13.04.2013 Views

Untitled - Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana

Untitled - Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana

Untitled - Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

156<br />

R.B.S.H. 5(2):1994<br />

É essa ruptura provoca o abalo, a eclosão. A viag<strong>em</strong> interior, <strong>de</strong> base<br />

íntima, que <strong>de</strong>scortina o que vai além do possível não se realiza s<strong>em</strong> o<br />

eclodir <strong>de</strong> tantas barreiras.<br />

Por tudo isso, o resgate da dimensão erótica, permanent<strong>em</strong>ente<br />

aniquilada pelas regras do real, é s<strong>em</strong>pre difícil e promove variados conflitos.<br />

E preciso dizer não, é preciso violar, rompendo o cerco do medo. A<br />

passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> uma vida <strong>de</strong>serotizada à luminosida<strong>de</strong> do conhecimento erótico<br />

transforma-se numa negação transgressora, que se esten<strong>de</strong> como<br />

oposição aos limites do mundo do trabalho e da razão convencional. S<strong>em</strong><br />

essa violência, a ninguém será possível a experiência do erotismo -essa<br />

viag<strong>em</strong> múltipla, não uniforme, que coloca o hom<strong>em</strong> na interseção dos<br />

seus contrários, <strong>de</strong>scortinando-lhe a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um novo saber-o conhecimento<br />

erótico- cuja especificida<strong>de</strong> torna-se importante consi<strong>de</strong>rais:<br />

4. O conhecimento erótico<br />

Entendido como experiência interior, <strong>de</strong> base íntima, o erotismo<br />

po<strong>de</strong> ser visto como uma modalida<strong>de</strong> epistêmica que possibilita ao sujeito<br />

vencer os limites do possível. Nesse sentido, a experiência apresenta um<br />

caráter singular, porque favorece a apreensão <strong>de</strong> um tipo extr<strong>em</strong>amente<br />

específico <strong>de</strong> conhecimento. Não é fácil precisar, objetivamente, a natureza<br />

<strong>de</strong>sse saber. E preciso pensar, inicialmente, na inserção existencial probl<strong>em</strong>ática<br />

dos indivíduos, cercados pelas limitações do real. Inerente à<br />

própria condição humana, a existência individual é marcada por uma<br />

ausência at<strong>em</strong>poral e trans-histórica Para além do conforto material a que<br />

os grupos sociais têm acesso e, por melhor que seja a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, há<br />

uma busca interior, perene e nostálgica, que <strong>de</strong>volve o ser a melancolia do<br />

existir. Persiste a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudar, <strong>de</strong> ter corag<strong>em</strong>, <strong>de</strong> romper para<br />

preencher o que falta. A essa vonta<strong>de</strong> ontológica que permeia a vida social,<br />

Guattari (1986:215) <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong>sejo:<br />

Por não querer me atrapalhar com <strong>de</strong>finições complicadas, eu<br />

própria <strong>de</strong>nominar <strong>de</strong>sejo a todas as formas <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> viver,<br />

<strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> criar, <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> amar, <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> inventar<br />

uma outra socieda<strong>de</strong>, outra percepção <strong>de</strong> mundo, outros sist<strong>em</strong>as<br />

<strong>de</strong> valores.<br />

É, pois, enquanto vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> rompimento dos limites socialmente<br />

instituídos que se situa o <strong>de</strong>sejo ontológico, <strong>de</strong> modo geral, e <strong>em</strong> particular,<br />

o <strong>de</strong>sejo erótico. Como forma <strong>de</strong> resistência ao tédio, à náusea <strong>de</strong> existir,<br />

à inadapitação, enfim, conta a angústia <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> uma inserção<br />

sócio-existencial falaciosa, o <strong>de</strong>sejo do erotismo constitui-se como uma

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!