Pedro Bandeira A Droga da Obediência
Pedro Bandeira A Droga da Obediência
Pedro Bandeira A Droga da Obediência
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
8. Um Kara nas sombras <strong>da</strong> noite<br />
Depois de pular para fora do carro <strong>da</strong> polícia, Miguel correu sem forçar<br />
muito. Ele sabia que Andrade jamais poderia alcançá-lo a pé. Mesmo que fosse<br />
mais magro e mais jovem, Andrade nunca seria páreo para um atleta como<br />
Miguel.<br />
Certamente o policial já deveria ter <strong>da</strong>do um alerta pelo rádio do carro, e<br />
outras viaturas <strong>da</strong> polícia logo chegariam para cercar a área, à sua procura. Por<br />
isso era necessário confundir ao máximo a própria pista.<br />
Ele tinha fugido ladeira abaixo, no sentido contrário à direção do trânsito,<br />
para impedir que Andrade o perseguisse de carro. Entrou em um jardim,<br />
atravessou a lateral <strong>da</strong> casa até o quintal e pulou o muro de trás, passando para<br />
o terreno de outra casa, que também atravessou. Estava, agora, na rua paralela<br />
àquela onde tinha pulado para fora do carro. Era só correr ladeira acima<br />
enquanto a polícia procurava por ele ladeira abaixo.<br />
No alto <strong>da</strong> ladeira, entrou no primeiro ônibus que parou.<br />
Era hora de saí<strong>da</strong> do trabalho, e o ônibus estava lotado de pessoas<br />
cansa<strong>da</strong>s, sua<strong>da</strong>s, ansiosas por chegar em casa a tempo de assistir à novela <strong>da</strong>s<br />
oito. Rapazinho rico, como todos do Colégio Elite, Miguel estava pouco<br />
acostumado a an<strong>da</strong>r de ônibus, mas, misturado àquela multidão de<br />
trabalhadores, bem podia passar por um office-boy voltando para casa. O ônibus<br />
era a melhor maneira de esconder-se <strong>da</strong> polícia.<br />
“Chumbinho!”, pensava Miguel, espremido no meio <strong>da</strong>quela gente to<strong>da</strong>.<br />
“Será que o maldito Andrade disse a ver<strong>da</strong>de? Será que Chumbinho está agora<br />
nas mãos <strong>da</strong> quadrilha? Eu não fui com a cara do Andrade, nem ele com a<br />
minha... Pra mim, ele faz parte do esquema todo. Na certa ele pertence à<br />
quadrilha do tal cérebro criminoso...”<br />
O sacolejar do ônibus lembrou a Miguel todos os lances <strong>da</strong>quele dia, o<br />
terceiro desde que ele havia convocado aquela emergência máxima.<br />
“Tem alguma coisa muito suspeita com o Andrade... Primeiro o modo<br />
desinteressado dele lá na sala do professor Cardoso... Depois o jeito dele<br />
tentando me levar para a delegacia... E o modo como ele se livrou do detetive<br />
Rubens, impedindo que ele entrasse na viatura? É claro que Andrade não ia me<br />
levar para a delegacia... Na certa ele... Talvez eu pudesse confiar no detetive<br />
Rubens, mas, depois que eu fugi, certamente sou um suspeito...”