banho e cordões de amuletos índios<br />

pendendo do pescoço. Chama-se King<br />

Khan e instala-se à sombra.<br />

Canadiano de ascendência indiana,<br />

nascido <strong>em</strong> Montreal mas residente<br />

<strong>em</strong> Berlim há vários anos, é um herói<br />

underground que a comuni<strong>da</strong>de garage<br />

idolatra pela música e pela loucura<br />

escatológica e iconoclasta, é figura<br />

subterrânea aos meandros mediáticos<br />

que vai surgindo,<br />

inespera<strong>da</strong>mente, ao lado de GZA,<br />

dos Wu Tang Clan, que o quer como<br />

colaborador, ou de Lou Reed e Laurie<br />

Anderson, que o convi<strong>da</strong>ram recent<strong>em</strong>ente<br />

para um festival australiano<br />

de que foram curadores. É portanto<br />

com este King Khan que falamos. Esse<br />

que nos explicará que, nas cartas<br />

de tarot, “o Louco é a carta mais alta,<br />

mais importante que o rei, a rainha<br />

ou o Papa”. Ele que nos definirá a sua<br />

música e os seus concertos como “um<br />

ritual mágico”. A loucura é parte <strong>da</strong><br />

equação: “O louco é aquele que pode<br />

rir-se <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de e seguir o seu caminho,<br />

é o mais espiritual de todos.”<br />

Horas depois <strong>da</strong> entrevista à beira<br />

<strong>da</strong> piscina, King Khan estava <strong>em</strong> palco<br />

com os Shrines, a ban<strong>da</strong> que fundou<br />

<strong>em</strong> Berlim e que reúne americanos,<br />

al<strong>em</strong>ães ou franceses num super<br />

combo soul-funk-punk’n’roll. Vestia<br />

camisa de lantejoulas doura<strong>da</strong>s e tinha<br />

a cabeça adorna<strong>da</strong> com um moicano<br />

louro. Na mão, um espanador<br />

que abanaria nos momentos certos<br />

para lançar magia vudu sobre a pequena<br />

multidão à sua frente.<br />

King Khan & The Shrines no Festival<br />

Med, <strong>em</strong> Loulé, dia 24 de Junho. Uma<br />

força poderosa. Foram o funk de James<br />

Brown <strong>em</strong> colorido Sun Ra, Sam<br />

& Dave revistos pelos Dirtbombs e a<br />

soul cavernosa de Screamin’ Jay Hawkins<br />

s<strong>em</strong> caixão à vista. No final,<br />

uma descarga de ruído lança<strong>da</strong> sobre<br />

o público como violento mantra zen<br />

e King Khan sentado <strong>em</strong> posição de<br />

Lótus, qual brâmane <strong>em</strong> meditação.<br />

Foi, naturalmente, um dos grandes<br />

concertos do festival. Mas não alterou<br />

<strong>em</strong> na<strong>da</strong> o fascínio e perplexi<strong>da</strong>de<br />

que sentimos perante a sua figura.<br />

S<strong>em</strong>anas antes <strong>da</strong>quele concerto,<br />

víramo-lo no encerramento do festival<br />

Primavera Sound, <strong>em</strong> Barcelona.<br />

Dera ali dois concertos, com o duo<br />

King Khan & BBQ e integrado nos supracitados<br />

Almighty Defenders. Na<br />

Sala Apolo, os Black Lips tinham terminado<br />

a sua actuação, o público<br />

abandonava o clube e, à saí<strong>da</strong>, vimos<br />

um táxi rodeado de gente, o taxista<br />

respectivo fora do automóvel, de<br />

mãos na cabeça, e King Khan saltando<br />

sobre a carroçaria como adolescente<br />

travesso. “Estavas lá?”, perguntarnos-á<br />

<strong>em</strong> Loulé, antes de contar o que<br />

se seguiu.<br />

O caminho do budista<br />

Foi levado para a esquadra e ficou<br />

preso duas horas. Explicou à polícia<br />

que tinha um avião para apanhar, que<br />

tinha um concerto marcado na Austrália,<br />

que tinha sido Lou Reed a convidá-lo.<br />

Num ápice, passou a estrela<br />

King Khan esteve no Festival<br />

Med, <strong>em</strong> Loulé, <strong>em</strong> Junho<br />

<strong>da</strong> esquadra, foi fotografado pelos<br />

agentes, distribuiu autógrafos, chegou<br />

a Sydney. O punk estava livre. “Fui<br />

preso pela primeira vez aos 18 anos,<br />

por roubar um CD dos Velvet Underground.<br />

Passados todos estes anos, o<br />

Lou Reed tira-me <strong>da</strong> prisão. A ver<strong>da</strong>de<br />

é que tudo na vi<strong>da</strong> acontece <strong>em</strong><br />

círculos.” Revela-se o metafísico que<br />

é punk e soulman: “Vivo uma expe-<br />

DR<br />

“O meu objectivo final<br />

é curar o mundo com<br />

a minha música,<br />

como um xamã”<br />

King Khan<br />

riência mais religiosa a ouvir a Alice<br />

Coltrane ou música gospel do que a<br />

ler a Bíblia, o Corão, a Tora ou o Bhagavad<br />

Gita.” Revela-se o mago do<br />

rock’n’roll: “Na música gospel, o pastor,<br />

pela forma como atira as palavras,<br />

leva as pessoas a pegar <strong>em</strong> pandeiretas<br />

e <strong>da</strong>nçar, leva bebés a aprender a<br />

<strong>da</strong>r os primeiros passos. É isso que<br />

quero fazer com a minha música, pegar<br />

numa sala cheia de gente e canalizar<br />

a sua energia para uma força<br />

única. Quer as faça <strong>da</strong>nçar, tirar as<br />

roupas, foder ou cagar, é tudo o mesmo<br />

ritual.”<br />

Pai de dois filhos, acabou com os<br />

King Khan & BBQ porque “d<strong>em</strong>asia<strong>da</strong>s<br />

drogas, bebi<strong>da</strong>s e raparigas” estavam<br />

a torná-lo “um mau ex<strong>em</strong>plo<br />

para os miúdos”. Os Shrines, a ban<strong>da</strong><br />

que lidera há cerca de dez anos, autora<br />

de uma muito respeitável discografia<br />

para a qual “The Supr<strong>em</strong>e Genius<br />

of King Khan & The Shrines”,<br />

compilação de 2008, servirá como<br />

óptima porta de entra<strong>da</strong>, são tudo o<br />

que lhe interessa neste momento.<br />

“Tenho 33 anos, a minha i<strong>da</strong>de Jesus,<br />

e tenho que decidir onde concentrar<br />

as minhas energias. O Lou Reed e a<br />

Laurie Anderson disseram-me que<br />

todos os artistas passam por momentos<br />

<strong>em</strong> que têm de se reinventar e arranjar<br />

um novo disfarce. É isso a magia.<br />

E eu escolhi o meu caminho. O<br />

caminho do budista.”<br />

Depois fala-nos de índios Mohawk<br />

que o ensinaram a não ter medo – “vive<br />

s<strong>em</strong> medo e viverás muito t<strong>em</strong>po”<br />

–, e conta-nos de um pugilista aborígene<br />

australiano que “vai ser o próximo<br />

Muhammad Ali” – “e eu vou largar<br />

o rock’n’roll e o álcool e tornar-me<br />

um promotor de boxe”. Regressa aos<br />

seus Shrines: “O meu objectivo final<br />

é curar o mundo com a minha música,<br />

como um xamã.” Que mais pod<strong>em</strong>os<br />

dizer? Abençoado seja.<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 35


ENRIC VIVES-RUBIO<br />

Mergulhando<br />

nos mistérios<br />

dos Tigrala<br />

Quando um dinamarquês ofereceu uma “tambura” a Norberto Lobo, os Tigrala estavam a<br />

um passo de distância. O guitarrista juntou-se ao percussionista Ian Carlo Mendoza e os dois<br />

convocaram Guilherme Canhão, o eléctrico guitarrista dos Lobster. “Tigrala” é o primeiro<br />

registo desta história. Uma preciosi<strong>da</strong>de: música de xamãs s<strong>em</strong> metafísica. Mário Lopes<br />

A última vez que o entrevistámos,<br />

aquando <strong>da</strong> edição de “Pata Lenta”,<br />

o seu segundo álbum, Norberto Lobo<br />

contou-nos de um instrumento que o<br />

fascinara recent<strong>em</strong>ente. Falou-nos <strong>da</strong><br />

“tambura” (de orig<strong>em</strong> indiana, familiar<br />

do alaúde), do som <strong>da</strong> “tambura”<br />

e de como o entusiasmavam as novas<br />

possibili<strong>da</strong>des que se abriam. “Obrigou-me<br />

a sair de onde estava, obrigoume<br />

a pensar [a música] de forma diferente.”<br />

Pausa e uma curta gargalha<strong>da</strong>:<br />

“Sair de onde estamos é s<strong>em</strong>pre bom”,<br />

conclui Norberto, o guitarrista autor<br />

dos essenciais “Mu<strong>da</strong>r de Bina” e “Pata<br />

Lenta”, <strong>em</strong> Julho de 2010, num banco<br />

sob a sombra de um jardim lisboeta<br />

– guard<strong>em</strong>os na m<strong>em</strong>ória aquele<br />

“sair de onde estamos”, que é essencial<br />

para perceber a magia <strong>da</strong> música<br />

de que aqui se falará.<br />

Recapitul<strong>em</strong>os. Norberto contaranos<br />

a história <strong>da</strong> sua “tambura”, que<br />

lhe chegou às mãos ofereci<strong>da</strong> por um<br />

artesão dinamarquês, o que não deixa<br />

de ser curioso. Porque a história,<br />

depois de ela lhe chegar às mãos, é a<br />

seguinte: um artesão dinamarquês<br />

oferece um instrumento de orig<strong>em</strong><br />

indiana a um guitarrista português.<br />

O guitarrista pega na “tambura” e<br />

mostra algumas músicas a um amigo<br />

36 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

percussionista com qu<strong>em</strong> colaborava<br />

há anos, Ian Carlo Mendoza, mexicano<br />

e mestre <strong>em</strong> mil instrumentos que<br />

veio estu<strong>da</strong>r para Portugal e que gostou<br />

tanto disto que acabou por ficar<br />

– conheceu Norberto nos Colectivo<br />

Páscoa, foi músico dos fusionistas Y<strong>em</strong>anjazz,<br />

trabalha com grupos de teatro<br />

e desenvolve um projecto a solo.<br />

No mesmo banco, no mesmo parque,<br />

elogia este “país tranquilo onde, se<br />

quer<strong>em</strong>os fazer coisas, se nos mexermos,<br />

elas acontec<strong>em</strong> rapi<strong>da</strong>mente”<br />

- o que não deixa de ser uma opinião<br />

curiosa aos nossos ouvidos, habituados<br />

a registar queixumes de “no pasa<br />

na<strong>da</strong>” <strong>em</strong> bom português.<br />

Portanto, tínhamos Norberto Lobo<br />

e Ian Carlo Mendoza tocando juntos,<br />

ocasionalmente, desde 2006. Tínhamo-los<br />

desde o ano passado procurando<br />

música de forma mais consistente.<br />

Procurando: “Não nos interessa<br />

a metafísica, gostamos é de<br />

observar”, aponta Norberto Lobo;<br />

“quer<strong>em</strong>os um encontro do belo, algo<br />

que fuja a esqu<strong>em</strong>as de-finidos, quer<strong>em</strong>os<br />

fazer algo cont<strong>em</strong>porâneo e<br />

surreal, muito simples, mas único”,<br />

compl<strong>em</strong>enta Ian Carlo no seu português<br />

adocicado com o sotaque do<br />

castelhano <strong>da</strong>s Américas. Mas quando<br />

eram apenas os dois, não eram ain<strong>da</strong><br />

Tigrala. Faltava algo.<br />

Nesse t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que se <strong>em</strong>penhavam<br />

livr<strong>em</strong>ente a descobrir o que resultaria<br />

do encontro <strong>da</strong> “tambura”<br />

com um vibrafone, uma “<strong>da</strong>rbuka”<br />

(descrevamo-lo como um “d’j<strong>em</strong>bé”<br />

turco) ou um “cajón” sul-americano,<br />

Norberto Lobo, o guitarrista, haveria<br />

de encontrar outro guitarrista ali para<br />

os lados do Chiado e convidá-lo a juntar-se-lhes.<br />

Guilherme Canhão, guitarrista<br />

eléctrico, hom<strong>em</strong> do “noise” e<br />

“riffs” d<strong>em</strong>oníacos do duo Lobster,<br />

disse que sim esse dia e, quatro depois,<br />

estava a tocar num palco do Barreiro<br />

com Norberto e Ian Carlo. Sentado<br />

e concentrado no ritmo qual<br />

âncora <strong>da</strong> ban<strong>da</strong>, ele que nos magníficos<br />

Lobster estava habituado a extravasar,<br />

a correr palco fora, a ser levado<br />

pelo público enquanto o<br />

rock’n’roll ressoava pelas salas, altíssimo<br />

e distorcido. Vê-lo <strong>em</strong> Tigrala,<br />

porém, não é vê-lo serenado: “É a<br />

mesma energia, mas canaliza<strong>da</strong> de<br />

forma diferente. Na<strong>da</strong> é difícil <strong>em</strong> Tigrala.<br />

Na<strong>da</strong> é difícil”. As peças encaixavam<br />

definitivamente. A “tambura”<br />

indiana chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> Dinamarca, o vibrafone<br />

ou o “cajón” e a guitarra acústica<br />

do guitarrista eléctrico.<br />

“Quer<strong>em</strong>os um<br />

encontro do belo,<br />

algo que fuja<br />

a esqu<strong>em</strong>as definidos,<br />

quer<strong>em</strong>os fazer algo<br />

cont<strong>em</strong>porâneo<br />

e surreal, muito<br />

simples, mas único”<br />

Ian Carlo Mendoza<br />

Os Tigrala são músicos com tonela<strong>da</strong>s<br />

de informação melómana na cabeça.<br />

Com eles, sentimos que poderíamos<br />

passar horas a discutir a discografia<br />

e as virtudes de gente tão<br />

diversa como os Soft Machine, Kate<br />

Bush, os Wu Tang Clan, Amon Düul<br />

ou Al<strong>em</strong>u Aga. Nenhum destes, po-<br />

Os Tigrala, uma música que é<br />

serena e desafi ante<br />

Música<br />

rém, incide luz sobre a música do trio<br />

– “se b<strong>em</strong> que às vezes o Santana nos<br />

faça umas visitas”, brinca Norberto.<br />

Guilherme Canhão: “Atiramos as referências<br />

para debaixo do tapete. Não<br />

deixamos que inva<strong>da</strong>m o que estamos<br />

a fazer”. Ian Carlo Mendoza: “Contaram-nos<br />

que nos Açores uma mulher<br />

saiu do nosso concerto a dizer, ‘uau,<br />

os instrumentos falam entre si’. De<br />

certa forma, isso explica o que faz<strong>em</strong>os.<br />

A ver<strong>da</strong>de é que, nos ensaios, só<br />

falamos o essencial. O ‘tricot’ <strong>em</strong>ocional<br />

entre os instrumentos é a nossa<br />

linguag<strong>em</strong>-base”.<br />

Tudo se mistura nesta música que<br />

é serena e desafiante, melancólica e<br />

celebratória. Tudo se mistura nesta<br />

música que chega até nós como possibili<strong>da</strong>de<br />

de transcendência, como<br />

possibili<strong>da</strong>de de nos elevarmos sobre<br />

o mundo – o que, se pensarmos que<br />

os Tigrala são também os Xamã, a<br />

versão eléctrica do trio, faz todo o<br />

sentido; se pensarmos que, como ver<strong>em</strong>os<br />

na próxima quinta-feira, no<br />

Museu do Chiado, no concerto de<br />

apresentação do álbum, Xamã e Tigrala<br />

são agora uma mesma enti<strong>da</strong>de,<br />

faz mais sentido ain<strong>da</strong>.<br />

Na capa do homónimo álbum de<br />

estreia agora editado, três robots com<br />

ar de saltimbancos biónicos passeiamse<br />

pela selva de instrumentos <strong>em</strong> punho.<br />

O futurismo luxuriante <strong>da</strong> pintura,<br />

quando os futuros imaginados,<br />

pelo menos aqueles com tecnologia à<br />

mistura, tend<strong>em</strong> normalmente para<br />

o apocalíptico, pode parecer à primeira<br />

vista estranho, paradoxal. Erro nosso<br />

pensá-lo. Se é estranha, é tão estranha<br />

como a música de “Tigrala”, o<br />

álbum. Sete instrumentais convocando<br />

um mundo onde a delicadeza <strong>da</strong><br />

música tradicional indiana ganha pó<br />

de deserto americano, onde o jazz desce<br />

a 20 mil léguas submarinas para se<br />

transformar noutra coisa, onde uma<br />

dose de melancolia que reconhec<strong>em</strong>os<br />

como nossa pode transformar-se <strong>em</strong><br />

“trip” psicadélica. E neste álbum, que<br />

entusiasma e comove de igual forma,<br />

a estranheza é na ver<strong>da</strong>de uma sensação<br />

ausente. Nele, a selva parece um<br />

lugar acolhedor e as pedras <strong>da</strong> calça<strong>da</strong><br />

estão constant<strong>em</strong>ente a revelar novos<br />

mistérios. O segredo está no olhar, diz<strong>em</strong><br />

os Tigrala – e nós que os ouvimos,<br />

concor<strong>da</strong>mos.<br />

O mais extenso título de canção do<br />

disco resume-os b<strong>em</strong>: “Aunque no sepa<br />

cantar mi corazón es lleno como<br />

una ola que se levanta t<strong>em</strong>prano conecta<strong>da</strong><br />

a los misterios primordiales<br />

más profundos”. “Los misterios primordiales<br />

más profundos” – eis o que<br />

<strong>busca</strong>m. Eis o que nos oferec<strong>em</strong> na<br />

preciosi<strong>da</strong>de que é este seu primeiro<br />

álbum.<br />

Ver crítica de discos págs. 48 e segs.


ANTÓNIO CARRAPATO<br />

m/18<br />

www.casino-estoril.pt<br />

Roxy Music O regresso<br />

dos aristocratas do rock. Pág. 53<br />

Jorge Palma<br />

22-jul<br />

Djuna Barnes Antecipou<br />

o olhar “camp” Pág. 44<br />

Silva Melo Duas peças<br />

no Festival de Alma<strong>da</strong>. Pág. 43<br />

Michael Biberstein<br />

O princípio <strong>da</strong> improvisação e do acaso, <strong>em</strong><br />

exposição Pág. 38<br />

Mayra<br />

Andrade<br />

29-jul<br />

DJ até às 03H00<br />

Programa sujeito a alterações<br />

Reservas:<br />

info@dlounge.net | +351 919 938 114


Exposições<br />

38 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

A exposição integra a composição musical “White<br />

Haze” cria<strong>da</strong> por Biberstein <strong>em</strong> colaboração<br />

com o músico e sonoplasta Manuel Mesquita<br />

Big Bang<br />

DR<br />

As pinturas de Michael<br />

Biberstein na Galeria<br />

Pedro Oliveira, no Porto,<br />

obedec<strong>em</strong> ao princípio <strong>da</strong><br />

improvisação, do acaso:<br />

delas nasce uma música que<br />

evoca um corpo suspenso. so.<br />

Óscar Faria<br />

reali<strong>da</strong>de profun<strong>da</strong>”. Radical,<br />

O título cita uma frase de Charles<br />

Darwin alusiva à especulação dos<br />

secular. A mostra, esta mostra, plena de<br />

mat<strong>em</strong>áticos que procuram um gato<br />

intitula<strong>da</strong> “Radical Haze” (“Névoa acontecimentos e de instantes preto na escuridão, activi<strong>da</strong>de tão<br />

Radical Haze<br />

de Michael Biberstein<br />

Radical”) – <strong>em</strong> inglês, a palavra<br />

“haze” designa a bruma seca, que<br />

resulta <strong>da</strong> condensação de vapor de<br />

vazios. Tão próxima do silêncio. Tão<br />

ruidosa. Big Bang.<br />

inútil como a dos 22 artistas<br />

internacionais presentes.<br />

Os suportes são diversos (filme,<br />

Porto Galeria Pedro Oliveira Calça<strong>da</strong> de Monchique,<br />

3. De terça a sábado, <strong>da</strong>s 15h às 20h. Até 28 de Julho.<br />

mmmmm<br />

No século dez, viveu na China Li<br />

Cheng (919-967) considerado,<br />

juntamente com os er<strong>em</strong>itas taoistas<br />

água associa<strong>da</strong> a poluentes, ficando<br />

o ar com um aspecto acinzentado –,<br />

inclui um conjunto de pinturas<br />

sobre linho e papel <strong>da</strong>ta<strong>da</strong>s de 2007<br />

até ao presente, que nos dão conta<br />

de um aprofun<strong>da</strong>mento do trabalho<br />

<strong>em</strong> torno <strong>da</strong> paisag<strong>em</strong>, o t<strong>em</strong>a<br />

desenho, escultura, instalação, som)<br />

A escuridão e as obras desenham um arco<br />

t<strong>em</strong>poral que se inicia no século<br />

XVI, com um livro que mostra a<br />

ilumina<strong>da</strong> <strong>da</strong> ilustração de um gabinete de<br />

curiosi<strong>da</strong>des (o “Wunderkammer”)<br />

arte<br />

e termina na déca<strong>da</strong> passa<strong>da</strong>,<br />

Jing Hao (906-960) e Guan Tong recorrente na obra do artista. Os<br />

d<strong>em</strong>onstrando assim as raízes<br />

(906-960), como um dos mais<br />

relevantes paisagistas de uma época<br />

conheci<strong>da</strong> como sendo a <strong>da</strong>s Cinco<br />

trabalhos agora apresentados<br />

sublinham uma espécie de<br />

cosmologia, um universo <strong>em</strong><br />

Uma exposição com vários<br />

nomes incontornáveis <strong>da</strong> arte<br />

históricas do t<strong>em</strong>a. A selecção de<br />

nomes é arroja<strong>da</strong> e permite ver<br />

trabalhos de Bruno Munari, Giorgio<br />

Dinastias e Dez Reinos. Nesses anos,<br />

os artistas seguiam um tratado<br />

escrito sob a forma de um diálogo<br />

entre um pintor e um anacoreta,<br />

expansão de natureza abstracta,<br />

atravessado de acontecimentos.<br />

Ca<strong>da</strong> pintura é ocupa<strong>da</strong> por uma<br />

espécie de neblina que dilui os<br />

internacional para l<strong>em</strong>brar<br />

os eternos mistérios <strong>da</strong> obra<br />

de arte. José Marmeleira<br />

Morandi, Marcel Broodthaers, Hans-<br />

Peter Feldmann, Peter Fischli &<br />

David Weiss, Matt Mullican,<br />

Ros<strong>em</strong>arie Trockel, Rachel Harrison,<br />

uma conversa manti<strong>da</strong> durante uma contornos e que simultaneamente<br />

Patrick van Caeckenbergh ou<br />

caminha<strong>da</strong> na montanha. Além dos<br />

seis princípios que deviam <strong>da</strong>r<br />

forma a uma pintura – o espírito, a<br />

harmonia, a conformi<strong>da</strong>de ao<br />

sujeito, etc. –, o texto estabelecia os<br />

fins <strong>da</strong> disciplina: “apreender a<br />

ver<strong>da</strong>de, a beleza interior <strong>da</strong>s coisas,<br />

pela comunhão, a fusão com a sua<br />

reali<strong>da</strong>de profun<strong>da</strong>, e não a procura<br />

<strong>da</strong> similari<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> beleza<br />

ornamental dos aspectos<br />

superficiais” (in “La Peinture<br />

Chinoise”, de Michel Courtois,<br />

Éditions Rencontre Lausanne, 1967).<br />

funciona como um el<strong>em</strong>ento<br />

atractor, hipnótico mesmo.<br />

Biberstein leva no cérebro a<br />

atmosfera de dias habitados pelo<br />

nevoeiro: aquele que nasce nas<br />

montanhas, o que v<strong>em</strong> do oceano,<br />

ou o formado sobre as ci<strong>da</strong>des. As<br />

suas pinturas obedec<strong>em</strong> ao princípio<br />

<strong>da</strong> improvisação, do acaso: delas<br />

nasce uma música que evoca um<br />

corpo suspenso, diferido, ain<strong>da</strong><br />

preso à materiali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s cores e<br />

<strong>da</strong>s formas, mas já a desligar-se<br />

dessa objectuali<strong>da</strong>de necessária<br />

Para o cego no quarto escuro à<br />

procura do gato preto que não<br />

está lá<br />

De Dave Hullfish Bailey, Marcel<br />

Broodthaers, Sarah Crowner,<br />

Mariana Castillo Deball, Eric<br />

Duyckaerts, Erkmen, Hans-Peter<br />

Feldmann, Peter Fischli, David<br />

Weiss, Rachel Harrison, Giorgio<br />

Morandi, Matt Mullican, Bruno<br />

Munari, Nashashibi/Skaer, Falke<br />

Pisano, Jimmy Raskin, entre outros.<br />

Lisboa. Culturgest. R. Arco do Cego - Edifício <strong>da</strong><br />

CGD. Tel.: 217905155. Até 29/08. 2ª, 4ª, 5ª e 6ª <strong>da</strong>s<br />

Nashashibi/Sakaer; a oportuni<strong>da</strong>de<br />

que oferece aos espectadores de se<br />

confrontar<strong>em</strong> com os universos<br />

destes artistas é, aliás, uma <strong>da</strong>s<br />

quali<strong>da</strong>des de “Para o cego no<br />

quarto escuro à procura do gato<br />

preto que não está lá”.<br />

Algumas obras mostram o que<br />

pode resultar dessa <strong>busca</strong> movi<strong>da</strong><br />

pela curiosi<strong>da</strong>de e o conhecimento<br />

(enquanto métodos): a naturezamorta<br />

de Giorgio Morandi, pinta<strong>da</strong><br />

nos anos 50 do século XX, ou os<br />

desenhos, diagramas, símbolos<br />

O velho anacoreta defendia a<br />

pro<strong>em</strong>inência do espírito sobre o<br />

para o “prazer dos olhos” e o<br />

“relaxar <strong>da</strong> mente” – a exposição<br />

11h às 19h (última admissão às 18h30). Sáb., Dom. e<br />

Feriados <strong>da</strong>s 14h às 20h (última admissão às 19h30).<br />

pictográficos, fotografias, textos e<br />

narrativas desenha<strong>da</strong>s que<br />

“métier”, “que deve estar s<strong>em</strong>pre ao<br />

serviço <strong>da</strong> inspiração e <strong>da</strong> visão<br />

t<strong>em</strong> como subtítulo “paintings to<br />

please your eye and relax your<br />

mmmmn<br />

constitu<strong>em</strong> a instalação de Matt<br />

Mullican; uma cosmologia <strong>em</strong> cuja<br />

interior, s<strong>em</strong> a qual não existe obra mind”. O espectador é assim levado Todo o objecto artístico cria um metafórica escuridão o espectador<br />

ver<strong>da</strong>deira, conforme à criação a um confronto consigo, com o horizonte aberto à presença do se perde. E por falar <strong>em</strong> escuridão,<br />

natural”. É essa facul<strong>da</strong>de de “levar t<strong>em</strong>po disponível para ver a<br />

espectador. Trata-se de um “acto refiram-se as sombras que de uma<br />

no cérebro as montanhas e os subtileza de trabalhos que se<br />

generoso” que, to<strong>da</strong>via, não existe<br />

mesa coberta co c berta de focos<br />

vales”, que fez de Li Cheng um aproximam do vazio, de um estado s<strong>em</strong> uma distância. stância. A distância que<br />

de de luz, brinquedos br b inquedos e<br />

artista capaz de produzir quadros de abandono espiritual. Os trabalhos separa a arte e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. É isto isto que v<strong>em</strong><br />

outros<br />

“dignos <strong>da</strong> supr<strong>em</strong>a categoria possu<strong>em</strong> uma força irreprimível, recor<strong>da</strong>r, na a Culturgest, <strong>em</strong> Lisboa, a<br />

objectos, objectos,<br />

‘divina’”, como ain<strong>da</strong> explica que v<strong>em</strong> <strong>da</strong> natureza interior do exposição “Para Para o cego no quarto<br />

se<br />

Courtois, o qual nos diz ain<strong>da</strong> ser artista: as telas revelam<br />

escuro à procura ocura do gato preto que<br />

projectam,<br />

característica dos grandes criadores acontecimentos impossíveis de não está lá” com a curadoria de<br />

disformes,<br />

o esquecimento de si, uma condição decifrar. São enigmas.<br />

Anthony Huberman. uberman. Afinal é nessa<br />

efémeras e<br />

essencial para que a obra surja com A exposição integra ain<strong>da</strong> a distância que ue se produz<strong>em</strong> algumas<br />

obscuras,<br />

“uma força irreprimível”. Li Cheng composição musical “White Haze” <strong>da</strong>s ideias que ue organizam esta<br />

na parede.<br />

apenas pintava para o seu próprio cria<strong>da</strong> por Biberstein <strong>em</strong><br />

colectiva: a dimensão dimensão especulativa<br />

Eis a peça<br />

prazer, “tratando a tinta como ouro” colaboração com o músico e<br />

<strong>da</strong> arte, o abismo bismo benigno <strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

de forma a criar paisagens onde o sonoplasta Manuel Mesquita. As experiência estética, a<br />

estilo “ping-yang” foi levado ao pinturas são assim pontua<strong>da</strong>s por curiosi<strong>da</strong>de pelo<br />

máximo refinamento, uma situação sons que as afectam, potenciando desconhecido, do, o<br />

sobretudo visível no equilíbrio <strong>da</strong>s outras leituras: contudo essas não familiar, r,<br />

tensões que dão corpo a uma obra, manifestações sonoras sublinham por aquilo<br />

como a que resulta <strong>da</strong> dicotomia s<strong>em</strong>pre o carácter abstracto <strong>da</strong> que resiste<br />

vazio/pleno.<br />

experiência plástica propostas nas às<br />

Há, na nova exposição de Michael paisagens visíveis na galeria, as quais categorias<br />

