Untitled - Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana
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R.B.S.H. 5(2):1994<br />
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Françoise Dolto analisa como se dá a estruturação do erotismo da<br />
menina, e o faz numa perspectiva <strong>de</strong>senvolvimentista, histórica e construtivista.<br />
Des<strong>de</strong> os primeiros momentos, a acolhida ou <strong>de</strong>sapontamento dos<br />
pais face à chegada do bebê menina, a felicida<strong>de</strong> ou tristeza manifestada<br />
por ela ser uma mulher, a presteza ou hesitação com que lhe confer<strong>em</strong> um<br />
nome, se este nome é f<strong>em</strong>inino ou neutro, os comentários acerca <strong>de</strong> sua<br />
aparência, saú<strong>de</strong> ou beleza, tudo referencia já, se ela está sendo benvinda à<br />
vida, se ela será aceita e amada como mulher. As atitu<strong>de</strong>s dos pais, as<br />
coisas ditas consciente ou inconscient<strong>em</strong>ente, são el<strong>em</strong>entos com os quais<br />
o bebê menina vai construindo uma imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> si, vai se narcisando ou se<br />
rejeitando <strong>em</strong> seu sexo e sua pessoa. O sexo biológico não lhe <strong>de</strong>fine ser<br />
mulher. A f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong> vai se construindo <strong>em</strong> meio à linguag<strong>em</strong> circundante,<br />
<strong>em</strong> meio às expressões <strong>de</strong> aprovação, <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração e <strong>de</strong> alegria<br />
por seu sexo. Isto é transmitido pelos adultos, mas sobretudo pela mãe<br />
quando expressa ou não o orgulho <strong>de</strong> ser mulher. E nesse espelho mãe, que<br />
a menina <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento vai conferir, legitimar e reconhecer a dor e<br />
a <strong>de</strong>lícia <strong>de</strong> ser mulher.<br />
O <strong>de</strong>senvolvimento da motricida<strong>de</strong> proporciona a <strong>de</strong>scoberta do<br />
corpo, e toma-se uma oportunida<strong>de</strong> progressiva para se fazer a nomeação<br />
<strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong> suas partes, inclusive <strong>de</strong> seu sexo. Oxalá não se use para<br />
isto, termos <strong>de</strong>preciativos. Euf<strong>em</strong>ismos, apelidos, po<strong>de</strong>m ser usados, como<br />
uma espécie <strong>de</strong> sobrenome do sexo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não se omita o verda<strong>de</strong>iro<br />
nome. Que não haja pudores <strong>de</strong> se nomear a vulva, o clitóris, a vagina, etc.<br />
“O que não t<strong>em</strong> nome não é nada”, diz F. Dolto (1). Se nada é dito acerca<br />
do sexo, isso por si só gera uma tensão, que po<strong>de</strong> tornar compulsiva a<br />
manipulação dos genitais, como uma tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>svendar o mistério do<br />
não dito, uma espécie <strong>de</strong> busca inconsciente <strong>de</strong> confirmação <strong>de</strong>stas partes<br />
silenciadas. O papel do adulto é confirmar que ela é uma menina <strong>em</strong> seu<br />
sexo, que isso é bom, e que as diversas partes <strong>de</strong> seu corpo que ela está<br />
tocando e reconhecendo, lhe dão prazer. Isso legitima e registra como positivo,<br />
o que ela experimenta <strong>em</strong> seu corpo. Aí as dimensões do permitido/proibido<br />
vão ser fundamentais ao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma sensualida<strong>de</strong><br />
sadia Quando ela <strong>de</strong>scobre a diferença sexual <strong>em</strong> relação ao menino<br />
é preciso dizer-lhe que é nessa diferença que ela é uma menina, que ela é<br />
como a mãe, que é bonito ser mulher, que ter vulva <strong>de</strong> menina é tão importante<br />
como ter pênis <strong>de</strong> menino. Isso lhe alicercará nela a percepção <strong>de</strong> que<br />
as diferenças constitu<strong>em</strong> a beleza <strong>de</strong> sermos homens e mulheres, s<strong>em</strong> referência<br />
a qualquer hierarquia entre os sexos.<br />
A curiosida<strong>de</strong> natural acerca da intimida<strong>de</strong> dos pais, será el<strong>em</strong>ento<br />
<strong>de</strong> valorização do relacionamento amoroso, se lhe for<strong>em</strong> respondidas com<br />
transparência as questões daí provenientes. E hora <strong>de</strong> <strong>de</strong>svendar-lhe o mistério<br />
que envolve a cena primordial que dá orig<strong>em</strong> à vida. A chegada da<br />
menarca, se referida como promoção, sinal <strong>de</strong> f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong> e prontidão