O sentimentalismo (1871).preview.pdf
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felizes dois entes que a ambos lhes eram caros. Prolon-<br />
gou-se a viagem por alguns mezes; e, á volta — que fora<br />
poucos dias antes d'aquelle em que se passaram os succes-<br />
sos que vamos nairando — foi o D. António visitar a sua<br />
boa e sincera amiga.<br />
Soube então da bocca de D. Carlota ser de urgência o<br />
tomar resoluções enérgicas, para poder livrar o Luiz de Mello<br />
do perigo de perder para sempre a sua adorada Malhilde.<br />
Soube como haviam crescido de dia para dia as angustias<br />
do Carlos do Arnal, e se aproximara uma crise grave, a<br />
que era preciso acudir para salvar a honra e talvez a vida<br />
do velho advogado. Soube, emfim, a disposição em que<br />
estava este de conceder a mão de sua filha ao Adriano Ra-<br />
mires, e o como esperava, directa e indirectamente, con-<br />
vencer a D. Mathilde a acceder aos seus desejos: não só<br />
para assim lhe dar um amigo e um protector, senão também<br />
para salvar a sua fortuna e mais ainda a própria honra,<br />
que julgava gravemente compromettidas.<br />
Foi procurar, logo que sahiu de casa da D. Carlota, o<br />
seu amigo Luiz de Mello. Contou-lhe em breves termos<br />
tudo que soubera; e, vendo a profunda mágoa que taes novas<br />
lhe causavam, tractou de o consolar e de lhe pôr no cora-<br />
ção a esperança e com ella a energia para a luta. Aquella alma,<br />
fortemente temperada, do illustre medico senlia-se sem for-<br />
ças, em face de tão grande perigo para o seu entranhado<br />
amor por Mathilde. Para elle, aquella casta e melancólica<br />
donzella era como mimoso sonho do espirito, ou como aérea<br />
e lenuissima visão, que n'um instante se esvae e desappare-<br />
ce. Receiava sempre perdel-a, e este receio tornava-o pusillanime,<br />
ás vezes até ao desalento.<br />
— Sinceramente t'o confesso, meu caro D. António—<br />
dissera por fim o Luiz de Mello: — se não fosse invencível<br />
este amor, fugia para longe de Lisboa, para onde não ouvisse<br />
mais fallar em Mathilde. Não posso, não posso fugir d'ella...<br />
e cada N-ez lhe quero mais, apezar (Kaquella fria indiffe-<br />
rença que de dia para dia vai crescendo. È uma profunda<br />
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