ANDRADE, Carlos Drummond - A Rosa do Povo.pdf - Colégio Dom ...
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Esse insuportável riso<br />
de Fulana de mil dentes<br />
(anúncio de dentifrício)<br />
é faca me escavacan<strong>do</strong>.<br />
Me ponho a correr na praia.<br />
Venha o mar! Venham cações!<br />
Que o farol me denuncie!<br />
Que a fortaleza me ataque!<br />
Quero morrer sufoca<strong>do</strong>,<br />
quero das mortes a hedionda,<br />
quero voltar repeli<strong>do</strong><br />
pela salsugem <strong>do</strong> largo,<br />
já sem cabeça e sem perna,<br />
à porta <strong>do</strong> apartamento,<br />
para feder: de propósito,<br />
somente para Fulana.<br />
E Fulana apelará<br />
para os frascos de perfume.<br />
Abre-os to<strong>do</strong>s: mas de to<strong>do</strong>s<br />
eu salto, e ofen<strong>do</strong>, e sujo.<br />
E Fulana correrá<br />
(nem se cobriu: vai chispan<strong>do</strong>)<br />
talvez se atire lá <strong>do</strong> alto.<br />
Seu grito é: socorro! e deus.<br />
Mas não quero nada disso.<br />
Para que chatear Fulana?<br />
Pancada na sua nuca<br />
na minha é que vai <strong>do</strong>er.