14.04.2013 Views

Legado Social do Pan 2.indd - Observatório de Favelas

Legado Social do Pan 2.indd - Observatório de Favelas

Legado Social do Pan 2.indd - Observatório de Favelas

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

16 Diagnóstico <strong>Social</strong> e Esportivo <strong>de</strong> 53 <strong>Favelas</strong> Cariocas<br />

se <strong>de</strong>s<strong>do</strong>brou na gestão <strong>de</strong> Luiz Paulo Con<strong>de</strong><br />

(1 7-2000), ex-secretário Municipal <strong>de</strong> Urbanismo<br />

e sucessor <strong>do</strong> prefeito Cesar Maia, em<br />

<strong>do</strong>is outros projetos similares: Bairrinho, nas<br />

comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pequeno porte (<strong>de</strong> 100 a 500<br />

<strong>do</strong>micílios) 20 e Gran<strong>de</strong>s <strong>Favelas</strong>, nas comunida<strong>de</strong>s<br />

acima <strong>de</strong> 2.500 <strong>do</strong>micílios21 .<br />

Os componentes urbanísticos <strong>do</strong> Favela-<br />

Bairro incluem abertura e pavimentação <strong>de</strong> ruas,<br />

implantação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> água, esgoto e drenagem,<br />

construção <strong>de</strong> creches, praças, áreas <strong>de</strong> esporte<br />

e lazer, canalização <strong>de</strong> rios, reassentamento <strong>de</strong><br />

famílias que se encontram em áreas <strong>de</strong> risco,<br />

contenção e reflorestamento <strong>de</strong> encostas, construção<br />

<strong>de</strong> marcos limítrofes para evitar a expansão,<br />

reconhecimento <strong>de</strong> nomes <strong>de</strong> ruas, logra<strong>do</strong>uros<br />

e código <strong>de</strong> en<strong>de</strong>reçamento postal (CEP). O item<br />

menos contempla<strong>do</strong> e mais adia<strong>do</strong> pelo programa<br />

é justamente titulação da proprieda<strong>de</strong> 22.<br />

Segun<strong>do</strong> Ran<strong>do</strong>lph (2001), o Favela-<br />

Bairro23 <strong>de</strong>ve ser compreendi<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong><br />

uma mudança da matriz <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r social24 ,<br />

que se dá na década <strong>de</strong> 1990, com a elaboração<br />

<strong>do</strong> Plano Estratégico da Cida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro. O PECRJ tem por principal objetivo “a<br />

revalorização da cida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s negócios, <strong>do</strong> terceiro<br />

setor superior (serviços avança<strong>do</strong>s para<br />

20 Entre projetos, obras em andamento e concluídas, alcança 44 comunida<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong>m cerca <strong>de</strong> 62 mil pessoas (I<strong>de</strong>m).<br />

21 Executa<strong>do</strong> no Jacarezinho (Zona Norte), Rio das Pedras (Jacarepaguá), Rollas (Santa Cruz) e Fazenda Coqueiros (Sena<strong>do</strong>r Camará) (I<strong>de</strong>m).<br />

22 Segun<strong>do</strong> informações colhidas no site da Prefeitura, em 26/07/2007, “nas áreas urbanizadas pelo Favela-Bairro, a Secretaria<br />

Municipal <strong>do</strong> Habitat vem fazen<strong>do</strong> um minucioso reconhecimento <strong>de</strong> logra<strong>do</strong>uros, elaboran<strong>do</strong> gabaritos, cadastran<strong>do</strong> e medin<strong>do</strong><br />

imóveis para emissão <strong>do</strong> “habite-se” e cadastro no IPTU. A medida beneficiará inicialmente 35 comunida<strong>de</strong>s e aproximadamente<br />

119 mil pessoas” (extraí<strong>do</strong> <strong>de</strong> http://www.rio.rj.gov.br/habitat/).<br />

23 Para o autor, o PECRJ aponta “uma constelação <strong>de</strong> acor<strong>do</strong>s que incorporam o Favela-Bairro como parte <strong>de</strong> estratégias” para<br />

legitimar o plano perante classes e segmentos excluí<strong>do</strong>s (I<strong>de</strong>m, p.86).<br />

as empresas, ‘business parks’ áreas <strong>de</strong> C&T,<br />

oferta cultural <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> etc.)”, conceben<strong>do</strong>-a<br />

como um “bem estratégico, uma cida<strong>de</strong><br />

para o consumo global (op.cit. p.88)”.<br />

Há, portanto, uma clara inflexão na<br />

concepção original <strong>do</strong> Plano Diretor Decenal<br />

da Cida<strong>de</strong> (<strong>de</strong> 1 2). Deixa-se <strong>de</strong> se centrar na<br />

função social da cida<strong>de</strong> e da proprieda<strong>de</strong>, para<br />

inserir-se no âmbito <strong>do</strong>s interesses territoriais<br />

<strong>do</strong>s setores empresariais (Car<strong>do</strong>so, 2002). Não<br />

se po<strong>de</strong> dizer, assim, diante <strong>de</strong>ssa nova perspectiva<br />

<strong>de</strong> gestão da cida<strong>de</strong>, na qual a especulação<br />

da terra urbana ganha um novo impulso,<br />

que a lógica da remoção/periferização das<br />

classes populares é parte <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>.<br />

Mesmo tão questiona<strong>do</strong> no que diz<br />

respeito a sua eficiência 25 , o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />

(re)assentamento nas áreas periféricas continua<br />

presente quan<strong>do</strong>, por exemplo, atentamos<br />

para a recente criação <strong>do</strong> conjunto habitacional<br />

Nova Sepetiba26 , cria<strong>do</strong> pelo governo estadual.<br />

Ele traz os mesmos e profun<strong>do</strong>s impactos sofri<strong>do</strong>s<br />

pela população removida nas décadas<br />

<strong>de</strong> 1 60 e 70 (re<strong>de</strong>s sociais <strong>de</strong>sfeitas, maior<br />

distância <strong>do</strong>s locais ou <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

trabalho, instalação <strong>de</strong> equipamentos urbanos<br />

insuficientes e <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> duvi<strong>do</strong>sa).<br />

24 Segun<strong>do</strong> o autor (op.cit.), essa mudança da matriz <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r social diz respeito ao peso <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas categorias sociais em promover<br />

mudanças na realida<strong>de</strong> política, cunhan<strong>do</strong> a agenda e os espaços das <strong>de</strong>cisões das elites políticas. Constituem os chama<strong>do</strong>s promotores <strong>do</strong><br />

plano estratégico, a Prefeitura, a Associação Comercial <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro (ACRJ) e a Fe<strong>de</strong>ração das Indústrias <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro (Firjan).<br />

25 Em “Passa-se uma casa”, Lícia Valladares (1978) ilustra exemplarmente a forma que os mora<strong>do</strong>res removi<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong> da<br />

ditadura militar encontraram para retomar seu mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> vida, reconstruir suas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relações, diminuir o custo <strong>de</strong> moradia<br />

e estar novamente inseri<strong>do</strong>s próximos aos locais <strong>de</strong> trabalho. Passar a nova casa adiante e reconstruir sua morada noutra favela,<br />

mais que um protesto contra a arbitrarieda<strong>de</strong> com que se <strong>de</strong>u o processo <strong>de</strong> remoção, evi<strong>de</strong>nciou a importância das centralida<strong>de</strong>s<br />

urbanas na vida daquelas pessoas.<br />

volume 2

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!