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este interlúdio sem fim. Mas estar assim, inactivo<br />

e activo como uma fera, gozando a neutralidade,<br />

sem um pensamento maior que o pensamento<br />

de estar, sem um sentimento tão intenso<br />

que ultrapasse a voz dos acontecimentos comezinhos,<br />

sem um sonho que me perca por sarjetas e montículos<br />

de cetim, sem a imagem de ninguém a fornicar ideias<br />

ou razões abomináveis, só como todos os objectos<br />

espalhados pelo redemoinho da sala, sem a substância<br />

de qualquer coisa a proliferar raivosamente, enfim,<br />

comigo próprio onde o próprio é ficção<br />

e mentira psicológica, eu estou para o Nada<br />

e para o sempre, nesta perfeição conjugada<br />

com a eutimia de uma organização que me escapa<br />

e se escapa, figuração de um abandono<br />

ao eclectismo das horas imperfeitas.<br />

Possuindo um acervo de mundivivências colmatadas<br />

pela memória, barítono de uma música onde o dó<br />

não chega a insinuar-se, filho livre das besteiras<br />

que os homens vetustos criaram bondosamente,<br />

absorto na frivolidade subtil de me saber homem<br />

desempregado, optando pela sinceridade magnânima<br />

da desídia como expressão de uma vontade,<br />

o meu corpo e eu, ou eu no meu corpo, estamos<br />

infinitamente bem, rodeados pelas flâmulas<br />

dos outros mundos humanos, isolados das rochas<br />

onde a incompreensão abusaria da nossa inocência,<br />

desplacentados até às raízes do nosso viver anfigúrico<br />

e usado, já sem o atrevimento de desequilibrarmos<br />

o universo, estáticos, maciços, ocupando o estrito<br />

espaço da nossa adiposidade indesculpável,<br />

silenciosos como um morto no esquife filaucioso<br />

e cosmopolita, enraivecendo todas as formas<br />

de progressão para o fim, não queremos mais<br />

que a deselegância de sermos maltratados.<br />

Mas a Hora ainda não chegou. Nem o dia findou<br />

definitivamente: eu surripiei ao momento de desatenção<br />

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