O sentimentalismo (1871).preview.pdf
O sentimentalismo (1871).preview.pdf
O sentimentalismo (1871).preview.pdf
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
197<br />
— E não percas a esperança de o conseguir — acudira<br />
o D. António.— É curavel, meu caro doutor, a doença da<br />
tua Mathiide. Assim o ci^eio eu; e, o que mais vale, julga-o<br />
lambem assim a D. Carlota de Sousa... que sabe mais do<br />
que tu da sciencia do coração. Não serei eu que te darei<br />
conselho egual áquelle que me deste quando... quando eu<br />
andava namorado de D. Carlota.— Suffocando involuntário<br />
suspiro, proseguira: — És medico, descobre um especifico<br />
para curar... de <strong>sentimentalismo</strong>. Permitte-me, porem, que<br />
te dê um modesto conselho sobre tão grave assumpto. Para<br />
pôr termo aos padecimentos da nossa enferma, é preciso não<br />
atacar de frente a causa primordial d'elles, que é, se me<br />
não engano... no diagnostico, um <strong>sentimentalismo</strong> agudo.<br />
É necessário... indispensável mesmo, dar alimento áquella<br />
mórbida exaltação; e esse não pode ser senão o teu amor.<br />
Tu estás quasi tão sentimentd como a melancólica D. Ma-<br />
thiide. Consulta o coração, em vez de consultar a cabeça,<br />
e elle te dirá, meu pobre doutor, por que forma has de<br />
fazer acceitar á tua enferma... tão acre medicina.<br />
A estas sabias razões e ponderosos argumentos de D.<br />
António d'Almada não soube resistir o namorado doutor.<br />
Nem ha que extranliar n'isto; porque é certo que sempre<br />
assiste razão, prudência e grande lucidez de espirito a quem<br />
tem a condescendência de lisongear as nossas paixões, ou<br />
de facilitar a satisfação dos nossos desejos, isto explica, não<br />
só a acceitação que têm para os namorados as palavras dos<br />
que falam ao sabor da sua paixão, senão também, o que é<br />
mais grave e importante, a popularidade de muitos homens<br />
políticos. Prudentemente consultada a D. Carlota e obtida<br />
a sua approvação, resolveram-se os dois amigos a ir a casa<br />
do Carlos do Arnal. Convém saber ainda, para esclarecimento<br />
(festa narrativa e para se não fazer injustiça ao grave dr.<br />
Luiz de Mello, que uma forte razão o movia, alem dos interesses<br />
do seu coração, a aproximar-se naqiielle momento<br />
(In familia do advo^jado. Estava justamente a fazer um anno<br />
que a mãe de Soledade, moribunda, confiara á sua guarda<br />
Obra protegida por direitos de autor