Biberstein (Solothurn, Suíça, 1948),<br />

uma proximi<strong>da</strong>de a esta prática<br />

nos aju<strong>da</strong>m a “apreender a ver<strong>da</strong>de,<br />

a beleza interior <strong>da</strong>s coisas, pela<br />

comunhão, a fusão com a sua<br />

do<br />

ver<strong>da</strong>deiro<br />

e do falso.<br />

Chapeau!, de Patrick van Caeckenbergh,<br />

uma <strong>da</strong>s obras que estão na Culturgest<br />

: © DMF


aMaumMedíocr<strong>em</strong>mRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente<br />

Agen<strong>da</strong><br />

Inauguram<br />

A Secreta Vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Palavras<br />

De Nuno Cera, Ana Jotta, Vasco<br />

Costa, Edgar Massul, Rodrigo<br />

Peixoto, Sara Santos, Ana Vieira,<br />

Pedro Cabrita Reis, Pedro Calapez,<br />

Rui Chafes, Il<strong>da</strong> David, Rui Sanches,<br />

entre outros.<br />

Sines. CC <strong>Em</strong>merico Nunes. Lg. do Muro <strong>da</strong> Praia, 1.<br />

Tel.: 914827713. De 16/07 a 25/09. 2ª a Sáb. <strong>da</strong>s<br />

14h30 às 18h30. Inaugura 16/7 às 22h.<br />

Pintura, Escultura, Fotografia,<br />

Vídeo, Instalação, Outros.<br />

Summer @ My Place<br />

De André Almei<strong>da</strong> e Sousa, Bela<br />

Silva, Diogo Guerra Pinto, Francisca<br />

Carvalho, João Decq, João Galrão,<br />

Luís Silveirinha, Nuno Gueifão,<br />

Rosário Rebello de Andrade, Sofia<br />

Aguiar, Teresa Gonçalves Lobo,<br />

Tomás Colaço.<br />

Lisboa. Alecrim 50. R. do Alecrim, 48-50. Tel.:<br />

213465258. De 16/07 a 22/09. 2ª a 6ª <strong>da</strong>s 11h às 19h.<br />

Sáb. <strong>da</strong>s 11h às 18h. Inaugura 16/7 às 19h.<br />

Pintura, Desenho, Escultura.<br />

Regresso a Casa<br />

De Helena Almei<strong>da</strong>, Silvia Bachli,<br />

Christian Boltanski, Fernando Brito,<br />

Gerardo Burmester, José Pedro Croft,<br />

Didier Fiúza Faustino, Ângela<br />

Ferreira, Fernan<strong>da</strong> Fragateiro, Dan<br />

Graham, Eberhard Havekost, Cristina<br />

Iglesias, Ana Jotta, Gordon Matta-<br />

Clark, Paulo Nozolino, Pedro Cabrita<br />

Reis, Richard Tuttle, Ana Vieira,<br />

entre outros.<br />

Porto. Museu de Serralves. R. Dom João de Castro,<br />

210. Tel.: 226156500. De 16/07 a 26/09. 3ª a 6ª <strong>da</strong>s<br />

10h às 17h. Sáb., Dom. e Feriados <strong>da</strong>s 10h às 19h. Na<br />

Casa de Serralves. Inaugura 16/7 às 18h30.<br />

Pintura, Fotografia, Escultura,<br />

Vídeo, Instalação.<br />

Summer Calling<br />

De Daniel Lipp, Deborah Engel, Filipa<br />

Burgo, Filipe Matos, Flávio Cerqueira,<br />

Inês Oliveira e Silva, Joana Paraíso,<br />

do artista al<strong>em</strong>ão Hans-Peter<br />

Feldman: “Shadowplay” (2005),<br />

suspensa entre a arte (as sombras) e<br />

a vi<strong>da</strong> (os objectos usados no<br />

quotidiano).<br />

Outros trabalhos entretêm-se<br />

sobretudo no jogo especulativo e<br />

reflexivo reflexivo que a arte prop propõe, por<br />

vezes vezes num registo à beira beir <strong>da</strong><br />

tautologia, com humor<br />

e sentido<br />

lúdico: o chapéu cheio de d<br />

conhecimento do home hom<strong>em</strong> que já não<br />

aguenta conhecer, de Patrick Pa van<br />

Caeckenbergh (uma fabulosa fab<br />

escultura); as diverti<strong>da</strong>s e tocantes<br />

imagens do artista italia italiano Bruno<br />

Munari a procurar conforto confo num<br />

sofá pouco confortável; ou a série<br />

fotográfica de “V “Voyage of the<br />

Beagle”, de Rachel R<br />

Harrison:<br />

uma<br />

sequência sequên de<br />

menires, men bustos,<br />

esculturas e<br />

públicas<br />

(uma <strong>da</strong><br />

Gertrud<br />

Stein)<br />

manequins,<br />

máscaras e<br />

Mafal<strong>da</strong> Melo, Margari<strong>da</strong> Rodrigues,<br />

Maria Platero, Pedro Ferreira, René<br />

Tavares, Rita Teles Garcia, Tatiana<br />

Dager.<br />

Lisboa. 3 + 1 Arte Cont<strong>em</strong>porânea. R. António Maria<br />

Cardoso, 31. Tel.: 210170765. De 16/07 a 18/09. 3ª a 6ª<br />

e Sáb. <strong>da</strong>s 14h às 20h. Inaugura 16/7 às 22h.<br />

Pintura, Fotografia, Vídeo,<br />

Instalação, Escultura.<br />

O Caçador de<br />

Borboletas<br />

De Eduardo Matos.<br />

Lisboa. Galeria Zé dos Bois. R. <strong>da</strong> Barroca, 59 -<br />

Bairro Alto. Tel.: 213430205. De 17/07 a 18/09. 4ª,<br />

5ª, 6ª e Sáb. <strong>da</strong>s 18h às 23h. Inaugura 17/7 às 22h.<br />

Fotografia, Outros.<br />

O Contra-Céu - Ensaio<br />

Sobre o Hiato<br />

De Mattia Denisse.<br />

Lisboa. Galeria Zé dos Bois. R. <strong>da</strong> Barroca, 59 -<br />

Bairro Alto. Tel.: 213430205. De 17/07 a 18/09. 4ª,<br />

5ª, 6ª e Sáb. <strong>da</strong>s 18h às 23h. Inaugura 17/7 às 22h.<br />

Desenho.<br />

O Mundo <strong>da</strong>s Pequenas Coisas<br />

De Ana Pereira.<br />

Porto. Centro Português de Fotografia - Cadeia <strong>da</strong><br />

Relação do Porto. Campo Mártires <strong>da</strong> Pátria. Tel.:<br />

222076310. De 17/07 a 05/09. 2ª a 6ª <strong>da</strong>s 10h às 18h.<br />

Sáb., Dom. e Feriados <strong>da</strong>s 10h às 19h. Inaugura 17/7<br />

às 15h.<br />

Fotografia.<br />

1990/2010 Cabinet D’ Amateur<br />

De Ahmed Ismael, Ana Vieira,<br />

Arman<strong>da</strong> Duarte, Barbara Lessing,<br />

Bryan Crockett, Evelina Oliveira,<br />

Fernan<strong>da</strong> Fragateiro, Gabriel Abrantes,<br />

Gilberto Reis, Gyan Panchal, Joana<br />

Vasconcelos, Miguel Palma, Miguel<br />

Bonneville, Pedro Tropa, Sérgio Mah,<br />

Sérgio Tabor<strong>da</strong>, Stela Soares, Vitalina<br />

Sousa, entre outros.<br />

Lisboa. Museu Nacional de História Natural. R. <strong>da</strong><br />

Escola Politécnica, 58. Tel.: 213921800. De 22/07 a<br />

30/10. 3ª, 4ª, 5ª e 6ª <strong>da</strong>s 10h às 17h. Sáb. e Dom.<br />

<strong>da</strong>s 11h às 18h. Na Sala do Veado. Inaugura 22/7 às<br />

22h.<br />

Pintura, Desenho, Escultura,<br />

Instalação, Outros.<br />

animais <strong>em</strong>balsamados que parece<br />

desafiar as hierarquias <strong>da</strong> história <strong>da</strong><br />

cultura (e <strong>da</strong> escultura) ao mesmo<br />

t<strong>em</strong>po que sugere ao espectador que<br />

crie as suas (a partir <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória<br />

visual <strong>da</strong>s fotografias).<br />

Finalmente, exist<strong>em</strong> obras cuja<br />

natureza interpelam mais<br />

intensamente a curiosi<strong>da</strong>de e a<br />

compreensão do visitante. Por<br />

ex<strong>em</strong>plo, o que se vê <strong>em</strong> “The Right<br />

Way” (1983), de Peter Fischli & David<br />

Weiss? O deambular existencial e<br />

absurdo de uma ratazana e de um<br />

urso? Uma fábula violenta pontua<strong>da</strong><br />

com imagens do sublime? Ou – não<br />

estivess<strong>em</strong> os dois artistas sob as<br />

vestes dos ditos animais – uma ficção<br />

com ligações ao real? A propósito do<br />

filme de 16 mm <strong>da</strong> dupla Nashashibi/<br />

Skaer também acod<strong>em</strong> perguntas.<br />

Qual é o objectivo <strong>da</strong>quele rápido<br />

flash sobre as esculturas antigas <strong>da</strong><br />

colecção do Metropolitan Museum<br />

of Art, <strong>em</strong> Nova Iorque? Trazer de<br />

volta o seu mistério ou transformar a<br />

sua representação e conhecimento<br />

numa série de poéticos e fugidios<br />

instantâneos? Cabe a palavra (a<br />

curiosi<strong>da</strong>de) ao espectador.<br />

apresenta<br />

TRICOTA<br />

UM PROJECTO DE ELECTROTANGO DOS ARGENTINOS<br />

OTROS AIRES ONDE COEXISTE A TÍPICA ORQUESTRA ARGENTINA<br />

E A ACTUAL MÚSICA ELECTRÓNICA<br />

// 22 de Julho_ Concerto | 21h30<br />

// 20 e 21 de Julho_ Masterclasses | 12h30<br />

(saiba mais <strong>em</strong> www.bes.pt)<br />

/// ENTRADA LIVRE LIMITADA À LOTAÇÃO DA SALA<br />

// MORADA<br />

Praça Marquês de Pombal<br />

nº3, 1250-161 Lisboa<br />

// TELEFONE<br />

21 359 73 58<br />

// HORÁRIO<br />

Segun<strong>da</strong> a Sexta<br />

<strong>da</strong>s 9h às 21h<br />

// EMAIL<br />

besarte.financa@bes.pt<br />

Programação e produção<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 39


Cin<strong>em</strong>a<br />

Cineclubes para mais<br />

informações consultar www.fpcc.pt<br />

Casa <strong>da</strong>s Artes<br />

de Vila Nova de<br />

Famalicão<br />

Parque de Sinçães – Famalicão<br />

The Mist - Nevoeiro Misteriosos<br />

De Frank Darabont, 2007, M/18<br />

22/07, 21:30h<br />

Auditório do IPJ<br />

(Faro)<br />

Rua <strong>da</strong> PSP - Faro<br />

Mother - Uma Força Única<br />

De Joon-Ho Bong, 2009, M/16<br />

19/07, 22:00h<br />

Cin<strong>em</strong>a Passos<br />

Manuel<br />

Rua Passos Manuel 137, Porto<br />

O Fio Do Horizonte<br />

De Fernando Lopes, 1993, M/12<br />

21/07, 21:30h<br />

Cin<strong>em</strong>a Verde Viana<br />

Praça 1º de Maio, Centro Comercial - Viana do<br />

Castelo<br />

O T<strong>em</strong>po Que Resta<br />

De Elia Suleiman, 2009,<br />

22/07, 21:00h<br />

série ípsilon II<br />

Sexta-feira,<br />

dia 23 de Julho, o,<br />

o DVD “L.I.E. S<strong>em</strong> m<br />

Saí<strong>da</strong>”, de Michael ael<br />

Cuesta<br />

+8 DVD<br />

To<strong>da</strong>s as sextas,<br />

por €1,95. 20<br />

anos<br />

40 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

Pai e fi lhos <strong>em</strong> <strong>Manhattan</strong><br />

Estreiam<br />

O pai-herói<br />

É refrescante a forma de<br />

filmar a <strong>infância</strong> assim: o caos<br />

total. Luís Miguel Oliveira<br />

Vão-me Buscar Alecrim<br />

Go Get Some Ros<strong>em</strong>ary<br />

De Ben Safdie, Joshua Safdie,<br />

com Ronald Bronstein, Sean Williams,<br />

Eléonore Hendricks. M/12<br />

MMMMn<br />

Lisboa: UCI Cin<strong>em</strong>as - El Corte Inglés: Sala 14: 5ª 6ª<br />

Sábado 2ª 3ª 4ª 14h10, 16h40, 19h10, 21h45, 00h15<br />

Domingo 11h30, 14h10, 16h40, 19h10, 21h45, 00h15;<br />

No cin<strong>em</strong>a actual (americano, mas<br />

para além dele) não deve haver coisa<br />

mais estereotipa<strong>da</strong> do que o olhar<br />

sobre a <strong>infância</strong>, sobre as crianças,<br />

sobre as relações entre pais e filhos<br />

pequenos. Neste panorama, é<br />

refrescante encontrar um filme que,<br />

como “Vão-me Buscar Alecrim”, seja<br />

capaz de filmar a história<br />

(disfuncional) de um pai divorciado<br />

(um “pai solteiro”) e dos seus dois<br />

filhos desta maneira: caos total, a<br />

linha <strong>da</strong> irresponsabili<strong>da</strong>de cruza<strong>da</strong><br />

mais do que uma vez, e no entanto…<br />

E no entanto, a relação entre aqueles<br />

três exala uma autentici<strong>da</strong>de<br />

sentimental comovente, uma<br />

espécie de felici<strong>da</strong>de acossa<strong>da</strong><br />

menos pelos sucessivos desastres do<br />

que pela maneira condenatória<br />

como o mundo (os “outros”) olha<br />

para os desastres. Quer dizer, “Vãome<br />

Buscar Alecrim” é a história de<br />

um “pai-herói”, mas cuja<br />

heroici<strong>da</strong>de só é (só será, um dia)<br />

reconheci<strong>da</strong> pelos filhos. To<strong>da</strong> a<br />

gente, todos os adultos, dos<br />

professores <strong>da</strong> escola à mãe <strong>da</strong>s<br />

crianças, vê naquele hom<strong>em</strong> apenas<br />

um irresponsável eventualmente<br />

perigoso; mas aqueles dois miúdos,<br />

Sage e Frey, quando crescer<strong>em</strong>,<br />

farão muito provavelmente um filme<br />

sobre o pai (que até é projeccionista<br />

e lhes mostra filmes, <strong>em</strong> película e<br />

tudo). Assim o fizeram, pelo menos,<br />

Joshua e Benny Safdie, dois novaiorquinos<br />

de vinte e poucos anos:<br />

“Vão-me Buscar Alecrim” é a<br />

As estrelas do público<br />

homenag<strong>em</strong> autobiográfica ao pai<br />

de ambos.<br />

Pod<strong>em</strong>os acreditar facilmente nesta<br />

<strong>Manhattan</strong> de “hot-dogs” e jardins,<br />

apartamentos atravancados, tascas e<br />

lojinhas – pod<strong>em</strong>os acreditar que é<br />

nesta <strong>Manhattan</strong> que as pessoas, de<br />

facto viv<strong>em</strong>. Há uma cena <strong>em</strong> que se<br />

evoca directamente aquela célebre<br />

foto a preto-e-branco de Weegee com<br />

os miúdos a tomar<strong>em</strong> banho de<br />

mangueira na rua (a mesma foto que,<br />

no “Padrinho”, Coppola também<br />

“reconstituiu”, e pouco importa que<br />

ela tenha sido tira<strong>da</strong>, salvo erro, <strong>em</strong><br />

Brooklyn), o que faz todo o sentido<br />

porque é a “rua”, <strong>em</strong> sentido lato, que<br />

os Safdie quer<strong>em</strong> filmar. E, no<br />

entanto, reconhecendo <strong>em</strong>bora a<br />

pertinência do enquadramento de<br />

“Vão-me Buscar Alecrim” na nobre<br />

linhag<strong>em</strong> do “realismo independente<br />

nova-iorquino” (Cassavetes ‘et al’), os<br />

outros <strong>em</strong>parceiramentos que o filme<br />

dos Safdie nos sugere estão um<br />

pouco longe de <strong>Manhattan</strong>: aquele<br />

belo filme do georgiano Otar<br />

Iosseliani, “Era uma vez um Melro<br />

Cantor”, e o seu protagonista, sobrecomprometido<br />

como o pai dos<br />

Safdie, a lutar contra o t<strong>em</strong>po e<br />

contra o espaço para conseguir estar<br />

aonde t<strong>em</strong> de estar à hora a que t<strong>em</strong><br />

de estar, o seu voluntarismo e<br />

entusiasmo s<strong>em</strong>pre a jogar<strong>em</strong> contra<br />

ele; e, claro, o sítio de onde têm<br />

vindo sist<strong>em</strong>aticamente os mais<br />

espantosos e “irregulares” retratos <strong>da</strong><br />

<strong>infância</strong> e <strong>da</strong> família, o Irão: repar<strong>em</strong><br />

na maneira como os Safdie<br />

consegu<strong>em</strong> criar um sentimento de<br />

angústia profun<strong>da</strong> a partir dos mais<br />

anódinos acontecimentos<br />

domésticos e, num ápice, <strong>da</strong>r o salto<br />

para o acontecimento extraordinário<br />

e extraordinariamente angustiante<br />

(to<strong>da</strong> a sequência, s<strong>em</strong>i-absur<strong>da</strong>,<br />

com os miúdos adormecidos por um<br />

excesso de se<strong>da</strong>tivos, é “cin<strong>em</strong>a<br />

iraniano ‘made in’ Manhatan”, e não<br />

o diz<strong>em</strong>os com nenhuma espécie de<br />

provocação). Longe de <strong>Manhattan</strong>: o<br />

plano final, supra-sumo <strong>da</strong><br />

melancolia desafecta<strong>da</strong> com que os<br />

Safdie filmam esta história, sugere<br />

que talvez do outro lado do rio, não<br />

muito longe mas suficient<strong>em</strong>ente<br />

longe <strong>da</strong>li, o pai e os dois filhos<br />

encontr<strong>em</strong> o que lhes falta, o t<strong>em</strong>po<br />

e o espaço.<br />

Intriga<br />

Internacional<br />

Que espantoso “contador<br />

de histórias” permanece o<br />

cineasta Roman Polanski.<br />

Mário Jorge Torres<br />

O Escritor-Fantasma<br />

The Ghost Writer<br />

De Roman Polanski,<br />

com Ewan McGregor, Jon Bernthal,<br />

Kim Cattrall, Pierce Brosnan, Olivia<br />

Williams. M/12<br />

MMMmm<br />

Jorge<br />

Mourinha<br />

Lisboa: Cin<strong>em</strong>aCity Campo Pequeno Praça de<br />

Touros: Sala 8: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

13h55, 16h30, 19h10, 21h50, 00h30; Medeia<br />

King: Sala 3: 5ª Domingo 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h30,<br />

22h 6ª Sábado 2ª 14h30, 17h, 19h30, 22h,<br />

00h30; Medeia Monumental: Sala 4 - Cine Teatro:<br />

5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h,<br />

19h30, 22h, 00h30; UCI Cin<strong>em</strong>as - El Corte<br />

Inglés: Sala 13: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h, 16h35,<br />

19h15, 21h55, 00h30 Domingo 11h30, 14h, 16h35,<br />

19h15, 21h55, 00h30; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª<br />

6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h05,<br />

18h50, 21h40, 00h25; ZON Lusomundo Amoreiras:<br />

5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40,<br />

18h30, 21h20, 00h10; ZON Lusomundo<br />

CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

12h30, 15h15, 18h, 21h15, 00h10; ZON Lusomundo<br />

Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55,<br />

15h55, 18h50, 21h40, 00h30; ZON Lusomundo Dolce<br />

Vita Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h10,<br />

18h10, 21h10 6ª Sábado 15h10, 18h10, 21h10,<br />

00h10; ZON Lusomundo Odivelas Parque: 5ª<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h40, 21h40 6ª<br />

Sábado 13h10, 15h50, 18h40, 21h40, 00h20; ZON<br />

Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40, 18h40, 21h40,<br />

00h25; ZON Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª<br />

Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h35, 15h20,18h05,<br />

21h25, 00h10; ZON Lusomundo Vasco <strong>da</strong> Gama: 5ª<br />

6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40,<br />

18h30, 21h25, 00h15; ZON Lusomundo Alma<strong>da</strong><br />

Fórum: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h45,<br />

15h40, 18h35, 21h30, 00h25; ZON Lusomundo<br />

Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

13h10, 15h55, 18h40, 21h30, 00h20;<br />

Porto: Arrábi<strong>da</strong> 20: Sala 11: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 13h45, 16h30, 19h20, 22h10, 00h50 3ª<br />

4ª 16h30, 19h20, 22h10, 00h50; ZON Lusomundo<br />

Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

12h50, 15h40, 18h30, 21h20, 00h10; ZON<br />

Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h45, 18h40, 21h40,<br />

00h35; ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 13h50, 17h, 21h 6ª Sábado<br />

13h50, 17h, 21h, 24h; ZON Lusomundo Marshopping:<br />

5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h50,<br />

18h50, 21h50, 00h30; ZON Lusomundo<br />

NorteShopping: 5ª 6ª Sábado ado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

14h, 17h, 21h, 00h10; ZON Lusomundo usomundo Parque<br />

Nascente: 5ª 6ª Sábado Domingo omingo 2ª 3ª 4ª 13h20,<br />

16h10, 19h, 21h50, 00h40; ZON Lusomundo Fórum<br />

Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h50, 17h55, 21h20<br />

6ª Sábado 14h50, 17h55, 21h20, h20, 00h25;<br />

Roman Polanski voltou tou às<br />

primeiras páginas dos os<br />

jornais pelas piores<br />

razões e o seu nome e<br />

apareceu conotado<br />

com ultrapassados<br />

escân<strong>da</strong>los sexuais,<br />

quase fazendo tábua a<br />

rasa sobre uma obra a<br />

absolutamente<br />

coerente e importante nte<br />

sob várias perspectivas: vas:<br />

um olhar singular sobre obre<br />

o património fílmico o e<br />

literário – desde a<br />

paródia vampiresca de<br />

“Por Favor Não me<br />

Luís M.<br />

Oliveira<br />

Mário<br />

J. Torres<br />

Vasco<br />

Câmara<br />

Dia e Noite mmnnn nnnnn nnnnn mnnnn<br />

Escritor-Fantasma mmmmn nnnnn mmmmm nnnnn<br />

Louise-Michel mmmnn nnnnn mmnnn nnnnn<br />

Meu Filho, Olha o que Fizeste nnnnn nnnnn nnnnn mnnnn<br />

A Saga Twilight: Eclipse nnnnn nnnnn a nnnnn<br />

Shirin mmmmn mmmmn mmmmn mmmmm<br />

Shrek Para S<strong>em</strong>pre! mmmnn nnnnn mmnnn nnnnn<br />

A Teta Assusta<strong>da</strong> mmmmn mmnnn mmnnn nnnnn<br />

Vão-me <strong>busca</strong>r alecrim mnnnn mmmmn mmnnn mmmmm<br />

Whisky mmmnn mmmnn mmmnn nnnnn<br />

Mor<strong>da</strong>m o Pescoço” (1967) ou o<br />

revisionismo algo deslocado de<br />

“Piratas” (1986), até às curiosas e<br />

mais ou menos heterodoxas<br />

a<strong>da</strong>ptações de “Macbeth” (1971),<br />

“Tess” (1979) ou ao falhado “Oliver<br />

Twist” (2005). No entanto, o que nos<br />

interessa, aqui e agora, passa pela sua<br />

relação persistente com o “thriller”,<br />

com os vestígios revisitados do “film<br />

noir”, com o terror psicológico<br />

progressivamente interiorizado: <strong>da</strong>s<br />

fantasias terríficas de “Repulsa”<br />

(1965), dos diabolismos complexos de<br />

“A S<strong>em</strong>ente do Diabo” (1968) ou <strong>da</strong>s<br />

paranóias visionárias de “O<br />

Inquilino” (1976), até ao “neo-noir”<br />

de “Chinatown” (1974) ou ao virtuoso<br />

grafismo “hitchcockiano” de<br />

“Frenético” (1988), decorre todo um<br />

percurso de exploração sist<strong>em</strong>ática<br />

dos mecanismos do mistério <strong>em</strong><br />

imagens, filmando s<strong>em</strong>pre muito<br />

b<strong>em</strong>, com enorme rigor e um sentido<br />

perfeito do plano e <strong>da</strong> relevância <strong>da</strong><br />

montag<strong>em</strong>.<br />

“Escritor-Fantasma” encaixa nesta<br />

pessoal preocupação com os<br />

detalhes, com o encadeamento<br />

maníaco dos indícios, s<strong>em</strong> nunca<br />

descurar aquilo que constitui uma<br />

<strong>da</strong>s suas imagens de marca, desde os<br />

t<strong>em</strong>pos precursores do seu mais<br />

conhecido filme polaco, “Uma Faca<br />

na Água” (1962), um estudo<br />

angustiante dos diversos estádios <strong>da</strong><br />

claustrofobia: um escritor com pouco<br />

talento (um Ewan McGregor <strong>em</strong><br />

grande forma) vê-se contratado para<br />

<strong>da</strong>r consistência literária e narrativa<br />

às m<strong>em</strong>órias pessoais e políticas de<br />

um ex-primeiro ministro britânico<br />

(Pierce Brosnan, <strong>em</strong> registo quase<br />

caricatural, numa <strong>em</strong>ulação evidente<br />

de Tony Blair, reforça<strong>da</strong> pela<br />

aparição de uma espécie de “duplo”<br />

de Condoleeza Rice), envolvido num<br />

escân<strong>da</strong>lo de tortura (a invasão do<br />

Iraque e r<strong>em</strong>issões subliminares para<br />

a história recente, <strong>em</strong> pano de<br />

fundo). Importante é o facto de<br />

substituir um seu predecessor<br />

(ausente <strong>da</strong> narrativa, mas<br />

omnipresente nos fatos pendurados<br />

no armário ou nas fotos que<br />

recolheu, como o fictício<br />

agente ag a ente de “Intriga<br />

Internacional” de<br />

Hitchcock), Hi H tchcock), que<br />

aparent<strong>em</strong>ente<br />

se suici<strong>da</strong>ra no<br />

mar, ao<br />

desaparecer de<br />

dentro de um carro<br />

encontrado vazio, logo<br />

nos primeiros planos do<br />

filme, filme, a bordo de um “ferry”<br />

que fazia a travessia do<br />

continente americano para para<br />

uma não identifica<strong>da</strong> ilha,<br />

com contornos ficcionais de<br />

Ewan McGregor Martha’s<br />

<strong>em</strong> grande forma<br />

Vineyard,<br />

<strong>em</strong>bora filma<strong>da</strong><br />

por razões logísticas


algures ao largo <strong>da</strong> costa al<strong>em</strong>ã.<br />

E é neste contexto fantasmático<br />

que o filme nos agarra e nos<br />

<strong>em</strong>ociona, criando uma tensão<br />

crescente, um delírio imagético que<br />

nunca cede à facili<strong>da</strong>de ou à<br />

d<strong>em</strong>agogia: de pista <strong>em</strong> pista, de<br />

personag<strong>em</strong> <strong>em</strong> personag<strong>em</strong>, t<strong>em</strong>os<br />

um retrato de corpo inteiro <strong>da</strong><br />

paranóia (s<strong>em</strong>pre a paranóia) que<br />

leva o protagonista a reconstituir o<br />

“lugar do crime”, mais interessado<br />

nos fios <strong>da</strong> trama ficcional (que<br />

espantoso “contador de histórias”<br />

permanece Polanski) do que na rede<br />

infinita de armadilhas politicamente<br />

discerníveis. Fechado numa casa,<br />

dentro de uma ilha, dentro <strong>da</strong>s suas<br />

próprias perplexi<strong>da</strong>des, o escritor<br />

afronta todos os fantasmas com a<br />

curiosi<strong>da</strong>de de uma criança que abre<br />

os brinquedos para descobrir o que<br />

contêm no interior. Esta letal<br />

inocência confere ao labirinto de<br />

referências uma vertig<strong>em</strong><br />

inimaginável (veja-se a prodigiosa<br />

viag<strong>em</strong> à casa do agente <strong>da</strong> CIA,<br />

guia<strong>da</strong> pela voz, também ela<br />

fantasmática, de um GPS<br />

programado, transformado <strong>em</strong><br />

instrumento de um destino<br />

inevitável), um crescendo dramático<br />

<strong>em</strong> que ca<strong>da</strong> imag<strong>em</strong> faz tanto<br />

sentido, quando a cifra<strong>da</strong> leitura<br />

anagramática do texto <strong>da</strong>s m<strong>em</strong>órias.<br />

Mas, como no melhor Hitchcock,<br />

tudo funciona como um pretexto,<br />

como um McGuffin, tendente a fazer<br />

do percurso e do ritmo o melhor <strong>da</strong><br />

d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>.<br />

Claro que haverá qu<strong>em</strong> aproveite a<br />

exteriori<strong>da</strong>de do virtuosístico<br />

argumento (a meias entre Polanski e<br />

o autor do romance original, Robert<br />

Harris) para falar de autobiográfico<br />

ajuste de contas com os tentaculares<br />

poderes americanos de que foi<br />

“vítima”, sublinhando as<br />

coincidências do exílio forçado e as<br />

manobras intimi<strong>da</strong>tórias, mas o<br />

essencial passa por ideias de cin<strong>em</strong>a<br />

puro: o gélido ambiente <strong>da</strong> casa<br />

modernista, a recor<strong>da</strong>r<br />

imaginativamente (e s<strong>em</strong> cópias<br />

simplistas) a de James Mason, <strong>em</strong><br />

“Intriga Internacional”; as cinzentas<br />

brumas <strong>da</strong> ilha; as mensagens<br />

escritas que passam de mão <strong>em</strong> mão;<br />

o encontro, também ele<br />

“hitchcockiano”, com uma figura<br />

que parece não fazer parte <strong>da</strong><br />

história (inesquecível “cameo” do<br />

grande Eli Wallach); a perturbante<br />

presença do f<strong>em</strong>inino mortalmente<br />

carnívoro, <strong>da</strong>ndo a Olívia Williams, a<br />

mulher do ministro, uma densi<strong>da</strong>de<br />

inespera<strong>da</strong>. Tudo no seu lugar, como<br />

um “puzzle” gigantesco que se<br />

desenrola com a perfeição dos<br />

grandes divertimentos fílmicos do<br />

passado.<br />

Que prazer se torna viver, durante<br />

duas horas, dentro de uma redoma<br />

cin<strong>em</strong>atográfica, <strong>em</strong> que as<br />

coincidências com o contexto político<br />

exterior apenas acentuam o<br />

fingimento sist<strong>em</strong>ático <strong>da</strong>s formas<br />

fugidias e mutáveis!<br />

aMaumMedíocr<strong>em</strong>mRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente<br />

