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Pedro Bandeira A Droga da Obediência

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curativo como se puxasse um dedo de luva e enfiou ali dentro o papelzinho<br />

enrolado. Colocou novamente o curativo no lugar, e estava amassando as<br />

tirinhas de papel com os rascunhos do código quando a porta do dormitório se<br />

abriu.<br />

O menino fingiu que dormia, mas, através <strong>da</strong>s pálpebras semicerra<strong>da</strong>s,<br />

viu entrar um empregado de avental branco. O sujeito trazia uma bandeja cheia<br />

de comprimidos, que colocou sobre uma mesa.<br />

- Hora de acor<strong>da</strong>r, menininhos obedientes! Vamos, acordem!<br />

Todos acor<strong>da</strong>ram e puseram-se de pé imediatamente. Na<strong>da</strong> <strong>da</strong>s normais<br />

espreguiça<strong>da</strong>s e esfregações de olhos. Nenhuma risa<strong>da</strong>, nenhuma brincadeira,<br />

nenhuma palavra. Não mais eram jovens inteligentes e cheios de vi<strong>da</strong>. Eram<br />

máquinas estúpi<strong>da</strong>s.<br />

- Venham cá - ordenou o empregado. - Ca<strong>da</strong> um pegue um desses<br />

comprimidos e tome. Depois, todo mundo para o banheiro. Andem logo, que<br />

hoje temos muitos testes a fazer!<br />

Chumbinho colocou-se na fila que caminhava em direção à bandeja de<br />

comprimidos para tomar o reforço <strong>da</strong> droga maldita.<br />

“Não posso mais ficar sozinho”, pensou o menino. “Preciso de mais<br />

alguém comigo. Quem sabe...”<br />

A idéia lhe ocorreu quando já estava em frente à bandeja. Rapi<strong>da</strong>mente,<br />

pegou dois comprimidos e deixou cair na bandeja a bolinha que tinha feito ao<br />

amassar o papel que sobrara. Fingiu que tomava a droga e escondeu os dois<br />

comprimidos no macacão. Com o canto do olho, viu quando Bronca chegou<br />

junto à bandeja, pegou e engoliu a bolinha de papel como se fosse um<br />

comprimido.<br />

Pronto! Chumbinho sorriu por dentro. Logo não estaria mais sozinho. O<br />

restinho do efeito <strong>da</strong> droga que Bronca havia tomado na noite anterior já devia<br />

estar passando e então Chumbinho teria um companheiro lúcido. Quem sabe<br />

se, juntos, não seria mais fácil criar um plano para fugir <strong>da</strong>li?<br />

O efeito <strong>da</strong> <strong>Droga</strong> <strong>da</strong> <strong>Obediência</strong>, pelo jeito, era tão seguro que os<br />

empregados nem precisavam se preocupar muito com a vigilância dos garotos.<br />

Depois de <strong>da</strong>r a ordem, o empregado de avental saiu do dormitório. Com<br />

certeza <strong>da</strong>ria um tempinho para as cobaias idiotas irem ao banheiro. Enquanto<br />

isso, foi cui<strong>da</strong>r de outra coisa qualquer.<br />

O banheiro era grande e não havia separação entre os meninos e as<br />

meninas. <strong>Droga</strong>dos, eles eram cobaias sem sexo.<br />

O plano de Chumbinho começou a <strong>da</strong>r certo: parado no meio do banheiro,<br />

Bronca parecia confuso. Olhava espantado para uma lin<strong>da</strong> menina, senta<strong>da</strong> no<br />

vaso de porta aberta. Sacudiu a cabeça, como que para acor<strong>da</strong>r de um sonho.

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