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O JUÍZO<br />
Os afazeres diários não são uma parte<br />
integrante do que se chama ainda Diário.<br />
Não se descreve o que quer que seja.<br />
Não há dados da vida intrometendo-se<br />
em língua, em língua pensando-se destino.<br />
Mas há acções que se desenvolvem no correr<br />
do dia, viver não é feito de nadas,<br />
mas de tudo o que se tem para fazer.<br />
Uma refeição preparada depende de tantas<br />
reverberações da memória inolvidável!<br />
Ler um livro aberto que nos incendeia<br />
a imaginação, narrativa ou poética ou mesmo<br />
filosófica, é um prazer acessível, tudo<br />
se desprende de tudo e tudo se conclui em tudo.<br />
Estarei a ser demasiado optimista?<br />
Sobretudo agora que parte do mundo curte<br />
uma crise inconsolável e insolvente?<br />
Serei insensível ao sofrimento das gentes?<br />
Mas o meu sofrimento foi desde sempre,<br />
e até um certo ponto, social.<br />
Ninguém sabe o que é um indivíduo.<br />
Todos se comprometem, em perorações mais<br />
ou me menos angustas, com angústias<br />
que poderiam ter sido prevenidas, houvesse,<br />
houvesse capacidade civil para tanto.<br />
O juízo não é sempre final. O juízo deveria<br />
ser constante. Fazer parte da vida quotidiana.<br />
Mas o prazer, ou o desejo de prazer,<br />
deteriora as populações. Não, o remorso<br />
não morde minha consciência inconcebível.<br />
23/11/2012<br />
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