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A emergência do feminismo de Estado em Portugal

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Introdução<br />

Em <strong>Portugal</strong>, o perío<strong>do</strong> que po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>limitar entre mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos<br />

1970 e mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1980 foram <strong>de</strong> intensa renovação legislativa <strong>em</strong> favor<br />

da igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mulheres e homens, alguma da qual não se limitou apenas a<br />

eliminar a discriminação explícita na legislação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo, mas a integrar<br />

visões e propostas progressistas <strong>em</strong> algumas matérias legisladas. Se a produção<br />

<strong>de</strong> um quadro legal e institucional <strong>de</strong>mocrático e antidiscriminatório se<br />

materializou após 1976, a reboque da nova Constituição, as suas origens<br />

encontram-se antes <strong>de</strong>ssa data, ainda no perío<strong>do</strong> marcelista, no trabalho das<br />

primeiras expressões <strong>do</strong> “<strong>f<strong>em</strong>inismo</strong> <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong>” <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong>.<br />

Os Grupos <strong>de</strong> Trabalho e <strong>de</strong>pois Comissão li<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s por Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s<br />

Pintasilgo transformaram a Regulamentação <strong>do</strong> Trabalho F<strong>em</strong>inino (tarefa encomendada<br />

pelo Secretário <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Trabalho, que <strong>de</strong>veria ter si<strong>do</strong> executada<br />

num ano apenas) num lastro muito mais amplo e dura<strong>do</strong>uro – a criação <strong>do</strong><br />

mecanismo oficial para igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> mulheres e homens <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong>.<br />

A ousadia e a convicção f<strong>em</strong>inista foram as marcas <strong>do</strong>s primeiros passos <strong>do</strong><br />

<strong>f<strong>em</strong>inismo</strong> institucional <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong>, num contexto adverso e discriminatório <strong>em</strong><br />

que as pequenas brechas foram sabiamente aproveitadas pelas suas pioneiras.<br />

É este o percurso <strong>de</strong> sete intensos anos até à institucionalização da CCF que<br />

exponho neste trabalho. Nele encontramos relatos e da<strong>do</strong>s que revelam b<strong>em</strong> o<br />

progressismo e a militância <strong>de</strong>sta caminhada e também <strong>de</strong>sta conquista.<br />

Jelena Subotic (2007) refere que a criação <strong>de</strong> instituições como os mecanismos<br />

oficiais para a igualda<strong>de</strong> são formas mínimas <strong>de</strong> os Esta<strong>do</strong> se comprometer<strong>em</strong><br />

com a missão internacionalmente dimanada da promoção da igualda<strong>de</strong> entre<br />

mulheres e homens, porém, a sua existência, acrescento eu, marca <strong>de</strong>cisivamente<br />

a articulação das dinâmicas <strong>do</strong>s diversos tipos <strong>de</strong> actores neste <strong>do</strong>mínio.<br />

Elas passam a ser o agente pivot e articula<strong>do</strong>r da acção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e <strong>do</strong>s movimentos<br />

<strong>de</strong> mulheres, constituin<strong>do</strong>-se como uma forma <strong>de</strong> representação <strong>de</strong>scritiva<br />

e substantiva das mulheres (Squires, 2007) num fenómeno <strong>de</strong>signa<strong>do</strong><br />

como <strong>de</strong> <strong>f<strong>em</strong>inismo</strong> <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> (McBri<strong>de</strong> e Mazur, 1995; 2005).<br />

O relato histórico-institucional que aqui exponho percorre as várias fases <strong>de</strong><br />

evolução <strong>do</strong> organismo que é o seu objecto, i<strong>de</strong>ntifican<strong>do</strong> as suas diversas<br />

dinâmicas <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> upgra<strong>de</strong> institucional, <strong>de</strong> articulação com outros actores,<br />

b<strong>em</strong> como os seus principais resulta<strong>do</strong>s e sucessos. Assim, num primeiro<br />

ponto apresenta-se a criação <strong>do</strong> Grupo <strong>de</strong> Trabalho para a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma<br />

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