ANDRADE, Carlos Drummond - A Rosa do Povo.pdf - Colégio Dom ...
ANDRADE, Carlos Drummond - A Rosa do Povo.pdf - Colégio Dom ...
ANDRADE, Carlos Drummond - A Rosa do Povo.pdf - Colégio Dom ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
tamanho da hora, que se vai acumulan<strong>do</strong> século após século e<br />
[causa vertigem<br />
tamanho de qualquer João, pois somos to<strong>do</strong>s irmãos.<br />
E a tristeza de deixar os irmãos me faça desejar<br />
partida menos imediata. Ah, podeis rir também,<br />
não da dissolução, mas <strong>do</strong> fato de alguém resistir-lhe,<br />
de outros virem depois, de to<strong>do</strong>s sermos irmãos,<br />
no ódio, no amor, na incompreensão e no sublime<br />
cotidiano, tu<strong>do</strong>, mas tu<strong>do</strong> é nosso irmão.<br />
O tempo de despedir-me e contar<br />
que não espero outra luz além da que nos envolveu<br />
dia após dia, noite em seguida a noite, fraco pavio,<br />
pequena ampola fulgurante, facho, lanterna, faísca,<br />
estrelas reunidas, fogo na mata, sol no mar,<br />
mas que essa luz basta, a vida é bastante, que o tempo<br />
é boa medida, irmãos, vivamos o tempo.<br />
A <strong>do</strong>ença não me intimide, que ela não possa<br />
chegar até aquele ponto <strong>do</strong> homem onde tu<strong>do</strong> se explica.<br />
Uma parte de mim sofre, outra pede amor,<br />
outra viaja, outra discute, uma última trabalha,<br />
sou todas as comunicações, como posso ser triste?<br />
A tristeza não me liquide, mas venha também<br />
na noite de chuva, na estrada lamacenta, no bar fechan<strong>do</strong>-se,<br />
que lute lealmente com sua presa,<br />
e reconheça o dia entran<strong>do</strong> em explosões de confiança,<br />
esquecimento, amor,<br />
ao fim da batalha perdida.