ANDRADE, Carlos Drummond - A Rosa do Povo.pdf - Colégio Dom ...
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Estou solto no mun<strong>do</strong> largo.<br />
Lúci<strong>do</strong> cavalo<br />
com substância de anjo<br />
circula através de mim.<br />
Sou vara<strong>do</strong> pela noite, atravesso os lagos frios,<br />
absorvo epopéia e carne,<br />
bebo tu<strong>do</strong>,<br />
desfaço tu<strong>do</strong>,<br />
torno a criar, a esquecer-me:<br />
durmo agora, recomeço ontem.<br />
De longe vieram chamar-me.<br />
Havia fogo na mata.<br />
Nada pude fazer,<br />
nem tinha vontade.<br />
Toda a água que possuía<br />
irrigava jardins particulares<br />
de atletas retira<strong>do</strong>s, freiras surdas, funcionários demiti<strong>do</strong>s.<br />
Nisso vieram os pássaros,<br />
rubros, sufoca<strong>do</strong>s, sem canto,<br />
e pousaram a esmo.<br />
To<strong>do</strong>s se transformaram em pedra.<br />
Já não sinto piedade.<br />
Antes de mim outros poetas,<br />
depois de mim outros e outros<br />
estão cantan<strong>do</strong> a morte e a prisão.<br />
Moças fatigadas se entregam, solda<strong>do</strong>s se matam<br />
no centro da cidade vencida.<br />
Resisto e penso<br />
numa terra enfim despojada de plantas inúteis,<br />
num pais extraordinário, nu e terno,<br />
Qualquer coisa de melodioso,<br />
não obstante mu<strong>do</strong>,