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Legado Social do Pan 2.indd - Observatório de Favelas

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natureza”. Concebida como território da au-<br />

sência <strong>de</strong> civilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> urbanida<strong>de</strong> 2 , a favela<br />

torna-se o objeto primordial <strong>do</strong>s discursos<br />

da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m urbana. Como ressaltam Silva<br />

e Barbosa (2005),<br />

“não po<strong>de</strong>mos esquecer que a urbanização <strong>do</strong> espa-<br />

ço carioca foi um processo violento <strong>de</strong> apropriação<br />

e transformação da natureza. Muitas formas<br />

naturais foram <strong>de</strong>struídas para <strong>de</strong>ixar passar<br />

o ‘progresso’ sob a forma <strong>de</strong> edifícios, fábricas,<br />

shopping centers, túneis, avenidas, viadutos.<br />

Graves problemas ambientais persistem na cida<strong>de</strong><br />

bonita por natureza, graças ao mo<strong>de</strong>lo <strong>do</strong>minante<br />

<strong>de</strong> urbanização que i<strong>de</strong>ntificou na natureza um<br />

obstáculo” (op.cit. p.99).<br />

volume 2<br />

Conforme <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> em diversos<br />

trabalhos 3 , pelo menos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final <strong>do</strong> sé-<br />

culo XIX, a população trabalha<strong>do</strong>ra e pobre<br />

<strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro apren<strong>de</strong>u a construir suas<br />

formas <strong>de</strong> habitação. Primeiro nos cortiços e<br />

casas <strong>de</strong> cômo<strong>do</strong>s situa<strong>do</strong>s na área central e,<br />

no <strong>de</strong>correr <strong>do</strong> século XX, nos subúrbios da<br />

Zona Norte, da Zona Oeste e nas favelas que<br />

se distribuíram pelos mais diferentes bairros<br />

da cida<strong>de</strong>. Somente a partir <strong>do</strong>s anos 1 40,<br />

Diagnóstico <strong>Social</strong> e Esportivo <strong>de</strong> 53 <strong>Favelas</strong> Cariocas 11<br />

2 Como bem <strong>de</strong>monstrou Zaluar (1 8:14-15): “A favela, vista pelos olhos das instituições e <strong>do</strong>s governos, é o lugar por excelência<br />

da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m. (...) Ao longo <strong>de</strong>ste século, a favela foi representada como um <strong>do</strong>s fantasmas prediletos <strong>do</strong> imaginário urbano: como<br />

foco <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças, gera<strong>do</strong>r <strong>de</strong> mortais epi<strong>de</strong>mias; como sítio por excelência <strong>de</strong> malandros e ociosos, negros inimigos <strong>do</strong> trabalho<br />

duro e honesto; como amontoa<strong>do</strong> promíscuo <strong>de</strong> populações sem moral. Com a chegada <strong>de</strong> levas <strong>de</strong> nor<strong>de</strong>stinos, que traziam outra<br />

bagagem cultural, a favela também passou a ser vista como reduto anacrônico <strong>de</strong> migrantes <strong>de</strong> origem rural mal adapta<strong>do</strong>s as<br />

excelências da vida urbana”.<br />

3 Uma das principais referências é o trabalho <strong>de</strong> Abreu (1 7), Evolução Urbana <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

alarma<strong>do</strong>s pela presença da favela4 por a toda<br />

paisagem urbana, os governos começaram a<br />

assumir a responsabilida<strong>de</strong> pela habitação,<br />

por meio <strong>de</strong> institutos como o Instituto <strong>de</strong><br />

Aposenta<strong>do</strong>rias e Pensões <strong>do</strong>s Industriários<br />

(Iapi) e o <strong>de</strong> Aposenta<strong>do</strong>rias e Pensões <strong>do</strong>s<br />

Emprega<strong>do</strong>s em Transportes e Cargas (IA-<br />

PETC), da Caixa Econômica Fe<strong>de</strong>ral e <strong>do</strong><br />

Banco Nacional <strong>de</strong> Habitação (BNH). Po<strong>de</strong>se<br />

dizer, contu<strong>do</strong>, que os investimentos em<br />

habitação popular foram insuficientes, tanto<br />

<strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista quantitativo quanto <strong>do</strong><br />

qualitativo (Silva e Barbosa, 2005). Na meta<strong>de</strong><br />

final <strong>do</strong> século XX, as favelas continuaram a<br />

crescer e se multiplicar, manten<strong>do</strong> um ritmo<br />

<strong>de</strong> incremento populacional bem acima da<br />

progressão <strong>do</strong> restante da cida<strong>de</strong>5 .<br />

Diante da histórica ineficiência <strong>do</strong><br />

po<strong>de</strong>r público em suprir o déficit habitacional<br />

e o <strong>de</strong> infra-estrutura, a representação<br />

da favela como anti-símbolo no imaginário<br />

da urbe vai ganhan<strong>do</strong> corpo, a ponto <strong>de</strong><br />

se confundir com a própria representação<br />

da cida<strong>de</strong>. A “Cida<strong>de</strong> Maravilhosa” passa<br />

também a ser vista como a “cida<strong>de</strong> caótica”<br />

e <strong>de</strong>sta contradição se nutrem os discursos<br />

e apelos discricionários em nome <strong>de</strong> um<br />

4 Segun<strong>do</strong> Abreu (1994), “como bem disseram outros autores que estudaram o assunto, só a partir <strong>do</strong>s anos 1940 é que a favela<br />

‘começa a chamar a atenção’. Há <strong>de</strong> se explicitar bem, entretanto, o que quer dizer esta frase. (...) é possível afirmar que não foi a<br />

partir <strong>de</strong>ssa data que a favela se tornou visível ou incomodativa para o governo. Isto aconteceu muito antes. É a partir <strong>de</strong> 1940,<br />

entretanto, que os po<strong>de</strong>res públicos pareceram reconhecer que a favela chegou para ficar, ou seja, que uma nova geopolítica urbana<br />

havia se instaura<strong>do</strong> <strong>de</strong> fato na cida<strong>de</strong>. Não é <strong>de</strong> se surpreen<strong>de</strong>r, portanto, que só a partir <strong>de</strong> então é que a favela tenha si<strong>do</strong><br />

‘oficializada’, passan<strong>do</strong> a fazer parte <strong>do</strong>s planos e preocupações oficiais” (p.44).<br />

5 Apesar da taxa <strong>de</strong> crescimento da população total da cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro começar a diminuir a partir da década <strong>de</strong> 1 60, a proporção<br />

<strong>de</strong> mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> favelas em relação aos <strong>de</strong>mais habitantes continuou aumentan<strong>do</strong>. Em 1 50, o percentual <strong>de</strong> pessoas resi<strong>de</strong>ntes em favelas na<br />

cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro era <strong>de</strong> 7,13%; em 2000 passou para 18,65% (Fontes: Censos Demográficos - IBGE, IPLANRIO, IPEA – 1991/2000).

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