O sentimentalismo (1871).preview.pdf
O sentimentalismo (1871).preview.pdf
O sentimentalismo (1871).preview.pdf
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
exclamação: fica, porem, para outra occasião o traclar tão<br />
grave assumpto. Por agora basta de dissertação, e vamos<br />
ao caso.<br />
Vendo o Carlos do Arnal doente, e sem causa physica<br />
que podesse dar-me a explicação do seu estado, busquei<br />
informar-me—quanto o permitliam os melindres da minha<br />
c da sua posição — se algum motivo próximo de desgosto<br />
havia produzido no honrado advogado o abalo profundo, de<br />
que observava apenas os graves effeitos. Disse-me, que não<br />
tinha outro desgosto senão o de ver abatida, triste, languida,<br />
desprendida do mundo a sua pobre filha: mas que isso não<br />
era de agora, durava ha tempos já. E logo me consultou,<br />
com uma solicitude paternal que me impressionou, acerca<br />
da filha, a qual parece — disse elle— aíTeclada de uma doen-<br />
ça, cujo principal symptoma é uma melancolia profunda. Es-<br />
quecendo-se logo de si, e todo sustos, todo anciedade pela<br />
filha, pintou-me com tristes cores as angustias, em que o<br />
trazia continuadamente o vel-a, como uma flor pendida da<br />
haste, murchar, perder o viço, antes mesmo de haver os-<br />
tentado á luz fulgente do sol todos os seus naturaes esplendores.—<br />
Ao fallar-me da filha as lagrimas marejavam-lhe<br />
nos olhos, e as palavras sahiam-lhe tremulas dos lábios.<br />
Interrompendo subitamente a phrase, quasi apaixonada, em<br />
que se retratavam os extremos do seu amor paternal, o<br />
Arnal levantou-se para ir chamar sua filha, que estava na<br />
sala próxima.<br />
Não sou nem pintor nem poeta, bem sabes; c tenho pena<br />
de o não ser. Agora mais do que nunca, porque te quizera<br />
mostrar ao vivo a mulher mais suavemente bella, mais an-<br />
gélica, mais cândida, mais graciosamente melancólica que<br />
existe no mundo.— Mathilde é uma esbelta rapariga; alta<br />
e flexível como a haste da roseira. A natureza, como por<br />
pudor, não quiz de todo moldar-lhe ainda as formas; prcsente-se<br />
porem serem puras, correctas aquellas formas como<br />
as da Hebe antiga. São de uma doçura infinita os olhos, em<br />
cuja côr escura ha um tom azulado, que faz lembrar a côr<br />
Obra protegida por direitos de autor