Duas horas<br />

alucina<strong>da</strong>mente<br />

burras<br />

James Mangold t<strong>em</strong> a<br />

cabeça no sítio certo mas<br />

não t<strong>em</strong> tarimba para que o<br />

espectador esqueça que o<br />

que está a ver não t<strong>em</strong> ponta<br />

por onde se lhe pegue. Jorge<br />

Mourinha<br />

Dia e Noite<br />

Knight and Day<br />

De James Mangold,<br />

com Tom Cruise, Cameron Diaz, Peter<br />

Sarsgaard, Viola Davis. M/12<br />

MMnnn<br />

Lisboa: Atlânti<strong>da</strong>-Cine: Sala 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª<br />

15h30, 21h30 Sábado Domingo 15h30, 18h15,<br />

21h30; Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 1: 5ª 2ª<br />

3ª 4ª 15h40, 18h30, 21h40 6ª 15h40, 18h30, 21h40,<br />

24h Sábado 13h10, 15h40, 18h30, 21h40, 24h<br />

Domingo 13h10, 15h40, 18h30, 21h40; Castello Lopes<br />

- Loures Shopping: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo<br />

2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h30, 21h25, 24h; Cin<strong>em</strong>aCity<br />

Alegro Alfragide: Cin<strong>em</strong>ax: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h45,<br />

15h55, 18h20, 21h50, 24h Sábado Domingo 11h35,<br />

13h45, 15h55, 18h20, 21h50, 24h; Cin<strong>em</strong>aCity<br />

Beloura Shopping: Cin<strong>em</strong>ax: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h40, 18h20, 21h30,<br />

23h40; Cin<strong>em</strong>aCity Campo Pequeno Praça de<br />

Touros: Sala 2: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h40, 15h50,<br />

18h35, 21h40, 23h55 Sábado Domingo 11h30, 13h40,<br />

15h50, 18h35, 21h40, 23h55; Medeia Sal<strong>da</strong>nha<br />

Residence: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª<br />

4ª 14h30, 17h, 19h30, 22h, 00h30; UCI Cin<strong>em</strong>as - El<br />

Corte Inglés: Sala 9: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h10,<br />

16h45, 19h15, 21h45, 00h15 Domingo 11h30, 14h10,<br />

16h45, 19h15, 21h45, 00h15; UCI Dolce Vita<br />

Tejo: Sala 10: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h45,<br />

19h15, 21h45 6ª Sábado 14h15, 16h45, 19h15, 21h45,<br />

00h15; ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h20, 19h, 21h30,<br />

24h; ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h50, 18h40, 21h30,<br />

24h; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª<br />

Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h40,18h15,<br />

21h20, 23h50; ZON Lusomundo Colombo: 5ª 6ª<br />

Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h10, 18h45,<br />

21h25, 00h15; ZON Lusomundo Dolce Vita<br />

Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h30, 18h30,<br />

21h30 6ª Sábado 15h30, 18h30, 21h30, 00h30; ZON<br />

Lusomundo Odivelas Parque: 5ª Domingo 2ª 3ª<br />

4ª 13h, 15h30, 18h10, 21h20 6ª Sábado 13h, 15h30,<br />

18h10, 21h20, 23h50; ZON Lusomundo Oeiras<br />

Parque: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10,<br />

15h45, 18h25, 21h15, 24h; ZON Lusomundo Torres<br />

Vedras: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30,<br />

16h05,18h40, 21h40, 00h20 ; ZON Lusomundo<br />

Vasco <strong>da</strong> Gama: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

12h55, 15h30, 18h15, 21h40, 00h25; Castello Lopes -<br />

C. C. Jumbo: Sala 3: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20,<br />

16h, 18h30, 21h30 30 6ª Sábado 13h20, 16h, 18h30,<br />

21h30, 00h20; Castello Lopes - Fórum Barreiro: Sala<br />

4: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h30, 18h30,<br />

21h30 6ª Sábado do 12h40, 15h30, 18h30, 21h30,<br />

24h; Castello Lopes pes - Rio Sul Shopping: Sala 1: 5ª<br />

6ª Sábado Domingo mingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h50,<br />

18h50, 21h40, 24h; 4h; UCI Freeport: Sala 1: 5ª<br />

2ª 3ª 4ª 15h40, , 18h40, 21h20 6ª<br />

15h40, 18h40, 21h20, 1h20, 23h40<br />

Sábado 13h30, 15h40, 5h40, 0,<br />

18h40, 21h20,<br />

23h40<br />

Domingo<br />

13h30, 15h40,<br />

18h40, 21h20; ZON ON<br />

Lusomundo Alma<strong>da</strong> ma<strong>da</strong> Fórum:<br />

5ª 6ª Sábado Domingo<br />

2ª 3ª 4ª 13h, 15h45, 5h45,<br />

18h35, 21h20, 24h; 4h; ZON<br />

Lusomundo Fórum um<br />

Montijo: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

13h15, 15h50, 18h20, h20,<br />

21h20, 24h;<br />

Porto: Arrábi<strong>da</strong><br />

Cameron Diaz,<br />

uma presença<br />

luminosa, ao pé<br />

de Tom Cruise,<br />

s<strong>em</strong>pre igual a si<br />

próprio<br />

<strong>Em</strong> “Shrek Para S<strong>em</strong>pre” mantém-se a impecável quali<strong>da</strong>de técnica<br />

20: Sala 16: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h05,<br />

16h40, 19h20, 22h, 00h35 3ª 4ª 16h40, 19h20, 22h,<br />

00h35; Cin<strong>em</strong>ax - Penafiel: Sala 2: 5ª 2ª 3ª 4ª<br />

15h30, 21h50 6ª 15h30, 21h50, 24h Sábado 15h,<br />

17h30, 21h50, 24h Domingo 15h, 17h30,<br />

21h50; Vivacine - Maia: Sala 3: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h, 18h50, 21h30,<br />

00h05; ZON Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª<br />

Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h15, 18h50,<br />

21h50, 00h25; ZON Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 15h40, 18h40, 21h30 6ª Sábado<br />

15h40, 18h40, 21h30, 24h; ZON Lusomundo<br />

GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

13h30, 16h30, 19h, 21h55, 00h25; ZON Lusomundo<br />

MaiaShopping: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20,<br />

16h10, 18h50, 21h35 6ª Sábado 13h20, 16h10, 18h50,<br />

21h35, 00h15; ZON Lusomundo Marshopping: 5ª<br />

6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h30,<br />

21h30, 00h15; ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª<br />

6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 16h, 19h, 22h,<br />

00h40; ZON Lusomundo Parque Nascente: 5ª 6ª<br />

Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h40,<br />

21h40, 00h20; Castello Lopes - 8ª Aveni<strong>da</strong>: Sala 2:<br />

5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h20, 18h40, 21h40<br />

6ª Sábado 13h10, 15h20, 18h40, 21h40, 00h10; ZON<br />

Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

13h, 15h45, 18h40, 21h30 6ª Sábado 13h, 15h45,<br />

18h40, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Glicínias:<br />

5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h30,<br />

19h10, 21h55, 00h40;<br />

Que grande filme que, noutras mãos,<br />

“Dia e Noite” podia ter sido. A<br />

história de um super-espião que<br />

arrasta para uma aventura<br />

caleidoscópica e muito confusa uma<br />

incauta restauradora de motores é a<br />

mais perfeita encarnação do<br />

“macguffin” Hitchcockiano desde o<br />

imortal “Intriga Internacional”<br />

(1959): isto é, o objecto que é<br />

nominalmente o motor que põe a<br />

intriga <strong>em</strong> movimento (uma suposta<br />

pilha revolucionária) não t<strong>em</strong><br />

absolutamente importância<br />

nenhuma. O que interessa é o modo<br />

como esse “macguffin” possibilita, ao<br />

mesmo t<strong>em</strong>po, uma nostalgia<br />

positiva <strong>da</strong> comédia de espionag<strong>em</strong><br />

dos anos 1960, a destruição<br />

sist<strong>em</strong>ática <strong>da</strong> sua lógica interna e a<br />

sua reconstrução a partir de dentro<br />

como uma espécie de “screwball<br />

comedy” arraça<strong>da</strong> de desenho<br />

animado — e Cameron Diaz, com a<br />

sua presença luminosa, é a actriz<br />

ideal para encarnar essa “décalage”<br />

entre o humor e a acção. O probl<strong>em</strong>a<br />

é que o muito estimável James<br />

Mangold, que se está a tornar num<br />

muito interessante herdeiro dos<br />

velhos funcionários de Hollywood<br />

(confirme-se <strong>em</strong> “Walk the Line”,<br />

2005, e “O Comboio <strong>da</strong>s 3.10”, 2007),<br />

t<strong>em</strong> a cabeça no sítio certo mas não<br />

t<strong>em</strong> ain<strong>da</strong> a tarimba que lhe permita<br />

conseguir que o espectador se<br />

esqueça de que o que<br />

está a ver não t<strong>em</strong><br />

(n<strong>em</strong> é suposto su ter)<br />

ponta por po onde se lhe<br />

pegue. O resultado é<br />

um “blockbuster”<br />

“b<br />

cuja aposta na<br />

irrisão ir e cujo<br />

tom<br />

descontraído<br />

e<br />

despretensioso<br />

d<br />

são sabotados a<br />

ca<strong>da</strong> cad passo pela<br />

sua pprópria<br />

incapaci<strong>da</strong>de de levar até<br />

às últimas consequências con<br />

a<br />

desconstrução. desconstruçã E,<br />

sobretudo, é um filme<br />

sabotado pela presença <strong>da</strong> sua vedeta<br />

nominal, um Tom Cruise que, por<br />

mais que tente, não é capaz de se<br />

libertar <strong>da</strong> sua intensi<strong>da</strong>de habitual,<br />

mesmo estando supostamente a<br />

brincar com a sua própria imag<strong>em</strong> de<br />

marca, n<strong>em</strong> de invocar o charme<br />

“blasé” que um papel destes implica.<br />

Desde que não se lhe peça na<strong>da</strong> mais<br />

do que duas horas alucina<strong>da</strong>mente<br />

burras, “Dia e Noite” é o<br />

divertimento de Verão ideal.<br />

Continuam<br />

Shrek Para S<strong>em</strong>pre<br />

Shrek Forever After<br />

De Mike Mitchell,<br />

com Mike Myers (Voz), Eddie Murphy<br />

(Voz), Cameron Diaz (Voz), Antonio<br />

Banderas (Voz). M/6<br />

MMnnn<br />

Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 5: 5ª 2ª<br />

3ª 4ª 14h50, 17h, 19h10, 21h10 (V.Port.) 6ª 14h50,<br />

17h, 19h10, 21h10, 23h40 (V.Port.) Sábado 12h40,<br />

14h50, 17h, 19h10, 21h10, 23h40 (V.Port.) Domingo<br />

12h40, 14h50, 17h, 19h10, 21h10 (V.Port.); Castello<br />

Lopes - Londres: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h,<br />

16h30, 19h, 21h30 (V.Port./3D) 6ª Sábado 14h, 16h30,<br />

19h, 21h30, 24h (V.Port./3D); Castello Lopes - Loures<br />

Shopping: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

13h, 15h, 17h, 19h, 21h, 23h30 (V.Port.); Castello Lopes<br />

- Loures Shopping: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Domingo<br />

2ª 3ª 4ª 13h15, 15h20, 17h25, 19h30, 21h35, 23h45<br />

(V.Port./3D); Cin<strong>em</strong>aCity Alegro Alfragide: Sala 3: 5ª<br />

6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 15h45 (V.<br />

Port./3D); Cin<strong>em</strong>aCity Alegro Alfragide: Sala 4: 5ª<br />

6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h30, 23h40 (V.<br />

CONCURSO<br />

JOVENS JOVENNS CRIADORES CRIADORE<br />

2010<br />

.ARTES ARTES A PLÁSTICAS. PLÁSTT<br />

.BANDA BANDA<br />

DESENHADA. DESENNH<br />

.ILUSTRAÇÃO. ÇÃO.<br />

.ARTES . ARTES DIGITAIS. DIGIT<br />

.FOTOGRAFIA. FI F<br />

.VÍDEO. O.<br />

.DANÇA. DANÇA Ç<br />

TEATRO<br />

.MÚSICA. A<br />

.DESIGN SIGN<br />

DE EQUIPAMENTO.<br />

EQUIP<br />

.DESIGN DESIGN GRÁFICO. GRÁF<br />

.JOALHARIA. RIA<br />

.MODA.<br />

.LITERATURA. UR<br />

<br />

INSCRIÇÕES S AATÉ<br />

26 DE JULHO LH<br />

REGULAMENTOS EM<br />

ARTESIDEIAS.COM<br />

JUVENTUDE.GOV.PT<br />

Port./3D); Cin<strong>em</strong>aCity Alegro Alfragide: Sala 2: 5ª<br />

6ª 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h30, 17h30, 19h30, 21h55,<br />

23h55 (V.Port./3D) Sábado Domingo 11h30, 13h30,<br />

15h30, 17h30, 19h30, 21h55, 23h55 (V.<br />

Port./3D); Cin<strong>em</strong>aCity Beloura Shopping: Sala 2: 5ª<br />

6ª 2ª 3ª 4ª 13h45, 15h50, 17h50, 19h50, 21h50,<br />

23h55 (V.Port./3D) Sábado Domingo 11h30, 13h45,<br />

15h50, 17h50, 19h50, 21h50, 23h55 (V.<br />

Port./3D); Cin<strong>em</strong>aCity Campo Pequeno Praça de<br />

Touros: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

16h (V.Port./3D); Cin<strong>em</strong>aCity Campo Pequeno Praça<br />

de Touros: Sala 3: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 13h35, 15h35,<br />

17h35, 19h35, 21h35, 24h (V.Port./3D) Sábado<br />

Domingo 11h35, 13h35, 15h35, 17h35, 19h35, 21h35,<br />

24h (V.Port./3D); Medeia Fonte Nova: Sala 1: 5ª 6ª<br />

Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h15, 18h10,<br />

20h05, 22h (V.Port.); Medeia Sal<strong>da</strong>nha<br />

Residence: Sala 5: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

13h50, 15h50, 17h50, 19h50, 21h50, 00h20 (3D); UCI<br />

Cin<strong>em</strong>as - El Corte Inglés: Sala 12: 5ª 6ª Sábado 2ª<br />

3ª 4ª 14h10, 16h30, 18h55, 21h45, 00h10 Domingo<br />

11h30, 14h10, 16h30, 18h55, 21h45, 00h10; UCI<br />

Cin<strong>em</strong>as - El Corte Inglés: Sala 6: 5ª 6ª Sábado 2ª<br />

14h05, 16h15, 18h40, 21h30, 23h50 (V.Port./3D)<br />

Domingo 11h30, 14h05, 16h15, 18h40, 21h30, 23h50<br />

(V.Port./3D) 3ª 4ª 14h05, 16h15, 18h40, 23h50 (V.<br />

Port./3D); UCI Dolce Vita Tejo: Sala 2: 5ª 2ª 3ª 4ª<br />

13h45, 16h, 18h15, 21h15 (V.Port./3D) 6ª Sábado<br />

13h45, 16h, 18h15, 21h15, 23h30 (V.Port./3D) Domingo<br />

11h30, 13h45, 16h, 18h15, 21h15 (V.Port./3D); UCI Dolce<br />

Vita Tejo: Sala 3: 5ª 2ª 3ª 4ª 14h, 16h15, 18h45,<br />

21h50 (3D) 6ª Sábado 14h, 16h15, 18h45, 21h50,<br />

00h10 (3D) Domingo 11h30, 14h, 16h15, 18h45, 21h50<br />

(3D); ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª<br />

13h50, 16h, 18h10, 21h, 23h50 (V.Port.) Sábado<br />

Domingo 11h15, 13h50, 16h, 18h10, 21h, 23h50 (V.<br />

Port.); ZON Lusomundo Alvaláxia: 5ª 13h20, 14h10,<br />

15h30, 16h30, 18h40, 21h20, 22h, 23h30, 00h10 (V.<br />

Port./3D) 6ª 2ª 3ª 4ª 13h20, 14h10, 15h30, 16h30,<br />

17h40, 18h40, 19h50, 21h20, 22h, 23h30, 00h10 (V.<br />

Port./3D) Sábado Domingo 11h, 13h20, 14h10, 15h30,<br />

16h30, 17h40, 18h40, 19h50, 21h20, 22h, 23h30,<br />

00h10 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª<br />

6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 17h, 19h20,<br />

22h, 00h15 (3D); ZON Lusomundo Amoreiras: 5ª 6ª<br />

Sábado 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h50, 21h, 23h20 (V.<br />

Port./3D) Domingo 11h, 13h30, 16h, 18h50, 21h, 23h20<br />

(V.Port./3D); ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª<br />

6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h10,<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 41


Cin<strong>em</strong>a<br />

17h25, 19h40, 22h, 00h15 (3D); ZON Lusomundo<br />

CascaiShopping: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h20,<br />

16h, 18h30, 21h, 23h30 (V.Port./3D) Domingo 11h,<br />

13h20, 16h, 18h30, 21h, 23h30 (V.Port./3D); ZON<br />

Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª<br />

3ª 4ª 12h45, 15h15, 17h35, 21h50, 00h10 (3D); ZON<br />

Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª<br />

13h30, 16h, 18h20, 21h10, 23h30 (V.Port./3D)<br />

Domingo 11h, 13h30, 16h, 18h20, 21h10, 23h30 (V.<br />

Port./3D); ZON Lusomundo Dolce Vita Miraflores: 5ª<br />

2ª 3ª 4ª 15h20, 17h30, 19h40, 21h50 (V.Port./3D) 6ª<br />

Sábado 15h20, 17h30, 19h40, 21h50, 23h50 (V.<br />

Port./3D) Domingo 11h, 15h20, 17h30, 19h40, 21h50<br />

(V.Port./3D); ZON Lusomundo Odivelas Parque: 5ª<br />

2ª 3ª 4ª 13h, 13h30, 15h, 16h, 17h15, 18h20, 19h30,<br />

21h, 21h50 (V.Port./3D) 6ª 13h, 13h30, 15h, 16h, 17h15,<br />

18h20, 19h30, 21h, 21h50, 23h30, 24h (V.Port./3D)<br />

Sábado 11h, 13h, 13h30, 15h, 16h, 17h15, 18h20, 19h30,<br />

21h, 21h50, 23h30, 24h (V.Port./3D) Domingo 11h,<br />

13h, 13h30, 15h, 16h, 17h15, 18h20, 19h30, 21h, 21h50<br />

(V.Port./3D); ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª<br />

Sábado 2ª 3ª 4ª 13h, 14h, 15h10, 16h20, 17h30,<br />

18h45, 19h50, 21h10, 22h10, 23h40 (3D) Domingo<br />

10h45, 11h15, 13h, 14h, 15h10, 16h20, 17h30, 18h45,<br />

19h50, 21h10, 22h10, 23h40 (3D); ZON Lusomundo<br />

Torres Vedras: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h15, 15h50,<br />

18h10, 21h, 23h30 (V.Port./3D) Domingo 11h, 13h15,<br />

15h50, 18h10, 21h, 23h30 (V.Port./3D); ZON<br />

Lusomundo Vasco <strong>da</strong> Gama: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 16h, 18h50, 21h10, 23h50<br />

(3D); ZON Lusomundo Vasco <strong>da</strong> Gama: 5ª 6ª 2ª 3ª<br />

4ª 13h10, 15h20, 17h35, 19h45, 21h50, 24h (V.<br />

Port./3D) Sábado Domingo 11h, 13h10, 15h20, 17h35,<br />

19h45, 21h50, 24h (V.Port./3D); Auditório<br />

Charlot: Sala 1: 5ª 6ª 2ª 3ª 4ª 21h30 (V.Port.)<br />

Sábado Domingo 16h, 21h30 (V.Port.); Castello Lopes<br />

- C. C. Jumbo: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 13h,<br />

15h10, 17h20, 19h30, 21h40 (V.Port./3D) 6ª Sábado<br />

13h, 15h10, 17h20, 19h30, 21h40, 23h50 (V.<br />

Port./3D); Castello Lopes - Fórum Barreiro: Sala 1: 5ª<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h10, 17h20, 19h30,<br />

21h40 (V.Port./3D) 6ª Sábado 12h50, 15h10, 17h20,<br />

19h30, 21h40, 23h40 (V.Port./3D); Castello Lopes -<br />

Rio Sul Shopping: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo<br />

2ª 3ª 4ª 13h, 15h10, 17h20, 19h20, 21h20, 23h40 (V.<br />

Port./3D); UCI Freeport: Sala 5: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30,<br />

18h10, 21h10 (V.Port.) 6ª 15h30, 18h10, 21h10, 23h15<br />

(V.Port.) Sábado 13h15, 15h30, 18h10, 21h10, 23h15 (V.<br />

Port.) Domingo 13h15, 15h30, 18h10, 21h10 (V.<br />

Port.); ZON Lusomundo Alma<strong>da</strong> Fórum: 5ª 6ª<br />

Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h55, 15h05, 17h15,<br />

19h20, 21h50, 00h15 (3D); ZON Lusomundo Alma<strong>da</strong><br />

Fórum: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 13h05, 15h15, 17h25,<br />

19h35, 21h40, 23h55 (V.Port.) Domingo 11h, 13h05,<br />

15h15, 17h25, 19h35, 21h40, 23h55 (V.Port.); ZON<br />

Lusomundo Alma<strong>da</strong> Fórum: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª<br />

4ª 13h20, 15h30, 18h15, 21h, 23h25 (V.Port./3D)<br />

Domingo 11h, 13h20, 15h30, 18h15, 21h, 23h25 (V.<br />

Port./3D); ZON Lusomundo Fórum Montijo: 5ª 6ª<br />

Sábado 2ª 3ª 4ª 13h, 13h30, 15h30, 17h, 18h30,<br />

19h20, 21h, 21h40, 23h30, 00h05 (V.Port./3D)<br />

Domingo 11h, 13h, 13h30, 15h30, 17h, 18h30, 19h20,<br />

21h, 21h40, 23h30, 00h05 (V.Port./3D);<br />

Porto: Arrábi<strong>da</strong> 20: Sala 15: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 14h, 16h30, 18h55 (V.Port./3D), 21h35,<br />

00h20 3ª 4ª 16h30, 18h55 (V.Port./3D),<br />

00h20; Arrábi<strong>da</strong> 20: Sala 20: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 14h15, 16h50, 19h25, 22h10, 00h45 3ª<br />

4ª 16h50, 19h25, 22h10, 00h45; Arrábi<strong>da</strong> 20: Sala 1:<br />

5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 14h30, 17h, 19h25,<br />

21h45, 00h10 (V.Port./3D) 3ª 4ª 17h, 19h25, 21h45,<br />

00h10 (V.Port./3D); Cin<strong>em</strong>ax - Penafiel: Sala 1: 5ª<br />

2ª 3ª 4ª 15h30, 21h55 (V.Port.) 6ª 15h30, 21h55,<br />

23h55 (V.Port.) Sábado 15h, 17h30, 21h55, 23h55 (V.<br />

Port.) Domingo 15h, 17h30, 21h55 (V.<br />

Port.); Nun`Álvares: Sala 1: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 14h30, 16h30, 19h30 (V.<br />

Port./3D); Vivacine - Maia: Sala 1: 5ª 6ª Sábado 2ª<br />

3ª 4ª 13h40, 16h10, 18h40, 21h10, 23h30 (V.<br />

Port./3D) Domingo 11h10, 13h40, 16h10, 18h40,<br />

21h10, 23h30 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Dolce<br />

Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 14h,<br />

16h30, 19h, 21h40, 24h (V.Port./3D); ZON<br />

Lusomundo Dolce Vita Porto: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª<br />

4ª 13h30, 16h, 18h20, 21h10, 23h40 (V.Port./3D)<br />

Domingo 11h, 13h30, 16h, 18h20, 21h10, 23h40<br />

(V.Port./3D); ZON Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª 2ª<br />

3ª 4ª 15h, 17h20, 19h40, 22h (V.Port./3D 6ª Sábado<br />

15h, 17h20, 19h40, 22h, 00h20 (V.Port./3D Domingo<br />

11h, 15h, 17h20, 19h40, 22h (V.Port./3D; ZON<br />

Lusomundo Ferrara Plaza: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h50,<br />

18h10, 21h20 (V.Port./3D) 6ª Sábado 15h50, 18h10,<br />

21h20, 23h50 (V.Port./3D) Domingo 13h10, 15h50,<br />

18h10, 21h20 (V.Port./3D); ZON Lusomundo<br />

GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

12h50, 13h20, 15h, 15h50, 17h20, 18h20, 19h40, 21h,<br />

21h50, 23h30, 24h (V.Port./3D); ZON Lusomundo<br />

MaiaShopping: 5ª 2ª 3ª 4ª 13h15, 16h, 18h30,<br />

21h15 (V.Port./3D) 6ª Sábado 13h15, 16h, 18h30,<br />

21h15, 23h45 (V.Port./3D) Domingo 10h45, 13h15,<br />

16h, 18h30, 21h15 (V.Port./3D); ZON Lusomundo<br />

MaiaShopping: 5ª 2ª 3ª 4ª 14h, 16h45, 19h15, 22h<br />

(V.Port./3D) 6ª Sábado 14h, 16h45, 19h15, 22h,<br />

00h30 (V.Port./3D) Domingo 11h15, 14h, 16h45,<br />

42 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

aMaumMedíocr<strong>em</strong>mRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente<br />

A química entre o par amoroso<br />

de “Eclipse” funciona ca<strong>da</strong> vez menos<br />

19h15, 22h, 00h30 (V.<br />

Port./3D); ZON Lusomundo<br />

Marshopping: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10,<br />

15h30, 17h50, 20h10, 22h30,<br />

00h40; ZON Lusomundo<br />

Marshopping: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª<br />

4ª 13h40, 16h10, 18h40, 21h20, 23h50 (V.<br />

Port./3D) Domingo 11h, 13h40, 16h10, 18h40, 21h20,<br />

23h50 (V.Port./3D); ZON Lusomundo<br />

NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

10h20, 12h30, 14h50, 17h20, 19h50, 22h10, 00h30<br />

(V.Port./3D); ZON Lusomundo NorteShopping: 5ª<br />

6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h30, 15h50, 18h30,<br />

21h30, 24h (3D); ZON Lusomundo Parque Nascente:<br />

5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 12h40, 12h50, 13h30, 15h,<br />

15h20, 15h50, 17h30, 18h, 18h30, 19h50, 21h, 21h20,<br />

22h10, 23h20, 23h50, 00h25 (V.Port./3D) Domingo<br />

10h30, 10h40, 10h50, 12h40, 12h50, 13h30, 15h,<br />

15h20, 15h50, 17h30, 18h, 18h30, 19h50, 21h, 21h20,<br />

22h10, 23h20, 23h50, 00h25 (V.Port./3D); Castello<br />

Lopes - 8ª Aveni<strong>da</strong>: Sala 1: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

12h45, 15h, 17h10, 19h20, 21h20 (V.Port./3D) 6ª<br />

Sábado 12h45, 15h, 17h10, 19h20, 21h20, 23h30<br />

(V.Port./3D); ZON Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h50, 19h25, 22h (V.<br />

Port./3D) 6ª Sábado 14h15, 16h50, 19h25, 22h,<br />

00h35 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Fórum Aveiro:<br />

5ª 2ª 3ª 4ª 13h20, 15h55, 18h30, 21h10 (V.Port./3D)<br />

6ª Sábado 13h20, 15h55, 18h30, 21h10, 23h45 (V.<br />

Port./3D) Domingo 10h50, 13h20, 15h55, 18h30,<br />

21h10 (V.Port./3D); ZON Lusomundo Glicínias: 5ª<br />

6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h45, 16h20, 18h55,<br />

21h30, 00h05 (V.Port./3D); ZON Lusomundo<br />

Glicínias: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h20, 16h55,<br />

19h30, 22h, 00h35 (V.Port./3D) Domingo 11h, 14h20,<br />

16h55, 19h30, 22h, 00h35 (V.Port./3D);<br />

“Schrek para S<strong>em</strong>pre” permanece<br />

fiel à lógica dos filmes anteriores <strong>da</strong><br />

série: sólido, divertido, aspirando a<br />

cumprir as suas funções de atrair o<br />

público infantil, s<strong>em</strong> descurar nunca<br />

uma piscadela de olho aos adultos,<br />

acompanhantes ou não de crianças<br />

fãs do ogre verde. Perdeu-se a magia<br />

<strong>da</strong> surpresa inicial, mas mantém-se a<br />

impecável quali<strong>da</strong>de técnica, ao<br />

serviço de um argumento algo<br />

previsível. O acrescento do inevitável<br />

3 D (que é o que está a <strong>da</strong>r) pouco<br />

traz de particularmente excitante. No<br />

entanto, tudo b<strong>em</strong>, “Shrek” fica na<br />

história <strong>da</strong> animação como um<br />

marco importante. Só que, depois de<br />

vermos “Toy Story 3”, entend<strong>em</strong>os a<br />

diferença entre o virtuosismo e o<br />

cin<strong>em</strong>a com ideias lá dentro. M. J. T.<br />

A Saga Twilight: Eclipse<br />

The Twilight Saga: Eclipse<br />

De David Slade,<br />

com Kristen Stewart, Robert<br />

Pattinson, Taylor Lautner. M/12<br />

a<br />

Lisboa: Castello Lopes - Cascais Villa: Sala 4: 5ª 2ª<br />

3ª 4ª 15h50, 18h40, 21h30 6ª 15h50, 18h40, 21h30,<br />

00h10 Sábado 13h, 15h50, 18h40, 21h30, 00h10<br />

Domingo 13h, 15h50, 18h40, 21h30; Castello Lopes -<br />

Londres: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 16h45,<br />

19h15, 21h45 6ª Sábado 14h15, 16h45, 19h15, 21h45,<br />

00h15; Castello Lopes - Loures Shopping: Sala 1: 5ª<br />

6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h20, 16h20, 18h50,<br />

21h40, 00h15; Cin<strong>em</strong>aCity Alegro Alfragide: Sala 5:<br />

5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h35, 16h10,<br />

18h45, 21h45, 00h20; Cin<strong>em</strong>aCity Alegro<br />

Alfragide: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

22h; Cin<strong>em</strong>aCity Beloura Shopping: Sala 4: 5ª 6ª<br />

Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h40, 16h15, 18h55,<br />

21h40, 00h15; Cin<strong>em</strong>aCity Campo Pequeno Praça de<br />

Touros: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

13h30, 16h10, 18h45, 21h30, 00h05; Cin<strong>em</strong>aCity<br />

Campo Pequeno Praça de Touros: Sala 6: 5ª 6ª<br />

Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 21h55; Medeia Fonte<br />

Nova: Sala 3: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

14h10, 16h40, 19h10, 21h40; Medeia<br />

Monumental: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª<br />

4ª 14h, 16h30, 19h, 21h30, 24h; UCI Cin<strong>em</strong>as - El<br />

Corte Inglés: Sala 5: 5ª 6ª Sábado 2ª 3ª 4ª 14h,<br />

16h35, 19h15, 21h50, 00h25 Domingo 11h30, 14h,<br />

16h35, 19h15, 21h50, 00h25; UCI Dolce Vita Tejo: Sala<br />

9: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 14h, 16h30, 19h, 21h30 6ª<br />

