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Legado Social do Pan 2.indd - Observatório de Favelas

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10 Diagnóstico <strong>Social</strong> e Esportivo <strong>de</strong> 53 <strong>Favelas</strong> Cariocas<br />

2<br />

as históricas <strong>de</strong>mandas materiais e imateriais das favelas<br />

na produção <strong>do</strong> espaço urbano carioca<br />

Consagrada como a “Cida<strong>de</strong> Ma-<br />

ravilhosa”, o Rio <strong>de</strong> Janeiro viveu em sua<br />

história diversas formas <strong>de</strong> intervenção ur-<br />

bana para superar os inúmeros “obstáculos”<br />

proporciona<strong>do</strong>s por suas peculiarida<strong>de</strong>s<br />

naturais. Localiza<strong>do</strong> num sítio espraia<strong>do</strong> por<br />

montanhas espremidas entre o mar e a Baía<br />

<strong>de</strong> Guanabara, entrecorta<strong>do</strong> por vales e pla-<br />

nícies alagadiças, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XIX foram<br />

recorrentes os arrasamentos <strong>de</strong> morros, as<br />

canalizações e os <strong>de</strong>svios retilíneos <strong>de</strong> cursos<br />

d’água, os aterramentos <strong>de</strong> várzeas e <strong>de</strong> áreas<br />

litorâneas, tu<strong>do</strong> em nome da mo<strong>de</strong>rnização<br />

<strong>do</strong> espaço urbano.<br />

Se intervenções para submeter formas<br />

naturais à racionalida<strong>de</strong> técnica ocorreram<br />

em outras cida<strong>de</strong>s, no Rio <strong>de</strong> Janeiro a mo<strong>de</strong>r-<br />

nização urbana se <strong>de</strong>u em meio à valorização<br />

<strong>do</strong> símbolo “Cida<strong>de</strong> Maravilhosa”, “bonita<br />

por natureza”. É a natureza que diferencia<br />

o Rio nos cenários nacional e internacional,<br />

marcan<strong>do</strong> a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong> carioca. Na cida-<br />

<strong>de</strong>, as formas naturais são algumas preserva-<br />

das em função <strong>do</strong> seu apelo simbólico, outras<br />

arrasadas em nome <strong>do</strong> progresso.<br />

A valorização simbólica das paisa-<br />

gens <strong>do</strong> Rio associa-se com as distinções<br />

territoriais <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m socioeconômica. Os íco-<br />

nes naturais que compõem a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />

carioca se localizam em sua imensa maioria<br />

na Zona Sul: o Corcova<strong>do</strong>, o Pão <strong>de</strong> Açúcar,<br />

as praias <strong>de</strong> Copacabana e Ipa-nema, a La-<br />

goa Rodrigo <strong>de</strong> Freitas. A Zona Sul aparece,<br />

por vezes, como a representação primaz da<br />

própria cida<strong>de</strong>.<br />

Dinâmica similar tem a recente apro-<br />

priação da região da Barra da Tijuca pelos<br />

setores <strong>de</strong> classes alta, média e os chama<strong>do</strong>s<br />

“emergentes”. Caracterizada pelas praias,<br />

pela ampla orla, on<strong>de</strong> se encontram diversos<br />

sistemas lagunares, a Barra da Tijuca vem<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1 70 sen<strong>do</strong> tomada por<br />

con<strong>do</strong>mínios e mansões. Trata-se <strong>de</strong> uma<br />

área ocupada segun<strong>do</strong> um plano regula<strong>do</strong>r<br />

prévio1 . A abertura <strong>de</strong> túneis e <strong>de</strong> vias, a construção<br />

<strong>de</strong> canais e a edificação <strong>de</strong> pontes e <strong>de</strong><br />

viadutos incentivaram a especulação imobiliária,<br />

na qual os incorpora<strong>do</strong>res utilizaram o<br />

apelo ambiental para atrair essas populações<br />

(Geiger, Silva & Alem: 2001).<br />

Há, entretanto, para a história <strong>do</strong> Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro uma outra geografia. Os morros,<br />

orlas e margens <strong>de</strong> rios e lagoas habita<strong>do</strong>s<br />

pelas comunida<strong>de</strong>s populares ganharam no<br />

<strong>de</strong>correr <strong>de</strong> um século um outro significa<strong>do</strong><br />

na cida<strong>de</strong>. Eles representam territórios a serem<br />

nega<strong>do</strong>s, uma espécie <strong>de</strong> anti-símbolo<br />

que suja e enfeia a “cida<strong>de</strong> maravilhosa por<br />

1 Concebi<strong>do</strong> em 1 6 por Lúcio Costa, o plano urbanístico pretendia transformar a Barra num novo Centro empresarial da cida<strong>de</strong>.<br />

Contu<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> matéria publicada em O Globo, 2 /07/07, o plano não fora implanta<strong>do</strong> como o planeja<strong>do</strong>. A orla, por exemplo,<br />

não po<strong>de</strong>ria ter prédios <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> cinco andares. Segun<strong>do</strong> relato <strong>do</strong> arquiteto-urbanista Canagé Vilhena, a velocida<strong>de</strong> com que<br />

os gran<strong>de</strong>s prédios surgem não é acompanhada pela infra-estrutura necessária.<br />

volume 2

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