O sentimentalismo (1871).preview.pdf
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querido D. António? Eu, que os conheço apenas ha dias,<br />
fui acompanhal-os á estação do caminho de ferro! — Com<br />
elles vai uma senhora, de quem por vezes te tenho ouvido<br />
fallar com...— não sei se diga?—enthusiasmo. È a gra-<br />
ciosa, a espirituosa D. Carlota de Sousa. A Mathilde e ella<br />
são amigas intimas. Estás ahi, meu bom amigo, no Bussaco,<br />
e de certo terás occasião de ver a minha... doente.<br />
— Aqui vai agora o pedido, que ha pouco te disse desejava<br />
fazer-te.— Manda-me noticias d'ella: e busca penetrar —<br />
com a tua perspicácia natural — o segredo d'aquella me-<br />
lancolia, que tão vivamente me impressionou.<br />
Meu amigo, ao fechar esta carta sinto-me singularmente<br />
hesitar, entre o desejo de t'a mandar e o de a queimar, sem<br />
mesmo a tornar a ler. É a primeira vez que escrevo uma<br />
carta assim: é a primeira vez — apezar dos meus trinta<br />
annos — que a um amigo, e a mim próprio também, tenho<br />
tido que dizer segredos de tal e tão grande importância.<br />
— Não te rias. Eu sinto, é verdade, vontade de me rir de<br />
mim próprio; mas é differente, porque neste meu riso ha<br />
lagrimas, que eu nem sei nem posso explicar, e no teu...<br />
ha a sympathia da mais pura amisade no teu riso; e seria<br />
absurdo o queixar-me eu d'elle, no próprio momento em<br />
que te quizera ver ao pé de mim, para me dares uma pouca<br />
da lua alegria.<br />
É quasi noute: vou ver ainda alguns dos meus doentes,<br />
e deitar eu mesmo esta carta no correio. Olha que fica desde<br />
já — não o esqueças — aguardando a resposta, com impaciência,<br />
o teu verdadeiro e dedicado amigo<br />
Lisboa— 2 de maio de 186...<br />
Luiz de Mello.<br />
Obra protegida por direitos de autor