Sábado 14h, 16h30, 19h,<br />

21h30, 00h30; ZON<br />

Lusomundo Alvaláxia: 5ª<br />

6ª Sábado Domingo 2ª 3ª<br />

4ª 13h40, 15h50, 16h50,<br />

18h50, 18h55, 21h, 21h40,<br />

23h45, 00h30; ZON Lusomundo<br />

Amoreiras: 5ª 6ª Sábado Domingo<br />

2ª 3ª 4ª 13h20, 16h10, 19h, 21h50,<br />

00h25; ZON Lusomundo CascaiShopping: 5ª 6ª<br />

Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h, 15h50, 18h10,<br />

18h40, 21h05, 21h30, 23h45, 00h20; ZON<br />

Lusomundo Colombo: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª<br />

3ª 4ª 12h50, 13h25, 15h45, 16h30, 18h35, 19h30,<br />

21h30, 22h30, 00h20; ZON Lusomundo Dolce Vita<br />

Miraflores: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h, 18h, 21h 6ª<br />

Sábado 15h, 18h, 21h, 24h; ZON Lusomundo Odivelas<br />

Parque: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h40, 18h30,<br />

21h30 6ª Sábado 12h50, 15h40, 18h30, 21h30,<br />

00h10; ZON Lusomundo Oeiras Parque: 5ª 6ª<br />

Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 15h45, 17h20,<br />

18h20, 20h50, 21h20, 23h50, 00h10; ZON<br />

Lusomundo Torres Vedras: 5ª 6ª Sábado Domingo<br />

2ª 3ª 4ª 12h45, 15h35,18h25, 21h15, 24h; ZON<br />

Lusomundo Vasco <strong>da</strong> Gama: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h45, 18h35, 21h30,<br />

00h20; Castello Lopes - C. C. Jumbo: Sala 2: 5ª<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 13h10, 15h50, 18h40, 21h20 6ª<br />

Sábado 13h10, 15h50, 18h40, 21h20, 00h10; Castello<br />

Lopes - Fórum Barreiro: Sala 2: 5ª Domingo 2ª 3ª<br />

4ª 12h30, 15h20, 18h20, 21h10 6ª Sábado 12h30,<br />

15h20, 18h20, 21h10, 23h50; Castello Lopes - Rio Sul<br />

Shopping: Sala 2: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

12h50, 15h30, 18h30, 21h30, 00h10; Castello Lopes -<br />

Rio Sul Shopping: Sala 6: 5ª 6ª Sábado Domingo<br />

2ª 3ª 4ª 13h15, 15h50, 18h40, 21h25, 00h10; ZON<br />

Lusomundo Alma<strong>da</strong> Fórum: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 12h40, 12h55, 15h30, 15h45,<br />

18h20, 18h35, 21h10, 21h35, 00h05, 00h25; ZON<br />

Lusomundo Fórum Montijo: 5ª 6ª Sábado Domingo<br />

2ª 3ª 4ª 12h50, 15h45, 18h25, 21h25, 00h15;<br />

Porto: Arrábi<strong>da</strong> 20: Sala 12: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 15h20, 18h20, 21h20,<br />

00h20; Arrábi<strong>da</strong> 20: Sala 2: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 13h45, 16h20, 19h05, 21h50, 00h35 3ª<br />

4ª 16h20, 19h05, 21h50, 00h35; Cin<strong>em</strong>ax -<br />

Penafiel: Sala 3: 5ª 2ª 3ª 4ª 15h30, 21h45 6ª<br />

15h30, 21h45, 00h05 Sábado 15h, 17h30, 21h45,<br />

00h05 Domingo 15h, 17h30, 21h45; Vivacine -<br />

Maia: Sala 4: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

14h, 17h, 21h, 23h50; ZON Lusomundo Dolce Vita<br />

Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 13h,<br />

15h50, 18h40, 21h30, 00h20; ZON Lusomundo Dolce<br />

Vita Porto: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

13h40, 16h40, 19h30, 22h30; ZON Lusomundo<br />

Ferrara Plaza: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª 15h20, 18h30,<br />

21h40 6ª Sábado 15h20, 18h30, 21h40, 00h30; ZON<br />

Lusomundo GaiaShopping: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 13h, 15h40, 18h45, 21h30,<br />

00h30; ZON Lusomundo MaiaShopping: 5ª<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 14h15, 17h15, 21h20 6ª Sábado<br />

14h15, 17h15, 21h20, 00h25; ZON Lusomundo<br />

Marshopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

13h, 15h40, 18h20, 21h40, 00h35; ZON Lusomundo<br />

NorteShopping: 5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

12h20, 13h20, 15h30, 16h20, 18h40, 19h20, 21h40,<br />

22h20, 00h50; ZON Lusomundo Parque Nascente:<br />

5ª 6ª Sábado Domingo 2ª 3ª 4ª 12h30, 13h10,<br />

15h30, 16h, 18h20, 18h50, 21h30, 22h, 00h30,<br />

00h45; Castello Lopes - 8ª Aveni<strong>da</strong>: Sala 3: 5ª<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 12h50, 15h30, 18h30, 21h30 6ª<br />

Sábado 12h50, 15h30, 18h30, 21h30, 24h; ZON<br />

Lusomundo Fórum Aveiro: 5ª Domingo 2ª 3ª 4ª<br />

14h40, 17h40, 21h15 6ª Sábado 14h40, 17h40, 21h15,<br />

00h15; ZON Lusomundo Glicínias: 5ª 6ª Sábado<br />

Domingo 2ª 3ª 4ª 14h10, 17h30, 21h, 24h;<br />

Qu<strong>em</strong> ain<strong>da</strong> acredita <strong>em</strong> milagres?<br />

Depois do disparate de “Lua Nova”,<br />

bastaria mu<strong>da</strong>r de realizador para<br />

melhorar o produto e <strong>da</strong>r<br />

consistência às peripécias<br />

vampirescas e pseudo-românticas,<br />

cria<strong>da</strong>s para pôr as adolescentes<br />

patetas e histéricas <strong>em</strong> delírios<br />

tr<strong>em</strong>entes? “Eclipse” é tão inútil e<br />

estúpido como o seu predecessor e<br />

n<strong>em</strong> uma aparente maior violência<br />

física lhe traz sangue novo. A tão<br />

propala<strong>da</strong> química entre o par (ou<br />

trio) amoroso funciona ca<strong>da</strong> vez<br />

menos (se é que alguma vez<br />

funcionou) e os efeitos especiais<br />

continuam de uma pobreza<br />

confrangedora. Que dizer mais? De<br />

fugir a sete pés. N<strong>em</strong> com mil<br />

transfusões lá vai. M.J.T.<br />

Cin<strong>em</strong>ateca Portuguesa R. Barata Salgueiro, 39 Lisboa. Tel. 213596200<br />

Sexta, 16<br />

O Defunto Protesta<br />

Here Comes Mr. Jor<strong>da</strong>n<br />

De Alexander Hall.<br />

15h30 - Sala Félix Ribeiro<br />

Veludo Azul<br />

Blue Velvet<br />

De David Lynch. .<br />

19h - Sala Félix Ribeiro<br />

Sicilia!<br />

De Danièle Huillet , Jean-Marie<br />

Straub.<br />

19h30 - Sala Luís de Pina<br />

A Ilha de Moraes<br />

De Paulo Rocha.<br />

22h - Sala Luís de Pina<br />

Aliens - O Reencontro Final<br />

Aliens<br />

De James Cameron.<br />

22h30 - Esplana<strong>da</strong><br />

Sábado, 17<br />

Inquérito a um Ci<strong>da</strong>dão Acima<br />

de Qualquer Suspeita<br />

In<strong>da</strong>gine su un Cittadino al di<br />

Sopra di Ogni Sospetto<br />

De Elio Petri.<br />

15h30 - Sala Félix Ribeiro<br />

Um Beijo ao Morrer<br />

Kiss Before Dying<br />

De Gerd Oswald.<br />

19h - Sala Félix Ribeiro<br />

Aelita<br />

De Yakov Protazanov. Com Iulia<br />

Solntseva, Nicolai Tsereteli,<br />

Valentina Kuindji. 114 min.<br />

19h30 - Sala Luís de Pina<br />

The Racket<br />

De John Cromwell.<br />

22h - Sala Luís de Pina<br />

Eles Viv<strong>em</strong><br />

They Live<br />

De John Carpenter.<br />

22h30 - Esplana<strong>da</strong><br />

Segun<strong>da</strong>, 19<br />

Track of the Cat<br />

De William A. Wellman.<br />

15h30 - Sala Félix Ribeiro<br />

A Fronteira do Amanhecer<br />

e<br />

La Frontière de l’Aube<br />

De Philippe Garrel. el.<br />

19h - Sala Félix Ribeiro<br />

Irmãos Inseparáveis áveis<br />

Dead Ringers<br />

De David Cronenberg. berg.<br />

21h30 - Sala Félix Ribeiro o<br />

Two Wrenching g<br />

Departures<br />

+ The Scenic<br />

Route<br />

Two Wrenching g<br />

Departures<br />

De Ken Jacobs.<br />

19h30 - Sala Luís de<br />

Pina<br />

O Lutador <strong>da</strong><br />

Rua<br />

Walter Hill<br />

De Walter Hill.<br />

22h - Sala Luís de Pina<br />

RUI GAUDÊNCIO<br />

Terça, 20<br />

A Passag<strong>em</strong> do Noroeste<br />

Northwest Passage<br />

De King Vidor.<br />

15h30 - Sala Félix Ribeiro<br />

O Pequeno Criminoso<br />

Le Petit criminel<br />

De Jacques Doillon.<br />

19h - Sala Félix Ribeiro<br />

Cézanne<br />

De Danièle Huillet, Jean-Marie<br />

Straub.<br />

19h30 - Sala Luís de Pina<br />

Rocco e Seus Irmãos<br />

Rocco e i suoi fratelli<br />

De Luchino Visconti.<br />

21h30 - Sala Félix Ribeiro<br />

Irmãos Inseparáveis<br />

Dead Ringers<br />

De David Cronenberg.<br />

22h - Sala Luís de Pina<br />

Quarta, 21<br />

Amor Selvag<strong>em</strong><br />

Canyon Passage<br />

De Jacques Tourneur.<br />

15h30 - Sala Félix Ribeiro<br />

Sexo, Mentiras e Vídeo<br />

Sex, Lies, and Videotape<br />

De Steven Soderbergh.<br />

19h - Sala Félix Ribeiro<br />

O Pequeno Criminoso<br />

Le Petit criminel<br />

De Jacques Doillon.<br />

19h30 - Sala Luís de Pina<br />

Killer’s Kiss<br />

De Stanley Kubrick.<br />

21h30 - Sala Félix Ribeiro<br />

De Hoje para Amanhã<br />

Von heute auf morgen<br />

De Danièle Huillet, Jean-Marie<br />

Straub. 22h - Sala Luís de Pina<br />

Quinta, 22<br />

A Viúva Alegre<br />

The Merry Widow<br />

De Ernst Lubitsch.<br />

15h30 - Sala Félix Ribeiro<br />

Ci<strong>da</strong>de Ci<strong>da</strong> d de Viscos Viscosa<br />

Fat City<br />

De John Huston. Husto<br />

19h - Sala Félix Ribeiro Rib<br />

Sexo, Se S xo, Mentiras Mentir e Vídeo<br />

Sex, Sex, Lies, and an Videotape<br />

De Steven So Soderbergh.<br />

19h30 - Sala S Luís de Pina<br />

Duma Du Vez por<br />

To<strong>da</strong>s T<br />

De D Joaquim<br />

Leitão.<br />

22h - Sala Luís de Pina<br />

Conan e os<br />

Bárbaros<br />

Conan the<br />

Barbarian<br />

De John Milius.<br />

22h30 - Esplana<strong>da</strong><br />

“Duma Vez por To<strong>da</strong>s” é primeiro<br />

fi lme de Joaquim Leitão


Teatro/Dança<br />

JOÃO MEIRELES<br />

João Meireles<br />

ELSA GALVÃO<br />

Séverine protagoniza um<br />

monólogo divertido e amargo<br />

Estreiam<br />

Um actor, só<br />

Duas peças encena<strong>da</strong>s por<br />

Jorge Silva Melo (uma <strong>da</strong><br />

sua autoria) para o Festival<br />

de Alma<strong>da</strong>, têm apenas um<br />

actor (ou uma actriz) <strong>em</strong><br />

palco, a sós com a sua voz.<br />

Raquel Ribeiro<br />

Fala <strong>da</strong> Cria<strong>da</strong> dos Noialles Que<br />

no Fim de contas Vamos<br />

Descobrir Chamar-se Também<br />

Séverine numa Noite de Inverno<br />

de 1975 <strong>em</strong> Hyères<br />

De Jorge Silva Melo<br />

Com Elsa Galvão, Vânia Rodrigues,<br />

Pedro Lamas, Pedro Mendes,<br />

António Simão, entre outros.<br />

Encenação Jorge Silva Melo,<br />

Co-produção Artistas Unidos /<br />

Culturgest/ Festival de Alma<strong>da</strong><br />

Lisboa, Culturgest, R. Arco do Cego – Ed. CGD. 16/07<br />

e 17/07 às 21h30 e 18/07 às 17h. Bilhetes a 12 euros.<br />

Um Precipício no Mar<br />

De Simon Stephens<br />

Com João Meireles<br />

Encenação Jorge Silva Melo<br />

Co-produção Artistas Unidos/<br />

Culturgest/Festival de Alma<strong>da</strong><br />

Lisboa, Culturgest, R. Arco do Cego - Ed. Sede CGD.<br />

15/07 às 19h30 e 21h30, 16/07 e 17/07 às 19h30 e 23h,<br />

dia 18/07 às 16h e 18h30. Bilhetes a 5 euros.<br />

Parece haver have uma grande<br />

coincidência coincidênc entre os cortes na<br />

Cultura anu anunciados pela ministra<br />

Gabriela Canavilhas Ca (entretanto<br />

revogados)<br />

e a peça “Fala <strong>da</strong> Cria<strong>da</strong><br />

dos Noialle Noialles” escrita e encena<strong>da</strong> por<br />

Jorge Jorge Silva MMelo,<br />

que estreia hoje na<br />

Culturgest e faz parte do Festival de<br />

Alma<strong>da</strong>. Alm Apesar de escrita <strong>em</strong><br />

2006, 20 Silva Melo explica<br />

que q os dois últimos versos<br />

(“a ( arte não serve para<br />

na<strong>da</strong>. n Só para gastar<br />

dinheiro”) d ganham agora<br />

“uma “u actuali<strong>da</strong>de<br />

inespera<strong>da</strong> in sobre as<br />

relações r entre a arte e o<br />

dinheiro”. d<br />

Solo<br />

“Dentro <strong>da</strong>s Palavras”<br />

é a primeira peça a solo<br />

do autor e intérprete Rui<br />

Catalão (colaborador do<br />

Ípsilon). Estreou ont<strong>em</strong> no<br />

espaço Negócio <strong>da</strong> Galeria<br />

Zé Dos Bois <strong>em</strong> Lisboa e e<br />

pode ser vista às quintas,<br />

sextas e sábados (21h30)<br />

até dia 24. Nela Rui<br />

Catalão faz um balanço de<br />

A cria<strong>da</strong> dos Noialles (chamava-se<br />

Séverine) conta, num monólogo<br />

divertido e algo amargo, o jantar<br />

entre o realizador Luis Buñuel e o<br />

seu mecenas, o Conde de Noialles<br />

(patrono de vários artistas do<br />

surrealismo como Man Ray ou Dalí).<br />

Foi ao ler as m<strong>em</strong>órias de Buñuel, “O<br />

Meu Último Suspiro” (ed. Fen<strong>da</strong>),<br />

que Silva Melo se inspirou para<br />

escrever esta peça sobre um “jantar<br />

de surdos”, o Conde e Buñuel, já<br />

velhos, onde só a cria<strong>da</strong> t<strong>em</strong> voz,<br />

“porque as cria<strong>da</strong>s são as<br />

personagens mais picantes do<br />

Buñuel”.<br />

A cria<strong>da</strong> conta com ironia como o<br />

conde era um aristocrata rico, como<br />

a sua casa, na Paris dos anos 20,<br />

estava s<strong>em</strong>pre cheia de estrelas (até<br />

Marlene Dietrich veio um dia,<br />

“trombu<strong>da</strong>”, “a pôr baton entre<br />

duas fumaças do mesmo gitanes s<strong>em</strong><br />

filtro”), e como agora, na<br />

decadência, “até n<strong>em</strong> espelhos já<br />

t<strong>em</strong>os, aqueles de Veneza comprouos<br />

um suíço dos relógios ou era <strong>da</strong><br />

Nestlé?”.<br />

Silva Melo escreveu que “Fala <strong>da</strong><br />

Cria<strong>da</strong>” é uma “peça s<strong>em</strong> qualquer<br />

importância”. No fundo, continua,<br />

“é só uma peça de teatro” escrita<br />

para a sua actriz, Elsa Galvão. Se<br />

calhar, “os quatros anos pesam na<br />

actriz e <strong>em</strong> mim”, conta Silva Melo,<br />

“olho para ela de forma mais amarga<br />

do que antes”. E admite: “Há ali uma<br />

amargura maior que não havia na<br />

altura, e que se instalou com os<br />

anos.” “Fala <strong>da</strong> Cria<strong>da</strong>” é teatro<br />

“básico”: uma actriz, a sua voz e 22<br />

figurantes (fantasmas que já<br />

passaram por aquela casa, que<br />

surg<strong>em</strong> por um minuto, vestidos à<br />

época, cantando <strong>em</strong> coro “Amour<br />

Fou”).<br />

Noutro palco, menos iluminado e<br />

grandioso, está o actor João Meireles<br />

<strong>em</strong> “Um Precipício no Mar”, peça do<br />

inglês Simon Stephens, também<br />

encena<strong>da</strong> por Silva Melo. Mas não é<br />

b<strong>em</strong> um palco, não há uma luz<br />

especial, não há plano mais alto. O<br />

actor está sentado ao nosso<br />

(espectadores) lado.<br />

O monólogo pode durar 37 ou 45<br />

minutos, “consoante o humor do<br />

actor”, ou seja, “leva o t<strong>em</strong>po que<br />

for preciso” para contar a história de<br />

Agen<strong>da</strong><br />

Teatro<br />

Estreiam<br />

Long Distance Hotel<br />

De Gilles Polet, Goran Sergej Pristas,<br />

Judith Davis, Leo Preston, Tiago<br />

Rodrigues, Tónan Quito.<br />

Lisboa. Teatro <strong>Municipal</strong> Maria Matos. Av. Frei<br />

Miguel Contreiras, 52. De 22/07 a 30/07. 2ª, 3ª, 4ª,<br />

5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Tel.: 218438801. 12€ (sujeitos<br />

a descontos).<br />

27º Festival de Teatro de<br />

Alma<strong>da</strong><br />

Manuel de Irradiação<br />

iRádio-acção<br />

De Álvaro Garcia de Zuñiga.<br />

Encenação: Álvaro Garcia de Zuñiga,<br />

Arnaud Churin. Com Alínea B. Issilva,<br />

Arnaud Churin, Eduardo Raon,<br />

<strong>Em</strong>anuela Pace, Pedro Moreira.<br />

Alma<strong>da</strong>. Fórum <strong>Municipal</strong> Romeu Correia. Pç.<br />

Liber<strong>da</strong>de. De 17/07 a 18/07. Sáb. e Dom. às 18h. Tel.:<br />

212724928. 13€ e 7€.<br />

Continuam<br />

dez anos a<br />

trabalhar<br />

na <strong>da</strong>nça.<br />

“Dentro<br />

<strong>da</strong>s<br />

Palavras”<br />

partiu ain<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

dos anos<br />

que o autor r<br />

viveu na<br />

Roménia.<br />

27º Festival de Teatro de<br />

Alma<strong>da</strong><br />

Letra M<br />

Encenação: Fernando Mora Ramos.<br />

Com Johannes Von Saaz, João Vieira.<br />

Alma<strong>da</strong>. Socie<strong>da</strong>de Filarmónica Incrível<br />

Almadense. R. Capitão Leitão,3. Até 17/07. 5ª e 6ª às<br />

19h00. Sáb. às 16h00. Tel.: 212750929. M/16.<br />

Ode Marítima<br />

De Fernando Pessoa. Encenação:<br />

Claude Régy. Com Jean-Quentin<br />

Châtelain.<br />

Alma<strong>da</strong>. Teatro <strong>Municipal</strong>. Av. Professor Egas<br />

Moniz. Até 16/07. 4ª, 5ª e 6ª às 21h30. Tel.:<br />

212739360. <strong>Em</strong> francês.<br />

O Dia de Todos os Pescadores<br />

De Francisco Luís Parreira.<br />

Encenação: João Cardoso. Com João<br />

Cardoso, Jorge Mota, Micaela<br />

Cardoso, Pedro Frias, Rosa Quiroga.<br />

Porto. Teatro Carlos Alberto. R. Oliveiras, 43. Até<br />

31/07. 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às 16h00.<br />

Tel.: 223401905.10€ e 15€.<br />

Se o Mundo Fosse Bom, o Dono<br />

Morava Nele<br />

De Ariano Suassuna (a partir de),<br />

um hom<strong>em</strong> que viu morrer a filha a<br />

cair de um precipício. Uma peça<br />

sobre uma tragédia (a morte), o luto<br />

(de um hom<strong>em</strong> igual a nós), mas<br />

também sobre os silêncios que se<br />

impõ<strong>em</strong> à urgência de contar. “O<br />

autor quis sentir a dificul<strong>da</strong>de de<br />

contar de uma pessoa que, no<br />

fundo, é a dificul<strong>da</strong>de de escrever de<br />

Januário de Oliveira (a partir de), Gil<br />

Vicente (a partir de).<br />

Évora. Largo de São Mamede. Até 31/07. 3ª, 4ª, 5ª,<br />

6ª e Sáb. às 22h00. entra<strong>da</strong> livre.<br />

Santa Joana dos Matadouros<br />

De Bertold Brecht. Encenação:<br />

Gustavo Trestini.<br />

Coimbra. Oficina <strong>Municipal</strong> do Teatro. (Vale <strong>da</strong>s<br />

Flores) R. Pedro Nunes. Até 18/07. 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª<br />

e Sáb. às 21h30 (excepto a 11/007). Dom. às 19h00.<br />

Tel.: 239718238.<br />

A Transformação<br />

Encenação: Cláudia Negrão. Com<br />

José Mateus Pedro Barbeitos.<br />

Lisboa. Teatro <strong>da</strong> Comuna. Pç. Espanha. Até 31/07.<br />

5ª, 6ª e Sáb. às 21h30. Dom. às 16h30. Tel.:<br />

217221770. 10€ (sujeitos a descontos). Quintasfeiras:<br />

5€. Reservas: 968382245.<br />

As Espingar<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Senhora<br />

Carrar<br />

De Bertolt Brecht. Encenação:<br />

António Durães. Com André Figueira,<br />

António Parra, Clara Nogueira, Inês<br />

Leite, José Topa, Julieta Guimarães,<br />

Luís Silva, Pedro Estorninho.<br />

Porto. CACE Cultural do Porto. R. do Freixo, 1071.<br />

Até 24/07. 4ª, 5ª, 6ª e Sáb. às 22h00. Tel.:<br />

225191600.<br />

O Burguês Fi<strong>da</strong>lgo<br />

De Molière. Encenação: Cláudio<br />

Hochman. Com Alexandre Ferreira,<br />

Catarina Guerreiro, Fernan<strong>da</strong> Paulo,<br />

Joana Duarte Silva, João Didelet,<br />

Marina Albuquerque, Paulo Duarte<br />

Ribeiro, Sílvia Filipe.<br />

Lisboa. Palácio Beau Séjour. Estra<strong>da</strong> de Benfica.<br />

Até 25/07. 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, Sáb. e Dom. às 20h00.<br />

Tel.: 217712420.entra<strong>da</strong> livre.<br />

Dança<br />

Estreiam<br />

A peça refl ecte<br />

sobre sob como o<br />

co corpo vive o<br />

aafastamento<br />

progressivo<br />

<strong>da</strong> linguag<strong>em</strong><br />

fala<strong>da</strong> como<br />

principal forma<br />

de expressão.<br />

À Flor <strong>da</strong> Pele + Lento para<br />

Quarteto de Cor<strong>da</strong>s + 5 Tangos<br />

Companhia: Companhia Nacional de<br />

Bailado. Coreografia: Hans van<br />

Manen, Vasco Wellenkamp, Rui<br />

Lopes Graça.<br />

Lisboa. Teatro Nacional de São Carlos. Lg. S.<br />

Carlos, 17. De 20/07 a 21/07. 3ª e 4ª às 22h. Tel.:<br />

213253045. Entra<strong>da</strong> livre.<br />

Festival ao Largo 2010.<br />

Impacto<br />

Companhia: Quorum Ballet.<br />

Dramaturgia Pedro Alves. Coreografia<br />

e cenografia: Daniel Cardoso.<br />

Interpretação: Elson Ferreira, Filipe<br />

Narciso, Henriette Ventura, Inês<br />

Godinho, Theresa Da Silva.<br />

Alcobaça. Cine-Teatro. R. Afonso de Albuquerque.<br />

Dia 17/07. Sáb. às 22h. Tel.: 262580890. 5€.M/12.<br />

Companhia Portuguesa de<br />

Bailado Cont<strong>em</strong>porâneo<br />

Companhia: Companhia Portuguesa<br />

de Bailado Cont<strong>em</strong>porâneo.<br />

Coreografia: Clara Andermatt,<br />

Denise Namura, Michael Bug<strong>da</strong>hn.<br />

Olival Basto. Centro Cultural <strong>da</strong> Malaposta. R.<br />

Angola. De 17/07 a 18/07. Sáb. às 21h30. Dom. às<br />

16h. Tel.: 219383100. Entra<strong>da</strong> livre. No Auditório.<br />

M/6. Duração: 75m.<br />

um autor. E quis passar esse<br />

incómodo para o nosso lado”,<br />

explica Silva Melo. Esta personag<strong>em</strong><br />

está ali, <strong>em</strong> fanicos, e nós é que<br />

t<strong>em</strong>os de apanhar os cacos. “Aquele<br />

hom<strong>em</strong> está ao nosso lado<br />

visivelmente a sofrer. E nós, o que<br />

faz<strong>em</strong>os? “Deixamo-lo sozinho?”,<br />

pergunta Silva Melo.<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 43


Livros<br />

MIGUEL MADEIRA<br />

44 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

Ficção<br />

Café Europa<br />

Com um talento de mestre<br />

<strong>da</strong> arte narrativa, Neuman<br />

teceu, com palavras<br />

luminosas, uma espécie de<br />

mosaico cultural europeu.<br />

José Riço Direitinho<br />

O Viajante do Século<br />

Andrés Neuman<br />

Tradução de Vasco Gato<br />

Objectiva<br />

mmmmn<br />

Andrés Neuman <strong>em</strong> Lisboa a promover o romance<br />

com que recebeu o Prémio Alfaguara 2009<br />

O prolífico autor<br />

hispano-argentino<br />

Andrés Neuman (n.<br />

1977) estreou-se na<br />

ficção aos 22 anos<br />

com o romance<br />

“Bariloche”, que foi<br />

finalista de um dos<br />

mais prestigiados<br />

concursos literários de língua<br />

espanhola, o Pr<strong>em</strong>io Herralde. A<br />

propósito deste primeiro romance<br />

de Neuman, Roberto Bolaño<br />

escreveu <strong>em</strong> tom profético no seu<br />

livro de ensaios “Entre Paréntesis”<br />

(Anagrama, Barcelona, 2004):<br />

“Quando encontro estes jovens<br />

escritores, dá-me vontade de me<br />

pôr a chorar. Ignoro o futuro que os<br />

espera. Não sei se um condutor<br />

bêbado os atropelará uma noite, ou<br />

se de repente deixarão de escrever.<br />

Se na<strong>da</strong> disto acontecer, a literatura<br />

do século XXI pertencerá a [Andrés]<br />

Neuman e a outros poucos dos seus<br />

irmãos de sangue.” (pág. 149). Até<br />

agora, Neuman não desacreditou as<br />

palavras do genial chileno, publicou<br />

12 volumes de poesia, três livros de<br />

contos e quatro romances, o último<br />

deles, “O Viajante do Século”, foi<br />

distinguido <strong>em</strong> 2009 com o Prémio<br />

Alfaguara e o Prémio Nacional <strong>da</strong><br />

Crítica espanhola; está desde há<br />

pouco t<strong>em</strong>po traduzido para<br />

português.<br />

A história decorre <strong>em</strong> meados do<br />

século XIX, numa ci<strong>da</strong>de algures<br />

entre Berlim e Leipzig, num lugar<br />

entre as fronteiras <strong>da</strong> Saxónia e <strong>da</strong><br />

Prússia. Um enigmático viajante,<br />

Hans, chega à ci<strong>da</strong>de ficcional de<br />

Wandernburgo para pernoitar.<br />

Hospe<strong>da</strong>-se na estalag<strong>em</strong> <strong>da</strong> família<br />

