ANDRADE, Carlos Drummond - A Rosa do Povo.pdf - Colégio Dom ...
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— esse homem silencioso, na última luz da tarde,<br />
junto à cabeça majestosa <strong>do</strong> cavalo de proa imobiliza<strong>do</strong><br />
contempla num pedaço de jornal a iara vulcânica da<br />
[Broadway.<br />
O sentimento da mata e da ilha<br />
perdura em meus filhos que ainda não amanheceram de to<strong>do</strong><br />
e têm me<strong>do</strong> da noite, <strong>do</strong> espaço e da morte.<br />
Solidão de milhões de corpos nas casas, nas minas, no ar.<br />
Mas de cada peito nasce um vacilante, páli<strong>do</strong> amor,<br />
procura desajeitada de mão, desejo de ajudar,<br />
carta posta no correio, sono que custa a chegar<br />
porque na cadeira elétrica um homem (que não conhecemos)<br />
[morreu.<br />
Portanto, é possível distribuir minha solidão, torná-la meio<br />
[de conhecimento.<br />
Portanto, solidão é palavra de amor.<br />
Não é mais um crime, um vicio, o desencanto das coisas.<br />
Ela fixa no tempo a memória<br />
ou o pressentimento ou a ânsia<br />
de outros homens que a pé, a cavalo, de avião ou barco,<br />
[percorrem teus caminhos, América.<br />
Esses homens estão silenciosos mas sorriem de tanto<br />
[sofrimento <strong>do</strong>mina<strong>do</strong>.<br />
Sou apenas o sorriso<br />
na face de um homem cala<strong>do</strong>.