Legado Social do Pan 2.indd - Observatório de Favelas
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“o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização ocorri<strong>do</strong> durante a<br />
década <strong>de</strong> 1980 <strong>de</strong>u novo impulso ao associativismo<br />
nas favelas, o que implicou a maior organização<br />
em torno <strong>de</strong> reivindicações estruturais. Para<strong>do</strong>xalmente,<br />
a <strong>de</strong>finição histórica das favelas centrada<br />
na <strong>de</strong>gradação da paisagem facilitou o aumento<br />
<strong>de</strong> reivindicações por obras <strong>de</strong> infra-estrutura. A<br />
organização popular conseguiu uma significativa<br />
ampliação <strong>do</strong> acesso regular à água, esgotos, coleta<br />
<strong>de</strong> lixo, asfaltamento e iluminação. Além disso,<br />
difundiram-se as construções <strong>de</strong> escolas, creches<br />
e postos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, ban<strong>de</strong>iras centrais na busca <strong>de</strong><br />
uma melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida para os mora<strong>do</strong>res. O<br />
item no qual menos se avançou foi justamente o que<br />
coloca em questão, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> mais incisivo, as formas<br />
<strong>de</strong> apropriação e uso <strong>do</strong> espaço urbano – no caso, o<br />
acesso à titulação da proprieda<strong>de</strong>” (op.cit. p. 51).<br />
O Plano Diretor Decenal da Cida<strong>de</strong><br />
<strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro16 (1 2) parece aten<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />
forma mais contun<strong>de</strong>nte as <strong>de</strong>mandas da população<br />
das favelas por regularização fundiária,<br />
infra-estrutura urbana, disponibilização<br />
<strong>de</strong> serviços públicos, arruamentos e oficialização<br />
<strong>do</strong>s en<strong>de</strong>reços, com o reconhecimento<br />
<strong>do</strong>s logra<strong>do</strong>uros que até então nem constavam<br />
nos mapas oficiais. O Plano segue, em<br />
linhas gerais, os princípios estabeleci<strong>do</strong>s no<br />
volume 2<br />
Diagnóstico <strong>Social</strong> e Esportivo <strong>de</strong> 53 <strong>Favelas</strong> Cariocas 15<br />
16 O Plano Diretor da Cida<strong>de</strong>, no qual se estabelecem os princípios e objetivos <strong>de</strong> uso e ocupação <strong>do</strong> solo, diz no artigo 44: “III - não<br />
remoção das favelas”; “IV - “inserção das favelas e loteamentos irregulares no planejamento da cida<strong>de</strong> com vista à sua transformação<br />
em bairros ou integração com os bairros em que se situam”. No artigo 148: “A urbanização e a regularização urbanística e<br />
fundiária serão realizadas mediante intervenções graduais e progressivas em cada favela, para maximizar a aplicação <strong>do</strong>s recursos<br />
públicos e disseminar os benefícios entre o maior número <strong>de</strong> habitantes”. No 14 : “As favelas integrarão o processo <strong>de</strong> planejamento<br />
da Cida<strong>de</strong>, constan<strong>do</strong> nos mapas, cadastros, planos, projetos e legislação relativos ao controle <strong>do</strong> uso e ocupação <strong>do</strong> solo, e da<br />
programação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> manutenção <strong>do</strong>s serviços e conservação <strong>do</strong>s equipamentos públicos nelas instala<strong>do</strong>s”. No artigo<br />
150: “O programa garantirá a permanência <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res na favela beneficiada, pela imposição <strong>de</strong> restrições ao uso e ocupação<br />
<strong>do</strong> solo e <strong>de</strong> outros instrumentos a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s”.<br />
17 Segun<strong>do</strong> os termos <strong>do</strong> <strong>de</strong>creto n° 14.332, <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1 5 (Apud. Car<strong>do</strong>so, 2002).<br />
18 O Favela-Bairro conta com US$ 600 milhões, resultantes <strong>de</strong> <strong>do</strong>is contratos assina<strong>do</strong>s com o Banco Interamericano <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />
(BID), cada um no valor <strong>de</strong> US$ 300 milhões – sen<strong>do</strong> US$ 180 milhões <strong>do</strong> BID, e contrapartida <strong>de</strong> US$ 120 milhões da<br />
Prefeitura. O Favela-Bairro é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um projeto mo<strong>de</strong>lo <strong>do</strong> BID, que o tem como exemplo <strong>de</strong> política pública <strong>de</strong> combate à<br />
pobreza e à miséria. Atualmente, a Prefeitura negocia com o banco o terceiro contrato <strong>do</strong> programa, no valor <strong>de</strong> US$ 300 milhões.<br />
Extraí<strong>do</strong> em 26/07/2007 <strong>de</strong> http://www.rio.rj.gov.br/habitat/<br />
1 Segun<strong>do</strong> consulta em http://www.rio.rj.gov.br/habitat/, 26/07/2007.<br />
âmbito <strong>do</strong> <strong>de</strong>bate sobre a Reforma Urbana,<br />
incorporan<strong>do</strong> os instrumentos que permitem<br />
o exercício da função social da cida<strong>de</strong> e da<br />
proprieda<strong>de</strong>, segun<strong>do</strong> o disposto na Constituição<br />
Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1 88 (Car<strong>do</strong>so, 2002). Ele é<br />
o <strong>do</strong>cumento que possibilitou, por exemplo,<br />
a implementação <strong>de</strong> programas nos mol<strong>de</strong>s<br />
<strong>do</strong> Favela-Bairro, que objetiva “complementar<br />
ou construir a estrutura urbana principal<br />
(saneamento e <strong>de</strong>mocratização <strong>de</strong> acessos) e<br />
oferecer condições ambientais <strong>de</strong> leitura da<br />
favela como bairro da cida<strong>de</strong>” 17 .<br />
Um <strong>do</strong>s carros-chefe da campanha<br />
eleitoral no município <strong>do</strong> Rio em 1 3, o Favela-Bairro<br />
fazia parte <strong>do</strong> programa <strong>de</strong> governo<br />
<strong>de</strong> Cesar Maia, que em seu primeiro mandato<br />
enfatizava o discurso da “or<strong>de</strong>m urbana” e<br />
promovia ações <strong>de</strong> forte repercussão na mídia,<br />
como a expulsão <strong>do</strong>s camelôs das áreas centrais,<br />
o cercamento <strong>de</strong> praças públicas e a criação da<br />
Guarda Municipal. Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pela Secretaria<br />
Municipal <strong>do</strong> Habitat (SMH), com recursos <strong>do</strong><br />
Banco Interamericano <strong>de</strong> Desenvolvimento<br />
(BID) 18, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>do</strong>s trabalhos em 1 4,<br />
cerca <strong>de</strong> 556 mil mora<strong>do</strong>res em 143 comunida<strong>de</strong>s<br />
(<strong>de</strong> 500 a 2.500 <strong>do</strong>micílios) estão<br />
sen<strong>do</strong> beneficia<strong>do</strong>s com projetos, obras em<br />
andamento e concluídas1 . O Favela-Bairro