O sentimentalismo (1871).preview.pdf

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trador fazia um gesto de desprazer, o Adriano accrescon-
lou: — Bem sei que é triste essa corrupção que lavra [)or
ahi. Eu, que fui sempre homem honrado, não posso ver,
sem me sentir indignado, a abjecção em que tem cabido...
ludo! Devia formar-se uma sociedade de homens de bem,
para oppôr um dike a esta torrente de devassidão... Gas-
tam-se rios de dinheiro n'uma eleição!—Esta ultima ex-
clamação era expressão sincera da mágoa de Adi-iano Ra-
mires; e o pobre administrador do concelho, enganado pela
hypocrisia do tom e das palavras, teve quasi desejo de abraçar
o prestante cidadão, que tão vivamente sentia os males da
pátria.
Captada a dedicação, assegurada a obediência do admi-
nistrador, o Adriano deu a este largas inslrucções sobre a
eleição e despediu-o, recommendando-lhe «que viesse todas
as noites narrar-lhe o que houvesse passado, e receber os
seus avisos.»
A conversação de Adriano com o patriota eximio, glorioso
e eloquente cidadão, o sr. Sorvedouro— typo, como
dissemos já, do agente eleitoral «paparrotão» — foi breve
e compendiosa. Sorvedouro offereceu os seus serviços, se
liros pagassem. Ramires agradeceu, promettendo o logar
de administrador de concelho para logo depois da eleição;
attendendo á incompetência — queria dizer honradez—do
Fragoso, e á necessidade de o demittir. Sorvedouro imper-
tigou-se, e aceitou o mercado. Ramires deu, como signal,
algumas libras, que foram fazer companhia ás que Sorve-
douro recebera do visconde d'Almeiroa. E os dois despedi-
ram-se como bons amigos, que deviam ser e ficaram sendo.
Seguiu-se a conferencia com o sacristão e os padres, que
nada teve de interessante mas teve muito de repugnante.
Os padres desejavam melhorar de posição, e receberam
gostosos as promessas do Ramii-es. O sacristão queria mudar
de oíTicio, e passar do serviço da egreja para o serviço da
engenharia; e ficou contente, quando o candidato governa-
mental lhe disse que já eslava tudo arranjado.
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