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A CASA COISA<br />
A casa permanece como uma existência existindo.<br />
Vive de espaços, de paredes paradoxais.<br />
Abriga quem se obriga a permanecer em suspenso.<br />
A casa nada mais é que uma abissal barriga.<br />
A casa coisa, de que não se pode nem se sabe falar.<br />
Eis a experiência contemporânea, essa fenda.<br />
Esse estar entre o silêncio e a música.<br />
Ouvindo uma respiração que não parece advinda.<br />
E no entanto a casa quase se compraz em acção.<br />
Cada quarto é uma entrada, cada quarto é uma saída.<br />
Houvesse um labirinto e encontrar-se-ia um mito.<br />
Muda no que é, a casa ignora o sentimento.<br />
Alguém percorre passo a passo a distância do saber.<br />
Alguém reconhece os lugares essenciais.<br />
Ousará esse alguém ser uma personagem?<br />
Poder-se-á ainda crer na bondade das histórias?<br />
A cama no meio do quarto de dormir. Dorme?<br />
Descansa? Quem? É um homem, é uma mulher?<br />
Será uma criança? Um fantasma? Ninguém.<br />
Ninguém deseja mais fazer parte de um mundo.<br />
E no entanto qualquer coisa desobedece à verdade.<br />
Nada mais é do que o que é, e no entanto aspira.<br />
Haver é mais do que um acontecimento.<br />
Estar é compreender que não se pode compreender.<br />
Como uma existência existindo sente-se corpo.<br />
Deitado sobre a cama medita sem pensar.<br />
Onde houve um começo encontrava-se o fim?<br />
Um sorriso desdobra-se no enigma do universo.<br />
17/8/2012<br />
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