17.04.2013 Views

ANDRADE, Carlos Drummond - A Rosa do Povo.pdf - Colégio Dom ...

ANDRADE, Carlos Drummond - A Rosa do Povo.pdf - Colégio Dom ...

ANDRADE, Carlos Drummond - A Rosa do Povo.pdf - Colégio Dom ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

II<br />

No chão me deito à maneira <strong>do</strong>s desespera<strong>do</strong>s.<br />

Estou escuro, estou rigorosamente noturno, estou vazio,<br />

esqueço que sou um poeta, que não estou sozinho,<br />

preciso aceitar e compor, minhas medidas partiram-se,<br />

mas preciso, preciso, preciso.<br />

Rastejan<strong>do</strong>, entre cacos, me aproximo.<br />

Não quero, mas preciso tocar pele de homem,<br />

avaliar o frio, ver a cor, ver o silêncio,<br />

conhecer um novo amigo e nele me derramar.<br />

Porque é outro amigo. A explosiva descoberta<br />

ainda me ator<strong>do</strong>a. Estou cego e vejo. Arranco os olhos e<br />

Furo as paredes e vejo. Através <strong>do</strong> mar sangüíneo vejo.<br />

Minucioso, implacável, sereno, pulveriza<strong>do</strong>,<br />

é outro amigo. São outros dentes. Outro sorriso.<br />

Outra palavra, que goteja.<br />

III<br />

O meu amigo era tão<br />

de tal mo<strong>do</strong> extraordinário,<br />

cabia numa só carta,<br />

esperava-me na esquina,<br />

e já um poste depois<br />

[vejo.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!