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ANDRADE, Carlos Drummond - A Rosa do Povo.pdf - Colégio Dom ...

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E daí não sou criança,<br />

Fulana estuda meu rosto.<br />

Coita<strong>do</strong>: de raça branca.<br />

Tadinho: tinha gravata.<br />

Já morto, me quererá?<br />

Esconjuro, se é necrófila...<br />

Fulana é vida, ama as flores,<br />

as artérias e as debêntures.<br />

Sei que jamais me per<strong>do</strong>ara<br />

matar-me para servi-la.<br />

Fulana quer homens fortes,<br />

couraça<strong>do</strong>s, invasores.<br />

Fulana é toda dinâmica,<br />

tem um motor na barriga.<br />

Suas unhas são elétricas,<br />

teus beijos refrigera<strong>do</strong>s,<br />

desinfeta<strong>do</strong>s, grava<strong>do</strong>s<br />

em máquina multilite.<br />

Fulana, como é sadia!<br />

Os enfermos somos nós.<br />

Sou eu, o poeta precário<br />

que fez de Fulana um mito,<br />

nutrin<strong>do</strong>-me de Petrarca,<br />

Ronsard, Camões e Capim;<br />

que a sei embebida em leite,<br />

carne, tomate, ginástica,<br />

e lhe colo metafísicas,<br />

enigmas, causas primeiras.

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