Zeit (que significa “t<strong>em</strong>po”, <strong>em</strong><br />

al<strong>em</strong>ão) apenas por uma noite,<br />

antes de (era esta a sua pretensão)<br />

seguir para sul, para Dessau. Na<br />

manhã seguinte, Hans t<strong>em</strong> a<br />

impressão “de que a planta <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de se desarrumava enquanto<br />

todos dormiam”. Até à hora<br />

apraza<strong>da</strong> para a saí<strong>da</strong> <strong>da</strong> carruag<strong>em</strong>,<br />

entretém-se a identificar as ruelas<br />

que percorre mais do que uma vez,<br />

mas perde-se, invariavelmente; o<br />

único lugar que se mantém s<strong>em</strong>pre<br />

acessível é a Praça do Mercado,<br />

“onde os comerciantes apregoavam<br />

as suas mercadorias <strong>em</strong> voz baixa e<br />

os negócios fechavam-se quase ao<br />

ouvido”. Entretanto, encontra um<br />

velho sábio tocador de realejo (que<br />

estará presente ao longo de todo o<br />

romance), que vive numa gruta nos<br />

arredores <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de; conversam,<br />

beb<strong>em</strong> cervejas, o t<strong>em</strong>po passa, e a<br />

carruag<strong>em</strong> parte. Hans prolonga a<br />

sua esta<strong>da</strong> por um dia; e no dia<br />

seguinte por mais outro, e assim se<br />

vão sucedendo os dias, porque<br />

entretanto conhece o senhor<br />

Gottlieb e a sua culta e “fascinante”<br />

filha, Sophie, noiva do aristocrata<br />

Wilderhaus. O enigmático Hans<br />

começa a ser convi<strong>da</strong>do para os<br />

encontros artístico-filosóficos que<br />

têm lugar na mansão dos Gottlieb<br />

to<strong>da</strong>s as sextas-feiras, e onde se<br />

discut<strong>em</strong> (superficialmente)<br />

algumas <strong>da</strong>s ideias de Kant, Fichte,<br />

Novalis, Schelling, Goethe, dos<br />

irmãos Schlegel, entre outros; é uma<br />

oportuni<strong>da</strong>de para Hans estar mais<br />

perto de Sophie, por qu<strong>em</strong><br />

entretanto desenvolve uma paixão.<br />

Conhece também o negociante<br />

espanhol Álvaro de Urquijo, de<br />

qu<strong>em</strong> se torna amigo, e que lhe diz:<br />

“Eu já estou aqui de passag<strong>em</strong> há<br />

mais de dez anos.” (pág. 87)<br />

Aos poucos, a ci<strong>da</strong>de, com a sua<br />

“mobili<strong>da</strong>de”, vai adquirindo<br />

também um estatuto de<br />

personag<strong>em</strong>. Há qu<strong>em</strong> se<br />

interrogue: “Wandernburgo seria a<br />

mesma? Ou não continuaria apenas<br />

a deslocar-se sigilosamente, como<br />

também a mu<strong>da</strong>r de aspecto? Teria<br />

uma fisionomia defini<strong>da</strong> ou seria<br />

antes um lugar ausente, uma<br />

espécie de mapa <strong>em</strong> branco?” (pág.<br />

281)<br />

Esta ci<strong>da</strong>de de Andrés Neuman é<br />

a Europa do século XIX, enre<strong>da</strong><strong>da</strong><br />

num labirinto, e <strong>em</strong> constantes<br />

mu<strong>da</strong>nças, quer políticas quer<br />

ideológicas, mas onde as conversas<br />

versam t<strong>em</strong>as também actuais como<br />

os nacionalismos, as<br />

independências, a <strong>em</strong>igração, a<br />

xenofobia, a união económica e<br />

cultural do continente, ou mesmo o<br />

f<strong>em</strong>inismo e a educação<br />

sentimental. Não é s<strong>em</strong> intenção<br />

que o autor cria no romance o Café<br />

Europa, lugar onde os nomes mais<br />

importantes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de se<br />

encontram. Ou ain<strong>da</strong> põe na boca<br />

do céptico espanhol palavras<br />

amargas (que poderiam também ser<br />

ouvi<strong>da</strong>s hoje numa rua europeia a<br />

propósito, por ex<strong>em</strong>plo, do Tratado<br />

de Lisboa) que descrev<strong>em</strong> um<br />

quadro onde se reproduz a reunião<br />

do Congresso de Viena: “O mesmo<br />

de s<strong>em</strong>pre!, dezenas de senhores<br />

gordos a decidir<strong>em</strong> o destino <strong>da</strong><br />

Europa!, palhaços protocolares<br />

reunidos para se encher<strong>em</strong> de<br />

comi<strong>da</strong> e decidir<strong>em</strong> a <strong>da</strong>ta <strong>da</strong><br />

próxima reunião!, uma legião de<br />

senhores que olham para os anéis e<br />

assinam <strong>em</strong> nome dos seus povos!”<br />

(pág. 462). Há <strong>da</strong> parte de Neuman<br />

uma clara vontade de abor<strong>da</strong>r t<strong>em</strong>as<br />

actuais transferindo-os para uma<br />

Europa <strong>da</strong> Restauração, uma<br />

Europa ain<strong>da</strong> mal refeita <strong>da</strong>s acções<br />

políticas e bélicas de Bonaparte.<br />

Mas também a literatura ocupa<br />

muito do “plot” do romance. Hans é<br />

um pretenso tradutor poliglota –<br />

trabalha por correspondência para<br />

revistas e para uma editora – e faz<br />

disso mais um pretexto para se<br />

encontrar mais vezes com a ama<strong>da</strong><br />

Sophie, que também conhece várias<br />

línguas. Juntos aventuram-se na<br />

tradução de autores como<br />

Coleridge, Wordsworth, Keats,<br />

Byron, Milton, Lamartine, Gérard<br />

de Nerval, Quevedo e Bocage, entre<br />

outros (o interessante é que o leitor<br />

parece assistir <strong>em</strong> “t<strong>em</strong>po real” às<br />

traduções); tudo numa espécie de<br />

esquisso de uma futura “antologia<br />

<strong>da</strong> poesia europeia”; é a luz <strong>da</strong> ideia<br />

romântica <strong>da</strong> “Weltliteratur”, de<br />

Goethe, que a ilumina.<br />

Numa linguag<strong>em</strong> de um grande e<br />

talentoso lirismo, Neuman teceu<br />

(com a precisão e o requinte de um<br />

ourives) uma espécie de mosaico<br />

cultural europeu, de onde não está<br />

ausente o diálogo entre o romance<br />

clássico e a narração pós-moderna.<br />

Uma nota final (e um aplauso)<br />

para a esmera<strong>da</strong> tradução de Vasco<br />

Gato.<br />

A decadência<br />

do coração<br />

Apoia<strong>da</strong> no simbolismodecadentista,<br />

Djuna Barnes<br />

antecipou <strong>em</strong> 30 anos o<br />

olhar “camp”.<br />

Eduardo Pitta<br />

O Bosque <strong>da</strong> Noite<br />

Djuna Barnes<br />

Tradução de Francisco Vale e Paula<br />

Castro<br />

Relógio d’Água<br />

mmmmn<br />

A literatura está<br />

cheia de<br />

personagens que<br />

faz<strong>em</strong> a len<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

cena literária. Lou<br />

Andreas-Salomé,<br />

Karen Blixen,<br />

Harold Acton, Paul<br />

Bowles, James<br />

Merrill e Sam Shepard, para citar<br />

meia dúzia de nomes “fortes”, são<br />

ex<strong>em</strong>plos (muito diferentes entre si)<br />

dessa constelação fulgurante. A<br />

crítica alinha-os na categoria de<br />

autores de culto.<br />

Por maioria de razão entra aqui<br />

Djuna Barnes (1892-1982), escritora e<br />

poeta contra to<strong>da</strong>s as probabili<strong>da</strong>des.<br />

Nasci<strong>da</strong> e cria<strong>da</strong> no seio de uma<br />

família disfuncional, teve o privilégio<br />

de ver um dos seus primeiros livros<br />

prefaciado por T. S. Eliot: “A prosa de<br />

Miss Barnes t<strong>em</strong> o ritmo <strong>da</strong> prosa que<br />

é próprio do estilo <strong>da</strong> prosa e um<br />

modelo musical que não é o <strong>da</strong><br />

poesia [o qual] eleva à mais alta<br />

intensi<strong>da</strong>de a matéria que se<br />

comunica.” Eliot descreve “O Bosque<br />

<strong>da</strong> Noite” (1936), primeiro dos quatro<br />

romances de t<strong>em</strong>ática homossexual<br />

que marcaram a era pré-Stonewall.<br />

Os outros são “Reflexos nuns Olhos<br />

de Oiro” (1941), de Carson McCullers;<br />

“A Ci<strong>da</strong>de e o Pilar” (1948), de Gore<br />

Vi<strong>da</strong>l; e “Outras Vozes, Outros<br />

Quartos” (1948), de Truman Capote.<br />

Sobre todos, o livro de Djuna t<strong>em</strong> a<br />

vantag<strong>em</strong> de ter<br />

antecipado<br />

<strong>em</strong> 30 anos o<br />

olhar<br />

“camp”.<br />

As<br />

origens<br />

Djuna Barnes


Obra<br />

completa<br />

O Prémio Camões 2010,<br />

o escritor brasileiro<br />

Ferreira Gullar, vai<br />

passar a ser publicado<br />

pela editora Babel. Este<br />

mês sairá “Po<strong>em</strong>a Sujo”<br />

(escrito <strong>em</strong> 1975, na<br />

época de ditadura militar,<br />

quando o autor ain<strong>da</strong><br />

se encontrava exilado<br />

<strong>em</strong> Buenos Aires). E <strong>em</strong><br />

Set<strong>em</strong>bro, a Babel lançará<br />

o seu novo livro de<br />

“suburbanas” e uma adolescência<br />

pouco convencional não impediram<br />

Djuna de atravessar o Atlântico,<br />

fixando-se <strong>em</strong> Paris, onde foi aceite<br />

no círculo ultra-elitista de Natalie<br />

Barney. S<strong>em</strong> grande esforço, a<br />

rapariguinha desampara<strong>da</strong> de<br />

Bridgeport passou a integrar a<br />

genealogia ilustre dos “habitués” do<br />

n.º 20 <strong>da</strong> Rue Jacob: Rainer Maria<br />

Rilke, Marina Tsvetáeva, André Gide,<br />

Olga Rudge, Ezra Pound, Peggy<br />

Guggenheim, Scott Fitzgerald, Sylvia<br />

Beach, William Carlos Williams,<br />

Gertrude Stein, James Joyce,<br />

Somerset Maugham e outros<br />

expatriados. Djuna chegara envolta<br />

num halo de escân<strong>da</strong>lo: “The Book of<br />

Repulsive Women” (1915), a estreia<br />

literária, que mais tarde renegará,<br />

fizera dela o centro de uma “cause<br />

célèbre”. A época fica marca<strong>da</strong> pela<br />

ligação amorosa que manteve com a<br />

escultora Thelma Wood. Ciente <strong>da</strong><br />

condição de “outsider”, publicará <strong>em</strong><br />

1928 o sulfuroso “Ladies Almanack”,<br />

violenta catilinária contra o<br />

lesbianismo-chique. Natalie Barney e<br />

to<strong>da</strong>s as suas amantes são<br />

personagens do livro.<br />

“O Bosque <strong>da</strong> Noite” ficou<br />

concluído <strong>em</strong> 1932, quando Djuna<br />

vivia <strong>em</strong> Londres. É uma reflexão<br />

amarga dos anos parisienses (1920-<br />

31), b<strong>em</strong> como dos equívocos,<br />

possibili<strong>da</strong>des e limites <strong>da</strong> itinerância<br />

sexual. Djuna, que teve amantes de<br />

ambos os sexos, sabe do que fala. O<br />

tom elíptico não diminui a pulsão<br />

trágica (Eliot vai ao extr<strong>em</strong>o de citar a<br />

tradição isabelina), n<strong>em</strong> disfarça a<br />

relação conflituosa que manteve com<br />

Thelma Wood: “No coração de Nora<br />

repousava o fóssil de Robin, entalhe<br />

<strong>da</strong> sua identi<strong>da</strong>de, e à sua volta, para<br />

que se conservasse, corria o sangue<br />

de Nora.” Fica claro que Robin Vote é<br />

o “alter-ego” de Thelma: “Procurei<br />

Robin <strong>em</strong> Marselha, <strong>em</strong> Tânger, <strong>em</strong><br />

Nápoles, procurei-a para a<br />

compreender, para acabar com o<br />

meu terror. Disse a mim própria: farei<br />

o que ela fez, hei-de amar o que ela<br />

amou e então voltarei a encontrá-la.”<br />

O desprezo de Djuna pela<br />

burguesia com velei<strong>da</strong>des<br />

aristocratizantes é <strong>da</strong>do logo a abrir,<br />

no retrato de Felix, que a si mesmo<br />

atribuía o título de barão de Volkbein:<br />

“Quando falava de um titular, fazia<br />

uma pausa antes e depois de lhe<br />

pronunciar o nome. [...] Sentia que o<br />

grande passado poderia talvez ser<br />

parcialmente refeito se se humilhasse<br />

o suficiente, sucumbisse e prestasse<br />

homenag<strong>em</strong>.” Mas o epítome do<br />

sarcasmo fica reservado a Jenny<br />

Petherbridge, quatro vezes viúva e<br />

completamente destituí<strong>da</strong> de<br />

harmonia: “Só separa<strong>da</strong> do resto do<br />

corpo é que uma qualquer parte dela<br />

se poderia considerar certa.”<br />

Tensa como um arco, a escrita<br />

extr<strong>em</strong>amente elabora<strong>da</strong> de Djuna<br />

denota sentido de equilíbrio e acidez<br />

b<strong>em</strong> calibra<strong>da</strong>. O mais próximo que<br />

encontramos <strong>da</strong> retórica não t<strong>em</strong><br />

uma palavra a mais: “o amante t<strong>em</strong><br />

de ir contra a natureza para<br />

encontrar o amor.” Não admira que<br />

Susan Sontag tenha dito que era<br />

assim que queria escrever. Não é<br />

pequeno mérito que tudo isso seja<br />

feito s<strong>em</strong> beliscar as regras (e os<br />

matizes) do simbolismodecandentista.<br />

Humor<br />

Pompa de mestre<br />

Wit – Ensaios humorísticos<br />

Robert Benchley<br />

Tradução de Júlio Henriques<br />

Tinta <strong>da</strong> China<br />

mmmnn<br />

po<strong>em</strong>as,<br />

“<strong>Em</strong> Alguma Parte<br />

Alguma”. Com publicação<br />

simultânea no Brasil, pela<br />

editora José Olympio, é<br />

A expressão inglesa “pay the deeds”,<br />

que “prestar homenag<strong>em</strong>” ou “pagar<br />

dividendos” não traduz<strong>em</strong> com rigor,<br />

designa a necessi<strong>da</strong>de de um artista<br />

de sucesso repartir os louros com<br />

aqueles que maior influência<br />

exerceram sobre o seu trabalho. Não<br />

o primeiro livro deste<br />

género literário depois<br />

de “Muitas Vozes”,<br />

de 1999. Seguir-se-á<br />

“Ci<strong>da</strong>des Inventa<strong>da</strong>s”,<br />

compilação de fi cções<br />

escritas ao longo de<br />

várias déca<strong>da</strong>s, publicado<br />

originalmente <strong>em</strong> 1997,<br />

e “Rabo de Foguete – Os<br />

Anos do Exílio”, m<strong>em</strong>órias<br />

dos seus t<strong>em</strong>pos de<br />

expatriado.<br />

sei se foi essa a<br />

intenção de Ricardo<br />

Araújo Pereira,<br />

quando deu o seu<br />

nome à colecção de<br />

livros de humor <strong>da</strong><br />

Tinta <strong>da</strong> China, mas<br />

é o que parece<br />

acontecer com este<br />

livro. O norte-americano Robert<br />

Benchley (1889-1945) não é apenas<br />

um mestre para o humorista<br />

português. Segundo ele escreve no<br />

prefácio de “Wit”, já o era para<br />

Groucho Marx e continuou a sê-lo<br />

para sucessivas gerações de<br />

humoristas norte-americanos, até<br />

Woody Allen. “Foi um humorista a<br />

qu<strong>em</strong> os mestres chamavam mestre.”<br />

E não é apenas uma referência<br />

estilística: Benchley começou por ser<br />

um jornalista (com humor), escreveu<br />

crónicas (de humor), livros (de<br />

humor), escreveu argumentos e<br />

realizou filmes (de humor) e<br />

participou como actor (humorista)<br />

<strong>em</strong> algumas comédias musicais. De<br />

resto, <strong>em</strong> 1935 ganhou um Óscar para<br />

a curta metrag<strong>em</strong> “How to sleep”<br />

(que viria a gerar a série “How to…”<br />

Qu<strong>em</strong> se interessa pelo ofício de fazer<br />

rir os outros t<strong>em</strong> aqui matéria de luxo<br />

para estu<strong>da</strong>r.<br />

Mas “Wit” é também literatura. E<br />

Robert Benchley escreve b<strong>em</strong> (aliás, é<br />

traduzido por um bom tradutor que,<br />

não sendo especialista <strong>em</strong> humor,<br />

utiliza o português com eficácia).<br />

Sabe, por ex<strong>em</strong>plo, utilizar a<br />

retórica <strong>da</strong>s convenções de<br />

linguag<strong>em</strong>. Depois de descrever uma<br />

paisag<strong>em</strong> “exótica”, conclui que “é<br />

de facto uma vista magnífica, a não<br />

ser que estejamos a olhar na direcção<br />

erra<strong>da</strong>”.<br />

A repetição é uma <strong>da</strong>s ferramentas<br />

principais do humor (consiste <strong>em</strong><br />

repetir algo que <strong>em</strong> si não t<strong>em</strong> pia<strong>da</strong>,<br />

e que a repetição torna hilariante). Na<br />

crónica “Uma volta ao mundo com o<br />

boleeiro cigano”, depois de descrever<br />

“as exóticas fragâncias do Oriente”<br />

<strong>em</strong> Gukla, no primeiro parágrafo, no<br />

aMaumMedíocr<strong>em</strong>mRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente<br />

segundo apresenta-nos “o coronel<br />

Michington Meã, ‘o boleeiro cigano’,<br />

que vai ser o vosso guia nesta viag<strong>em</strong><br />

à longínqua Gukla, onde (ver<br />

primeiro parágrafo)”. A leitura do<br />

primeiro parágrafo diz assim… “onde<br />

as exóticas fragrâncias do Oriente”,<br />

etc.<br />

Escreve tão b<strong>em</strong>, Benchley, que<br />

chegamos a saber <strong>da</strong> sua boa<br />

educação (estudou <strong>em</strong> Harvard), até<br />

mesmo quando pretende ser<br />

desrespeitoso. A propósito <strong>da</strong>s<br />

palestras de espiritismo <strong>em</strong> que<br />

participou, diz ter mantido o silêncio<br />

<strong>em</strong> to<strong>da</strong>s: “sobretudo por que passei<br />

quase todo o t<strong>em</strong>po a comer<br />

bolachas.” Benchley não fala com a<br />

boca cheia.<br />

O desrespeito pelas convenções<br />

morais <strong>da</strong> sua época, factor de<br />

cómica marotice, agora que esses<br />

mesmos valores entraram <strong>em</strong><br />

desuso, ganham um efeito de cómico<br />

bota-de-elástico: “Comecei as minhas<br />

experiências de espiritismo <strong>em</strong> 1909,<br />

quando estava sentado no escuro<br />

com uma rapariga que mais tarde<br />

acabou por não ser a minha esposa. esposa.”<br />

Not<strong>em</strong>os agora o uso so falacioso de<br />

um pormenor como el<strong>em</strong>ento<br />

distintivo: “Tinham então ntão<br />

começado a ser usados os os<br />

relógios de ponteiros<br />

fosforescentes e eu tinha nha um dos<br />

poucos que havia na ci<strong>da</strong>de. Na<br />

reali<strong>da</strong>de, eu tinha um m dos<br />

poucos relógios <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.” <strong>da</strong>de.” Aqui<br />

interromp<strong>em</strong>os a frase e porque<br />

Benchley abusa. Estica-se a-se na pia<strong>da</strong><br />

e perde pia<strong>da</strong>. Continu<strong>em</strong>os u<strong>em</strong>os a<br />

frase: “porque a maior r parte <strong>da</strong>s<br />

pessoas ain<strong>da</strong> usava as s ampulhetas<br />

de outrora.” A frase termina ermina<br />

com uma última oração, ão,<br />

que não t<strong>em</strong> pia<strong>da</strong><br />

nenhuma: “por ser<strong>em</strong> m<br />

[as ampulhetas de<br />

outrora] mais<br />

cómo<strong>da</strong>s.”<br />

Uma <strong>da</strong>s principais<br />

ferramentas de<br />

trabalho de um bom<br />

humorista é a capaci<strong>da</strong>de de<br />

observar e entender qualquer<br />

fenómeno de forma lógica, e depois<br />

desmontar as convenções que<br />

habitualmente deturpam o sentido<br />

<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. A convenção, para o<br />

caso, é a do documentário (que é<br />

suposto reproduzir o real s<strong>em</strong> o<br />

retocar; ao mesmo t<strong>em</strong>po esse real<br />

deve “acontecer”, ou seja, ter<br />

acontecimentos), e que por seu lado<br />

inclui outra convenção, a de que as<br />

masmorras, ou as caves <strong>da</strong>s len<strong>da</strong>s,<br />

são lugares escuros (escuridão que<br />

t<strong>em</strong> de ser dramatiza<strong>da</strong>, de outro<br />

modo a cave não podia ser filma<strong>da</strong>).<br />

Eis como Benchley desmonta e<br />

r<strong>em</strong>onta tudo isto: “Decidido a<br />

aclarar a ver<strong>da</strong>de de uma destas<br />

len<strong>da</strong>s, desloquei-me ao t<strong>em</strong>po, à<br />

meia-noite, e desci à cave. Pod<strong>em</strong><br />

ver-me aqui, graças à luz intensa de<br />

dois projectores de cin<strong>em</strong>a que por<br />

acaso troux<strong>em</strong>os (…) o que seria<br />

aquilo do meu lado direito? Estaquei,<br />

com as câmaras assesta<strong>da</strong>s <strong>em</strong> mim.<br />

Era o rumor de uma mulher a<br />

soluçar! Por sorte, os microfones<br />

estavam a funcionar fu f ncionar<br />

devi<strong>da</strong>mente.”<br />

Numa crónica<br />

sobre sobr b e a “febre de<br />

fenos” feno n s” (de que o<br />

autor au autor diz<br />

sofrer), <strong>em</strong> que<br />

o registo de<br />

“conselhos<br />

práticos” luta<br />

com o “relato<br />

do<br />

Robert Benchley na colecção<br />

de humor <strong>da</strong> Tinta <strong>da</strong> China<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 45


Obra<br />

completa<br />

O Prémio Camões 2010,<br />

o escritor brasileiro<br />

Ferreira Gullar, vai<br />

passar a ser publicado<br />

pela editora Babel. Este<br />

mês sairá “Po<strong>em</strong>a Sujo”<br />

(escrito <strong>em</strong> 1975, na<br />

época de ditadura militar,<br />

quando o autor ain<strong>da</strong><br />

se encontrava exilado<br />

<strong>em</strong> Buenos Aires). E <strong>em</strong><br />

Set<strong>em</strong>bro, a Babel lançará<br />

o seu novo livro de<br />

“suburbanas” e uma adolescência<br />

pouco convencional não impediram<br />

Djuna de atravessar o Atlântico,<br />

fixando-se <strong>em</strong> Paris, onde foi aceite<br />

no círculo ultra-elitista de Natalie<br />

Barney. S<strong>em</strong> grande esforço, a<br />

rapariguinha desampara<strong>da</strong> de<br />

Bridgeport passou a integrar a<br />

genealogia ilustre dos “habitués” do<br />

n.º 20 <strong>da</strong> Rue Jacob: Rainer Maria<br />

Rilke, Marina Tsvetáeva, André Gide,<br />

Olga Rudge, Ezra Pound, Peggy<br />

Guggenheim, Scott Fitzgerald, Sylvia<br />

Beach, William Carlos Williams,<br />

Gertrude Stein, James Joyce,<br />

Somerset Maugham e outros<br />

expatriados. Djuna chegara envolta<br />

num halo de escân<strong>da</strong>lo: “The Book of<br />

Repulsive Women” (1915), a estreia<br />

literária, que mais tarde renegará,<br />

fizera dela o centro de uma “cause<br />

célèbre”. A época fica marca<strong>da</strong> pela<br />

ligação amorosa que manteve com a<br />

escultora Thelma Wood. Ciente <strong>da</strong><br />

condição de “outsider”, publicará <strong>em</strong><br />

1928 o sulfuroso “Ladies Almanack”,<br />

violenta catilinária contra o<br />

lesbianismo-chique. Natalie Barney e<br />

to<strong>da</strong>s as suas amantes são<br />

personagens do livro.<br />

“O Bosque <strong>da</strong> Noite” ficou<br />

concluído <strong>em</strong> 1932, quando Djuna<br />

vivia <strong>em</strong> Londres. É uma reflexão<br />

amarga dos anos parisienses (1920-<br />

31), b<strong>em</strong> como dos equívocos,<br />

possibili<strong>da</strong>des e limites <strong>da</strong> itinerância<br />

sexual. Djuna, que teve amantes de<br />

ambos os sexos, sabe do que fala. O<br />

tom elíptico não diminui a pulsão<br />

trágica (Eliot vai ao extr<strong>em</strong>o de citar a<br />

tradição isabelina), n<strong>em</strong> disfarça a<br />

relação conflituosa que manteve com<br />

Thelma Wood: “No coração de Nora<br />

repousava o fóssil de Robin, entalhe<br />

<strong>da</strong> sua identi<strong>da</strong>de, e à sua volta, para<br />

que se conservasse, corria o sangue<br />

de Nora.” Fica claro que Robin Vote é<br />

o “alter-ego” de Thelma: “Procurei<br />

Robin <strong>em</strong> Marselha, <strong>em</strong> Tânger, <strong>em</strong><br />

