Legado Social do Pan 2.indd - Observatório de Favelas
Legado Social do Pan 2.indd - Observatório de Favelas
Legado Social do Pan 2.indd - Observatório de Favelas
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
14 Diagnóstico <strong>Social</strong> e Esportivo <strong>de</strong> 53 <strong>Favelas</strong> Cariocas<br />
• o reconhecimento da gravida<strong>de</strong> <strong>do</strong><br />
problema da favela, que cresceu 317% num<br />
perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 14 anos, ao passo que a população<br />
não-favelada alcançou apenas 44%;<br />
• a reorganização da Fe<strong>de</strong>ração das<br />
Associações <strong>de</strong> <strong>Favelas</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> da Gua-<br />
nabara (Fafeg, agora Faferj) em 1 7 , com o<br />
lema “Urbanização e posse da terra”;<br />
• a pressão da Igreja Católica, por<br />
meio da Pastoral <strong>de</strong> <strong>Favelas</strong>, marcada pela<br />
Campanha da Fraternida<strong>de</strong> (1 7 ) e pela<br />
visita <strong>do</strong> papa ao Vidigal (1 80);<br />
• a <strong>de</strong>saceleração da construção<br />
civil para a classe média em função da<br />
crise econômica;<br />
• a percepção por parte <strong>do</strong>s grupos<br />
políticos <strong>do</strong> potencial eleitoral das favelas.<br />
Ainda em 1 7 , o governo fe<strong>de</strong>ral<br />
cria o Promorar (também conheci<strong>do</strong> como<br />
Projeto Rio), com o objetivo <strong>de</strong> urbanizar as<br />
favelas da Maré12 , erradicar as palafitas e criar<br />
conjuntos habitacionais numa gran<strong>de</strong> área<br />
próxima aterrada da Baía <strong>de</strong> Guanabara. No<br />
início da década <strong>de</strong> 1 80, o governo estadual<br />
<strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong>senvolveu pilotos <strong>de</strong><br />
urbanização nas favelas <strong>do</strong> Cantagalo e<br />
Pavão-Pavãozinho. Esses projetos estabeleceram<br />
as bases <strong>de</strong> uma meto<strong>do</strong>logia13 <strong>de</strong><br />
intervenção que viria a ser aperfeiçoada nos<br />
anos seguintes, quan<strong>do</strong> as “favelas passam<br />
a ser consi<strong>de</strong>radas como áreas em que, em<br />
que pese a irregularida<strong>de</strong> na forma <strong>de</strong> ocupação<br />
<strong>do</strong> solo, o po<strong>de</strong>r público é responsável<br />
pela implantação <strong>de</strong> infra-estrutura” 14<br />
(Car<strong>do</strong>so, 2002: 4). Concomitantemente, o<br />
governo municipal <strong>de</strong>senvolve o Projeto<br />
Mutirão15 , uma experiência <strong>de</strong> intervenções<br />
pontuais em 60 favelas que, utilizan<strong>do</strong><br />
mão-<strong>de</strong>-obra local remunerada, abrangia<br />
basicamente obras <strong>de</strong> pavimentação, infraestrutura,<br />
pequenas contenções, construção<br />
<strong>de</strong> creches e centros comunitários, além <strong>de</strong><br />
reflorestamento <strong>de</strong> encostas.<br />
É razoável dizer que esses projetos<br />
simbolizam o início <strong>de</strong> uma remo<strong>de</strong>lação<br />
das intervenções públicas em favelas. Silva<br />
e Barbosa (2005) afirmam que:<br />
Remoções realizadas na Guanabara no perío<strong>do</strong> 1962-1974<br />
Administrações Total <strong>de</strong> favelas atingidas Total <strong>de</strong> barracos removi<strong>do</strong>s Total <strong>de</strong> habitantes removi<strong>do</strong>s<br />
Carlos Lacerda<br />
(1960-1965)<br />
27 8.078 41.958<br />
Negrão <strong>de</strong> Lima<br />
(1965-1970)<br />
mais <strong>de</strong> 33 mais <strong>de</strong> 12.782 70.595<br />
Chagas Freitas<br />
(1970-1974)<br />
20 5.333 26.665<br />
Total 80 26.193 139.218<br />
Fonte: Cohab-GB (Apud. Valladares, 1978)<br />
12 O Projeto Rio, <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pelo BNH, tinha o objetivo <strong>de</strong> urbanizar parte da orla da Baía <strong>de</strong> Guanabara, chegan<strong>do</strong> a Penha e Caxias.<br />
13 Segun<strong>do</strong> Car<strong>do</strong>so (2002: 4), essa meto<strong>do</strong>logia baseava-se nos seguintes elementos: a) concentrar a intervenção em obras <strong>de</strong> infra-estrutura,<br />
<strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> a questão da moradia (edificação) por conta <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res, excetuan<strong>do</strong>-se por razões técnicas abertura <strong>de</strong> ruas, implantação <strong>de</strong><br />
equipamentos públicos e etc.; b) criar alternativas <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> e circulação internas, por uma via com dimensionamento a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong><br />
para o trânsito <strong>de</strong> veículos, via também pensada como alternativa para a distribuição <strong>do</strong>s troncos principais da infra-estrutura; c) criar<br />
alternativas <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> lixo e passageiros nos casos <strong>de</strong> topografia difícil; d) criar equipamentos sociais e <strong>de</strong> lazer <strong>de</strong>ntro da favela.<br />
14 Órgãos estaduais passam a implementar programas específicos <strong>de</strong> infra-estrutura para as favelas, como o Proface, <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong><br />
pela Companhia <strong>de</strong> Água e Esgotos (Cedae) e o “Uma luz na escuridão”, <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pela Light.<br />
15 Liga<strong>do</strong> à Secretaria Municipal <strong>de</strong> Desenvolvimento <strong>Social</strong>, entrou em funcionamento em 1 84.<br />
volume 2