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A emergência do feminismo de Estado em Portugal

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A <strong><strong>em</strong>ergência</strong> <strong>do</strong> <strong>f<strong>em</strong>inismo</strong> <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong>:<br />

uma história da criação da Comissão da Condição F<strong>em</strong>inina<br />

Por isso os objectivos concretos a <strong>de</strong>linear para uma participação da<br />

mulher na vida económica e social, ainda quan<strong>do</strong> formula<strong>do</strong>s <strong>em</strong><br />

termos <strong>de</strong> direitos, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar integra<strong>do</strong>s no quadro síntese <strong>do</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento. Daí que o crivo pelo qual interessa fazer passar<br />

quaisquer iniciativas <strong>do</strong> governo ou <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s privadas tenha <strong>de</strong><br />

ser esta simples interrogação: têm razão <strong>de</strong> ser estas medidas para<br />

se conseguir<strong>em</strong> os objectivos humaniza<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Fomento.<br />

(<strong>do</strong>c. arquivo 0045.012)<br />

O contributo potencial da participação das mulheres para o aumento <strong>do</strong><br />

PNB <strong>em</strong> diversos países é um argumento que utiliza:<br />

…por ex<strong>em</strong>plo o governo da Suécia observa num relatório <strong>de</strong> 1968<br />

que o PNB po<strong>de</strong>ria aumentar 25% se o potencial <strong>de</strong> mulheres não<br />

utiliza<strong>do</strong> fosse totalmente actualiza<strong>do</strong>, e <strong>de</strong> 50% se a discriminação<br />

entre os sexos e outras barreiras foss<strong>em</strong> completamente abolidas.<br />

Se se pu<strong>de</strong>sse quantificar o chauvinismo masculino a que aumento<br />

da nossa riqueza não correspon<strong>de</strong>ria o <strong>de</strong>saparecimento <strong>do</strong> marialvismo<br />

português. (<strong>do</strong>c. arquivo 0045.012)<br />

Seria esse aliás um <strong>do</strong>s motivos pelo qual alguns quadros <strong>do</strong> Ministério<br />

estariam favoráveis ao estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho f<strong>em</strong>inino. L<strong>em</strong>br<strong>em</strong>o-nos que também<br />

na Dinamarca uma Comissão das Mulheres fora criada <strong>em</strong> 1965 durante<br />

um perío<strong>do</strong> <strong>em</strong> que a melhoria da economia produzia uma crescente procura<br />

<strong>de</strong> trabalho, resolvida mais pela integração <strong>de</strong> mulheres casadas <strong>do</strong> que <strong>de</strong> imigrantes,<br />

por ex<strong>em</strong>plo (Borchorst, 1995).<br />

É <strong>em</strong> torno da chamada <strong>de</strong> atenção para a especificida<strong>de</strong> <strong>do</strong> trabalho f<strong>em</strong>inino,<br />

que o Grupo começa a conquistar um campo político que se tornaria mais<br />

tar<strong>de</strong> mais abrangente e mais transversal. Em reuniões s<strong>em</strong>anais, algumas das<br />

quais <strong>de</strong>corriam no Gabinete <strong>do</strong> Ministro, Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Pintasilgo distribuía<br />

trabalhos às técnicas <strong>do</strong> Grupo:<br />

«Era uma vez por s<strong>em</strong>ana só, uma tar<strong>de</strong> suponha, duas horas, …<br />

acumulava, eu l<strong>em</strong>bro-me da Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s, quan<strong>do</strong> acabávamos,<br />

eu dizia “Ai meu Deus ainda tenho <strong>de</strong> voltar para o meu gabinete”,<br />

e ela dizia, “o quê?! com o que trabalhou aqui já chega!”…<br />

Reuníamos, <strong>de</strong>pois ela mandava-nos trabalho para casa. A mim foi<br />

uma pesquisa sobre igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> r<strong>em</strong>unerações nos países da CEE.»<br />

(ex-técnica, entrevista 1)

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