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MEMÓRIA DO PRESENTE<br />

É o título do primeiro livro que escrevi. Livro que apareceu<br />

decepado, por razões meramente tipográficas, de uns treze ou<br />

mais textos. Mas não importa. O importante é tentar descrever<br />

o que o título encerra. Escrito em 1967/68, foi preciso, nos<br />

anos 80, quando vivia nos Estados Unidos, ter a felicidade de<br />

encontrar no livro de Paul de Man, Blindness and Insight, um<br />

ensaio que me deixou numa perplexidade hermenêutica e heurística<br />

indisfarçável. Chama-se esse ensaio “Literary History<br />

and Literary Modernity”. Vou traduzir a parte que tem muito<br />

a ver com alguns aspectos da Porética, entrecortando-a com<br />

comentários da minha lavra. A tradução, sempre rápida e um<br />

pouco, talvez, fantasiosa, poderá deixar muito a desejar. Mas<br />

espero que o essencial seja transmitido. Diz assim: Como se<br />

pode ver no famoso ensaio sobre Constantin Guys, “Le peintre<br />

de la vie moderne”, o conceito de modernidade de Baudelaire<br />

está muito perto do de Nietzsche no seu segundo Unzeitgemässe<br />

Betrachtung. Advém de um sentido agudo do presente<br />

como um elemento constitutivo de toda a experiência<br />

estética:<br />

O prazer que usufruímos da representação do<br />

presente (la représentation du présent) não se deve<br />

somente à beleza que isso possa manifestar, mas<br />

também da essencial “presentificação” do presente.<br />

O paradoxo do problema está potencialmente contido na fórmula<br />

“représentation du présent”, que combina um modelo<br />

repetitivo com um instantâneo, sem uma aparente consciência<br />

da incompatibilidade. No entanto esta tensão latente governa<br />

o desenvolvimento de todo o ensaio. Baudelaire permanece<br />

durante todo o ensaio fiel à sedução do presente; a consciência<br />

temporal está, para ele, de tal maneira ligada ao momento<br />

presente, que a memória aplica-se mais naturalmente ao presente<br />

do que ao passado:<br />

Mergulhando no passado (aquele que acha determinante o seu<br />

estudo) ele pode muito bem perder a memória do<br />

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