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O SUBLIME<br />
Sinto que tenho muito para dizer,<br />
mas o dizer não se diz, não se faz,<br />
não se exterioriza num acontecimento<br />
ou numa ideia que iluminasse por segundos<br />
a minha disposição para sentir alguma coisa.<br />
Catapulto-me para a memória recente<br />
e voluntária, que foi realizado na experiência<br />
do real nos últimos tempos? Fiz uma viagem<br />
ao norte no fim de semana, a família original<br />
revista como quem descobre a infância.<br />
Tanto aconteceu, tanto se perdeu, a viagem<br />
na auto-estrado não me trouxe, nem de longe<br />
nem de perto, o Arizona, o New Mexico,<br />
o Colorado. Se disser, como digo agora,<br />
Mesa Verde, quantos saberão ler?<br />
Não é culpa de ninguém, eu sei,<br />
mas eu estive lá. Olho, ou melhor,<br />
olhei para a paisagem portuguesa mudando<br />
do sul para o norte, algum vinhedo,<br />
pinheiros, eucaliptos tornados autóctones.<br />
Ah! mas onde estão as sequóias?<br />
A humidade milenária, a atmosfera feérica<br />
de uma vegetação impedindo o sol<br />
de chegar ao solo, ao chão de uma terra<br />
que os deixou resistir centenas de anos?<br />
Nada de horrível na viagem do sul ao norte,<br />
nem um acidente para se poder conjugar<br />
algumas considerações sociológicas.<br />
Melhor assim. Que interessa o sublime<br />
quando do mundo nada se pode sublimar?<br />
27/11/2012<br />
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