O sentimentalismo (1871).preview.pdf
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66<br />
Ave Maria,<br />
Sancta Maria,<br />
Na vida e morte<br />
Os homens guia.<br />
— Não se esqueçam de rezar pela Salomé — disse, ao<br />
terminar o canto, a velha serrana que primeiro o entoara.<br />
— Quem sabe se estará viva a estas horas?!<br />
— Deus lhe accuda, que bem tem penado neste mundo<br />
os seus peccados — accrescenlou outra velha.<br />
— Eu fui lá hontem, e |)arecia que eslava a decidir.<br />
— O tia Josepha! — accudiu a Francisca.— Aquelia mu-<br />
lher, a Salomé, não é como a gente cá: ella é outra coisa.<br />
Sempre falia com uns modos!... Olhe que nem o nosso vigário<br />
falia como ella... Nenja ellel<br />
— Da nossa terra não é a Salomé... hein, tia Josepha?<br />
— accresx^ntou outra rapariga.<br />
— Não é, não — respondeu a velha Josepha.— Haverá<br />
uns qualorze annos que a Salomé veio para aquella casita...<br />
onde está agora... ao pé mesmo de Mortágua; e lá se tem<br />
conservado, a viver de trabalho e de lagrimas... Que ella,<br />
coitada, chora vezes sem conto. Em faltando na filha chora<br />
logo.<br />
— A fdha não a vejo ha muito. Ella anda aqui, por estas<br />
serras, a guardar as cabras de um lavrador ahi do sitio.<br />
— E verdade; e mal sabe a rapariga que tem a mãe a<br />
morrer.<br />
— Olhe lá, tia Josepha — disse a Maria — eu já ouvi<br />
dizer...— disse-m'o quem o sabia, tia Josepha— ouvi dizer<br />
que a Salomé era" bruxa, que fazia feiticerias e adivinhava...<br />
e dava máo quebranto...<br />
— Ó rapariga!— interrompeu a velha — quem te azoinou<br />
com essas patranhas?<br />
— Lá patranhas é que não, tia. Eu sei de umas poucas de<br />
moças, que foram ter com ella, para coisas... sim, para...<br />
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