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ANDRADE, Carlos Drummond - A Rosa do Povo.pdf - Colégio Dom ...

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e vamos contigo arrebentar vidraças,<br />

e vamos jogar o guarda no chão,<br />

e na pessoa humana vamos redescobrir<br />

aquele lugar — cuida<strong>do</strong>! — que atrai os pontapés: sentenças<br />

de uma justiça não oficial.<br />

III<br />

Cheio de sugestões alimentícias, matas a fome<br />

<strong>do</strong>s que não foram chama<strong>do</strong>s à ceia celeste<br />

ou industrial. Há ossos, há pudins<br />

de gelatina e cereja e chocolate e nuvens<br />

nas <strong>do</strong>bras de teu casaco. Estão guarda<strong>do</strong>s<br />

para uma criança ou um cão. Pois bem conheces<br />

a importância da comida, o gosto da carne,<br />

o cheiro da sopa, a maciez amarela da batata,<br />

e sabes a arte sutil de transformar em macarrão<br />

o humilde cordão de teus sapatos.<br />

Mais uma vez jantaste: a vida é boa.<br />

Cabe um cigarro: e o tiras<br />

da lata de sardinhas.<br />

Não há muitos jantares no mun<strong>do</strong>, já sabias,<br />

e os mais belos frangos<br />

são protegi<strong>do</strong>s em pratos chineses por vidros espessos.<br />

Há sempre o vidro, e não se quebra,<br />

há o aço, o amianto, a lei,<br />

há milícias inteiras protegen<strong>do</strong> o frango,<br />

e há uma fome que vem <strong>do</strong> Canadá, um vento,<br />

uma voz glacial, um sopro de inverno, uma folha<br />

baila indecisa e pousa em teu ombro: mensagem pálida<br />

que mal decifras. Entre o frango e a fome,

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