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O sentimentalismo (1871).preview.pdf

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496<br />

doença do espirito e do coração, aquella que assim paralysa<br />

todas as faculdades sensitivas de uma organisação tão pri-<br />

morosa. E não é só o moral que padece; a constituição phy-<br />

sica deleriora-se lambem. Ha na suave e cândida Mathiide<br />

agora umas agitações febris, umas excitações nervosas que<br />

eu não sei definir. N'outra mulher diria eu que eram as pri-<br />

meiras vibrações intimas de um amor nascente. Essas vi-<br />

brações, nas mulheres inexperientes, fazem-se ás vezes sentir<br />

muito antes que ellas saibam interpretal-as; como expontâ-<br />

neas manifestações de uma exuberante actividade da alma.<br />

Preoccupa-me, assusta-me aquelle estado da filha de Carlos<br />

do Arnal.<br />

— Quem sabe — havia observado o D. António — se<br />

a... fascinação, que em ti exerce a D, Mathiide, te não oíTusca<br />

a razão, a ponto de não comprehenderes o que um igno-<br />

rante... como eu, em cousas do coração, presente ou mesmo<br />

adivinha?<br />

— Talvez... talvez que me illuda o próprio enleio, que<br />

me causa a presença de Mathiide— respondera o Luiz de<br />

Mello; accrescentando, depois de breve reflexão, com voz<br />

commovida: — À cabeceira dos meus doentes tenho querido<br />

lutar com a morte, deter a destruição orgânica, quando<br />

ella já se manifesta na sua mais horrível violência. Tem<br />

sido grande a minha angustia nesses momentos supremos!<br />

Se tenho, porem, muitas vezes reconhecido a impotência<br />

da medicina para vencer as causas destruidoras da vida,<br />

também algumas vezes tenho feito parar a morte diante da<br />

força da sciencia, e ido buscar ao intimo do organismo moribundo<br />

o poder vital, já quasi a exlinguir-se. Ha, no amor<br />

que tenho á melancólica Mathiide, alguma cousa de simi-<br />

Ihante ao sentimento que me domina o espirito nesses mo-<br />

mentos de luta contra a morte. Quizera ir buscar ao fundo<br />

d'aquelle coração, e trazel-os á vida, os thesouros de sen-<br />

sibilidade que nelle se escondem; quizera arrancal-os ao<br />

cadáver a que se uniram, para fazer d'elles a minha esplen-<br />

dida felicidade.<br />

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