Nápoles, procurei-a para a<br />

compreender, para acabar com o<br />

meu terror. Disse a mim própria: farei<br />

o que ela fez, hei-de amar o que ela<br />

amou e então voltarei a encontrá-la.”<br />

O desprezo de Djuna pela<br />

burguesia com velei<strong>da</strong>des<br />

aristocratizantes é <strong>da</strong>do logo a abrir,<br />

no retrato de Felix, que a si mesmo<br />

atribuía o título de barão de Volkbein:<br />

“Quando falava de um titular, fazia<br />

uma pausa antes e depois de lhe<br />

pronunciar o nome. [...] Sentia que o<br />

grande passado poderia talvez ser<br />

parcialmente refeito se se humilhasse<br />

o suficiente, sucumbisse e prestasse<br />

homenag<strong>em</strong>.” Mas o epítome do<br />

sarcasmo fica reservado a Jenny<br />

Petherbridge, quatro vezes viúva e<br />

completamente destituí<strong>da</strong> de<br />

harmonia: “Só separa<strong>da</strong> do resto do<br />

corpo é que uma qualquer parte dela<br />

se poderia considerar certa.”<br />

Tensa como um arco, a escrita<br />

extr<strong>em</strong>amente elabora<strong>da</strong> de Djuna<br />

denota sentido de equilíbrio e acidez<br />

b<strong>em</strong> calibra<strong>da</strong>. O mais próximo que<br />

encontramos <strong>da</strong> retórica não t<strong>em</strong><br />

uma palavra a mais: “o amante t<strong>em</strong><br />

de ir contra a natureza para<br />

encontrar o amor.” Não admira que<br />

Susan Sontag tenha dito que era<br />

assim que queria escrever. Não é<br />

pequeno mérito que tudo isso seja<br />

feito s<strong>em</strong> beliscar as regras (e os<br />

matizes) do simbolismodecandentista.<br />

Humor<br />

Pompa de mestre<br />

Wit – Ensaios humorísticos<br />

Robert Benchley<br />

Tradução de Júlio Henriques<br />

Tinta <strong>da</strong> China<br />

mmmnn<br />

po<strong>em</strong>as,<br />

“<strong>Em</strong> Alguma Parte<br />

Alguma”. Com publicação<br />

simultânea no Brasil, pela<br />

editora José Olympio, é<br />

A expressão inglesa “pay the deeds”,<br />

que “prestar homenag<strong>em</strong>” ou “pagar<br />

dividendos” não traduz<strong>em</strong> com rigor,<br />

designa a necessi<strong>da</strong>de de um artista<br />

de sucesso repartir os louros com<br />

aqueles que maior influência<br />

exerceram sobre o seu trabalho. Não<br />

o primeiro livro deste<br />

género literário depois<br />

de “Muitas Vozes”,<br />

de 1999. Seguir-se-á<br />

“Ci<strong>da</strong>des Inventa<strong>da</strong>s”,<br />

compilação de fi cções<br />

escritas ao longo de<br />

várias déca<strong>da</strong>s, publicado<br />

originalmente <strong>em</strong> 1997,<br />

e “Rabo de Foguete – Os<br />

Anos do Exílio”, m<strong>em</strong>órias<br />

dos seus t<strong>em</strong>pos de<br />

expatriado.<br />

sei se foi essa a<br />

intenção de Ricardo<br />

Araújo Pereira,<br />

quando deu o seu<br />

nome à colecção de<br />

livros de humor <strong>da</strong><br />

Tinta <strong>da</strong> China, mas<br />

é o que parece<br />

acontecer com este<br />

livro. O norte-americano Robert<br />

Benchley (1889-1945) não é apenas<br />

um mestre para o humorista<br />

português. Segundo ele escreve no<br />

prefácio de “Wit”, já o era para<br />

Groucho Marx e continuou a sê-lo<br />

para sucessivas gerações de<br />

humoristas norte-americanos, até<br />

Woody Allen. “Foi um humorista a<br />

qu<strong>em</strong> os mestres chamavam mestre.”<br />

E não é apenas uma referência<br />

estilística: Benchley começou por ser<br />

um jornalista (com humor), escreveu<br />

crónicas (de humor), livros (de<br />

humor), escreveu argumentos e<br />

realizou filmes (de humor) e<br />

participou como actor (humorista)<br />

<strong>em</strong> algumas comédias musicais. De<br />

resto, <strong>em</strong> 1935 ganhou um Óscar para<br />

a curta metrag<strong>em</strong> “How to sleep”<br />

(que viria a gerar a série “How to…”<br />

Qu<strong>em</strong> se interessa pelo ofício de fazer<br />

rir os outros t<strong>em</strong> aqui matéria de luxo<br />

para estu<strong>da</strong>r.<br />

Mas “Wit” é também literatura. E<br />

Robert Benchley escreve b<strong>em</strong> (aliás, é<br />

traduzido por um bom tradutor que,<br />

não sendo especialista <strong>em</strong> humor,<br />

utiliza o português com eficácia).<br />

Sabe, por ex<strong>em</strong>plo, utilizar a<br />

retórica <strong>da</strong>s convenções de<br />

linguag<strong>em</strong>. Depois de descrever uma<br />

paisag<strong>em</strong> “exótica”, conclui que “é<br />

de facto uma vista magnífica, a não<br />

ser que estejamos a olhar na direcção<br />

erra<strong>da</strong>”.<br />

A repetição é uma <strong>da</strong>s ferramentas<br />

principais do humor (consiste <strong>em</strong><br />

repetir algo que <strong>em</strong> si não t<strong>em</strong> pia<strong>da</strong>,<br />

e que a repetição torna hilariante). Na<br />

crónica “Uma volta ao mundo com o<br />

boleeiro cigano”, depois de descrever<br />

“as exóticas fragâncias do Oriente”<br />

<strong>em</strong> Gukla, no primeiro parágrafo, no<br />

aMaumMedíocr<strong>em</strong>mRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente<br />

segundo apresenta-nos “o coronel<br />

Michington Meã, ‘o boleeiro cigano’,<br />

que vai ser o vosso guia nesta viag<strong>em</strong><br />

à longínqua Gukla, onde (ver<br />

primeiro parágrafo)”. A leitura do<br />

primeiro parágrafo diz assim… “onde<br />

as exóticas fragrâncias do Oriente”,<br />

etc.<br />

Escreve tão b<strong>em</strong>, Benchley, que<br />

chegamos a saber <strong>da</strong> sua boa<br />

educação (estudou <strong>em</strong> Harvard), até<br />

mesmo quando pretende ser<br />

desrespeitoso. A propósito <strong>da</strong>s<br />

palestras de espiritismo <strong>em</strong> que<br />

participou, diz ter mantido o silêncio<br />

<strong>em</strong> to<strong>da</strong>s: “sobretudo por que passei<br />

quase todo o t<strong>em</strong>po a comer<br />

bolachas.” Benchley não fala com a<br />

boca cheia.<br />

O desrespeito pelas convenções<br />

morais <strong>da</strong> sua época, factor de<br />

cómica marotice, agora que esses<br />

mesmos valores entraram <strong>em</strong><br />

desuso, ganham um efeito de cómico<br />

bota-de-elástico: “Comecei as minhas<br />

experiências de espiritismo <strong>em</strong> 1909,<br />

quando estava sentado no escuro<br />

com uma rapariga que mais tarde<br />

acabou por não ser a minha esposa. esposa.”<br />

Not<strong>em</strong>os agora o uso so falacioso de<br />

um pormenor como el<strong>em</strong>ento<br />

distintivo: “Tinham então ntão<br />

começado a ser usados os os<br />

relógios de ponteiros<br />

fosforescentes e eu tinha nha um dos<br />

poucos que havia na ci<strong>da</strong>de. Na<br />

reali<strong>da</strong>de, eu tinha um m dos<br />

poucos relógios <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.” <strong>da</strong>de.” Aqui<br />

interromp<strong>em</strong>os a frase e porque<br />

Benchley abusa. Estica-se a-se na pia<strong>da</strong><br />

e perde pia<strong>da</strong>. Continu<strong>em</strong>os u<strong>em</strong>os a<br />

frase: “porque a maior r parte <strong>da</strong>s<br />

pessoas ain<strong>da</strong> usava as s ampulhetas<br />

de outrora.” A frase termina ermina<br />

com uma última oração, ão,<br />

que não t<strong>em</strong> pia<strong>da</strong><br />

nenhuma: “por ser<strong>em</strong> m<br />

[as ampulhetas de<br />

outrora] mais<br />

cómo<strong>da</strong>s.”<br />

Uma <strong>da</strong>s principais<br />

ferramentas de<br />

trabalho de um bom<br />

humorista é a capaci<strong>da</strong>de de<br />

observar e entender qualquer<br />

fenómeno de forma lógica, e depois<br />

desmontar as convenções que<br />

habitualmente deturpam o sentido<br />

<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. A convenção, para o<br />

caso, é a do documentário (que é<br />

suposto reproduzir o real s<strong>em</strong> o<br />

retocar; ao mesmo t<strong>em</strong>po esse real<br />

deve “acontecer”, ou seja, ter<br />

acontecimentos), e que por seu lado<br />

inclui outra convenção, a de que as<br />

masmorras, ou as caves <strong>da</strong>s len<strong>da</strong>s,<br />

são lugares escuros (escuridão que<br />

t<strong>em</strong> de ser dramatiza<strong>da</strong>, de outro<br />

modo a cave não podia ser filma<strong>da</strong>).<br />

Eis como Benchley desmonta e<br />

r<strong>em</strong>onta tudo isto: “Decidido a<br />

aclarar a ver<strong>da</strong>de de uma destas<br />

len<strong>da</strong>s, desloquei-me ao t<strong>em</strong>po, à<br />

meia-noite, e desci à cave. Pod<strong>em</strong><br />

ver-me aqui, graças à luz intensa de<br />

dois projectores de cin<strong>em</strong>a que por<br />

acaso troux<strong>em</strong>os (…) o que seria<br />

aquilo do meu lado direito? Estaquei,<br />

com as câmaras assesta<strong>da</strong>s <strong>em</strong> mim.<br />

Era o rumor de uma mulher a<br />

soluçar! Por sorte, os microfones<br />

estavam a funcionar fu f ncionar<br />

devi<strong>da</strong>mente.”<br />

Numa crónica<br />

sobre sobr b e a “febre de<br />

fenos” feno n s” (de que o<br />

autor au autor diz<br />

sofrer), <strong>em</strong> que<br />

o registo de<br />

“conselhos<br />

práticos” luta<br />

com o “relato<br />

do<br />

Robert Benchley na colecção<br />

de humor <strong>da</strong> Tinta <strong>da</strong> China<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 45


Livros<br />

Poesia<br />

paciente” (que luta com a doença e<br />

a increduli<strong>da</strong>de que a doença inspira<br />

nos outros), o autor explica como<br />

resolveu o probl<strong>em</strong>a (de ter uma<br />

doença ridícula) s<strong>em</strong> resolvê-lo (ou<br />

seja, continuando a sofrer <strong>da</strong><br />

doença): “ “retirar-me para um<br />

quarto escuro, fechar as janelas e<br />

passar o t<strong>em</strong>po a rasgar pe<strong>da</strong>cinhos<br />

de papel entre 18 de Agosto e 15 de<br />

Set<strong>em</strong>bro”.<br />

A coincidência cómica é outro<br />

efeito de humor que Benchley utiliza,<br />

através de um acontecimento<br />

secundário, que surge entre<br />

parêntesis: “Estou a <strong>da</strong>r pancadinhas<br />

tão fortes na madeira que o hom<strong>em</strong><br />

do quarto ao lado gritou agora<br />

mesmo: ‘Entre!’”; “Quando eu era<br />

rapaz (l<strong>em</strong>bro-me b<strong>em</strong> de o<br />

presidente Franlkin Pierce [que<br />

morreu vinte anos antes de Benchley<br />

nascer] também exclamar: ‘E que<br />

belo rapaz!’)”.<br />

O parêntesis é o recurso estilístico<br />

<strong>em</strong> que Benchley consegue os<br />

melhores efeitos de humor, mas<br />

também os piores. Segu<strong>em</strong>-se dois<br />

ex<strong>em</strong>plos <strong>da</strong> sua falta de pia<strong>da</strong> entre<br />

parêntesis: “Segundo opiniosas<br />

informações provenientes de Paris<br />

(se é que aceitamos as opiniões de<br />

uma ci<strong>da</strong>de tão mal afama<strong>da</strong>)”;<br />

“Apreciador de cavalos como eu sou,<br />

quando os conheço pessoalmente (e<br />

com uma mão cheia de açúcar<br />

garanto que consigo criar amizade<br />

com qualquer cavalo – ou então<br />

perco a mão até ao punho na<br />

tentativa)”.<br />

O humor vive muito de tornar o<br />

irracional razoável e a razão tornar-se<br />

absur<strong>da</strong>. Tal deve-se ao facto dos<br />

humoristas ser<strong>em</strong> dos poucos seres<br />

inteligentes a aperceber<strong>em</strong>-se que a<br />

razão é apenas uma convenção de<br />

sentido cuja solidez t<strong>em</strong> um prazo de<br />

vali<strong>da</strong>de ou um ângulo favorável. O<br />

humorista é também alguém que se<br />

apercebe que os valores, hábitos e<br />

crenças de uma <strong>da</strong><strong>da</strong> época, tornamse<br />

ridículos com o surgimento de<br />

outros paradigmas. A passag<strong>em</strong> do<br />

t<strong>em</strong>po, e as mu<strong>da</strong>nças que o t<strong>em</strong>po<br />

traz, é assim uma <strong>da</strong>s alavancas do<br />

humor. O que este livro t<strong>em</strong> de<br />

melhor t<strong>em</strong> a ver com as convenções<br />

do t<strong>em</strong>po. O que este livro t<strong>em</strong> de<br />

pior t<strong>em</strong> a ver com as convenções do<br />

autor.<br />

Benchley, por vezes, torna-se tão<br />

ridículo como as convenções que<br />

pretende ridicularizar, porque<br />

também ele é um produto do seu<br />

t<strong>em</strong>po: sublinha o seu sentido de<br />

humor como qu<strong>em</strong> ri <strong>da</strong> sua pia<strong>da</strong>.<br />

Ou seja, Benchley é escravo <strong>da</strong><br />

necessi<strong>da</strong>de de fazer rir, o que n<strong>em</strong><br />

s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong> pia<strong>da</strong>. Para a época <strong>em</strong><br />

que trabalhou, foi s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong><br />

corrosivo, mas a passag<strong>em</strong> do t<strong>em</strong>po<br />

veio revelar um humor também<br />

pomposo. Esse esqu<strong>em</strong>a mental, no<br />

entanto, também pode ter a sua<br />

graça, pois até um observador do seu<br />

quotidiano (e os bons humoristas são<br />

s<strong>em</strong>pre observadores que<br />

desconstro<strong>em</strong> o seu quotidiano) se<br />

Depois <strong>da</strong> conferência rência<br />

de Caetano Veloso, so,<br />

agora é a vez<br />

<strong>da</strong> sua irmã,<br />

Maria Bethânia,<br />

homenagear a poesia oesia<br />

<strong>em</strong> língua portuguesa guesa<br />

com leituras na Casa<br />

Fernando Pessoa, a,<br />

<strong>em</strong> Lisboa. Textos os<br />

pode tornar alvo, digamos<br />

assim, de um olhar antropológico:<br />

“Dispormos de um carregador que<br />

nos leve a bagag<strong>em</strong> é uma prática<br />

desportiva que só há relativamente<br />

pouco t<strong>em</strong>po começou a ter<br />

aceitação nos Estados Unidos. Impôsse<br />

com a f<strong>em</strong>inização <strong>da</strong> nossa raça e<br />

com a mo<strong>da</strong> dos punhos nas<br />

camisas” (<strong>em</strong> “A vi<strong>da</strong> desportiva na<br />

América: seguir o carregador”).<br />

Pomposo é também o subtítulo do<br />

livro, ao chamar “ensaios” a crónicas.<br />

Seria também interessante nesta<br />

compilação incluir as <strong>da</strong>tas dos textos<br />

e, tendo <strong>em</strong> conta o impacto cultural<br />

<strong>da</strong>s revistas para onde Benchley<br />

escrevia, até as publicações <strong>em</strong> que<br />

surgiram. Rui Catalão<br />

Crónicas<br />

O que fica do que<br />

passa<br />

Por Outras Palavras<br />

Manuel António Pina<br />

Modo de Ler<br />

mmmmn<br />

“Por Outras<br />

Palavras & mais<br />

crónicas de jornal”<br />

é uma antologia <strong>da</strong>s<br />

crónicas de Manuel<br />

António Pina,<br />

organiza<strong>da</strong> pelo seu<br />

amigo Sousa Dias.<br />

São 244 textos,<br />

publicados entre 1994 (<strong>da</strong>ta <strong>da</strong><br />

excelente colectânea “O<br />

Anacronista”) e 2009. A maioria <strong>da</strong>s<br />

crónicas foi publica<strong>da</strong> no “Jornal de<br />

Notícias” (textos mais curtos, diários)<br />

e na revista “Visão” (textos mais<br />

longos, s<strong>em</strong>anais). <strong>Em</strong> geral, as<br />

crónicas s<strong>em</strong>anais respiram melhor,<br />

são mais elabora<strong>da</strong>s, menos presas resas à<br />

ditadura <strong>da</strong> actuali<strong>da</strong>de. As peças ças<br />

mais curtas, <strong>em</strong> contraparti<strong>da</strong>, , são<br />

comentários incisivos ao estado o do<br />

mundo. Mas há <strong>em</strong> ambos os<br />

formatos a mesma reflexão sobre bre o<br />

efémero, ou sobre aquilo que a<br />

passag<strong>em</strong> do t<strong>em</strong>po torna efémero, mero,<br />

dos grandes acontecimentos às s<br />

<strong>em</strong>oções priva<strong>da</strong>s. A crónica está stá<br />

s<strong>em</strong>pre à beira de se tornar<br />

anacrónica, excepto para aqueles eles<br />

que sab<strong>em</strong> decantar o que fica<br />

<strong>da</strong>quilo que passa.<br />

As crónicas de t<strong>em</strong>a público<br />

aqui recolhi<strong>da</strong>s são algo<br />

atípicas na imprensa<br />

portuguesa. Manuel António<br />

Pina é talvez o menos arrogante te<br />

dos nossos colunistas, e a<br />

arrogância é a doença infantil<br />

dos fazedores de opinião. Pina a<br />

mostra-se quase s<strong>em</strong>pre tímido, o,<br />

afável, melancólico, quieto.<br />

Mesmo as suas indignações são o<br />

geralmente irónicas, ou então<br />

recorr<strong>em</strong> à paródia swiftiana<br />

(há excepções: fica zangado<br />

de d Sophia de Mello<br />

Br Breyner, Vinicius<br />

de Moraes, João<br />

Guimarães G<br />

Rosa, de<br />

poetas p africanos e<br />

ain<strong>da</strong> a de Manuel<br />

Bandeira, B<br />

Padre<br />

António Vieira,<br />

Clarice Lispector,<br />

Mário Má de Andrade,<br />

FERNANDO VELUDO/NFACTOS<br />

com toura<strong>da</strong>s, praxes académicas,<br />

com o higienismo, a obsessão sexual<br />

<strong>da</strong> Igreja, o filistinismo cultural e as<br />

asneiras gramaticais). A selecção de<br />

textos é talvez excessivamente<br />

extensa (são redun<strong>da</strong>ntes to<strong>da</strong>s<br />

aqueles ataques ao “eduquês”), e<br />

Pina sofre a sina de todos os<br />

cronistas, que é ter de li<strong>da</strong>r com<br />

assuntos que envelhec<strong>em</strong> depressa.<br />

Por isso, ele sabe muitas vezes<br />

encontrar o essencial de uma<br />

situação, independent<strong>em</strong>ente <strong>da</strong>s<br />

circunstâncias <strong>da</strong>ta<strong>da</strong>s. O país,<br />

reconheça-se, é generoso <strong>em</strong><br />

peripécias, <strong>da</strong> reprodução de<br />

Courbet apreendi<strong>da</strong> <strong>em</strong> Braga às<br />

“greves de fome” de cinco horas.<br />

Várias crónicas são sobre os desvarios<br />

<strong>da</strong> alta finança. Pina cita muito a<br />

propósito o seu administrador de<br />

condomínio: “A situação, <strong>em</strong>bora<br />

alarmante, não é preocupante”.<br />

Especialmente agu<strong>da</strong>s são as crónicas<br />

que sublinham que a crise, quando<br />

chega, não chega a todos.<br />

Politicamente, as opiniões de Pina<br />

são de esquer<strong>da</strong> (exceptuando uma<br />

rara equanimi<strong>da</strong>de face a Israel); uma<br />

esquer<strong>da</strong> independente e desiludi<strong>da</strong>,<br />

que viveu 68 e 74 e viu as suas ilusões<br />

desfeitas, os seus heróis<br />

“corrompidos pela vi<strong>da</strong>”.<br />

O outro Pina, mais intimista, é<br />

aquele que revela a faceta do<br />

(óptimo) poeta que também é. São<br />

textos sobre a m<strong>em</strong>ória, sobre isso de<br />

sermos feitos de m<strong>em</strong>órias, de<br />

palavras escassas mas justas, de uma<br />

incessante procura de sentido. Textos<br />

sobre os nomes dos amigos mortos<br />

nas agen<strong>da</strong>s, sobre encontros<br />

falhados, flashes <strong>da</strong> <strong>infância</strong>, os<br />

gatos, a solidão dos livros. E, s<strong>em</strong>pre,<br />

aquilo a que Pina chama o “mistério<br />

gratuito <strong>da</strong> poesia”. Não apenas <strong>da</strong><br />

poesia escrita, mas <strong>da</strong> experiência<br />

poética do mundo, na qual conviv<strong>em</strong><br />

Winne-the-Pooh e Ruy Belo, um<br />

par<strong>da</strong>l e um blogue, Bresson e<br />

George Best, o futebolista que<br />

disse: “Gastei<br />

muito dinheiro<br />

<strong>em</strong> álcool,<br />

miú<strong>da</strong>s e<br />

carros; o resto<br />

esbanjei-o”.<br />

Pedro Mexia<br />

Manuel António Pina e os comentários<br />

incisivos ao estado do mundo<br />

aMaumMedíocr<strong>em</strong>mRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente<br />

Pessoa, Álvaro de<br />

Campos e Alberto Caeiro<br />

serão lidos pela cantora<br />

brasileira. A leitura será<br />

intercala<strong>da</strong> com canções,<br />

algumas a capella. Quartafeira,<br />

dia 21 de Julho, às<br />

17h30. A entra<strong>da</strong> é livre.<br />

Isabel<br />

Coutinho<br />

Ciberescritas<br />

Éuma batalha perdi<strong>da</strong>? Os seres humanos lê<strong>em</strong><br />

mais rapi<strong>da</strong>mente um livro de fi cção impresso<br />

do que a mesma obra no iPad ou no Kindle. Foi<br />

esta a conclusão a que chegou um estudo feito<br />

pela <strong>em</strong>presa de consultadoria Nielsen Norman<br />

Group: o t<strong>em</strong>po de leitura nestes aparelhos digitais é<br />

menor do que era no passado, mas não é menor do que<br />

quando se lê <strong>em</strong> papel.<br />

Foi o dinamarquês Jakob Nielsen, especialista <strong>em</strong><br />

usabili<strong>da</strong>de dos produtos informáticos e um dos<br />

directores desta <strong>em</strong>presa, que divulgou algumas <strong>da</strong>s<br />

conclusões deste estudo na sua coluna “Alertbox” (é<br />

publica<strong>da</strong> no seu “site” duas vezes por s<strong>em</strong>ana). Há uns<br />

meses, quando o iPad foi lançado, Jakob analisou várias<br />

<strong>da</strong>s aplicações disponíveis para o novo “tablet” <strong>da</strong> Apple.<br />

Quis ver se elas se a<strong>da</strong>ptavam convenient<strong>em</strong>ente ao<br />

objectivo para que foram concebi<strong>da</strong>s.<br />

Mais recent<strong>em</strong>ente, Jakob Nielsen quis saber se a<br />

veloci<strong>da</strong>de de leitura variava consoante o aparelho <strong>em</strong><br />

que se lia. O investigador sabia de ant<strong>em</strong>ão que é muito<br />

melhor ler um livro de fi cção deitado num sofá com um<br />

“tablet” nas mãos do que estar sentado a uma secretária<br />

a ler, o mesmo livro, num computador. Mas será que os<br />

“tablets” – computadores pessoais que pod<strong>em</strong> ter ecrãs<br />

tácteis e são mais portáteis do que os outros – são tão<br />

bons para ler como um livro impresso?<br />

Para o descobrir, a equipa do Nielsen Norman Group<br />

fez um estudo sobre a leitura de obras de fi cção <strong>em</strong> dois<br />

dos mais famosos aparelhos<br />

L<strong>em</strong>os mais<br />

rapi<strong>da</strong>mente um livro<br />

de ficção impresso<br />

Jakob Nielsen<br />

http://www.useit.<br />

com/<br />

Digital “versus” impresso<br />

electrónicos: o iPad <strong>da</strong> Apple<br />

(aparelho ain<strong>da</strong> na primeira<br />

geração) e o Kindle <strong>da</strong> Amazon<br />

(já na segun<strong>da</strong> geração).<br />

Deixaram de lado a leitura<br />

de páginas na Internet e de<br />

jornais e concentraram-se na leitura de uma narrativa<br />

linear: a leitura de uma fi cção com princípio, meio e fi m.<br />

No iPad o texto de fi cção era lido com a aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> aplicação<br />

gratuita e instala<strong>da</strong> de orig<strong>em</strong>, iBook. Os investigadores<br />

concentraram-se só na veloci<strong>da</strong>de de leitura, não testaram<br />

se essas aplicações eram fáceis de usar pelos utilizadores.<br />

Pediram a ca<strong>da</strong> um dos 24 participantes deste estudo<br />

que lesse um conto do escritor norte-americano Ernest<br />

H<strong>em</strong>ingway num computador, num iPad, num Kindle<br />

e num livro impresso. Escolheram H<strong>em</strong>ingway por<br />

considerar<strong>em</strong> que a sua leitura é cativante e não muito<br />

difícil. A leitura do conto d<strong>em</strong>orava <strong>em</strong> média 17 minutos<br />

e 20 segundos. Menos t<strong>em</strong>po do que se d<strong>em</strong>ora a ler um<br />

romance ou um livro de estudo, mas mais t<strong>em</strong>po do que<br />

a leituras que as pessoas costumam fazer quando estão<br />

na Internet. No fi nal <strong>da</strong> leitura os participantes tinham<br />

que responder a um questionário com perguntas sobre<br />

o que acabaram de ler. Chegaram à conclusão de que a<br />

compreensão do texto era boa <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as plataformas.<br />

Venham então os números: a veloci<strong>da</strong>de de leitura do<br />

conto do H<strong>em</strong>ingway num iPad foi mais baixa <strong>em</strong> 6,2<br />

por cento do que a veloci<strong>da</strong>de atingi<strong>da</strong> por um leitor<br />

do mesmo conto num livro impresso. Quando a leitura<br />

do conto passou a ser feita no Kindle, a veloci<strong>da</strong>de de<br />

leitura ain<strong>da</strong> foi mais baixa <strong>em</strong> 10,7 por cento, quando<br />

compara<strong>da</strong> com o t<strong>em</strong>po que d<strong>em</strong>ora a ler impressa.<br />

No fi nal, os investigadores perguntaram aos<br />

participantes do estudo qual era o grau de satisfação<br />

que sentiam <strong>em</strong> relação à leitura nestes aparelhos. A<br />

pontuação ia de 1 a 7. <strong>Em</strong> média o iPad teve 5,8 pontos<br />

(apesar de as pessoas se queixar<strong>em</strong> de que era pesado);<br />

o Kindle (5,7 pontos), o livro impresso (5,6) e a leitura<br />

no computador foi a pior classifi ca<strong>da</strong> (3,6). Ler <strong>em</strong> papel<br />

foi considerado mais relaxante do que ler <strong>em</strong> aparelhos<br />

digitais e ler no computador é desconfortável, não dá<br />

prazer, porque l<strong>em</strong>bra o trabalho.<br />

isabel.coutinho@publico.pt<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 47


Discos<br />

aMaumMedíocr<strong>em</strong>mRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente xcelente<br />

Pop<br />

Big Boi é<br />

mesmo<br />

grande<br />

Até agora era a metade mais<br />

desvaloriza<strong>da</strong> na dupla<br />

OutKast, mas, no primeiro<br />

álbum a solo, Big Boi mostra<br />

que é tão grande como o<br />

cúmplice André 3000. Vítor<br />

Belanciano<br />

Big Boi<br />

Sir Lucious Left Foot: The Son of<br />

Chico<br />

Def Jam, distri. Universal<br />

mmmmn<br />

Talvez seja altura de<br />

olharmos de outra<br />

forma para os<br />

OutKast, a dupla<br />

que elevou ele o hip-<br />

hop para pa outro<br />

patamar na última déca<strong>da</strong>, déca através<br />

de álbuns como “Stank “Stankonia” (2000)<br />

ou “Speakerboxxx/The<br />

“Speakerboxxx/The Love Below”<br />

(2003). Até agora era se s<strong>em</strong>pre André<br />

Benjamin (André 3000) 3000 que era<br />

enaltecido, quando se considerava c<br />

a<br />

faceta mais visionária e aventureira<br />

do duo. Era nele que se pensava,<br />

quando eram evoca<strong>da</strong>s<br />

referências<br />

exteriores ao hip-hop que q a dupla<br />

incorporava. Antwan Patton, ou<br />

se sseja, ja, Big Bo Boi, estava mais<br />

próximo <strong>da</strong>quilo que<br />

são os ppadrões<br />

clássicos clássic do hip-<br />

hop. Talvez T por<br />

isso é visto como o<br />

mais conservador<br />

do duo. d<br />

Essa E divisão<br />

era<br />

particularmente<br />

pa<br />

sensível se <strong>em</strong><br />

“Speakerboxxx/<br />

“S<br />

The T Love<br />

Below”, B o<br />

álbum á duplo<br />

O hip-hop para massas segundo Big Boi<br />

<strong>em</strong> e que ca<strong>da</strong><br />

um u assinava a<br />

sua su metade.<br />

“T “The Love<br />

Be Below”, de<br />

An André 3000,<br />

era<br />

uma espécie<br />

de musical m<br />

“Sing “Singin in the<br />

Rain”<br />

<strong>em</strong> versão<br />

cont<strong>em</strong> cont<strong>em</strong>porânea.<br />

Uma obra obra-prima de<br />

melodias inespera<strong>da</strong>s,<br />

in<br />

romances possíveis p e<br />

impossívei impossíveis e uma<br />

sensuali<strong>da</strong>d<br />

sensuali<strong>da</strong>de funky<br />

como já não se ouvia<br />

desde o melhor melh Prince dos<br />

Os australianos Triffi ds, de David McComb, l<strong>em</strong>brados numa antologia<br />

anos 80. A outra face,<br />

“Speakerboxxx”, era diferente,<br />

talvez mais próxima dos cânones do<br />

hip-hop, mas com climas<br />

luxuriantes, configurações<br />

electrónicas, ritmos sincopados e as<br />

marcas de psicadelismo, <strong>em</strong><br />

justaposições surpreendentes.<br />

A ver<strong>da</strong>de é que André 3000 é<br />

um sedutor. Big Boi não. Pelo<br />

menos não era, porque “Sir Lucious<br />

Left Foot: The Son of Chico”, o seu<br />

primeiro álbum a solo, v<strong>em</strong><br />

baralhar as coisas. É uma obra de<br />

uma joviali<strong>da</strong>de assinalável para<br />

alguém com 16 anos de activi<strong>da</strong>de,<br />

e numa altura <strong>em</strong> que o hip-hop e o<br />

R&B dirigido ao centro do mercado<br />

já conheceram melhores dias. 2010<br />

acaba por ser um ano <strong>em</strong> grande<br />

para Big Boi. Não só edita um<br />

óptimo álbum a solo, como acaba<br />

por estar implicado na descoberta<br />

de uma <strong>da</strong>s revelações do ano –<br />

Janelle Monae.<br />

Para ele o hip-hop é uma equação<br />

onde cab<strong>em</strong> tecnologia, ritmo,<br />

energia, configurações rítmicas<br />

electrónicas, climas luxuriantes e<br />

marcas de funk na linha dos<br />

Funkadelic ou Parliament. Tudo isso<br />

está presente numa obra de ritmos<br />

fantasiosos, texturas futuristas e<br />

cadências vocais perfeitas. Há uma<br />

série de convi<strong>da</strong>dos vocais ( Janelle<br />

Monae, T.I., George Clinton ou Gucci<br />

Mane) e de produtores (Organized<br />

Noize, André 3000, Scott Storch, Lil<br />

Jon ou Salaam R<strong>em</strong>i) e o álbum foi<br />

registado de forma espaça<strong>da</strong> ao<br />

longo de três anos. Mas não se sente<br />

dispersão. To<strong>da</strong>s as faixas respiram<br />

o mesmo grau de maturi<strong>da</strong>de e<br />

espontanei<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>ndo ideia que<br />

