Untitled - Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana
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R.B.S.H. 5(2):1994<br />
3. A transgressão erótica<br />
153<br />
Seguindo Georges Bataille, vamos consi<strong>de</strong>rar a transgressão aos<br />
interditos culturais como impulso fundamental para a gênese do erótico e<br />
seu <strong>de</strong>senvolvimento. Estamos adotando uma posição conceitual que dilata<br />
as fronteiras <strong>de</strong> sentido do termo erotismo, o que nos permite consi<strong>de</strong>rá-lo<br />
como uma das vertentes culturais do hom<strong>em</strong>.<br />
Inserindo erotismo na cultura, Bataille situa-o como el<strong>em</strong>ento diferenciador<br />
entre o Hom<strong>em</strong> e o animal.<br />
Primeiramente, o erotismo difere da sexualida<strong>de</strong> dos animais no<br />
ponto <strong>em</strong> que a sexualida<strong>de</strong> humana é limitada pelos interditos,<br />
cuja transgressão pertence ao campo do erotismo. O <strong>de</strong>sejo do<br />
erotismo é o <strong>de</strong>sejo que triunfa do interdito. (1987:238)<br />
Nessa perspectiva, a gênese do erotismo está ligada à constituição<br />
dos traços <strong>de</strong>finidores do Hom<strong>em</strong>, que se <strong>de</strong>svencilha da animalida<strong>de</strong><br />
ao transformar a sexualida<strong>de</strong> <strong>em</strong> erotismo. Através do trabalho, da<br />
compreensão e consciência da morte, e da passag<strong>em</strong> da sexualida<strong>de</strong> livre<br />
à sexualida<strong>de</strong> envergonhada, da qual nasce o erotismo, o Hom<strong>em</strong><br />
<strong>de</strong>svencilha-se da animalida<strong>de</strong>. Assim, enquanto el<strong>em</strong>ento que confere<br />
ao Hom<strong>em</strong> sua especificida<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação ao animal, o erotismo não<br />
<strong>de</strong>ve ser visto como uma coisa, um objeto ou um fato concreto.<br />
Contrário à reificação do t<strong>em</strong>a, Bataille diz tratar-se <strong>de</strong> uma experiência<br />
que não se <strong>de</strong>ve apreciar <strong>de</strong> fora como uma coisa porque a intimida<strong>de</strong><br />
(“o que profundamente está <strong>em</strong> nós”) (1987:153) é uma das suas marcas<br />
centrais. É <strong>de</strong>ssa forma que o erotismo i<strong>de</strong>ntifica-se com a experiência<br />
interior, assim <strong>de</strong>finida:<br />
Chamo experiência uma viag<strong>em</strong> ao término do possível do<br />
hom<strong>em</strong>. Cada um po<strong>de</strong> não fazer esta viag<strong>em</strong>; mas, se ele a faz,<br />
isso supõe negar as autorida<strong>de</strong>s, os valores existentes, que limitam<br />
o possível. (Bataille, 1992:15)<br />
O Hom<strong>em</strong> ignorante do erotismo é tão alheio ao término do<br />
possível quanto ele é s<strong>em</strong> experiência interior. (Bataille,<br />
1992:31).<br />
Se se trata <strong>de</strong> uma experiência que nega os valores existentes, é<br />
porque ele se situa no plano da ruptura com o ordinário, implicando uma<br />
posição ao habitual, ao comum, e estabelecendo-se como diferença Para<br />
atingir o término do possível é necessário promover uma cisão no mundo<br />
estabelecido, negando as formas autoritárias do conhecimento. Em outras