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Untitled - Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana

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R.B.S.H. 5(2):1994<br />

para a procriação, e não como doença ou <strong>de</strong>sconforto, também será el<strong>em</strong>ento<br />

<strong>de</strong> valoração natural do ser mulher. Se ela se narcisa com as características<br />

<strong>de</strong> seu sexo, a libido genital é <strong>de</strong>spertada <strong>em</strong> relação ao falo e ao<br />

<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> futura penetração. Cab<strong>em</strong> aí as informações sobre o mecanismo<br />

da ereção peniana, que lhe servirão inclusive <strong>de</strong> referencial acercado <strong>de</strong>sejo<br />

sexual <strong>de</strong>spertado no macho. Em todo esse processo, a atuação da mãe<br />

po<strong>de</strong> construir na filha, o sentido estético-ético <strong>de</strong> sua sexualida<strong>de</strong>, num<br />

contínuo refletir, espelhar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre o corpo e a f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

ambas. Tendo informações a<strong>de</strong>quadas, a menina <strong>de</strong>senvolverá capacida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> pensar por si, e não apenas guiar-se pela mídia que, <strong>em</strong> geral, valoriza<br />

mais o prazer físico que a simbolização dos valores f<strong>em</strong>ininos. Adultos<br />

receiam fornecer estas informações, supondo que elas acor<strong>de</strong>m precoc<strong>em</strong>ente<br />

o <strong>de</strong>sejo. É um equívoco a reparar, porque, é o <strong>de</strong>sejo amordaçado,<br />

não legitimado, que perturba, que perverte. A informação a<strong>de</strong>quada torna<br />

natural a condição sexual, tranquiliza e torna a pessoa responsável <strong>em</strong> seu<br />

sexo.<br />

O contexto familiar é o núcleo primeiro on<strong>de</strong> se plasma a sexualida<strong>de</strong><br />

da mulher. Mas a cultura faz aí suas investidas e a socieda<strong>de</strong> termina<br />

por se refletir<strong>em</strong> nosso modo <strong>de</strong> ser. Em seu livro Tabu do Corpo, José<br />

Carlos Rodrigues diz que: “...o corpo é pouco mais que uma massa <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong><br />

à qual a socieda<strong>de</strong> imprime formas segundo suas próprias disposições;<br />

formas nas quais a socieda<strong>de</strong> projeta a fisionomia do seu próprio<br />

espírito”. (2) Importa constatar o quanto isso se reflete <strong>em</strong> nossa sexualida<strong>de</strong>.<br />

Mais explicitamente ele diz: “Em cada socieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r-se-ia levantar<br />

o inventário <strong>de</strong>ssas impressões mensagens e <strong>de</strong>scobrir-lhes o código:<br />

bom caminho para se <strong>de</strong>monstrar na superfície dos corpos, as profun<strong>de</strong>zas<br />

da vida social.” Através <strong>de</strong> ritos, códigos e leis, a socieda<strong>de</strong> proporciona<br />

cicatrizes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Cicatrizes que marcam, que l<strong>em</strong>bram, que recordam<br />

o social imposto ao corpo. Verdiglione (3) acha que todo esse trabalho<br />

i<strong>de</strong>ológico, é um processo <strong>de</strong> laceração, razão porque é preciso”...por-se<br />

à escuta dos passos perdidos, por-se à procura das pistas quase <strong>de</strong>saparecidas<br />

que percorr<strong>em</strong> as mil veredas que atravessam os corpos.”<br />

E com esse corpo processo, corpo história, que viv<strong>em</strong>os a sexualida<strong>de</strong>.<br />

A cultura oci<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong>senvolveu um conceito instrumentalista do<br />

corpo, que, reforçada pela visão dualista, norteou toda uma negação do<br />

prazer <strong>em</strong> favor da produção. Particularmente, o corpo da mulher foi tomado<br />

produtivo. Apropriado pelo social para fins meramente procriativos, foi<br />

reduzido, submetido e colocado a serviço da família. O surgimento dos<br />

contraceptivos ajudou a revolucionar essa postura, e as mulheres<br />

começaram a se reapropriar do corpo. Mas ficaram sequelas da concepção<br />

utilitarista e inferiorizante do corpo e da mulher. Sequelas que pesam ainda<br />

sobre o prazer e a sexualida<strong>de</strong> da mulher atual. Sequelas-mensagens, linguag<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong> corpos impedidos. Apesar das mudanças já ocorridas, gran<strong>de</strong><br />

contingente <strong>de</strong> mulheres, ainda t<strong>em</strong> seu corpo como um estrangeiro, ou

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