Pedro Bandeira A Droga da Obediência
Pedro Bandeira A Droga da Obediência
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- E quem garante que não haverá, professor Cardoso?<br />
O diretor recostou-se no espal<strong>da</strong>r alto de sua cadeira giratória. Percebeu<br />
que não seria fácil dobrar a personali<strong>da</strong>de do rapazinho.<br />
- Eu não posso garantir a você que nenhum outro garoto será seqüestrado,<br />
Miguel. Mas eu posso assegurar-lhe que qualquer escân<strong>da</strong>lo maior em torno do<br />
desaparecimento do nosso aluno só poderá ser prejudicial ao Elite.<br />
- Acho que não se trata de evitar escân<strong>da</strong>los envolvendo o Elite, professor<br />
Cardoso. O Elite já está envolvido.<br />
O diretor suspirou profun<strong>da</strong>mente:<br />
- Há pouco você disse que só existe uma ver<strong>da</strong>de, não foi, Miguel? Você<br />
ain<strong>da</strong> é muito jovem, não faltará ocasião de aprender que as coisas são relativas.<br />
A ver<strong>da</strong>de tem várias facetas. Dependendo do lado que se olha, um mesmo fato<br />
pode parecer totalmente diferente.<br />
- Eu só vejo um modo de olhar a ver<strong>da</strong>de - interrompeu Miguel. - O modo<br />
certo.<br />
O professor Cardoso ignorou a interrupção:<br />
- Veja o caso do desaparecimento do Bronca, por exemplo. Se alertarmos<br />
nossos alunos, talvez estejamos alertando<br />
também os seqüestradores. Se contarmos a todo mundo o que sabemos,<br />
talvez estejamos nos revelando também para os bandidos.<br />
- O senhor quer dizer que já há suspeitos aqui mesmo, no Elite?<br />
- Eu não disse isso. Para não prejudicar as investigações, a polícia não está<br />
confiando nem em mim. E eles estão muito certos. Já conseguimos também a<br />
colaboração <strong>da</strong> imprensa. Nenhuma providência policial será noticia<strong>da</strong> até que<br />
os estu<strong>da</strong>ntes sejam encontrados. Só falta agora a sua colaboração, Miguel.<br />
Conhecemos a sua liderança e contamos com ela. Temos de impedir o pânico<br />
dentro do Elite. É só isso que eu peço: impedir o pânico.<br />
- Verei o que posso fazer, professor Cardoso. Nesse momento, a secretária<br />
do diretor abriu a porta:<br />
- Professor Cardoso, os policiais chegaram.<br />
- Eu estava esperando por eles. Peça para entrarem, por favor.<br />
Eram dois detetives de terno, com expressão sisu<strong>da</strong>, própria <strong>da</strong> profissão,<br />
e cansa<strong>da</strong>, de quem estava às voltas com vinte e oito desaparecimentos de<br />
estu<strong>da</strong>ntes. Sentaram-se no amplo sofá <strong>da</strong> diretoria. Um deles brincava com um<br />
molho de chaves, fazendo um barulho ritmado, irritante.<br />
O professor Cardoso apontou para o mais velho dos dois homens, um<br />
sujeito meio gordo, suarento, que mal cabia no terno surrado.<br />
- Miguel, este é o detetive Andrade. Ele quer fazer algumas perguntas a<br />
você.