O sentimentalismo (1871).preview.pdf

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Despedido o sacristão e os padres, desceu o Adriano Ra-
mires a uma grande casa de jantar, onde estavam, capi-
taneados pelo Enfialmudes, uns dez ou doze camponezes
sentados em roda de uma meza, de copo em punho e meio
bêbados.
A algazarra era grande, e cresceu ainda quando o senhor
da Ramalhosa entrou na casa de jantar, acompanhado
pelo seu íiel Furavidas.
— Guarde-os Deus, rapazes—disse elle da porta.
— O patrão! O nosso amo Ramires que chega—bradou
Enfialmudes pondo-se, depois de dois ou três arrancos, de
pé, porque as pernas não lhe obedeciam nem a cabeça governava
bem.— Eh! rapaziada, levantem-se todos... levantemo-nos...—
Todos obedeceram a esta ordem com maior
ou menor diíficuldadc.
— Então sempre te resolveste a vir por cá, Enfialmudes?—
disse o Adriano Ramires.— Tinham-me contado
— Eu, senhor! — balbuciou Enfialmudes.— Mal do pa-
que, ha três dias, em casa do visconde fallasle contra mim...
trão, não podia eu dizer... cá por cousas... Que a gente...
o senhor bem sabe, nem sempre diz o que sente... Sim! a
gente, quando está com uma pessoa, não tem antojo de a
oíTender... E, lá o sr. visconde não gosta do patrão...
— Para lhe agradares disseste-lhe mal de mim. Já entendi.—
Não se tracta agora d'isso; o que se quer saber é
se tu e os teus podem levar a votar esses caseiros por
ahi... Alguns eleitores...
Levantou-se na casa um clamor geral, porque lodos
falhwam ao mesmo tempo na esperança de fazer valer a
sua importância, e de alcançar por ella boa paga.
— Eu conheço mais de vinte eleitores... — dizia um.
— Com o meu compadre, e mais aqui o Francisco, eu
an'afijo por hi mais de meia freguezia— expunha outro.
— Diabos me levem— clamou outro—se eu não arranjo
mais votos do que todos estes junctos.
— Cal-te ahi, Papafigo — interrompia outro, que mal se
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