O sentimentalismo (1871).preview.pdf

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brava da sua posição, nem de que por esmola estava na-
quella casa. Sendo uma rapariga «de pé descnlço» andava
agora toda vestida de sedas, como se fora uma menina bem
nascida; e até já fingia de sentimental, para melhor domi-
nar o espirito da sua sobrinha, que só gostava de cousas
exquisitas, e de gente choramigas. Ella, a D. Barbara, que
tinha vivido muito com gente ordinária, como uma das só-
cias visitadoras que era da associação dos misericordiosos,
bem sabia aonde se chegava por aquelle caminho por onde
ia a Soledade. Já lhe não faltavam motivos para desconfiar
de que andavam alli, n'aquelles esconderijos onde a prote-
gida de Mathilde se occultava da vigilância da beata, mys-
terios que um dia haviam de surdir, quando menos se es-
perasse. E, depois de discorrer por muito tempo ainda neste
sentido, concluiu a D. Barbara, cançada e impaciente, a sua
malévola declamação, pelo seguinte epiphonema: — Aquella
ainda ha de dar bom burro ao tlizimo!
— Seja mais misericordiosa, sr.' D. Barbara — observou
acremente a D. Carlota.— Lembre-se de que é sócia
visitadora da... confraria, que tem por preceito praticar obras
de misericórdia, e não degolar os innocentes.
D, Barbara fez-se vermelha como um pimentão, abriu a
bocca para falar, mas engasgou-se; fechou com mão humor
o cesto da costura, tirou a luneta que quebrou, pegou na
palmatória com luz que tinha defronte de si, e, pondo-se
de pé, gaguejou |)or fim, quando ia a sahir... uma simples
phrase de despedida. A beata -linha muito medo da rude
franqueza de D. Carlota de Sousa, para querer com ella
romper hostilidades.
Estava já a levantar o resposteiro para se ir embora,
quando a porta que dava para a sala principal da casa se
abriu, e um creado deu entrada, depois de os haver annun-
ciado, a D. António d'Almada e Luiz de Mello. D. Mathilde
sobresaltouse, e corou: D. Carlota fez um movimento, como
se quizesse fixar melhor a attenção no lavor (jue tinha entre
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