Big Boi se recreou fixando to<strong>da</strong>s as<br />

peças do puzzle, conseguindo fazer<br />

passar essa exuberância para este<br />

lado.<br />

O belo<br />

desperdício<br />

Vinte anos depois, um “bestof”<br />

dos Triffids v<strong>em</strong> deixar<br />

claro que David McComb foi<br />

um dos maiores escritores<br />

de canções dos anos 80.<br />

João Bonifácio<br />

The Triffids<br />

Wide Open Road<br />

Domino, distri. Edel<br />

mmmmm<br />

Continua a tentativa<br />

de fazer voltar ao<br />

mundo a alma<br />

tortura<strong>da</strong> de David<br />

McComb, o líder<br />

dos Triffids,<br />

perdido há muito para a heroína, a<br />

pneumonia e os acidentes de<br />

automóveis. Ca<strong>da</strong> canção que<br />

McComb escreveu para os Triffids<br />

era como o giz que os polícias usam<br />

para desenhar no chão o contorno<br />

de um cadáver: assombrado,<br />

destrutivo, McComb cantou como<br />

qu<strong>em</strong> se livra <strong>da</strong> peste, numa<br />

tentativa de afastar a poeira <strong>da</strong><br />

morte que dia após dia assentava no<br />

seu corpo. O triste é que esta<br />

compilação de 18 t<strong>em</strong>as podia ter<br />

outros 18 diferentes e ain<strong>da</strong> assim<br />

seria extraordinária – o triste é que<br />

tão poucos se l<strong>em</strong>br<strong>em</strong> disso.<br />

McComb era extraordinário <strong>em</strong><br />

canções grandiosas como “Wide<br />

open road”, “Bury me deep in love”<br />

e “Red pony”, veículos de ultraromantismo<br />

movidos a cor<strong>da</strong>s – esta<br />

última contém o ADN dos três<br />

primeiros discos dos Tindersticks<br />

(cujo líder, aliás, nos confessou<br />

numa tarde soalheira ter aprendido<br />

a escrever canções ao som dela).<br />

Mas também era espantoso na pop<br />

de guitarras de “Reverie”, que citava<br />

o ié-ié dos anos 50, na sinfonia de<br />

bolso de “Beautiful waste”, com<br />

xilofones a dobrar<strong>em</strong> as cor<strong>da</strong>s<br />

antes de uma alegria juvenilesca se<br />

apoderar <strong>da</strong> guitarra, como o era na<br />

secura country <strong>da</strong> “slide guitar” de<br />

“The Seabirds” (que depois ganhava<br />

contornos épicos). Falta, quanto a<br />

mim, uma maior presença de t<strong>em</strong>as<br />

de “In the Pines” (1986), disco<br />

gravado num barraco, de peles<br />

curti<strong>da</strong>s e blues debaixo do sovaco,<br />

mas a sinopse é simples: McComb<br />

foi um desses raros homens que<br />

perceberam que ca<strong>da</strong> melodia só<br />

valia a pena se estivesse<br />

directamente liga<strong>da</strong> às vísceras, que<br />

percebeu que uma harmonia não<br />

era apenas a distância entre notas<br />

mas sim entre a paz e o abismo, que<br />

percebeu que só canta canções de<br />

amor qu<strong>em</strong> do amor só conheceu os<br />

pontapés. No libreto há um desenho<br />

de uma árvore, com raízes fun<strong>da</strong>s,<br />

tronco torto e copa despi<strong>da</strong> e<br />

inclina<strong>da</strong> para o chão. Não há<br />

melhor símbolo para estas canções.<br />

Oneohtrix Point Never,<br />

ou seja Daniel Lopatin,<br />

num disco exploratório<br />

O que diz<strong>em</strong><br />

as máquinas<br />

É com sintetizadores que<br />

se t<strong>em</strong> feito alguma <strong>da</strong><br />

música mais entusiasmante<br />

dos cenários alternativos<br />

cont<strong>em</strong>porâneo. Pedro Rios<br />

Oneohtrix Point<br />

Never<br />

Returnal<br />

Mego, distri.<br />

Matéria Prima<br />

mmmmn<br />

<strong>Em</strong>eralds<br />

Does It Look Like<br />

I’m Here?<br />

Mego, distri.<br />

Matéria Prima<br />

mmmmn<br />

Depois de um início de déca<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />

que o “underground” americano se<br />

dividiu entre o grito libertário <strong>da</strong><br />

New Weird America e o festim de<br />

ruído de uns Wolf Eyes, Black Dice e<br />

Sightings, nos últimos t<strong>em</strong>pos têmse<br />

destacado as felizes explorações<br />

do património <strong>da</strong> música cósmica,<br />

ancora<strong>da</strong> <strong>em</strong> sintetizadores<br />

analógicos. Tal como a editora Sub<br />

Pop fez com os Wolf Eyes <strong>em</strong> 2004, a<br />

Mego, editora mais habitua<strong>da</strong> à<br />

electrónica mais radical e menos<br />

misericordiosa, captou a tendência e<br />

editou, praticamente <strong>em</strong><br />

simultâneo, álbuns dos seus dois<br />

maiores nomes, <strong>Em</strong>eralds, um trio<br />

de Cleveland, e Oneohtrix Point<br />

Never, “alter ego” de Daniel Lopatin,<br />

de Nova Iorque.<br />

“Nil Admirari”, o manto de noise<br />

desfigurado que inaugura<br />

“Returnal”, parece indicar que<br />

Lopatin encontrou novos


TEMPORADA MUSICAL ROMENA 2010<br />

19ª edição<br />

10, 17, , 24 JUL JUL 2010, 18h00<br />

Ténis do Parque de Serralves<br />

Apoio Institucional cional Apoio à Internacionalização Apoio<br />

Programação: António Curvelo<br />

10 JUL<br />

VIJAY IYER TRIO<br />

17 JUL<br />

BERNARDO SASSETTI TRIO<br />

COM PERICO SAMBEAT<br />

24 JUL<br />

“CONTACT”<br />

Dorel BURLACU<br />

IMPERDÍVEL!<br />

Anatol STEFANET<br />

Dave Liebman / John Abercrombie /<br />

Marc Copeland / Drew Gress / Billy Hart<br />

28 de Julho, 4ª 22h30, ONDA JAZZ<br />

29 de Julho, 5ª 21h30, MUSEU DO ORIENTE<br />

Bilhetes à ven<strong>da</strong> na recepção de Serralves e <strong>em</strong> www.serralves.pt<br />

Apoio Media<br />

Alexandru ARCUS<br />

Gari TVERDOHLEB<br />

“Trigon é o mais original<br />

grupo de jazz que<br />

vi <strong>em</strong> Lisboa na<br />

última déca<strong>da</strong>.”<br />

Lagoa Henriques,<br />

após o concerto<br />

no IFP <strong>em</strong> 2007.<br />

Patrocinador do Jazz do Parque<br />

Fun<strong>da</strong>ção de Serralves / Rua DD. D. João de Castro Castro, 210 0 - Porto Po Porto P<br />

Porto orto rto rt rto o/ww o/ o /ww / www ww www.serralves.pt ww<br />

/ serralves@serralves.pt / Informações: 808 200 543


Discos<br />

aMaumMedíocr<strong>em</strong>mRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente<br />

caminhos, depois do sublime<br />

“Rifts” (2009), que compilava os três<br />

primeiros discos de Oneohtrix Point<br />

Never. “Describing Bodies” e “Stress<br />

Waves” tratam de nos sossegar:<br />

sintetizadores a subir aos céus ao<br />

fundo, o lento respirar <strong>da</strong>s<br />

máquinas, a mesma quali<strong>da</strong>de<br />

imersiva do passado. A maior<br />

novi<strong>da</strong>de é “Returnal”, próxima do<br />

formato canção, que manipula a voz<br />

de Lopatin, s<strong>em</strong> sexo, duplica<strong>da</strong>,<br />

como robôs <strong>em</strong> diálogos<br />

indecifráveis – “Returnal” há-de ser<br />

cita<strong>da</strong>, ao fundo, na maravilha de<br />

ecos “Preyouandi”.<br />

Se a história <strong>da</strong> música popular a<br />

Lopatin interessa para a tornar<br />

fantasma <strong>da</strong>s suas composições, os<br />

<strong>Em</strong>eralds fixam-se num período <strong>em</strong><br />

particular, a “kosmische Musik”,<br />

feita nos anos 1970, na Al<strong>em</strong>anha.<br />

<strong>Em</strong> “Does It Look Like I’m Here?”, o<br />

terceiro disco “oficial” dos <strong>Em</strong>eralds<br />

(descontando as edições<br />

limitadíssimas de que são adeptos),<br />

comprimiram as viagens de<br />

sintetizadores (e a discreta guitarra<br />

de Mark McGuire) <strong>em</strong> peças mais<br />

O realismo mágico dos Tigrala <strong>em</strong> estreia<br />

curtas do que no passado.<br />

<strong>em</strong> <strong>busca</strong> delas é menos importante Desmerec<strong>em</strong>os a música do trio, que<br />

<strong>Em</strong> momentos como “Now you que sorver o que delas frutificou. não pede na<strong>da</strong> disso. Música fora de<br />

see me” (cânticos melódicos e<br />

Bucólica de alpendre <strong>em</strong> fim de t<strong>em</strong>po e alheia a fronteiras,<br />

sintetizadores ao fundo, acordes tarde e xamânica como ritual de diss<strong>em</strong>os acima. Não é música do<br />

simples de guitarra <strong>em</strong> primeiro outras paragens, feita de delica<strong>da</strong> mundo, é música onde, com três<br />

plano) aproximam-se de territórios filigrana sonora ou de garri<strong>da</strong>s músicos <strong>em</strong> digressão íntima, o<br />

quase “new age”, sinal de que estão manchas sonoras <strong>em</strong> mutação, esta mundo se reflecte.<br />

mais interessados no apelo sensorial música existe para além do t<strong>em</strong>po. A tambura e o vibrafone, a flauta e<br />

do que <strong>em</strong> abrir novas possibili<strong>da</strong>des A tambura tanto sugere o<br />

o “cajón”, percussões turcas,<br />

criativas – ideia confirma<strong>da</strong> <strong>em</strong> movimento espiralado, ascendente, guitarra acústica e estes sete t<strong>em</strong>as<br />

“Genetic”, com crescendos épicos <strong>da</strong> música tradicional indiana, como que são “sci-fi” tropicalista e transe<br />

deliciosamente previsíveis, solos de se entrega à melancolia de<br />

popular, que são trinados que rug<strong>em</strong><br />

guitarra <strong>em</strong> várias cama<strong>da</strong>s e crepúsculo mediterrânico. O<br />

e melodias de uma profundi<strong>da</strong>de<br />

cascatas de sintetizadores à<br />

magnífico trabalho de Ian Carlo comovente. Três Tigrala a criar<br />

Tangerine Dream (som outrora Mendoza no vibrafone conduz-nos realismo mágico <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po real.<br />

futurista, hoje nostálgico).<br />

<strong>em</strong> movimentos circulares,<br />

Uma viag<strong>em</strong> admirável. M.L.<br />

O selo Mego pode aju<strong>da</strong>r a que se hipnóticos, que ora ouvimos como<br />

dê a importância devi<strong>da</strong> a alguma <strong>da</strong><br />

música mais interessante dos nossos<br />

t<strong>em</strong>pos. Seria justo que assim fosse.<br />

minimalismo, arriscando magia<br />

animista, ora imaginamos como o<br />

Rhodes de Herbie Hancock entregue<br />

a outras feitiçarias que não as de<br />

Laura Nyro<br />

Gonna Take a Miracle<br />

Rev-Ola, distri. Mbari<br />

Tigrala<br />

Tigrala<br />

Mbari Música<br />

Miles Davis – e enquanto a tambura<br />

divaga e o vibrafone hipnotiza,<br />

enquanto a flauta sopra beatífica<br />

como bom “freak”, a guitarra<br />

mmmmm<br />

Há alguns anos, por<br />

conta de mais um<br />

mmmmn<br />

acústica de Guilherme Canhão, num<br />

fluxo incessante, vai tecendo o<br />

dos extraordinários<br />

textos do saudoso<br />

Não se pprocur<strong>em</strong><br />

tapete p sonoro ppor<br />

Fernando<br />

<strong>em</strong> “Tigrala”<br />

onde os Tigrala<br />

Magalhães, dei<br />

coordena<strong>da</strong>s<br />

caminham.<br />

conta <strong>da</strong> existência de uma branca<br />

estéticas ou<br />

Como se<br />

com coração e garganta negros,<br />

t<strong>em</strong>porais<br />

percebe,<br />

já Laura Nyro. Pianista de excepção,<br />

que que<br />

ced<strong>em</strong>o ced<strong>em</strong>os dona de quatro oitavas de rara<br />

expliqu<strong>em</strong> esta música.<br />

ao que<br />

perfeição tonal, Nyro era uma<br />

Não se escave sob ob a<br />

não<br />

conhecedora <strong>da</strong> escrita clássica <strong>da</strong><br />

tambura, a guitarra arra<br />

devíamos, devíamo Tin Pan Alley, suficient<strong>em</strong>ente<br />

acústica, as percussões cussões e<br />

já<br />

aventureira para dirimir as fronteiras<br />

o vibrafone <strong>em</strong> <strong>busca</strong> dos<br />

procurámos<br />

pr p ocurám estanques <strong>em</strong> que a noção de<br />

alicerces que tudo do<br />

raízes e já “canção” se fechava. Era uma Nina<br />

esclareçam. A música dos<br />

indicámos<br />

Simone experimentalista, que<br />

Tigrala, ou seja, a música que<br />

traves introduzia esquinas nos lugares mais<br />

nasce quando se e reún<strong>em</strong> reún<strong>em</strong><br />

mestras. inesperados, as dobrava, chocalhava,<br />

Norberto Lobo, Guilherme<br />

<strong>em</strong>penava. “Eli and the Thirtheenth<br />

Canhão e Ian Carlo arlo<br />

Confession” e “New York<br />

Mendoza, t<strong>em</strong> raízes aízes<br />

Tenderberry” tornaram-se discos de<br />

antigas,<br />

cabeceira, que só se mostravam aos<br />

profundíssimas, ,<br />

mas, quando a<br />

ouvimos, escavar ar<br />

Laura Nyro, uma cantora branca<br />

de garganta negra<br />

amigos mais eleitos. Por alguma<br />

razão, 30 anos depois, Nyro an<strong>da</strong> a<br />

ser lentamente redescoberta – e sorte<br />

ENRIC VIVES-RUBIO<br />

a nossa que por incúria nunca<br />

tínhamos <strong>da</strong>do atenção a este<br />

“Gonna Take a Miracle” por se tratar<br />

de um disco de versões. A questão é:<br />

conhecíamos o sabor do fruto, mas<br />

não sabíamos que as raízes eram tão<br />

viçosas. Esta é a música pela qual<br />

uma Nyro adolescente se apaixonou<br />

– e que música, quase to<strong>da</strong> negra,<br />

negra. Um extraordinário “The bells”<br />

(de Marvin Gaye), com a voz nos<br />

píncaros, “Monkey time”, <strong>em</strong> que<br />

Nyro consegue o milagre de n<strong>em</strong><br />

fazer notar a pena de Curtis Mayfield<br />

e depois passa para “Dancing in the<br />

street”, esse hino à juventude<br />

iconizado pela maravilhosa Martha<br />

Reeves, a maior cantora negra do seu<br />

t<strong>em</strong>po. A lista de compositores é<br />

excelsa, incluindo ain<strong>da</strong> Smokey<br />

Robinson, Phil Spector (nesse<br />

majestoso e tão esquecido “Spanish<br />

Harl<strong>em</strong>”), Holland-Dozier-Holland,<br />

Ashford & Simpson e Carole King (na<br />

genial “(You make me feel like) a<br />

natural woman”. Se isto não fosse<br />

um disco de versões, podia muito<br />

b<strong>em</strong> ser um “best-of” <strong>da</strong> música pop<br />

negra dos anos 60. Assim é um disco<br />

raro – porque Nyro apropria-se de<br />

ca<strong>da</strong> t<strong>em</strong>a com uma paixão<br />

tr<strong>em</strong>en<strong>da</strong>, só possível a qu<strong>em</strong>, além<br />

de abençoado por uma voz<br />

tr<strong>em</strong>en<strong>da</strong>, amou ca<strong>da</strong> uma destas<br />

notas. Um disco perfeito. J.B.<br />

Bob Da Rage Sense<br />

Diários de Marcos Robert<br />

Footmovin’; distri. SóHipHop<br />

mmmnn<br />

O terceiro álbum de Bob Da Rage Sense<br />

O título aponta<br />

desde logo aquilo<br />

que existe de íntimo<br />

neste que é o<br />

terceiro álbum de<br />

Bob Da Rage Sense.<br />

“Diários de Marcos Robert” é uma<br />

digressão interior onde o MC<br />

angolano, há vários anos a viver <strong>em</strong><br />

Portugal, cruza autobiografia e visão<br />

política, comentários para a<br />

comuni<strong>da</strong>de hip-hop e dissertações<br />

sobre o país onde nasceu e aquele de<br />

que agora faz parte. O tom ora é<br />

agressivo, ora compassivo, o discurso<br />

tanto aponta um dedo acusador, s<strong>em</strong><br />

cont<strong>em</strong>plações, como procura<br />

conciliação – mostra um caminho, o<br />

seu caminho, esperando que outros o<br />

sigam.<br />

O mais interessante neste álbum,<br />

que teve primeira edição a 11 de<br />

Nov<strong>em</strong>bro, entretanto esgota<strong>da</strong> e<br />

prestes a ser substituí<strong>da</strong> por uma<br />

segun<strong>da</strong>, é a forma como Rage Sense<br />

conjuga a dureza <strong>da</strong>s palavras com<br />

uma elegância musical familiar <strong>da</strong><br />

nu-soul de Common e, mais atrás, <strong>da</strong><br />

soul ela mesma <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970.<br />

Com João Cabrita nos metais e João<br />

Gomes nas teclas (o som nocturno e<br />

fumarento do Rhodes como que se<br />

cola às canções como identi<strong>da</strong>de<br />

maior), com convi<strong>da</strong>dos como Sir<br />

Scratch, New Max, Dino, Raf Tag,<br />

Sam The Kid ou Tamin, “Diário de<br />

Marcos Robert” não dirá “diferente”<br />

<strong>da</strong>quilo que conhec<strong>em</strong>os no hip-hop<br />

(<strong>em</strong>) português – por ex<strong>em</strong>plo,<br />

partilha o marxismo com Valete,<br />

ataca o racismo latente na socie<strong>da</strong>de<br />

portuguesa, como o faz<strong>em</strong> os Nigga<br />

Poison e, pensando <strong>em</strong> Angola,<br />

dirige o mesmo olhar crítico que MC<br />

Kapa ao regime angolano no poder.<br />

É a forma como o diz, preferindo<br />

expor clara e metodicamente os<br />

versos a lançá-los com estrondo ao<br />

microfone; é a forma como escolhe<br />

envolver o discurso <strong>em</strong> hip-hop<br />

consciente <strong>da</strong>s suas raízes (travo<br />

“vintage” a soul e funk), que o<br />

destaca no cenário nacional.<br />

Ain<strong>da</strong> não é o grande álbum de<br />

Bob Da Rage Sense, mas dá passos<br />

firmes na definição de uma<br />

expressivi<strong>da</strong>de que, cr<strong>em</strong>os,<br />

frutificará brev<strong>em</strong>ente. Amanhã,<br />

numa noite partilha<strong>da</strong> com<br />

Kacetado, apresenta-se no Musicbox<br />

com nova ban<strong>da</strong>, num novo<br />

formato. Uma óptima oportuni<strong>da</strong>de<br />

para investigar que redescobriu<br />

Rage Sense nestes seus “Diários”.<br />

M.L.<br />

Uffie<br />

Sex Dreams and Denim Jeans<br />

Ed Banger, distri. Massala<br />

mmmnn<br />

É prática habitual<br />

dizer-se que na<br />

cultura pop o<br />

t<strong>em</strong>po é tudo. Não é<br />

apenas na pop. É<br />

<strong>em</strong> quase tudo na<br />

vi<strong>da</strong>. Exist<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre contingências<br />

exteriores que não se dominam, mas<br />

ter o instinto para perceber qual o<br />

momento certo para criar ou lançar<br />

seja o que for não é para todos. É<br />

uma arte. Até agora a editora<br />

francesa Ed Banger (a estrutura de


Discos<br />

projectos<br />

activi<strong>da</strong>de<br />

se repartiu<br />

entre Veneza<br />

e as cortes de<br />

Florença Florença, Viena e<br />

como os Justice, Sebastian, Feadz ou Innsbruck. Autor de cerca de 15<br />

Mr Oizo) t<strong>em</strong> tido essa capaci<strong>da</strong>de. óperas, ficou famoso devido a “Il<br />

Com Uffie parece ter falhado. pomo d’oro” (1666), obra<br />

Quando surgiu com o primeiro interpreta<strong>da</strong> no casamento do<br />

single (“Pop the glock”), <strong>em</strong> 2006, a imperador Leopoldo I, mas a sua<br />

americana – a residir <strong>em</strong> França – restante produção é também de<br />

Uffie parecia condena<strong>da</strong> ao sucesso. altíssima quali<strong>da</strong>de e merecia ser<br />

Parecia ter a música – electropop mais conheci<strong>da</strong>. “Le Disgrazie<br />

engenhoso proporcionado por d’Amore” (1667), com libreto de<br />

Feadz – a atitude e o visual certos Francesco Sbarra, é identifica<strong>da</strong><br />

para triunfar. Mas depois surgiram como um “dramma giocosomorale”,<br />

hesitações, contingências <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, e fazendo uma síntese entre o registo<br />

o álbum de estreia foi sendo adiado. cómico <strong>da</strong> estética veneziana e a<br />

Surge agora, desgarrado, fora de dimensão moral e edificante<br />

prazo. Não que a sua música tenha implícita na ópera de corte. A trama<br />

perdido o apelo juvenil, mas porque apresenta uma delirante<br />

se trata de um álbum que mais combinação entre personagens<br />

parece uma compilação dos últimos alegóricas e divin<strong>da</strong>des pagãs que<br />

seis anos. Não existe uma ideia são objecto de uma caricatura que<br />

aglutinadora. Apenas um conjunto visa denunciar os excessos <strong>da</strong> paixão<br />

de canções, com contribuições de amorosa. A acção inicia-se com uma<br />

Mirwais, habitual colaborador de discussão conjugal, na qual Vénus se<br />

Madonna, dos colegas de editora Mr queixa <strong>da</strong> gruta barulhenta e cheia<br />

Oizo e Feadz e <strong>da</strong> estrela americana de fumo onde funciona a forja do<br />

Pharrell Williams. Há incursões seu marido Vulcano e pelo meio não<br />

electro contamina<strong>da</strong>s pelo R&B e faltam críticas aos costumes <strong>da</strong><br />

hip-hop, faixas de pendor <strong>da</strong>nçante época, patentes, patentes, por ex<strong>em</strong>plo, no<br />

inspirado pelo house e uma versão roubo <strong>da</strong> caixa de cosméticos de<br />

de “Hong Kong garden” de Siouxsie Vénus por Cupido ou no<br />

& The Banshees, tudo isto, claro, comportamento dos Ciclopes, Ciclopes,<br />

marcado pela voz cândi<strong>da</strong> de Uffie. que aproveitam a ausência de<br />

Na<strong>da</strong> que envergonhe, mas s<strong>em</strong> o Vulcano para se entregar<strong>em</strong> ao<br />

esplendor que os primeiros t<strong>em</strong>pos jogo e à bebi<strong>da</strong>. As personagens<br />

pareciam prenunciar. V.B.<br />

alegóricas não são menos<br />

diverti<strong>da</strong>s: a Avareza é dona de<br />

uma estalag<strong>em</strong>, o Engano<br />

um charlatão e<br />

Clássica<br />

Graças e<br />

desgraças do<br />

amor<br />

Carlo Ipata dirige uma<br />

sedutora versão <strong>da</strong> diverti<strong>da</strong><br />

e inventiva ópera barroca<br />

“Le Disgrazie d’Amore” de<br />

Antonio Cesti. Cristina<br />

Fernandes<br />

Antonio Cesti<br />

“Le Disgrazie d’Amore”<br />

Auser Musici<br />

Carlo Ipata (direcção)<br />

Hyperion (2 CD)<br />

mmmmn<br />

Antonio Cesti (1623-<br />

1669) foi uma<br />

figura-chave <strong>da</strong><br />

escola operática<br />

veneziana do século<br />

XVII, cuja<br />

52 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

Uma americana a viver <strong>em</strong> Paris, Uffi e, num disco de electro<br />

Uma ópera barroca com direcção de Carlo Ipata<br />

a Adulação uma<br />

cigana que<br />

adivinha o futuro.<br />

Cesti C caracteriza de<br />

forma engenh engenhosa personagens e<br />

situações, recorrendo recorre à sua<br />

inspira<strong>da</strong> veia me melódica e teatral e<br />

aos códigos <strong>da</strong> ret retórica barroca. Os<br />

recitativos e “ariosi” “ario têm forte<br />

pertinência dramática dramá e a<br />

quanti<strong>da</strong>de de cenas de conjunto<br />

confere flexibili<strong>da</strong>de e continui<strong>da</strong>de<br />

ao discurso. A obra distingue-se<br />

também pela profusão de cores<br />

tímbricas, recorrendo a um<br />

“consort” de violas <strong>da</strong> gamba, a uma<br />

ampla secção de baixo contínuo e a<br />

um grupo de “ritornello” formado<br />

por violinos, violas “<strong>da</strong> braccio”,<br />

flautas, charamela e dulçaina. A<br />

direcção de Carlo Ipata à frente dos<br />

Auser Musici proporciona uma<br />

interpretação plena de vivaci<strong>da</strong>de e<br />

estilisticamente consistente,<br />

contando com a mais-valia <strong>da</strong><br />

colaboração de vários nomes ilustres<br />

do canto barroco, como é o caso de<br />

Maria Grazia Schiavo (Vénus), Furio<br />

Zanassi (Vulcano), Antonio Abete<br />

(Bronte) ou Martin Oro (Avareza).<br />

Destacam-se ain<strong>da</strong> as óptimas<br />

prestações de Cristina Arcari<br />

(Alegria) e do expressivo soprano<br />

masculino Paolo Lopez<br />

(Cupido).<br />

aMaumMedíocr<strong>em</strong>mRazoávelmmmBommmmmMuito BommmmmmExcelente<br />

Marilyn Crispell, uma pianista<br />

com vontade de depurar a música<br />

Jazz<br />

Regresso<br />

à Natureza<br />

Surpreendente novo registo<br />

<strong>da</strong> pianista norte-americana<br />

Marilyn Crispell, aqui sob o<br />

signo do naturalismo e <strong>da</strong><br />

pureza original <strong>da</strong> música.<br />

Rodrigo Amado<br />

Marilyn Crispell / David<br />

Rothenberg<br />

“One Dark Night I Left My Silent<br />

House”<br />

ECM, Dist. Dargil<br />

mmmmn<br />

Num mundo<br />

sobrecarregado de<br />

música descartável,<br />

s<strong>em</strong> sentido,<br />

infinitas cópias de<br />

géneros e<br />

linguagens musicais explora<strong>da</strong>s até à<br />

exaustão por músicos que não têm<br />

absolutamente na<strong>da</strong> para dizer, é<br />

um enorme alívio depararmo-nos<br />

com um projecto especial e sensível<br />

como este, <strong>em</strong> que se enunciam os<br />

sons de forma simples, com um<br />

mínimo de referências, s<strong>em</strong> nenhum<br />

outro propósito que não seja uma<br />

pura comunhão musical. E é<br />

exactamente isso que acontece <strong>em</strong><br />

“One Dark Night I Left My Silent<br />

House”, registo <strong>em</strong> duo que Crispell<br />

partilha com David Rothenberg<br />

(clarinete e clarinete-baixo), músico<br />

naturalista que se dedica ao estudo<br />

dos sons dos animais,<br />

nomea<strong>da</strong>mente <strong>da</strong>s baleias,<br />

desenvolvendo ain<strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de<br />

como observador de pássaros. A<br />

pianista Marilyn Crispell t<strong>em</strong> as suas<br />

grandes influências <strong>em</strong> Cecil Taylor<br />

e Paul Bley, tendo-se afirmado nas<br />

déca<strong>da</strong>s de 80 e 90 como uma <strong>da</strong>s<br />

mais poderosas improvisadoras<br />

f<strong>em</strong>ininas ao lado de músicos como<br />

Anthony Braxton (de cujo quarteto<br />

fez parte), Tim Berne, Anthony<br />

Davis ou Andrew Cyrille. Contudo,<br />

nos seus trabalhos mais recentes,<br />

Crispell t<strong>em</strong> d<strong>em</strong>onstrado uma<br />

vontade clara de depurar a música,<br />

libertando-a de movimentos<br />

idiomáticos ou referências a música<br />

do passado. Aqui, juntamente com<br />

Rothenberg, constrói um álbum<br />

misterioso, profun<strong>da</strong>mente lírico e<br />

espiritual, que revela uma enorme<br />

química entre os dois músicos. Às<br />

notas e sons suaves do piano de<br />

Crispell, frequent<strong>em</strong>ente produzidos<br />

por uma acção directa nas cor<strong>da</strong>s ou<br />

no corpo do piano, Rothenberg<br />

responde com uma moção circular<br />

de sons orgânicos, feitos de<br />

pequenas melodias simples, para<br />

um resultado final que t<strong>em</strong> tanto de<br />

fascinante como de ver<strong>da</strong>deiro.


