ANDRADE, Carlos Drummond - A Rosa do Povo.pdf - Colégio Dom ...
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Lembro alguns homens que me acompanhavam e hoje não<br />
[acompanham.<br />
Inútil chamá-los: o vento, as <strong>do</strong>enças, o simples tempo<br />
dispersaram esses velhos amigos em pequenos cemitérios <strong>do</strong><br />
[interior,<br />
por trás de cordilheiras ou dentro <strong>do</strong> mar.<br />
Eles me ajudariam, América, neste momento<br />
de tímida conversa de amor.<br />
Ah, por que tocar em cordilheiras e oceanos!<br />
Sou tão pequeno (sou apenas um homem)<br />
e verdadeiramente só conheço minha terra natal,<br />
<strong>do</strong>is ou três bois, o caminho da roça,<br />
alguns versos que li há tempos, alguns rostos que contemplei.<br />
Nada conto <strong>do</strong> ar e da água, <strong>do</strong> mineral e da folha,<br />
ignoro profundamente a natureza humana<br />
e acho que não devia falar nessas coisas.<br />
Uma rua começa em Itabira, que vai dar no meu coração.<br />
Nessa rua passam meus pais, meus tios, a preta que me criou.<br />
Passa também uma escola — o mapa —, o mun<strong>do</strong> de todas as<br />
[cores.<br />
Sei que há países roxos, ilhas brancas, promontórios azuis.<br />
A terra é mais colorida <strong>do</strong> que re<strong>do</strong>nda, os nomes gravam-se<br />
em amarelo, em vermelho, em preto, no fun<strong>do</strong> cinza da<br />
[infância.<br />
América, muitas vezes viajei nas tuas tintas.<br />
Sempre me perdia, não era fácil voltar.<br />
O navio estava na sala.<br />
Como rodava!<br />
As cores foram murchan<strong>do</strong>, ficou apenas o tom escuro, no<br />
[mun<strong>do</strong> escuro.