Pedro Bandeira A Droga da Obediência
Pedro Bandeira A Droga da Obediência
Pedro Bandeira A Droga da Obediência
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
16. A outra mensagem de Chumbinho<br />
Silenciosamente como tinha saído, Chumbinho voltou para o dormitório.<br />
Estava quase amanhecendo quando subiu para o seu beliche e ficou ali,<br />
encolhido, ouvindo o ressonar suave dos pobres meninos obedientes.<br />
Todos tinham tomado a dose noturna <strong>da</strong> <strong>Droga</strong> <strong>da</strong> <strong>Obediência</strong> e estavam<br />
cumprindo direitinho a ordem de dormir.<br />
Menos Chumbinho. O garoto estava só, no meio de tanta gente. Só ele<br />
tinha consciência do que estava acontecendo. Esgueirando-se pelas paredes,<br />
aproveitando ca<strong>da</strong> sombra para esconder-se, o menino tinha percorrido todos<br />
os cantos <strong>da</strong>quela fábrica dos infernos. E ele tinha tido a sorte de presenciar a<br />
discussão do tal Márius Caspérides com aquela silhueta no vídeo, que mais<br />
parecia um personagem de filme de terror.<br />
Agora ele sabia. Agora ele compreendia a extensão do perigo que aquela<br />
droga representava. E ele não podia sentir medo. Era um Kara. O único que<br />
poderia fazer alguma coisa.<br />
Ele tinha roubado uma caneta e uma folha de um bloquinho papel em<br />
uma <strong>da</strong>s salas por onde passara durante as investigações noturnas.<br />
Aproveitando as primeiras luzes <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong>, Chumbinho começou a redigir<br />
uma mensagem para os Karas. Ain<strong>da</strong> não sabia como fazer chegar aquele<br />
bilhete às mãos de seus amigos, mas era urgente falar para eles <strong>da</strong>quela droga<br />
maldita. Era preciso também que eles soubessem que havia um aliado, e que<br />
esse aliado era o próprio inventor <strong>da</strong> <strong>Droga</strong> <strong>da</strong> <strong>Obediência</strong>, o bioquímico<br />
Márius Caspérides.<br />
Cui<strong>da</strong>dosamente Chumbinho recortou pequenas tiras do papel e tentou<br />
escrever em letras bem pequenas, a forma mais curta para <strong>da</strong>r o seu recado.<br />
Mas e se o bilhete fosse interceptado pelos bandidos? Era preciso escrever em<br />
código. Mas que código? Ele conhecia alguns dos códigos dos Karas. Só que, se<br />
ele os tinha descoberto, não seria também fácil para os bandidos decifrá-los?<br />
Chumbinho tomou uma decisão. Trabalhou febrilmente, com a menor<br />
letra que conseguiu e, por fim, a mensagem coube em uma pequena tira de<br />
papel.<br />
Olhou para o enorme curativo que sua mãe tinha feito por causa <strong>da</strong><br />
espetadinha <strong>da</strong> “iniciação na Ordem dos Karas”. Era como um grande de<strong>da</strong>l de<br />
gaze enrolado com esparadrapo no indicador <strong>da</strong> mão esquer<strong>da</strong>. Retirou o