Concertos<br />

Hopkinson Smith,<br />

mestre do alaúde no<br />

Festival do Estoril<br />

Espaço<br />

Público<br />

Clássica<br />

Itália e<br />

Espanha por<br />

Hopkinson<br />

Smith<br />

Na abertura do Festival do<br />

Estoril, o grande alaúdista<br />

americano coloca <strong>em</strong><br />

confronto a música de Luis<br />

de Milán e de Francesco<br />

Milano, dois nomes maiores<br />

<strong>da</strong> composição para cor<strong>da</strong>s<br />

dedilha<strong>da</strong>s no século XVI.<br />

Cristina Fernandes<br />

36º Festival do Estoril<br />

Hopkinson Smith (alaúde e vihuela)<br />

“O fascínio do século XVI: Milano/<br />

Milan”<br />

Cascais, Centro Cultural, dia 17, às 21h30.<br />

O 36º Festival do Estoril inicia-se<br />

com um recital por um mestre<br />

incontestado dos instrumentos de<br />

cor<strong>da</strong>s dedilha<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Renascença e<br />

do Barroco e uma figura<br />

fun<strong>da</strong>mental do movimento <strong>da</strong><br />

música antiga e <strong>da</strong>s práticas de<br />

execução históricas. Hopkinson<br />

Smith estará amanhã, às 21h30, no<br />

Centro Cultural de Cascais para<br />

apresentar um programa dedicado à<br />

música do século XVI que coloca <strong>em</strong><br />

paralelo a obra do espanhol Luis de<br />

Milán (1500-1561) e do italiano<br />

Francesco Milano (1497-1543). Do<br />

primeiro será possível ouvir uma<br />

série de peças para vihuela<br />

(instrumento de cor<strong>da</strong>s duplas <strong>em</strong><br />

voga na Península Ibérica na época<br />

renascentista) <strong>da</strong> colectânea “El<br />

Maestro” (Valência, 1536), dedica<strong>da</strong><br />

ao rei D. João III de Portugal e<br />

composta por Pavanas, Fantasias e<br />

Tientos. Do segundo será feito um<br />

retrato musical através de <strong>da</strong>nças<br />

como a Pavana e o Saltarello,<br />

transcrições de obras vocais,<br />

Fantasias e Ricercari, interpreta<strong>da</strong>s<br />

ao a alaúde.<br />

Nascido Na N scido <strong>em</strong> Nova Iorque<br />

<strong>em</strong> 1946,<br />

Hopkinson Hopk p inson Smith formou-se formou-s <strong>em</strong><br />

Musicologia Mu Musicologia na Universi<strong>da</strong>de Universi<strong>da</strong> de<br />

Harvard, antes de vir para para a<br />

Europa <strong>em</strong> 1973 para estu<strong>da</strong>r est com<br />

o grande guitarrista e pe<strong>da</strong>gogo pe<br />

<strong>Em</strong>ilio Pujol Pujol e com c o<br />

alaúdista ala<br />

Eugen Eu<br />

Dombois. D<br />

<strong>Em</strong> E<br />

meados m de<br />

1970 19 foi<br />

um dos<br />

m<strong>em</strong>bros m<br />

pioneiros pi<br />

do<br />

agrupamento<br />

agrupament<br />

Este espaço vai ser<br />

seu. Que fi lme, peça de<br />

teatro, livro, exposição,<br />

disco, álbum, canção,<br />

concerto, DVD viu e<br />

gostou tanto que lhe<br />

apeteceu escrever<br />

Hespérion XX de Jordi Savall, com o<br />

qual colaborou durante mais de uma<br />

déca<strong>da</strong> e gravou vários discos. A<br />

partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980 Hopkinson<br />

Smith dedicou-se ca<strong>da</strong> vez mais ao<br />

seu percurso a solo, usando<br />

instrumentos de época como a<br />

vihuela, o alaúde, a teorba e as<br />

guitarras renascentista e barroca.<br />

Gravou mais de 20 discos, muitos<br />

deles pr<strong>em</strong>iados, com repertório<br />

que se estende dos alvores <strong>da</strong><br />

Renascença a J. S. Bach. É também<br />

um reconhecido pe<strong>da</strong>gogo <strong>da</strong><br />

prestigia<strong>da</strong> Schola Cantorum de<br />

Basileia e orienta frequent<strong>em</strong>ente<br />

“masterclasses” <strong>em</strong> to<strong>da</strong> a Europa,<br />

na América do Norte e do Sul.<br />

Cantos à tona de<br />

água <strong>em</strong> Coimbra<br />

Festival <strong>da</strong>s Artes<br />

Orquestra Metropolitana de Lisboa<br />

Coral Lisboa Cantat<br />

Cesário Costa (direcção)<br />

Coimbra, Anfiteatro Colina de Camões (Quinta <strong>da</strong>s<br />

Lágrimas), dia 18, às 21h.<br />

O Festival <strong>da</strong>s Artes, um projecto<br />

cultural <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Inês de<br />

Castro, caracteriza-se pela sua<br />

abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> pluridisciplinar <strong>da</strong>s<br />

várias áreas artísticas <strong>em</strong> torno de<br />

um t<strong>em</strong>a comum. Para a segun<strong>da</strong><br />

edição, a decorrer entre 16 de Julho<br />

e 1 de Agosto, foi escolhi<strong>da</strong> a<br />

t<strong>em</strong>ática <strong>da</strong> água e <strong>da</strong>s suas<br />

representações no âmbito <strong>da</strong><br />

música, do teatro <strong>da</strong> <strong>da</strong>nça, do<br />

cin<strong>em</strong>a, <strong>da</strong> pintura, <strong>da</strong> fotografia, <strong>da</strong><br />

arquitectura, do património ou <strong>da</strong><br />

gastronomia, entre outras. No plano<br />

musical o programa de ca<strong>da</strong><br />

concerto foi cui<strong>da</strong>dosamente<br />

estruturado tendo <strong>em</strong> conta esse fio<br />

condutor, como é o caso do<br />

concerto <strong>da</strong> Orquestra<br />

Metropolitana de Lisboa e do Coral<br />

Lisboa Cantat, sob a direcção do<br />

maestro Cesário Costa, no próximo<br />

dia 18. Com a designação “Cantos à<br />

tona de água” percorre um período<br />

t<strong>em</strong>poral que vai dos finais do<br />

século XVIII aos inícios do século<br />

XX, incluindo trechos célebres<br />

como “O Danúbio Azul”,<br />

de J. Strauss; o<br />

Coro dos<br />

Escravos<br />

Hebreus do<br />

“Nabucco”<br />

de Verdi<br />

(cantado à<br />

beira do<br />

O maestro Cesário Costa<br />

dirige a Metropolitana de<br />

Lisboa no Festival <strong>da</strong>s Artes<br />

sobre ele, concor<strong>da</strong>ndo<br />

ou não concor<strong>da</strong>ndo<br />

com o que escrev<strong>em</strong>os?<br />

Envie-nos uma nota até<br />

500 caracteres para<br />

ipsilon@publico.pt. E<br />

nós depois publicamos.<br />

rio Eufrates, enquanto sonham com<br />

o rio Jordão); a Barcarola dos<br />

“Contos de Hoffmann”, de<br />

Offenbach; ou o Coro dos<br />

Marinheiros <strong>da</strong> ópera “Ma<strong>da</strong>me<br />

Butterfly”, de Puccini. Mas o maior<br />

interesse <strong>da</strong> proposta, que se inicia<br />

simbolicamente com a “Dança dos<br />

Espíritos Benignos” do “Orfeu e<br />

Eurídice”, de Gluck, reside na<br />

audição de duas belíssimas peças<br />

mais raramente interpreta<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

autoria de Beethoven e Schubert a<br />

partir <strong>da</strong> poesia de Goethe,<br />

respectivamente “Mar calmo e<br />

viag<strong>em</strong> feliz”, op. 112, e “Canto dos<br />

Espíritos sobre as águas” D. 714. O<br />

programa é compl<strong>em</strong>entado pelo<br />

“A<strong>da</strong>gietto” <strong>da</strong> 5ª Sinfonia, de<br />

Mahler. O seu uso como ban<strong>da</strong><br />

sonora do filme de Luchino Visconti<br />

“Morte <strong>em</strong> Veneza” contribuiu para<br />

que no nosso imaginário esta<br />

música comovente ficasse também<br />

associa<strong>da</strong> ao cenário dos múltiplos<br />

canais que rasgam Veneza e ao<br />

inesquecível protagonista <strong>da</strong> novela<br />

de Thomas Mann que seu orig<strong>em</strong> à<br />

obra cin<strong>em</strong>atográfica. C.F.<br />

Pop<br />

O regresso<br />

dos<br />

aristocratas<br />

de<br />

vanguar<strong>da</strong><br />

Um revisitar de carreira<br />

com quatro históricos: Brian<br />

Ferry, Phil Manzanera, Andy<br />

MacKay e Paul Thompson.<br />

Mário Lopes<br />

Roxy Music<br />

Oeiras. Jardim do Palácio Marquês de Pombal.<br />

Largo do Marquês de Pombal - Palácio. 5ª às 22h00.<br />

Tel.: 214465300. 30€. Oeiras Sounds 10.<br />

Os Roxy Music atravessaram a<br />

déca<strong>da</strong> de 1970 antecipando<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 53


Concertos<br />

O regresso dos Roxy Music com<br />

quatro históricos na formação<br />

tendências. Quando nasceram, o<br />

glam estava a um par de anos de<br />

distância, mas a extravagância de<br />

Ferry e Eno, de Manzanera e Paul<br />

Thompson mostraram que um<br />

mundo pop dominado por Marc<br />

Bolan e David Bowie estava ao virar<br />

<strong>da</strong> esquina. Mais tarde, quando se<br />

reuniram <strong>em</strong> 1978 após dois anos de<br />

ausência, Brian Ferry assumiu<br />

definitivamente a pose de playboy<br />

de classe alta e a músico seguiu-o: o<br />

vanguardismo prog e o jogo de<br />

artifícios ficavam definitivamente<br />

para trás, <strong>em</strong> favor de um sofisticado<br />

romantismo de crooner.<br />

Agora, duas déca<strong>da</strong>s depois de<br />

novo fim <strong>da</strong> ban<strong>da</strong> (após a digressão<br />

de “Avalon”, o último álbum,<br />

editado <strong>em</strong> 1982), e nove anos<br />

depois de se ter<strong>em</strong> reunido uma vez<br />

mais, os Roxy Music faz<strong>em</strong> aquilo<br />

que se espera. Revisitam a carreira e<br />

ced<strong>em</strong> espaço ao protagonismo de<br />

ca<strong>da</strong> um dos históricos ain<strong>da</strong><br />

presentes, Brian Ferry, o guitarrista<br />

Phil Manzanera, o baterista Paul<br />

Thompson e o saxofonista Andy<br />

MacKay.<br />

Esperam-se solos de Manzanera e<br />

de MacKay e a sedução de<br />

aristocrata de Ferry. Esperam-se, a<br />

julgar pelo concerto que a ban<strong>da</strong><br />

deu no início de Julho no Festival de<br />

Montreux, onde os m<strong>em</strong>bros<br />

originais foram acompanhados <strong>em</strong><br />

palco por oito músicos, canções<br />

históricas como “Re-make/Re-<br />

54 • Sexta-feira 16 Julho 2010 • Ípsilon<br />

model”, “Love is the drug”, “Do the<br />

strand”, “Ladytron” ou a versão de<br />

“Jeaulous guy” que os Roxy Music<br />

gravaram <strong>em</strong> 1981.<br />

Novas velhas glórias<br />

School of Seven Bells<br />

Festival Manta<br />

Guimarães, Centro Cultural Vila Flor. Aveni<strong>da</strong> D.<br />

Afonso Henriques, 701.<br />

Quinta, às 22h00. Bilhetes a 10 euros. Tel.:<br />

253424700<br />

Ouvimos “Babelonia” e eis-nos<br />

dentro de um desfile de m<strong>em</strong>órias<br />

do indie rock dos anos 90. A canção,<br />

uma <strong>da</strong>s dez de “Disconnect from<br />

Desire”, o segundo disco dos School<br />

of Seven Bells, acabado de editar, é o<br />

ponto de contacto perfeito entre o<br />

“kraut” caramelizado dos Stereolab,<br />

as paredes de ruído<br />

meticulosamente orquestra<strong>da</strong>s e as<br />

vozes deixa<strong>da</strong>s ao abandono infinito<br />

dos My Bloody Valentine.<br />

O grupo, que actuará quinta-feira<br />

no Centro Cultural Vila Flor, <strong>em</strong><br />

Guimarães, é um <strong>da</strong>queles com tudo<br />

no sítio. “<strong>Em</strong> ‘Alpinisms’ [o disco<br />

anterior], estávamos a trabalhar<br />

juntos pela primeira vez. Acho que<br />

havia muito mais experimentação a<br />

acontecer. Estávamos a conhecer os<br />

estilos de composição de ca<strong>da</strong> um e<br />

isso fez ‘Alpinisms’. Para este disco,<br />

como nos livrámos disso tudo, saiu<br />

O sonho pop dos<br />

School Of Seven<br />

Bells chega ao<br />

Festival Manta e<br />

pod<strong>em</strong>os agradecer<br />

aos Interpol<br />

um manifesto mais deliberado.<br />

Sabíamos exactamente que tipo de<br />

disco queríamos fazer”, explicou a<br />

vocalista Alejandra Deheza ao “site”<br />

Artistdirect.com. <strong>Em</strong> “Disconnect<br />

from Desire”, sucessor do muito<br />

aplaudido “Alpinisms”, há canções<br />

vagamente <strong>da</strong>nçáveis, dream pop<br />

com elevados níveis de açúcar,<br />

soleni<strong>da</strong>de à Cocteau Twins.<br />

Novi<strong>da</strong>des, transgressão? Pod<strong>em</strong><br />

procurar noutras paragens.<br />

Os School of Seven Bells viv<strong>em</strong> um<br />

sonho pop, desde o início do grupo.<br />

Alejandra e Claudia Deheza, irmãs<br />

gémeas fixa<strong>da</strong>s nas harmonias<br />

vocais dos Fleetwood Mac de<br />

“Rumors”, que pertenciam aos<br />

On!Air!Library!, encontraram m<br />

Benjamin Curtis, então nos Secret<br />

Machines, algures <strong>em</strong> 2004 – ambas<br />

as ban<strong>da</strong>s fizeram primeiras partes<br />

dos Interpol.<br />

No fim de 2006, já tinham m<br />

abandonado os outros projectos ctos<br />

para se dedicar<strong>em</strong> <strong>em</strong> exclusivo sivo aos<br />

School of Seven Bells. Decidiram iram<br />

viver juntos e montar um estúdio túdio<br />

caseiro – uma opção que, disse sse<br />

Alejandra numa entrevista, <strong>em</strong><br />

2008, ajudou a diluir as<br />

fronteiras entre a arte e a vi<strong>da</strong>. <strong>da</strong>.<br />

A aventura podia ter corrido o<br />

mal, mas, chegados a 2010,<br />

com um cui<strong>da</strong>doso novo<br />

álbum – um disco<br />

“antiquado”, como lhe<br />

chama a editora Vagrant –<br />

os três não terão dúvi<strong>da</strong>s de<br />

que valeu a pena. Pod<strong>em</strong><br />

culpar os Interpol: os<br />

School of Seven Bells estão<br />

aí para ficar. Pedro Rios<br />

Jazz de<br />

Verão!<br />

Um dos mais dignos<br />

representantes dos ritmos<br />

quentes do jazz a abrir a<br />

t<strong>em</strong>pora<strong>da</strong> <strong>da</strong> Lisbon Jazz<br />

Summer School. Rodrigo<br />

Amado<br />

Danilo Perez Quintet<br />

Com Rudresh Mahanthappa, Ben<br />

Street, Rogério Boccato e A<strong>da</strong>m<br />

Cruz<br />

16 Julho, CCB, Praça do Museu, Lisboa, 21h00.<br />

Bilhetes: 8,5 euros<br />

Originário do Panamá, o pianista e<br />

compositor Danilo Perez é<br />

considerado por muitos como o<br />

grande representante <strong>da</strong> nova<br />

geração de músicos latinos de jazz.<br />

Com uma curta mas brilhante<br />

carreira, Perez gravou ou tocou já<br />

com músicos do calibre de Wayne<br />

Shorter, Jack DeJohnette, Michael<br />

Brecker, Steve Lacy, Wynton<br />

Marsalis, Charlie Haden ou Joe<br />

Lovano. Acumulando cargos no New<br />

England Conservatory e no Berklee<br />

College of Music, <strong>em</strong> Boston, Perez<br />

possui uma forte componente<br />

pe<strong>da</strong>gógica <strong>em</strong> to<strong>da</strong> a sua<br />

activi<strong>da</strong>de, o que faz dele uma<br />

excelente escolha para orientar o<br />

Curso de Verão <strong>da</strong> Lisbon Jazz<br />

Summer School do CCB. Num<br />

concerto que assinala também a<br />

abertura do Festival CCB Fora de Si,<br />

Perez faz-se acompanhar por um<br />

conjunto notável de músicos, dos<br />

quais se destacam o saxofonista alto<br />

Rudresh Mahanthappa, o<br />

contrabaixista contrabaixista Ben<br />

Street e o baterista<br />

A<strong>da</strong>m Cruz. Noite<br />

de festa garanti<strong>da</strong>.<br />

Danilo Perez oferece a Lisboa<br />

o “calor” latino do jazz<br />

Agen<strong>da</strong><br />

sexta 16<br />

Festival Super Bock Super Rock<br />

2010<br />

Aldeia do Meco. Her<strong>da</strong>de do Cabeço <strong>da</strong> Flauta.<br />

Praia do Meco. 6ª, Sáb. e Dom. às 16h00. 40€ (dia).<br />

Passe: 70€.<br />

Palco Super Bock: Pet Shop Boys<br />

(00h40), Keane (22h40), Cut Copy<br />

(21h20), Mayer Hawthorne & The<br />

County (20h10), Jamie Lidell (19h00)<br />

Palco EDP: Grizzly Bear (23h30), The<br />

T<strong>em</strong>per Trap (22h00), Beach House<br />

(20h40), St. Vincent (19h35),<br />

Godmen (18h45)<br />

Palco @Meco: M-Nus Showcase<br />

(22h00-04h00): Richie Hawtin,<br />

Marco Carola, Mag<strong>da</strong><br />

Ver textos págs. 28 e segs.<br />

Natalie Cole<br />

Olhão. Real Marina Hotel e Spa. Ria Formosa. 6ª às<br />

22h30. Tel.: 289598010.30€. Jantar-concerto: 68€.<br />

Allgarve’10.<br />

Festival Marés Vivas 2010 - Dia<br />

16<br />

Vila Nova de Gaia. Cabedelo. Às 18h00 (portas).<br />

Informações: 223703735 (Posto Turismo Gaia). 25€<br />

(dia). Passe Festival: 45€.<br />

Palco TMN: Peaches (01h), Placebo<br />

(23h30), David Fonseca (22h), A<br />

Silent Film (20h45). Palco Moche: Os<br />

Azeitonas (19h), André Indiana e<br />

Mónica Ferraz (18h), Cais 447<br />

Noite Gare (02h-06h).<br />

Amália Hoje<br />

Porto. Coliseu. R. Passos Manuel, 137. 6ª às 22h00.<br />

Tel.: 223394947.<br />

Aldina Duarte por Olga Roriz<br />

Direcção Musical: Olga Roriz. Com<br />

Aldina Duarte (voz), José Manuel<br />

Neto (guitarra portuguesa), Carlos<br />

Manuel Proença (viola), Pedro<br />

Wallenstein (contrabaixo), Manuel<br />

Paulo (piano), João Lucas<br />

(acordeão), Sebastian Scheriff<br />

(percussão), Ana Isabel Dias (harpa).<br />

Lisboa. Teatro <strong>Municipal</strong> de S. Luiz. R. Antº Maria<br />

Cardoso, 38-58. 6ª e Sáb. às 21h00. Tel.: 213257650.<br />

10€ a 20€ (sujeito a desconto). Na Sala Principal.<br />

O São Luiz no Festival de Alma<strong>da</strong><br />

(27º Festival de Alma<strong>da</strong>).<br />

Bernardo Sassetti e Sinfonietta<br />

de Lisboa<br />

Com Bernardo Sassetti (piano).<br />

Cabeção. Parque Ecológico do Gameiro. Lugar do<br />

Cabeção - Mora. Às 21h30. Tel.: 266439070.<br />

Entra<strong>da</strong> livre.<br />

Kimi Djabaté + Ska Cubano<br />

Tondela. Cine Tejá - Novo Ciclo ACERT. R. Dr.<br />

Ricardo Mota. Às 22h00. Tel.: 232814400. 10€.<br />

Passe Festival: stival: 22,5€. Desconto para sócios. No<br />

auditório o ao ar livre.<br />

Cristina ina<br />

Branco co<br />

Vila Real. l. Teatro.<br />

Alame<strong>da</strong> a de Grasse.<br />

Às 22h30. 0. Tel.:<br />

259320000. 000. Entra<strong>da</strong><br />

livre.<br />

The National: mais<br />

concorrência “indie”<br />

a Prince no<br />

Super Bock Super Rock


Vampire Weekend: a concorrência “indie”<br />

a Prince no Super Bock Super Rock<br />

Festival Sete Sóis Sete Luas 2010<br />

Mário Lúcio<br />

Barcarena. Fábrica <strong>da</strong> Pólvora. Estra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

Fontaínhas. Às 22h00. Tel.: 214387460. Entra<strong>da</strong> livre.<br />

Informações: 214408565.<br />

Quarteira Rock Fest 2010<br />

Nick Nicotine and His Mystical<br />

Orchestra (DJs Maria P., Pedro Chau,<br />

A Boy Named Sue).<br />

Vilamoura. Boomerang Café. Largo do Cin<strong>em</strong>a. Às<br />

22h00. Tel.: 289400600. Entra<strong>da</strong> livre.<br />

Ojos de Brujo + Roger Hodgson +<br />

Blasted Mechanism<br />

Concentração Internacional de Motos<br />

de Faro.<br />

Deolin<strong>da</strong>, a enviar cartas país fora, chegam agora a Mafra<br />

Flauta. Praia do Meco. Às 16h00. 40€ (dia). Passe:<br />

70€.<br />

Palco Super Bock: Leftfield (01h30),<br />

Vampire Weekend (23h50), Hot Chip<br />

(22h30), Julian Casablancas (21h),<br />

Tiago Bettencourt e Mantha (19h40).<br />

Palco EDP: Patrick Watson (23h10),<br />

Rita Redshoes (21h40), Holly Miran<strong>da</strong><br />

(20h20), Sweet Billy Pilgrim (19h20),<br />

Malcontent (18h30). Palco @Meco:<br />

Ricardo Villalobos e Zip (01h-04h),<br />

Bloop Showcase: Magazino, João<br />

Maria, José Belo (22h), Henriq e Bart<br />

Cruz (21h).<br />

Ver textos págs. 28 e segs.<br />

Festival Marés Vivas 2010<br />

Vila Nova de Gaia. Cabedelo. Às 18h00 (portas). Tel.:<br />

223703735. 25€ (dia). Passe Festival: 45€.<br />

Palco TMN: Ben Harper + The<br />

Relentless7 (01h), Editors (23h30),<br />

dEUS (22h), Nikolaj Grandjean<br />

(20h30). Palco Moche: Caim (19h30),<br />

João Só e Abandonados (18h30),<br />

Isidro Lx e Loo and Placido<br />

(02h-06h).<br />

Ana Sofi a Varela + As Músicas<br />

que que Amália Inspirou (Maria<br />

BBerasarte<br />

+ Edson Cordeiro +<br />

Anamar)<br />

Porto. Casa <strong>da</strong> Música. Pç. Mouzinho de<br />

Albuquerque. Sáb. às 21h00. Tel.: 220120220.<br />

10€.<br />

Cool Jazz Fest<br />

António Pinho Vargas +<br />

Laurent Filipe + Groove4Tet<br />

Cascais. C Parque Marechal Carmona. Parque<br />

MMarechal<br />

Carmona. Sáb. às 21h00. 20€ a 35€.<br />

Super S Disco #11: Pedro Tenreiro<br />

Lisboa. Lis Teatro <strong>Municipal</strong> Maria Matos. Av. Frei<br />

Miguel Mi Contreiras, 52. Às 18h30. Tel.: 218438801.<br />

Placebo, <strong>em</strong> destaque no Marés Vivas Entra<strong>da</strong> En livre.<br />

Kacetado K + Bob Da Rage Sense<br />

Lisboa. L MusicBox. R. Nova do Carvalho, 24 - Cais<br />

ddo<br />

Sodré. 3ª às 22h00. Tel.: 213430107. 8€.<br />

Ver texto pág. 50<br />

Quarteira Rock Fest 2010<br />

Com The Len Price 3, Thee<br />

Attacks, Atta Little Cobras, Shake Shake<br />

and Show Me Your Pussy.<br />

Quarteira. Calçadão de Quarteira. Sáb. às 21h00.<br />

7,5€.<br />

Faro. Vale <strong>da</strong>s Almas. Às 22h00. Tel.: 289823845.<br />

Virg<strong>em</strong> Suta<br />

domingo 18<br />

São Martinho do Porto. Pç. Frederico Ulrich. Alcoba-<br />

Festival Super Bock Super Rock<br />

ça. Sáb. às 22h00. Tel.: 262580844. Entra<strong>da</strong> livre.<br />

2010<br />

Muxima<br />

Aldeia do Meco. Her<strong>da</strong>de do Cabeço <strong>da</strong> Flauta. Praia<br />

Figueira <strong>da</strong> Foz. Casino <strong>da</strong> Figueira. R. Dr. Calado, 1. do Meco. Às 16h00. 40€ (dia). Passe: 70€.<br />

6ª às 23h00. Tel.: 233408400. 10€.<br />

Palco Super Bock: <strong>Em</strong>pire Of The Sun<br />

(02h), Prince (23h45), The National<br />

sábado 17<br />

(21h30), Spoon (20h20),<br />

Stereophonics (19h10), Palma’s Gang<br />

Festival Super<br />

(18h). Palco EDP: John Butler Trio<br />

Bock<br />

(23h05), Sharon Jones + The Dap<br />

Super<br />

Kings (21h45), Wild Beasts (20h25),<br />

Rock Rock 2010<br />

The Morning Benders (19h20), Stereo<br />

Aldeia do Meco.<br />

Parks (18h30). Palco @Meco: Laurent<br />

Her<strong>da</strong>de do<br />

Garnier (02h30), Rui Vargas e André<br />

Cabeço<br />

<strong>da</strong><br />

Cascais (00h30), Zé Salvador (23h),<br />

Hi-Tech2 (22h), Mary B (21h).<br />

Oeiras Sounds 10<br />

Gotan Project<br />

Oeiras. Jardim do Palácio Marquês de Pombal. Largo<br />

do Marquês de Pombal. Às 22h00. Tel.: 214465300.<br />

25€.<br />

Festival Sete Sóis Sete Luas 2010<br />

Korrontzi<br />

Monsaraz. Castelo de Monsaraz. R. Castelo. Às<br />

22h00. Tel.: 266508040. Entra<strong>da</strong> livre.<br />

Festival Sete Sóis Sete Luas 2010<br />

Mário Lúcio<br />

Manta Rota. Praia de Manta Rota - Vila Real de<br />

Santo António. Às 22h00. Entra<strong>da</strong> livre.<br />

terça 20<br />

Cool Jazz Fest 2010<br />

Deolin<strong>da</strong><br />

Mafra. Jardim do Cerco. Às 22h00. 20€ a 35€.<br />

Ro<strong>da</strong> de Choro de Lisboa<br />

Lisboa. Lusitano Clube. R. São João <strong>da</strong> Praça, 81 -<br />

Alfama. Às 22h30. Tel.: 218869472.<br />

quarta 21<br />

Melech Mechaya<br />

Bragança. Teatro <strong>Municipal</strong> . Pç Cavaleiro Ferreira.<br />

4ª às 22h00. Tel.: 273302740. Entra<strong>da</strong> livre.<br />

Amália Hoje<br />

Braga. Theatro Circo. Av. Liber<strong>da</strong>de, 697. 4ª às<br />

22h00. Tel.: 253203800. 20€.<br />

quinta 22<br />

Jorge Palma<br />

Estoril. Casino. Pç. José Teodoro dos Santos. 5ª às<br />

23h00. Tel.: 214667700. Entra<strong>da</strong> livre.<br />

Cool Jazz Fest 2010<br />

Maria Bethânia + Celso Fonseca<br />

Gan<strong>da</strong>rinha. Hipódromo Manuel Possolo. R.<br />

Visconde <strong>da</strong> Gan<strong>da</strong>rinha. 5ª às 21h30. Tel.:<br />

214844299.20€ a 50€.<br />

Tigrala<br />

Com Norberto Lobo (guitarra),<br />

Guilherme Canhão (guitarra), Ian<br />

Carlo Mendoza (percussão).<br />

Lisboa. MNAC - Museu do Chiado. Rua Serpa Pinto,<br />

4. Às 19h30. Tel.: 213432148. Entra<strong>da</strong> livre.<br />

ver textos págs 35 e 50<br />

Sean Riley & The Slowriders<br />

Faro. Teatro <strong>Municipal</strong>. Horta <strong>da</strong>s Figuras - EN125.<br />

Às 21h30. Tel.: 289888100. 10€ (sujeito a desconto).<br />

Marco Franco: Barulho de<br />

Câmara<br />

Com Ana Araújo (piano), José Pedro<br />

Coelho (saxofone), Marco Franco<br />

(bateria).<br />

Lisboa. Centro Cultural de Belém.<br />

Praça do Império. Às 22h00. Tel.:<br />

213612400. Entra<strong>da</strong> livre.<br />

The Legen<strong>da</strong>ry Tigerman<br />

Ílhavo. Centro Cultural de Ílhavo. Aveni<strong>da</strong> 25 de<br />

Abril. Às 22h00. Tel.: 234397260. Entra<strong>da</strong> livre.<br />

Maiact 2010 - Live Music<br />

Festival<br />

Bati<strong>da</strong> + Mundo Secreto +<br />

Expensive Soul<br />

Maia. Complexo <strong>Municipal</strong> de Ténis. Aveni<strong>da</strong> Luís<br />

de Camões. Às 21h00. Tel.: 229411703. 5€.<br />

Festival Sete Sóis<br />

Sete Luas 2010<br />

Korrontzi<br />

Manta Rota.<br />

Praia de Manta<br />

Rota - Vila Real de<br />

Santo António. Às<br />

22h00. Tel.:<br />

214408565.<br />

Entra<strong>da</strong> livre.<br />

Legen<strong>da</strong>ry Tiger Man<br />

apresenta o celebrado<br />

“F<strong>em</strong>ina” <strong>em</strong> Ílhavo<br />

RITA CARMO<br />

Estúdios<br />

Long Distance Hotel<br />

22 a 30 Julho 21h30<br />

(excepto dia 25) M/12<br />

www.teatromariamatos.pt<br />

teatro<br />

6 meses, 6 artistas, 5 países, um espectáculo criado online.<br />

Mas só se vão conhecer <strong>em</strong> palco 3 dias antes <strong>da</strong> estreia.<br />

Concursos Nacionais<br />

ETNOGRAFIA e MÚSICA<br />

Cantadeiras do Vale do Neiva A FÉ NAS TRADIÇÕES<br />

Janeiras, Páscoa, Carpideiras,<br />

Romeiros, Amentar <strong>da</strong>s Almas, Natal<br />

Orq. de Bandolins de Esmoriz COM TRASTES<br />

Grupo Coral “Os Rurais” CANTE ALENTEJANO<br />

Ban<strong>da</strong> Musical de Gouviães TRIBUTO a Andrew Loyd Webber<br />

18 JULHO 2010 | 16H30 | M.12 | ENTRADA GRATUITA SUJEITA À LOTAÇÃO DA SALA<br />

INFORMAÇÕES Dir. Cultural tel. 210 027 174 | cultura@inatel.pt<br />

LEVANTE OS SEUS BILHETES NO TEATRO DA TRINDADE, 3ª A SÁB. 14-20H E DOM. 14-18H<br />

www.inatel.pt<br />

Ípsilon • Sexta-feira 16 Julho 2010 • 55

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